domingo, setembro 30, 2007

Obrigado Cale Estúdio de Teatro!

Ontem à noite chovia no Porto. Aquele fenómeno industrial que movimenta milhares e atrofia milhões ia ter transmissão televisiva. Tudo convidava a umas horas pacatas no sofá da sala, comendo e calando o que os produtores de conteúdos tinham para nos alimentar. Felizmente que a minha opção foi outra.

Dei um salto a Vila Nova de Gaia, não por causa do duplo presidente que lá trabalha, mas para ver, sentir e aplaudir a peça de teatro “O vizinho toca sempre duas vezes”, uma comédia de Emílio Boechat levada à cena pelo Cale Estúdio Teatro.

Encenada por António d’Alegria, interpretada por Adriana Carmezim, Graça Russo e Onofre Varela, figurinos de Graça Russo, desenho de luzes de Carlos Gonçalves e sonoplastia de Cândido Xavier, a peça mereceu o aplauso unânime e prolongado de todos quantos, num país em que está (quase) tudo louco, optaram por saudar aqueles que ainda são capazes de fazer obra e história para bem da nossa salubridade mental.

Obrigado Cale Estúdio de Teatro!

sábado, setembro 29, 2007

Políticos e jornalistas são uma coisa
politiqueiros e autómatos são outra

O presidente da Câmara do Porto, Rui Rio, responsabiliza os jornalistas por haver "cada vez menos gente na política" e pediu o fim da impunidade na comunicação social. Vamos por partes. Como há políticos e políticos, há jornalistas e jornalistas.

Mas quem foi que fez tudo para transformar os jornalistas em produtores de conteúdos comerciais? Quem foi que fez tudo para dar essa impunidade à comunicação social, que não aos jornalistas que o são de facto? Não serão os políticos responsáveis por haver cada vez menos jornalistas na comunicação social?

"Muitos jornalistas pensam que eu não penso mas eu penso", disse o presidente da Câmara do Porto na II Conferência do Clube de Amigos de Vieira, com o tema "Os jogos do poder na comunicação social".

Ainda bem que Rui Rio pensa. Espero, contudo, que não se esqueça que no Jornalismo também há, ainda há, gente que pensa e que, exactamente por pensar, foi chutada para as prateleiras ou para o desemprego.

Com muitas críticas à forma como "alguns jornalistas" trabalham, o autarca social-democrata defendeu o "fim da impunidade" no jornalismo e o fomento da "auto-regulação na comunicação social".

Rui Rio, talvez embalado por um tema que lhe permitiu dizer o que pensa, esqueceu-se de pensar no que diz. O Jornalismo não é uma actividade acima da lei e nem goza de impunidade. A impunidade a que o autarca se refere, com alguma razão, não respeita ao Jornalismo mas ao comércio jornalístico que, esse sim, está nas mãos de autómatos colocados pelos políticos nos lugares de decisão.

"Tem de haver mecanismos de defesa das pessoas perante a difamação ou a insinuação que determinados órgãos de comunicação fazem aos políticos", afirmou Rio. É claro que sim. Mas não é acabando com a liberdade de expressão, como fez o PS com o Estatuto dos Jornalistas, que se altera a situação.

Ponham, seja na política ou no Jornalismo, o primado da competência acima do da subserviência e encontrarão um salutar equilíbrio. Até lá teremos mais subservientes do que competentes, até porque a profissão de subserviente é muito mais, mas muito mais, bem paga.

"Cada vez há menos gente disponível para ocupar cargos públicos porque têm medo da comunicação social", frisou o presidente da Câmara do Porto. Medo? Os políticos são a única classe que pode mentir todos os dias, a todas as horas, a todos os minutos sem que nada lhes aconteça e, por isso, não têm legitimidade para falar de medo.

Com algum bom senso, Rui Rio condenou os políticos que "aderiram às regras da comunicação social" e que olham para as pessoas como "espectadores" e não como cidadãos. Ora aí está. Afinal, parecem ser farinha do mesmo saco.

Quanto à existência ou não de liberdade de imprensa em Portugal, Rio disse que não há liberdade de imprensa da forma que entende que deve haver. "A liberdade de imprensa não respeita as outras liberdades. Assume-se como a única verdade e isso não pode ser", referiu o autarca.

É verdade. Todos os jornalistas sabem que a sua liberdade termina onde começa a dos outros. Também sabem que a dos outros termina onde começa a sua. O problema está em que a Imprensa é cada vez menos feita por jornalistas…

sexta-feira, setembro 28, 2007

«Purga em Angola»

Impedido pela razão da força (dos que são donos do poder e dos que, por inércia, com eles pactuam) de utilizar a força da razão para escrever sobre Angola, reproduzo um texto do Notícias Lusófonas intitulado «27 de Maio foi um contra-golpe. Agostinho Neto temia perder o poder».

«Os acontecimentos de 27 de Maio de 1977 em Angola, que provocaram milhares de mortos, foi um "contra-golpe" resultado de uma provocação, longa e pacientemente planeada, tendo como responsável máximo Agostinho Neto, que temia perder o poder. Esta é uma das principais conclusões do livro "Purga em Angola (O 27 de Maio de 1977)", da autoria dos historiadores portugueses Dalila Cabrita Mateus e Álvaro Mateus, agora lançado em Lisboa.

Há 30 anos, Nito Alves, então ministro da Administração Interna sob a presidência de Agostinho Neto, liderou uma manifestação para protestar contra o rumo que o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) estava a tomar. Segundo o livro "havia que evitar que os 'nitistas' chegassem ao Congresso, anunciado para finais de 1977" porque "existia o sério risco de conquistarem os principais lugares de direcção".

"A preocupação de Neto e dos seus era, pois, o poder. E pelo poder fariam tudo", acrescenta.

Dalila Mateus afirma que as informações constantes no livro não serão "a verdade completa" sobre o 27 de Maio, mas serão, "certamente, a verdade possível, que não estará muito longe da realidade".

Por seu lado, Álvaro Mateus afirma que o objectivo é recordar "um passado sombrio, na esperança de que não se volte a repetir".

Na versão oficial, através de uma declaração do Bureau Político do MPLA, divulgada a 12 de Julho de 1977, o 27 de Maio foi uma "tentativa de golpe de Estado" por parte de "fraccionistas" do movimento, cujos principais "cérebros" foram Nito Alves e José Van-Dunem, versão que seria alterada mais tarde para "acontecimentos do 27 de Maio".

Nito Alves e José Van-Dúnem tinham sido formalmente acusados de fraccionismo em Outubro de 1976. Os visados propuseram a criação de uma comissão de inquérito, que foi liderada pelo actual Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, para averiguar se havia ou não fraccionismo no seio do partido.

As conclusões desta comissão nunca chegaram a ser divulgadas publicamente mas, segundo alguns sobreviventes, revelariam que não existia fraccionismo no seio do MPLA.

De acordo com o livro, o próprio José Eduardo dos Santos e o primeiro-ministro de então, Lopo do Nascimento, seriam também alvos a abater pela cúpula do MPLA. O actual Presidente terá sido salvo pelo comissário provincial do Lubango, Belarmino Van-Dúnem.

Os apoiantes de Nito Alves consideravam que o golpe já estava a ser feito por uma ala maoísta do partido, liderada pelo secretário administrativo do movimento, Lúcio Lara, e que terá instrumentalizado os principais centros de decisão do partido e os media, em especial o Jornal de Angola, pelo que consideraram que a manifestação convocada por Nito Alves foi "um contra-golpe".

Os autores do livro chegam à mesma conclusão depois de cruzarem a informação recolhida, desde entrevistas a sobreviventes, ex-elementos da polícia política (DISA) e antigos responsáveis do MPLA, a notícias ou arquivos da PIDE e do Ministério dos Negócios Estrangeiros português.

De acordo com o estudo, "a purga no MPLA atingiu enormes proporções" e é citado um livro laudatório de Agostinho Neto em que se assinala que "o número de militantes do MPLA, depois das depurações, baixara de 110.000 para 32.000".

Em relação ao número de mortos, os autores optam pela versão dos 30.000, justificando que "no meio-termo estará a virtude", depois de analisarem dados tão díspares que vão dos 15.000 aos 80.000.

O livro tenta reconstruir os acontecimentos antes, durante e pós 27 de Maio de 1977 e dá conta de testemunhos que referem os horrores a que os chamados fraccionistas foram submetidos, desde prisões arbitrárias, a tortura, condenações sem julgamento ou execuções sumárias.

