domingo, novembro 02, 2008

Em África podem morrer todos
- Importante, isso sim, é o petróleo

A comunidade internacional não pode permitir que a República Democrática do Congo, onde rebentou uma grave conflito no Leste, se transforme "num novo Ruanda", disse o primeiro-ministro britânico, de visita à Arábia Saudita. E pronto. Não pode permitir, mas permite.

"Estou muito preocupado com a situação no Congo", disse Gordon Brown, se bem que a sua principal preocupação seja, reconheça-se, pedir ajuda às monarquias do Golfo para ultrapassar a crise financeira.

Segundo estimativas da ONU, cerca de 800.000 pessoas foram mortas no genocídio que se verificou no Ruanda em 1994. E o que se fez de lá para cá? Nada. O Mundo continuou a cantar e a rir e, é claro, a fornecer armas aos amigos e aos inimigos. Sim, que nesta matéria o melhor é forneceê-las a todos.

As declarações de Brown surgem num momento em que os ministros dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido e da França, David Miliband e Bernard Kouchner, se deslocaram a Kinshasa, onde se avistaram com o Presidente Joseph Kabila que, por estar no poder, é considerado o parceiro ideal.

Se amanhã estiver Laurent Nkunda, será ele o interlocutor válido para uma comunidade internacional que se está nas tintas para as pessoas.

"Tivemos um bom diálogo", disse Miliband, à saída do encontro com Kabila. "O tema chave da nossa discussão foi a necessidade de aplicar os acordos que já foram concluídos e que implicam a responsabilidade de todas as partes."

Cerca de 220.000 pessoas foram deslocadas desde que começou em Agosto o conflito entre o exército regular e os combatentes do general deposto Laurent Nkunda, no Norte-Kivu, província do Leste da RDCongo que faz fronteira com o Ruanda.

Mark Malloch-Brown, secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros britânico, declarou no sábado à BBC que o envio de tropas da União Europeia para a RDCongo "é uma opção sobre a mesa" se se malograrem os esforços diplomáticos.

Ao que parece, ainda não morreram tantas pessoas quantas as necessárias para que se faça alguma coisa. Aliás, na óptica do Ocidente, quanto pior melhor. Podem morrer todos, desde que isso não contamine os poços de petróleo ou a qualidade dos diamantes, por exemplo.

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