O apontado líder do alegado golpe de Estado terá sido fuzilado, mas o seu corpo nunca foi encontrado, tal como o dos seus mais directos apoiantes como José Van-Dúnem e mulher, Sita Valles, que foi dirigente da UEC, ligada ao Partido Comunista Português, do qual se desvinculou mais tarde, e foi expulsa do MPLA.

Em Abril de 1992, o governo angolano reconhece que foram "julgados, condenados e executados" os principais "mentores e autores da intentona fraccionista", que classificou como "uma acção militar de grande envergadura" que tinha por objectivo "a tomada do poder pela força e a destituição do presidente (Agostinho) Neto".

Segundo os autores do livro, "as principais responsabilidades" do 27 de Maio "recaem por inteiro sobre Agostinho Neto" que "não se preocupou com o apuramento da verdade, dispensou os tribunais, admitiu que fizessem justiça por suas próprias mãos".

O então Presidente da República "acabaria por se revelar o chefe duma facção e não o árbitro, o unificador. Dominado pela arrogância, pela inflexibilidade e pela cegueira, foi incapaz de temperar a justiça com a piedade", referem.

Quanto à herança do 27 de Maio, o livro conclui que "Angola perdeu muitos dos seus melhores quadros: combatentes experimentados em mil batalhas, mulheres combativas, jovens militantes, intelectuais e estudantes universitários".

"Os vencedores do 27 de Maio parece terem conseguido o milagre de fazer desaparecer os que sonhavam com um futuro melhor, mais igualitário e mais fraterno para os angolanos", dizem, acrescentando que se "impôs no país um clima de medo e de violência" porque falar do 27 de Maio se tornou "um tabu".

Destacando que este é um livro "para gente boa", Álvaro Mateus cita uma frase de Martin Luther King: "O que mais nos preocupa não é o grito dos violentos, nem dos corruptos, nem dos desonestos, nem dos sem carácter, nem dos sem moral. O que mais nos preocupa é o silêncio dos bons".»

quinta-feira, setembro 27, 2007

Só podia ser nas terras do tio Bush

As autoridades norte-americanas “investiram” 600 mil dólares para camuflar a clara aparência do símbolo nazi de prédios da base naval no sul da Califórnia, depois de uma campanha de vários blogues e de grupos anti-discriminação.

Os prédios, da década de 60, sofreram várias reformas e hoje lembram uma suástica vistos do ar. Com a popularização de fotos por satélite disponíveis, surgiram teorias conspiratórias sobre o formato das instalações.

Uma delas diz que a obra foi construída por prisioneiros de guerra alemães que quiseram homenagear Hitler. As autoridades dizem que o formato é (pois claro) mera coincidência.

quarta-feira, setembro 26, 2007

Estamos mesmo doidos, sim senhor!
(Se aquilo é jornalismo, Scolari é Deus)

É pelo menos insólito o que aconteceu esta noite na SIC Notícias. Santana Lopes foi convidado para uma entrevista, na SIC Notícias, na qual dissertou sobre a possibilidade de (sobre)vivência do PPD/PSD. No auge da sua análise, Santana Lopes foi interrompido porque nada há de mais importante no país do que o futebol.

Teria Scolari levado um soco? Teria Jesualdo Ferreira sido demitido por obra e graça de Nossa Senhora de… Fátima? Teria desabado o Estádio do Dragão?

Não. Mais importante do que a entrevista, segundo os cada vez mais boémios e etílicos critérios jornalísticos da praça portuguesa, era a chegada de José Mourinho às ocidentais praias lusitanas depois de ter descoberto o caminho aéreo para enriquecer à sombra da bananeira.

Assentada a poeira causada pela descoberta da pólvora sem fumo, a entrevista recomeçou. Isto é, Santana Lopes partiu a loiça (ao estilo da das Caldas), considerou que, afinal, Mourinho era mais importante do que “todos nós”, afirmou que “o país está doido”, porque sobrepõe um treinador de futebol a um debate sobre a situação política do país… e foi-se embora.

Finalmente, a propósito das Caldas, alguém mostrou que de quando em vez aparecem alguns que os têm…

Quanto aos boémios e etílicos critérios jornalísticos da praça portuguesa está tudo dito. A bem da Nação, seja ela ou não “socretina”.

Direitos Humanos em Angola


Transcrição de parte de um artigo de Eugénio Costa Almeida publicado no jornal moçambicano O Observador, edição nº 66, de 26 de Setembro de 2007, cuja versão integral também pode ser lida em http://pululu.blogspot.com

«(…) Mas quando energúmenos ameaçam – e fora de portas – angolanos (jornalistas ou comentadores) perante familiares; quando políticos são espancados e mortos por fiscais do próprio partido por falta de pagamento de quotas partidárias; quando um governador provincial é acusado de esbofetear e agredir trabalhadores e autoridades dessa província de tentarem anular a cultura regional; (…) quando jornalistas do semanário “Agora” foram ameaçados por indivíduos que se dizem autoridades, durante uma inspecção dos mesmos a um mercado, tudo acaba, infelizmente, por ser muito natural.»

Para todos os jornalistas precários

João Pacheco (o segundo da esquerda para a direita, na foto de José Frade) , Prémio Revelação 2006 atribuído pelo Clube dos Jornalistas, proferiu um discurso singular na noite de entrega do galardão.Por serem palavras de excepção, que suscitam ou deveriam suscitar reflexão individual e colectiva, aqui fica o seu discurso de agradecimento:

"Não sei se é costume dedicar-se este prémio a alguém, mas vou dedicá-lo. A todos os jornalistas precários.Passado um ano da publicação destas reportagens, após quase três anos de trabalho como jornalista, continuo a não ter qualquer contrato.Não tenho rendimento fixo, nem direito a férias, nem protecção na doença, nem quaisquer direitos caso venha a ter filhos.Se a minha situação fosse uma excepção, não seria grave. Mas como é generalizada – no jornalismo e em quase todas as áreas profissionais – o que está em causa é a democracia. E no caso específico do jornalismo está em risco a liberdade de imprensa".

Portugal oferece fardas à Guiné-Bissau

O Exército português entregou hoje às Forças Armadas da Guiné-Bissau três mil fardas e material didáctico de transmissões orçado em cerca de 30 mil euros. "É um material que vai ser de grande utilidade para as Forças Armadas da Guiné-Bissau, disse o embaixador de Portugal, José Manuel Paes Moreira, durante a cerimónia, que decorreu em Bissau na Cooperação Técnico-Militar portuguesa. Ainda bem que a oferta não foi da Câmara Municipal do Porto, evitando-se assim o risco de, como aconteceu com o camião oferecido à cidade da Beira, em Moçambique, o “equipamento” ter 25 anos de uso…

terça-feira, setembro 25, 2007

Lixo por lixo, que se lixem os moçambicanos
- Porto oferece camião com 25 anos de vida!

A Câmara Municipal do Porto aprovou hoje a oferta à sua congénere da Beira, Moçambique, de um camião de recolha de lixo com 25 anos de actividade, 150 casacos de fatos de trabalho, três computadores, livros e equipamento escolar.

Desculpem lá, mas oferecer um camião com 25 anos de actividade faz-me lembrar a oferta de peixe podre, fuba podre e porrada se refilares. Mesmo assim, admiti que haveria engano na idade do veículo que Rui Rio resolveu dar à Beira, ainda por cima no âmbito do protocolo de geminação entre as cidades do Porto e da Beira, estabelecido em 1989, e na bolsa de cooperação aprovada em 2005 para a "promoção de iniciativas específicas na área da ajuda pública ao desenvolvimento e da Lusofonia".

Engano qual quê! A própria autarquia justificam a dispensa do camião, um Mercedes 1613, com o facto de "não possuir valor comercial", apresentar um "estado de conservação que não confere a sua utilização na recolha de lixo pela cidade" e de o desempenho do motor ser "desajustado para vencer as solicitações que o tipo de recolha requer".

Ou seja, é mesmo verdade. Lixo por lixo, que se lixem os moçambicanos. Não serve para o Porto, pouco mais é que um amontoado de lixo e, por isso, toca a enviá-lo com o rótulo de cooperação e solidariedade para os nossos irmãos do Índico.

Não está mal, caro presidente da Câmara Municipal do Porto. O seu homólogo da Beira, que certamente tem bem mais do que fazer, vai aceitar a oferta e mandar o camião para o sítio certo: o lixo.

Atrevo-me, contudo, a sugerir que coloquem o camião numa praça central da cidade da Beira com um cartaz a dizer: Homenagem à cooperação com a Câmara do Porto.

segunda-feira, setembro 24, 2007

Gordon Brown sabe-a toda
- Ele o seu amigo “socretino”

O primeiro-ministro britânico, avisou hoje que "a injustiça não pode durar eternamente", ao comentar a situação no Zimbabué e na Birmânia. Precisaria Gordon Brown de ir tão longe para falar de injustiça? Não seria bastante, ver o que se passa nas ocidentais praias lusitanas com o reino do seu amigo “socretino”?

"Da Birmânia ao Zimbabué, os direitos do Homem são universais e nenhuma injustiça pode durar eternamente", vincou Brown, ao discursar perante o congresso do Partido Trabalhista em Bournemouth, no Sul de Inglaterra.

Pois. Brown tem razão. Não há mal que sempre dure, se bem que pelas bandas lusófonas, com Portugal à cabeça, parece estar para durar.

Antes, o governo britânico já tinha apelado à junta militar que governa a Birmânia para evitar a repressão violenta das manifestações contra o regime que se registam naquele país, que já fez parte do império britânico.

Na semana passada, foi a vez de Brown se insurgir contra a falta de democracia e o desrespeito aos direitos humanos no Zimbabué - outra antiga colónia britânica -, defendendo o alargamento e reforço das sanções internacionais ao país africano.

(Está, aliás, a roer-se de inveja porque nas ex-colónias do país que agora é (des)governado pelo seu amigo “socretino”, tudo vai bem, seja nos direitos humanos, na saúde, na fome etc. etc. etc.)

Para demonstrar a rejeição ao regime de Harare, Brown ameaçou não participar na cimeira UE/África, que a presidência portuguesa da União Europeia tem agendada para o início de Dezembro, em Lisboa, se o presidente zimbabueano, Robert Mugabe, participar.

Brown bem podia ter sido mais simpático para com os portugueses e dizer que não participaria na cimeira se por cá ainda estivesse o seu amigo José Sócrates. Mas isso seria impossível, até porque – por sinal – os bons são todos brancos…

sábado, setembro 22, 2007

Japonês ensina a Ramos-Horta a arte
da boa (?) governação e democracia

Não tenho dúvidas de que Timor-Leste está no bom caminho. Embora seja, na minha opinião, um caminho sem saída. É uma estrada larga, bem asfaltada mas que não leva a lado algum. Fiquei (mais) esclarecido quando hoje se ficou a saber que o presidente do país, José Ramos-Horta, nomeou o japonês Sukehiro Hasegawa, chefe de duas missões internacionais no país, seu consultor especial para a Boa Governação e Democracia.

«Sukehiro Hasegawa é um reconhecido especialista em matérias de governação e desenvolvimento, com 30 anos de serviço na ONU, durante os quais trabalhou num grande número de países em desenvolvimento», afirmou Ramos-Horta sem, contudo, esclarecer se a “boa governação e democracia” se fará em inglês ou em bahasa, já que em português não me parece.

E o presidente, ex-primeiro-ministro, sabe do que fala. Aliás, para escolher um japonês para consultor especial para a Boa Governação e Democracia é porque no universo lusófono não havia quem chegasse aos calcanhares de Sukehiro Hasegawa.

O presidente timorense também justificou a nomeação de Hasegawa por se tratar de «uma pessoa muito empenhada no bem-estar do povo de Timor Leste». Obviamente que sim e certamente mais do que qualquer outro lusófono.

Sukehiro Hasegawa chefiou duas missões sucessivas entre 2002 e 2006, a Administração Transitória das Nações Unidas em Timor Leste (UNTAET) e a Missão Integrada da ONU em Timor (UNOTIL) como representante especial do secretário-geral da organização e coordenador residente.

Recorde-se que o Presidente da República timorense fez parte do seu discurso de tomada de posse no Parlamento Nacional, a 20 de Maio, em bahasa, para gáudio dos jornalistas indonésios presentes na cerimónia, admitindo-se que para a próxima o fará em japonês, e em breve em mandarim…

sexta-feira, setembro 21, 2007

Este blogue (também) está de luto


Como Jornalista, sinto a corda que o Partido Socialista colocou no nosso pescoço cada vez mais apertada. Basta mais um sopro e ficamos pendurados. Alguém dirá: Paz à nossa alma. Já gora, também não falta muito para que se diga: Paz à alma de Portugal.

São 95 anos de vida e 35 de (eterna) saudade


No dia 21 de Setembro de 1912, na região do planalto central de Angola, era fundada a cidade de Nova Lisboa, hoje designada Huambo, pelo então governador geral da província ultramarina de Angola, José Mendes Ribeiro Norton de Matos, através da portaria Nº 1040. Como diz o meu Irmão Fernando Frade, Fino, “são noventa e cinco anos.... Está viva, mas já teve melhor saúde. Vai ficar boa. Certamente que as terras não são como gente... Que pena não poder estar presente para a beijar”.

Se a cimeira é Europa-África
quem manda são os… brancos

A presidência portuguesa da União Europeia voltou hoje a desvalorizar a questão da participação na Cimeira UE-África e a frisar que "não há ainda qualquer decisão sobre a formalização dos convites". E se a equipa “socretina” assim o diz é porque é mesmo assim. E façam o favor de não irritar o licenciado em engenharia que dirige o Governo. É que se Guterres prometia ir às fuças da Oposição, Sócrates vai mesmo.

Em declarações à imprensa, o presidente em exercício do Conselho de Ministros da União Europeia, Luís Amado, considerou "muito positivo" o artigo publicado quinta-feira pelo primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, dado que "reconhece a importância estratégica" da realização da cimeira desde que – digo eu – seja feita à moda dos brancos e à revelia do interesse dos pretos.

"O que há de mais importante na declaração de Gordon Brown é o reconhecimento da importância da Cimeira" disse Luís Amado, frisando que a participação "é um problema que se colocará a seu tempo, no momento em que a formalização dos convites tiver de ser feita".

Questionado sobre a posição assumida pela Zâmbia de faltar à Cimeira se o presidente do Zimbabué não for convidado, o ministro português sublinhou que essa é a posição conhecida da União Africana e acrescentou que a considera legítima.

Embora legítima, África é algo que não conta para as “socretinas” mentes de quem, do cimo do pedestal, olha com superioridade racista – importa dizê-lo – para aqueles energúmenos africanos.

quinta-feira, setembro 20, 2007

(Mais) palavras para quê? O PS é dono da verdade

O PS voltou hoje a aprovar sozinho o novo Estatuto dos Jornalistas, depois de ter alterado/retocado as três matérias que estiveram na base do veto do Presidente da República. PSD, CDS-PP, PCP, Bloco de Esquerda e Partido Ecologista "Os Verdes" repetiram o voto contra o diploma - tal como na votação do texto original - considerando "insuficientes" as alterações introduzidas pela maioria. Uma vez que o decreto foi aprovado pelo grupo parlamentar do PS (121 deputados), mais do que a maioria dos deputados em efectividade dos funções, o Presidente da República terá de promulgá-lo, não sendo possível um novo veto. Todas as propostas de alteração ao Estatuto apresentadas pelo PCP e pelo Bloco de Esquerda foram rejeitadas.

quarta-feira, setembro 19, 2007

Razões para que o silêncio diga (quase) tudo

Sob o título «Há sempre uma razão para também dar voz a quem a não a tem!», o Notícias Lusófonas fez manchete com o artigo do meu amigo Eugénio Costa Almeida a seguir transcrito. No seu blog (http://pululu.blogspot.com/) o Eugénio volta à carga, acrescentando que a mensagem do texto do NL será mais perceptível se for feita, ao mesmo tempo, a leitura de dois artigos meus. Fica (quase) tudo dito.

O primeiro:
Fim das (minhas) opiniões sobre Angola

Sempre defendi que Angola não se define – sente-se. E o que sinto pelo meu país é, portanto, algo que não se define. Continuo a sentir o mesmo de sempre apesar de, a partir se agora, deixar de escrever sobre Angola. Os, admito que sejam ainda alguns, leitores deste espaço e dos temas angolanos mereciam uma explicação mais pormenorizada. Posso mas não devo dar essa explicação. Fico em dívida, assumo. Talvez um dia, a partir de um qualquer outro ponto do globo, quem sabe se mesmo de Angola, eu possa pagar essa dívida, eventualmente com juros…

O segundo:
Vale a pena dar voz a quem a não quer ter?

Nada melhor do que ter um problema para saber de que lado estão os que nos rodeiam. No meu caso, foi grato verificar que dois ou três, dos muitos mais amigos que eu pensava ter, me manifestaram solidariedade. Também foi bom, apesar de tudo, ver que dos que estão do outro lado da barricada há alguns que se preocupam.

Acredito que tenha dado especial gozo a alguns dizer-me: “eu bem te avisei” ou, ainda, “será que já viste que estás do lado errado?”. A mim não deu gozo mas, é claro, ajudou-me a pensar.

“Continuo a pensar que estou no lado certo da barricada”, disse a um deles. A resposta, incisiva e penetrante, não se fez esperar: “Se estás do lado certo, onde estão agora os que deviam estar ao teu lado, como estiveram noutras alturas?”.

Fiquei sem resposta. É que, de facto, os que eu contava estarem ao meu lado, ou não deram sinal de vida ou, por conveniência, estão com um pé já do outro lado da barricada.

Ponderado o assunto, ainda não é desta (certamente nunca será) que passo para o outro lado. Não deixo, contudo, de cada vez mais me questionar se vale a pena querer dar voz aos que voluntariamente a não querem ter.

Por tudo isto, em vez de escrever o que penso, penso no que (não) escrevo.

O terceiro:
Manchete do NL

Há quem não goste que se escreva, diga ou palestre sobre certos assuntos. E se os assuntos estão na génese da crítica aos pretensos ditadores e claros autocratas para quem as eleições são um devaneio de uns quantos nunca efectuado, então aí as ameaças mais que “fascinantes” são-no efectivas e claras. Tudo isto porque alguns angolanos não gostam de calar o que pensam, mesmo que isso os obrigue a pensar e sentir 24 horas da sua vida pela vida daqueles que mesmo querendo pensar – e pensam – não conseguem fazer-se ouvir nem conseguem chegar aos meios comunicacionais para apresentarem os seus pontos de vista.

E por isso alguns pretensos bajulo-ditadores – por certo ao arredio do interesse das cúpulas nacionais e mesmo partidárias – ameaçam a vida privada de quem se sente capaz de ser arauto da verdade – mesmo que seja a sua verdade, embora pense e produza como verdade de todos – sem se preocuparem com os efeitos que provocam.

Por isso, muitos desses bajulo-ditadores conseguem sobreviver, quais macacóides em árvores de ramos finos, porque habituaram-se em estar de bicos-de-pés e, com isso, estragarem os sapatos e endurecerem os dedos que lhes permite estarem pendurados quais ratos, quais múcuas.

Acham que levando as pessoas, os pensadores, ao silêncio que os calam e, por esse facto, amordaçam a verdade – mesmo que seja a sua verdade, embora pense e produza como verdade de todos – efectiva e clara: os autocratas não gostam que se pense e se pense o real.

Se pensam podem criar expectativas e tentações de escrita. Se lhes cortar a escrita, pensam que o povo não pensa e se remete ao silêncio.

Mas o silêncio não impede que se pense. E o silêncio do que se pensa e não se diz, ou escreve, é por vezes, e não poucas vezes, mais inciso e gritante do que o que se escreve.

Talvez por isso, e ainda assim, aqueles que só sabem fazer – e mal, felizmente, – o que lhes mandam, prefiram que se fale porque pensam que não se morde.

Caros leitores, pode-se morder – e muito, acreditem, se assim não fosse não perdiam tempo em se mostrarem nas vias públicas como se capangas fossem e mais não são – falando e pensando. E os autocratas e pretensos ditadores gostam muito mais que se fale para ameaçar do que se pense.

O que se pensa não se diz, mas obriga-os a pensar no que estamos a pensar.

E porque há aqueles que pensam que fazem favores aos “chefes” ameaçando, não têm qualquer pudor em sair dos embondeiros e mostrarem-se aos pensadores.

Podem pensar que não pensamos. Mas pensamos e enquanto os dedos da mão doerem escreveremos dando sempre voz aos que não a têm e parece não a querer ter. Somente estão calados em silêncio.

E lembrem-se que há muitas formas de falar. O silêncio é uma das mais gritantes.

Nada a fazer. O PS tem a razão da força
de nada valendo a força da (nossa) razão

As alterações do PS ao Estatuto do Jornalistas, que o Parlamento português vota amanhã, ficaram aquém do que os jornalistas e o maior partido da oposição pretendiam, mas chegaram para satisfazer as empresas de media. Portanto, nada de novo nas ocidentais praias lusitanas onde o importante é razão da força e não a força da razão.

Para o presidente do Sindicato dos Jornalistas, Alfredo Maia, as alterações propostas representam “um recuo do Partido Socialista no seu compromisso eleitoral de melhorar a protecção do sigilo profissional dos jornalistas”.

O sindicalista lamentou, em declarações à Lusa, que o PS não tenha aproveitado a ocasião para “restringir a hipótese de quebra do sigilo [profissional] apenas aos casos em que comprovadamente possa ajudar a prevenir crime futuro contra a vida de pessoas”.

A nova versão do diploma, criticou Alfredo Maia, “mantém os jornalistas na situação que já vigora: a aplicação da norma em qualquer investigação criminal”.

Também o porta-voz do Movimento Informação é Liberdade (MIL), que juntou mais de 700 jornalistas (o Sindicato juntou mais de três mil) contra a promulgação do Estatuto do Jornalista, admitiu que as alterações não foram tão longe como seria desejável. Não saíram, digo eu, do mesmo sítio. Apenas mudaram mais para a direita…

Em síntese, repito o que aqui escrevi no passado dia 6: Assim sendo, o PS anuncia que vai mudar o acessório, mantendo tudo o resto. Ou seja, vai alterar apenas a cor da corda que criou para enforcar os Jornalistas.

terça-feira, setembro 18, 2007

Vale a pena dar voz a quem a não quer ter?

Nada melhor do que ter um problema para saber de que lado estão os que nos rodeiam. No meu caso, foi grato verificar que dois ou três, dos muitos mais amigos que eu pensava ter, me manifestaram solidariedade. Também foi bom, apesar de tudo, ver que dos que estão do outro lado da barricada há alguns que se preocupam.

Acredito que tenha dado especial gozo a alguns dizer-me: “eu bem te avisei” ou, ainda, “será que já viste que estás do lado errado?”. A mim não deu gozo mas, é claro, ajudou-me a pensar.

“Continuo a pensar que estou no lado certo da barricada”, disse a um deles. A resposta, incisiva e penetrante, não se fez esperar: “Se estás do lado certo, onde estão agora os que deviam estar ao teu lado, como estiveram noutras alturas?”.

Fiquei sem resposta. É que, de facto, os que eu contava estarem ao meu lado, ou não deram sinal de vida ou, por conveniência, estão com um pé já do outro lado da barricada.

Ponderado o assunto, ainda não é desta (certamente nunca será) que passo para o outro lado. Não deixo, contudo, de cada vez mais me questionar se vale a pena querer dar voz aos que voluntariamente a não querem ter.

Por tudo isto, em vez de escrever o que penso, penso no que (não) escrevo.

domingo, setembro 16, 2007

Ser Angolano


Ser Angolano é meu fado, é meu castigo.
Branco eu sou e pois já não consigo
Mudar jamais de cor ou condição…
Mas, será que tem cor o coração?

Ser Africano não é questão de cor
É sentimento, vocação, talvez amor
Não é questão nem mesmo de bandeiras
De língua, costumes ou maneiras…

A questão é de dentro, é sentimento
E nas parecenças de outras terras
Longe das disputas e das guerras
Encontro na distância esquecimento.

Poema de Neves e Sousa

A mediocridade do acesso
ao Ensino Superior em Portugal

O sentimento de alunos e pais portugueses varia entre satisfação e frustração. Os que quiseram entrar no Ensino Superior a qualquer custo já lá estão, alguns dos que pretenderam entrar pelo “preço” certo ficaram à porta. Tudo porque, em Portugal, o importante é ter um diploma certo nem que seja num curso errado.

Assim, mais uma vez e em vezes que vão continuar, os alunos com fracas notas (pouco mais do que 10 foi suficiente) conseguiram entrar na Universidade. Para ter um dr. ou a eng. não é preciso ser bom estudante. Basta querer ser médico e aceitar ser dentista, basta querer ser arquitecto e aceitar licenciar-se, por exemplo, em Gestão na Escola Superior de Gestão, Hotelaria e Turismo de Faro, da Universidade do Algarve.

Quem assim não pensa terá de aguardar mais um ano, mais dois, mais três, até conseguir entrar na sua real vocação. Convenhamos que esperar não é a melhor estratégia. E assim sendo, lá vamos continuar a ter médicos que deveriam ser sapateiros, engenheiros com sobejas qualidades para serem primeiros-ministros, licenciados em Direito que deveriam ser jardineiros e por aí fora.

Um aluno que, numa escola pública, terminou o Ensino Secundário com média de 18,8 e se candidatou como primeira e única opção ao curso de Arquitectura da Universidade do Porto, com média de 18, ficou, por duas décimas, à porta. Na mesma Faculdade entraram alunos cuja opção pela Arquitectura foi a segunda, terceira ou até quinta opção mas que, é claro, tinham mais do que 18,2.

Assim não vamos longe. Mas, se calhar, é mesmo isso que o país quer. Navegar à vista da… mediocridade.

sábado, setembro 15, 2007

Mukanda (quase igual) de saudade e… dor


Como é que se explica a quem nos ama e que não conhece a nossa Terra, a razão porque, depois de dezenas de anos fora dela, preciso dela todos os dias, sinto-a todos os dias, amo-a todos os dias, chamo-a para junto de mim todos os dias? Não se explica.

Por alguma razão, essa terra não se define – sente-se. Mas será possível aos meus filhos sentirem algo que não conhecem na alma? No coração conhecem… de tanto ouvirem o pai falar da melhor terra do mundo.

Este é, para mim, um exemplo que contraria o provérbio “longe da vista, longe do coração”. De olhos fechados vejo-a e, por isso, ela não está longe do coração. Ela é o meu próprio coração, por muito que isso custe a quem não compreende que sentir é a melhor forma de ser digno.

Não sei se alguma vez poderei levar os meus filhos aos recantos e esquinas da minha cidade, de modo a deixá-los respirar o horizonte que cheira a infinito. Creio que seria a melhor forma de, sem palavras, explicar tudo. Explicar porque, nas madrugadas embevecidas pelo silêncio da pequenez portuguesa, respiro o choro de uma dor crónica.

Um dia, com ou sem o pai, eles acabarão por conhecer a minha (e também deles) terra. E nessa altura, mesmo sem saberem o sítio exacto onde deixei o cordão umbilical, vão respirar o silêncio, beber o infinito e dormir embalados pela certeza de que, afinal, o pai tinha razão quando chorava de saudade.

Terão, certamente nessa altura, uma lágrima no canto do olho. Uma lágrima que ao cair na terra quente fará nascer uma flor. Uma flor sem nome (que eu gostava que se chamasse Luana), uma daqueles flores que só alguns vêem, que só alguns sentem, que só alguns amam.

sexta-feira, setembro 14, 2007

Deixarei de escrever neste espaço
sobre assuntos relativos a Angola

Sempre defendi que Angola não se define – sente-se. E o que sinto pelo meu país é, portanto, algo que não se define. Continuo a sentir o mesmo de sempre apesar de, a partir se agora, deixar de escrever sobre Angola. Os, admito que sejam ainda alguns, leitores deste espaço e dos temas angolanos mereciam uma explicação mais pormenorizada. Posso mas não devo dar essa explicação. Fico em dívida, assumo. Talvez um dia, a partir de um qualquer outro ponto do globo, quem sabe se mesmo de Angola, eu possa pagar essa dívida, eventualmente com juros…

quinta-feira, setembro 13, 2007

Scolari merece mais uma medalha…

Fosse Portugal um Estado de Direito, tivesse o presidente da Federação Portuguesa de Futebol, Gilberto Madail, os tomates no sítio e, a esta hora, Luiz Felipe Scolari já teria sido despedido com justa causa e sobre ele impenderia um pedido de indemnização por ofensas graves à honorabilidade de Portugal.

Fosse Portugal um Estado de Direito, tivesse o Secretário de Estado da Juventude e do Desporto, Laurentino José Monteiro de Castro Dias, os tomates no sítio e, a esta hora, Luiz Felipe Scolari já teria sido despedido com justa causa e sobre ele impenderia um pedido de indemnização por ofensas graves à honorabilidade de Portugal.

Fosse Portugal um Estado de Direito, tivesse o presidente do Conselho de Administração da Caixa Geral de Depósitos, Carlos Jorge Ramalho dos Santos Ferreira, os tomates no sítio e, a esta hora, Luiz Felipe Scolari já teria sido despedido com justa causa e sobre ele impenderia um pedido de indemnização por ofensas graves à honorabilidade de Portugal.

Mas como, de facto que não de jure, Portugal é uma república das bananas, Luiz Felipe Scolari poderá continuar a dar socos, enquanto seleccionador português, aos jogadores da equipa adversária sem que nada lhe aconteça.

Nada, não é bem. Provavelmente será mais uma vez condecorado pelos altos serviços prestados a Portugal, talvez agora na categoria de boxe.

quarta-feira, setembro 12, 2007

Não pode ser verdade. Dos Santos não o permitiria

Não acredito que a Manchete de hoje do Notícias Lusófonas seja verdadeira. Alguém acredita que a polícia angolana se considera "acima da lei" e viola os direitos do homem com toda a impunidade?

A Amnistia Internacional diz que é mesmo assim. Num relatório intitulado "Acima da lei - a responsabilidade da polícia em Angola", a AI denuncia a actuação das forças de segurança num país ainda marcado pela violência da guerra civil (1975-2002).

No documento de 28 páginas, a Amnistia Internacional cita diversos casos cometidos entre 2005 e 2007, incluindo mortes registadas durante as detenções devido a actos de tortura, que continuam até agora impunes.

Não acredito. Como é possível fazer tais acusações a um Estado de Direito democrático? Como é possível fazer tais acusações a um país dirigido por um democrata à prova de Miala (perdão, de bala) como José Eduardo dos Santos?

É mais fácil falar de Madeleine McCann
do que do português Rui Pedro. É pena!


O ministro da Justiça, Alberto Costa, manifestou em Bruxelas "plena confiança no trabalho da Polícia Judiciária" no âmbito do caso Rui Pedro , considerando que a polícia portuguesa está a investigar com os meios adequados.

O ministro quebrou hoje o silêncio para reiterar a sua confiança no trabalho da polícia portuguesa, sustentando que a PJ "está a investigar com toda a sua competência e com os recursos que são necessários".

Alberto Costa sublinhou que falava "sob a égide do Ministério Público e, a seguir, será a vez de os Tribunais se pronunciarem".

"O que todos desejamos e o que todos precisamos é que este caso seja esclarecido", concluiu.

Era bom, era! Acontece que as palavras do ministro se referiam ao caso Madeleine McCann e não, infelizmente, ao do Rui Pedro.

terça-feira, setembro 11, 2007

Terá Mugabe aprendido com Valentim Loureiro?

O Zimbabué é um país muito mais rico do que Portugal. Enquanto, nas eleições, Valentim Loureiro oferecia electrodomésticos, Robert Mugabe dá, segundo o Movimento para a Mudança Democrática (MDC), veículos aos chefes tradicionais em troca dos votos que estes possam mobilizar para a Zanu-PF nas próximas eleições gerais.

Trinta e oito chefes tradicionais (também conhecidos por régulos) receberam ontem, numa cerimónia em Harare, veículos de caixa aberta oferecidos pelo governo.

A oferta, que o executivo de Mugabe diz pretender beneficiar 266 chefes, faz parte de um programa iniciado há quatro anos pelo governo.

Para o MDC, no entanto, a oferta, paga pelos contribuintes, não passa de um exercício de suborno destinado a conquistar o apoio dos chefes tradicionais para o presidente e o partido governamental.

"Não é por acaso que a entrega das viaturas se fez agora.. Nenhum governo deveria abusar das instituições públicas e dos nossos respeitados e idosos chefes com o objectivo de alcançar fins políticos egoístas que são contrários aos seus papéis tradicionais na sociedade", refere a facção Morgan Tsvangirai do MDC num comunicado hoje distribuído em Harare.

O jornal pró-governamental Herald noticiou hoje a cerimónia de entrega dos 38 novos veículos, salientando que alguns dos chefes tradicionais ficaram "maravilhados" com a oferta.

O chefe Sogwala, do centro do país, foi citado pelo Herald afirmando que o veículo que lhe foi atribuído "será muito útil na assistência às populações, podendo vir a servir como ambulância e meio de transporte".

Os chefes tradicionais têm grande influência sobre o eleitorado rural, precisamente onde o presidente Robert Mugabe habitualmente vence as eleições.

No início do ano, os chefes tradicionais deram apoio a Mugabe, 84 anos, para concorrer às eleições presidenciais e parlamentares de 2008 como candidato da Zanu-PF, que está no poder desde 1980.

Também na África do Sul o partido no poder (ANC, ou Congresso Nacional Africano) distribui veículos todo-o-terreno aos chefes tradicionais e é por isso criticado pela oposição.

Há uma semana, o governo provincial do Limpopo - uma província maioritariamente rural - que é controlado pelo ANC, admitiu ter gasto 11 milhões de rands (1,1 milhões de euros) na compra de veículos para os chefes da área, justificando a sua atitude com as obrigações que os chefes têm de estar em permanente contacto com as populações em áreas remotas.

Foto: Interior do automóvel de Robert Mugabe

Jornalistas do “Agora” ameaçados de morte

Segundo o Apostolado, jornalistas do jornal “Agora” queixaram-se publicamente, em Luanda, de terem sido alvo de ameaças de morte, por agentes da fiscalização do governo provincial de Luanda.

Aqueles profissionais da comunicação social observaram, na última semana, uma descarga policial sobre cambistas ambulantes e outros vendedores de rua.

Os fiscais não gostaram da presença dos jornalistas (pois claro!) e empunharam armas contra eles, ameaçando-os de morte, em caso de publicação da matéria.

António Freitas, director adjunto do semanário, afirmou que não é pela primeira vez que jornalistas do “Agora” sofrem destas ameaças.

Lembrou que este comportamento dos fiscais tem sido recorrente, e pediu aos órgãos do governo provincial a tomarem medidas para acabar com a situação.

“É que não se sabe o que eles confiscam e nem para onde vão os produtos confiscados” – acrescentou.

Divaldo Martins, da policia nacional diz que os jornalistas do “Agora” devem intentar uma acção judicial contra os agentes da fiscalização do governo de Luanda.

Para que conste…

Ainda e sempre o 11 de Setembro

Alguém disse que «nós somos filhos e agentes de uma civilização milenária que tem vindo a elevar e converter os povos à concepção superior da própria vida, a fazer homens pelo domínio do espírito sobre a matéria, pelos domínios da razão sobre os instintos»

Chegados às portas da globalização, às moedas únicas e, quiçá, a um modelo federal de estados, é razoável pensar que são cada vez mais os instintos e cada vez menos as razões. De um lado e do outro residem argumentos válidos, tão válidos quanto se sabe (é da História) que para os senhores do poder (hoje terroristas, amanhã heróis - ou ao contrário) o importante é a sociedade que tem de ser destruída e não aquela que tem de ser criada.

É isso que pensam, por exemplo, George W. Bush, Osama bin Laden, Robert Mwgabe ou Nino Vieira. Aliás, G. Geffroy dizia pura e simplesmente que o importante é avançar por avançar, agir por agir, pois em qualquer dos casos alguns resultados hão-de aparecer.

Os EUA estão a avançar, feridos que foram no seu orgulho de polícias e donos do Mundo. Com eles estão uma série de países, nem todos de forma sincera. Não será o caso dos europeus mas é, com certeza, o caso de muitos estados árabes que, com medo do cão raivoso, aceitaram (mesmo que contrariados) a ajuda do lobo.

Quando se aperceberem (alguns já se aperceberam), o lobo terá derrotado o cão e preparar-se-á para os comer a eles. O lobo, como mais uma vez se confirma, não terá necessariamente de ter nacionalidade norte-americana.

Aliás, os homens do tio Sam são especialistas em criar lobos onde mais lhes convém. Em certa medida Osama bin Laden, tal como Saddam Hussein, foram lobos «made in EUA». Ao contrário do que pensam os ilustres operacionais da NATO, do FBI da CIA ou de qualquer coisa desse tipo, ninguém tem neste planeta (pelo menos neste) autoridade e poder ilimitados.

O mesmo se aplica em relação aos agora chamados de terroristas. Mas, como os instintos ultrapassam a razão, ambos estão convencidos que são donos e senhores da verdade absoluta. O confronto foi, é e será, por isso, inevitável.

Significará esta tese que a 3ª Guerra Mundial está aí ao dobrar da próxima esquina? Para mim significa exactamente isso. Só falta saber a que distância está a próxima esquina.

Os agora terroristas (segundo a terminologia ocidental, que já usou igual epíteto - entre outros - para Yasser Arafat, recordam-se?) poderão não ter a mesma capacidade bélica do que os EUA e seus aliados. Vão ser humilhados, sobretudo pelo número dos mortos que o único erro que cometeram foi terem nascido.

São as leis da razão? Não. São as leis dos instintos. Instintos que vão muito além das leis da sobrevivência. Entram claramente (tal como entrou Bin Laden) na lei da selva em que o mais forte é, durante algum tempo mas nunca durante todo o tempo, o grande vencedor.

A 3ª Guerra Mundial começou porque o Mundo Árabe só está do lado dos EUA por questões estratégicas, por opções instintivas. Bem ou mal, em matéria de razão os árabes estão com os seus... e esses não são os nossos (?).

É claro que, transitoriamente, alguns admitiram aliar-se aos EUA. Foi a opção, neste exacto contexto, pelo mal menor. Mesmo assim, avisaram que não admitirão ataques a outros países árabes. Pelo menos desde a Guerra dos Seis Dias, a aprendizagem dos árabes tem sido notável. Aceitam o que os EUA definem como inimigos, enforcam até os seus pares com a corda fornecida pelos norte-americanos mas, na melhor oportunidade, enforcam americanos com a corda enviada de Nova Iorque.

Até agora os atentados são a resposta mais visível desta 3ª Guerra Mundial. Com bombas, aviões ou antrax vão preparando o terreno. Não tardará muito, tal como fizeram com os soviéticos no Afeganistão, vão utilizar o próprio armamento do Ocidente. E, quando entenderem, também poderão fazer uso de armamento nuclear.

Então? Então é preciso ir em frente. Sem medo. Olho por olho, dente por dente. No fim, o último a sair - cego e desdentado - que feche a porta e apague a luz...

Nota: O autor da transcrição feita no primeiro parágrafo é António de Oliveira Salazar.

sexta-feira, setembro 07, 2007

Parabéns a Suzana Mendes e a Luís Nhachote
- É preciso dar voz aos milhões que a não têm

A Jornalista angolana Suzana Mendes (foto) foi eleita para o Comité Permanente do Fórum de Repórteres de Investigação de África, instituição que realizou a sua segunda Assembleia Geral em Joanesburgo, África do Sul.

A representante angolana, editora-chefe do Jornal Angolense, foi a que mais votos recebeu na disputa com oito colegas de países como a República Democrática do Congo, Zimbabué, Benin, Uganda e Moçambique, num fórum que contou com 40 profissionais.

O jornalista moçambicano Luís Nhachote, do Canal de Moçambique, foi eleito secretário-geral da organização e pela primeira vez os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa terão dois lugares na direcção da organização.

O Fórum de Repórteres de Investigação de África é uma associação profissional de classe que reúne os jornalistas africanos engajados no jornalismo de investigação.

A associação incentiva e apoia o desenvolvimento de matérias de fundo no continente e neste momento trabalha na produção de uma investigação transnacional sobre o comércio de fármacos no continente.

A serenidade em pessoa… para bem de Angola

Ao ouvir ontem, na RTP/África, a entrevista de Alcides Sakala não podia deixar de repetir o que aqui escrevi em 30 de Setembro de 2006. Nessa altura falei do meu velho e querido amigo dos tempos (entre outros) dos bancos da escola no Huambo, que está ao leme do grupo parlamentar da UNITA. E se há um ano dizia que sempre que falava dele dizia meu velho e querido amigo porque tinha orgulho nisso e por que sabia que ele foi, é e será um lapidar exemplo para os angolanos onde, obviamente, me incluo, hoje acrescento que a sua lucidez nos permite pensar que Angola tem futuro, já tendo algum presente.

quinta-feira, setembro 06, 2007

PS aceita modificar a cor da corda
com que vai enforcar os Jornalistas

O PS anunciou hoje que vai alterar, entre outros, o diploma que aprova o Estatuto do Jornalista, objecto de veto político por parte do presidente da República e que foi feito à imagem e semelhança do que José Sócrates pensa ser exclusivamente melhor para si e para o seu Governo.

O anúncio foi feito hoje pelo líder parlamentar socialista, Alberto Martins, após a leitura dos vetos presidenciais na reunião da Comissão Permanente da Assembleia da República, que funciona durante as férias parlamentares.

Quanto ao Estatuto do Jornalista, aprovado apenas pelo PS, o líder parlamentar socialista defendeu que Cavaco Silva não pôs em causa "a estrutura essencial" do diploma e declarou que os pontos mencionados no veto serão "devidamente ponderados", resultando nos "ajustamentos necessários".

Traduzindo para português, Alberto Martins diz que o PS vai mexer nas moscas para que tudo resto fique na mesma. Isto porque, diz, o presidente nem sequer pôs em causa “a estrutura essencial”.

Assim sendo, o PS anuncia que vai mudar o acessório, mantendo tudo o resto. Ou seja, vai alterar apenas a cor da corda que criou para enforcar os Jornalistas.

quarta-feira, setembro 05, 2007

Zimbabué só tem farinha para dois dias

A principal fornecedora de pão do Zimbabué advertiu que tem apenas farinha para dois dias, enquanto o Presidente Robert Mugabe acusou governos estrangeiros de tentarem derrubá-lo, levando empresas a aumentar os preços sem justificação, segundo a BBC. Ora aí está. Se Mugabe diz…

A empresa Lobels Bread, uma das principais fornecedoras de pão do Zimbabué garante que tem apenas farinha suficiente para mais dois dias, segundo notícias hoje veiculas pela estação britânica BBC e pelo diário digital sul-africano Mail anf Guardian.

A Lobels Bread já afastou compulsivamente centenas de trabalhadores e quase esgotou as suas reservas de farinha, segundo um responsável da empresa, citado pelo diário.

"Já utilizámos todas as 4.000 toneladas de farinha que tínhamos em armazém, como reserva", adiantou.

Durante o fim-de-semana, o ministro da Segurança Didymus Mutasa afirmou que o país (que chegou a ser o celeiro de África) não pode levantar as 36.000 toneladas de trigo importado que estão retidas num porto de Moçambique, por falta de divisas, refere o diário digital.

A empresa, que há três meses produzia 200.000 pães por dia, diz produzir hoje apenas 40.000.

A taxa de inflação oficial do Zimbabué atingiu os 7.634,8 por cento, revelaram a 22 de Agosto os serviços de estatísticas (CSO), em Harare, que já não publicavam dados oficiais há três meses.

Segundo o CSO, a taxa de inflação anual era de 7.251 por cento em Junho e 4.530 por cento em Maio e a inflação mensal cifrou-se em Julho nos 31,6 por cento, uma redução de 54,6 pontos percentuais relativamente a Junho.

O Zimbabué entrou no oitavo ano de uma cada vez mais profunda crise económica, que tem sido marcada por um forte desemprego (80 por cento da população activa), a maior taxa de inflação a nível mundial e escassez quase permanente de bens alimentares essenciais, combustíveis, roupa e calçado.

Mugabe, que está no poder desde a declaração da independência do Zimbabué, em 1980, e que confiscou desde 2000 mais de quatro mil propriedades agrícolas pertencentes a brancos, acusa as nações ocidentais de conspirarem com os empresários para aumentarem os preços e destruírem a economia nacional.

Os seus críticos, no entanto, acusam-no de conduzir uma campanha de repressão contra a oposição e os empresários destinada apenas a perpetuar o poder.

Viva Robert Mugabe e todos aqueles que o ajudaram a chegar ao poder (ver foto).

terça-feira, setembro 04, 2007

«A Imprensa tornou-se o tapete do poder»

«O povo não pode esperar da imprensa o que a imprensa já não pode dar: independência. Devido à obsolescência tecnológica e social, motivada pela tendência da desintermediação, e à asfixia financeira da gratuidade dos conteúdos e meios e da falta de adaptação estrutural, a imprensa tornou-se o tapete do poder», escreve com toda a razão – diga-se - António Balbino Caldeira, no seu “Portugal Profundo”.

Vem isto a propósito de o Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas querer ouvir os conselhos de redacção, os directores e um grupo de profissionais de 11 meios de comunicação social sobre a participação de jornalistas como accionistas nas recentes assembleias-gerais do BCP.

Em declarações à agência Lusa, o presidente do Conselho Deontológico (CD), Orlando César, sublinhou que o organismo entende que este tipo de participação por parte de profissionais de órgãos de comunicação social "viola e afecta a deontologia profissional", sendo necessário "fazer um debate, uma reflexão sobre esta matéria".

Não há debate e reflexão que nos valha porque “a imprensa tornou-se o tapete do poder”.

"Apesar de ter sido facultada uma sala de imprensa por parte do grupo BCP [na assembleia geral de 6 de Agosto], existiram jornalistas que não prescindiram das procurações facultadas" por uma associação de investidores e analistas, salientou.

De forma a promover esta reflexão, o CD pediu depoimentos, através de cartas, a um total de 38 jornalistas (profissionais que assinaram notícias sobre esta matéria e directores) e a 7 conselhos de redacção de 11 meios.

"Foi uma escolha aleatória, onde estão incluídos os jornais económicos, os jornais diários de expansão nacional, os semanários e a agência noticiosa", referiu Orlando César, explicando que as cartas, que já foram todas enviadas, eram constituídas por algumas questões sobre o assunto.
O responsável acrescentou que antes do envio destas cartas, o CD fez uma observação detalhada sobre as notícias divulgadas na imprensa escrita, não tendo solicitado a participação das televisões e das rádios por falta de recursos.

"O conselho, depois de analisar estas contribuições, irá posteriormente pronunciar-se sobre a matéria e extrair uma conclusão", afirmou, destacando que a iniciativa "visa proporcionar uma reflexão que dê um contributo sério à credibilização do jornalismo e dos jornalistas".

Como será possível credibilizar algo que voluntariamente aceita não ter credibilidade como fonte importante, em alguns casos única, de pagar as contas ao fim do mês?

Cavaco diz, finalmente, que a Ibéria
proposta por Saramago é um absurdo

No dia 15 de Julho, José Saramago resolveu, em entrevista ao “Diário de Notícias” dizer que Portugal, "com dez milhões de habitantes", teria "tudo a ganhar em desenvolvimento" se houvesse uma "integração territorial, administrativa e estrutural" com Espanha. Nesse mesmo dia manifestei aqui a minha opinião. Finalmente hoje, 04 de Setembro, o presidente da República resolveu dizer de sua justiça, considerando as opiniões de Saramago "um absurdo".

Para que não restem dúvidas, aqui se reproduz o que então escrevi: O prémio Nobel da Literatura (não sei como é que isso foi possível, mas que foi, foi) José Saramago prevê, numa entrevista publicada hoje no "Diário de Notícias", que Portugal vai acabar por tornar-se uma província de Espanha e integrar um país que se chamaria Ibéria para não ofender "os brios" dos portugueses. Se calhar tem razão.

O escritor, que reside há 14 anos na ilha espanhola de Lanzarote, considera que Portugal, "com dez milhões de habitantes", teria "tudo a ganhar em desenvolvimento" se houvesse uma "integração territorial, administrativa e estrutural" com Espanha.

Se for, na minha opinião, tão bom futurólogo como é escritor, podemos estar descansados. Continuaremos a ser os mais europeus do norte de África.

Portugal tornar-se-ia assim, sugere o Nobel português, mais uma província de Espanha: "Já temos a Andaluzia, a Catalunha, o País Basco, a Galiza, Castilla La Mancha e tínhamos Portugal".
"Provavelmente [Espanha] teria de mudar de nome e passar a chamar-se Ibéria. Se Espanha ofende os nossos brios, era uma questão a negociar", disse o escritor, membro do Partido Comunista Português desde 1986.

Questionado sobre a possível reacção dos portugueses a esta proposta, Saramago disse acreditar que aceitariam a integração, desde que fosse explicada: "não é uma cedência nem acabar com um país, continuaria de outra maneira. (...) Não se deixaria de falar, de pensar e sentir em português".

Com o mérito (reconheça-se) de vender que se farta os seus livros, a que alguns chamam de literatura, Saramago é livre (mesmo pertencendo ao PC) de dizer o que bem entende. Aliás, entre um génio e um eunuco mental a quem foi dado um Nobel… todos sabemos a quem a Imprensa dá destaque.

Na visão do escritor, Portugal não passaria a ser governado por Espanha, passaria a haver representantes de ambos os países num mesmo parlamento e, tal como acontece com as autonomias espanholas, Portugal teria também o seu próprio parlamento.

Numa entrevista de quatro páginas ao DN, Saramago diz que em Agosto começa a escrever um novo livro (certamente mais uma obra de arte da literatura ibéria) e fala também da sua fundação, recentemente constituída, que deverá "intervir social e culturalmente, preocupar-se com o meio ambiente e outras questões", também na província espanhola de Portugal.

A Fundação José Saramago, que será presidida pela mulher do escritor, terá sede na capital provincial de Portugal (Lisboa) e prolongamentos em Lanzarote, na terra do escritor, Azinhaga, e na terra de Pilar, Castril.

Tudo, é claro, a bem da Ibéria saramaguiana.

segunda-feira, setembro 03, 2007

A propósito do meu livro de 1995
«Açores - Realidades Vulcânicas»

No dia 31 de Agosto, Ermelindo Ávila (na foto), escritor, investigador e jornalista picoense, escreveu no seu domeuretiro.blogspot.com o texto que se segue e que, em parte, aborda um livro que publiquei em 1995 sobre os Açores. Ei-lo na íntegra e sem comentários.

“Orlando Castro, Jornalista, em tempo, do “Jornal de Notícias”, andou pelos Açores no Verão de 1993, visitando especialmente as ilhas do Grupo Central, onde se demorou dezoito dias. Das Crónicas que escreveu para a Imprensa Continental, publicou, depois, “Açores - Realidades Vulcânicas”, um livro de 137 páginas, com vinte pequenos capítulos, incluindo o Prefácio da lavra de José Manuel Tavares Rebelo, Presidente da Casa dos Açores do Norte.

Um dos capítulos é dedicado à (IM)PRENSA (sic). Principia por referir o centenário “O Telégrafo”, infelizmente já desaparecido para, de seguida, aludir à Imprensa que já existiu nas Ilhas do Grupo Central – Graciosa, São Jorge, Pico e Faial. Faz alusão ao primeiro jornal agrícola português . “O Agricultor Micaelense” (1843). Não esquece o “Açoriano Oriental”, felizmente transformado em diário aqui há uns anos passados, e, da ilha de São Jorge, cita alguns títulos.

Sobre o Pico e o Faial apenas escreve: “Embora com grande tradição, se é que a ancestralidade pode ser considerada como uma tradição, a Imprensa açoriana não existe enquanto tal. O que existe são várias imprensas, e nem por isso menos dignas, cada uma no seu nicho, cada uma na sua ilha. O sentido de arquipélago não passa de uma miragem. Mesmo entre o Faial e o Pico, separados por escassos 6 Kms, há uma barreira enorme. Não são, mas parecem e funcionam como se fossem “países” diferentes, com culturas e línguas antagónicas.” (pág.73)

Não sei onde o sr. Castro teve tempo para, em três semanas (l8 dias) tanto descobrir. Mas mais não cito.

Porfírio Bessone no seu “Dicionário Cronológico dos Açores” (1932) insere uma relação das publicações açorianas que ocupa 24 (vinte e quatro páginas) e não inclui todos os jornais que existiram, v.g., na ilha do Pico.

A primeira Imprensa que houve na ilha foi trazida para as Lajes pelo professor Manuel Tomás Pereira em Setembro de 1874, muito embora nela não tenha sido impresso qualquer periódico. (Arquivo dos Açores, Vol.IX, p.41) O primeiro jornal existente na ilha foi publicado na Madalena, “O Picoense”, fundado em 1874 pelo ainda estudante Dr. Urbano Silva Ferreira.

Até à actualidade a Madalena fundou doze periódicos, incluindo dois em S. Mateus. Actualmente publica o semanário “Ilha Maior” no vigésimo ano de publicação.

Nas Lajes publicaram-se oito jornais, incluindo “O Dever” que há meses celebrou 90 anos de existência, muito embora se edite nesta Vila somente a partir de Setembro de 1938 ( ocorrem agora 69 anos).

Em São Roque do Pico publicaram-se : O Echo do Pico, 1878; Boletim Judicial, 1879; O Picaroto, 1882; O Pico, 1885, este fundado e dirigido pelo malogrado Poeta Manuel Henrique Dias; O Independente, 1882; O Picaroto, 1890, com várias séries; O Popular, 1890; O Futuro, também com várias séries; e o Picoense, com várias séries, igualmente. Presentemente há o Jornal do Pico já no quarto ano de publicação.

Embora alguns dos jornais fossem de efémera duração, presentemente os jornais picoenses, já com assinalável existência, têm colaboradores distintos que lhes asseguram existência promissora e estável.

A Ilha do Pico não é apenas uma das vinte mais notáveis, em diversos aspectos, no mundo. Vive uma época de cultura notável que a distingue entre as demais do Arquipélago. Felizmente!”

domingo, setembro 02, 2007

O «socretino» governo (de Lisboa) e os emigrantes

Saberão os portugueses que trabalham no estrangeiro coisas que os que residem nas ocidentais praias lusitanas não sabem? Ou será, pelo contrário, que ainda não descobriram que o governo “socretino” de Lisboa os anda enganar, tal como ludibria todos os que por cá fazem vida claramente (so)cretina?

Nos primeiros seis meses de 2007, o envio de dinheiro para Portugal por parte das comunidades portuguesas no estrangeiro registou um crescimento de 10,7% em relação a igual período de 2006 - indicam números distribuídos pelo Banco de Portugal.

Quer raio de país andam a vender junto dos mais de 30% da população portuguesa que vive por esse mundo?

Nos seis meses Janeiro-Junho do corrente ano, as remessas de dinheiro para Portugal atingiram os 1.206.769.000 euros, ultrapassando os 1.090.042.000 euros registados em igual período do ano passado.

Cheira-me que, mais uma vez, a equipa “socretina” continua a dizer ao bom povo português, tal como o fez John Kennedy, que "é a altura não de perguntar aquilo que o país pode fazer por nós, mas aquilo que todos podemos fazer pelo nosso país".

E assim, os portugueses da diáspora vão ter também (e mais uma vez) de pagar a conta. Já a estão a pagar como, aliás, sempre fizeram.

O que pensa o Governo fazer com os perto de quatro milhões e meio de portugueses que escolheram (a maior parte deles voluntariamente... obrigados) outros países para viver?

Facilitar-lhe o envio de euros, está bom dever.

Falar (e falar bem é coisa que sobra neste, como nos outros, governos) de apoiar uma maior integração nos países de acolhimento, de reforçar os elos de ligação com o país de origem, de reformular a rede consular e de incentivar o ensino do português parece-me uma daquelas fórmulas inócuas que, como por cá se diz, apenas servem para tapar o sol com uma peneira.

Além disso não reflectem nada de novo e, convenhamos, serve a gregos e troianos. Ou seja, a ninguém em concreto. E os portugueses que lutam no estrangeiro são – digo eu - algo de concreto, com alma e coração.

É claro (para mim - entenda-se) que este Governo (tal como os outros) está-se nas tintas para os emigrantes. Porquê? Porque, apesar de serem os tais quatro milhões e meio... apenas para aí 200 mil têm direito de voto, embora não o usem.

Acresce, até porque importa estimular a verdade, que o PS “socretino” também aos emigrantes prometeu pão e vinho sobre a mesa e, afinal, nem mesa (muito menos o pão e o vinho) lhes vai dar.

Aliás, alguém se lembra que entre as muitas promessas, não do PS mas dos PSD, constava a criação de um ministro de Estado adjunto para as Comunidades?

Pois! Enganados andamos todos, emigrantes ou não. Daí que, calculo eu, um dia destes os emigrantes vão fechar a torneira das remessas e os que por cá (sobre)vivem vão dizer: Alto e pára o baile.