sexta-feira, fevereiro 29, 2008

A ignorância dos deputados portugueses

Segundo o voto de pesar aprovado por unanimidade pela Assembleia da República de Portugal pelo falecimento de Gentil Ferreira Viana, este ilustre angolano “depois de concluir a licenciatura em meados da década de 1960, empreendeu uma fuga célebre com mais cerca de cem companheiros de várias ex-colónias portuguesas de África, entre os quais os moçambicanos Joaquim Chissano e Pepetela, iniciando um longo périplo que o levaria a Paris, Gana, Congo Brazzaville, Argélia, China, e mais tarde à guerrilha em Angola.”

E, assim, os ilustres (e bem pagos) deputados portugueses reescrevem a História. Ou parte dela. Com que então Pepetela é moçambicano?

Bravo, Senhores deputados!

… E aos poucos os adversários
são transformados em inimigos

Em Angola tudo continua a ser possível. Ressuscita-se um jornal (de seu nome Independente) para matar um adversário político transformado em inimigo (William Tonet/Folha 8). Pega-se num arcaico ministro da Defesa, Kundi Paihama, e transforma-se em director da campanha do MPLA. Cerca de dez mil cubanos estão de malas e bagagens prontas para viajarem para Angola onde, diz-se, serão médicos e professores.

A matilha que lidera a campanha contra William Tonet, como escreveu Norberto Hossi no Notícias Lusófonas, visa não só denegrir a sua imagem, como atentar contra a vida do jornalista e director do jornal independente Folha 8, com base num plano que pode ser executado a todo o momento pois, segundo alguns, é vital (ou de morte) resolver a questão “antes do período eleitoral”.

E resolver a questão é calar a voz que mais se tem batido pela denúncia das arbitrariedades e corrupção endémica do sistema.

“Este sistema mata mesmo, apesar da imagem de anjo do Presidente Eduardo dos Santos, o número de assassinatos não têm parado de crescer e Tonet é visto como uma pedra no sapato do regime, e que por isso não pode continuar ou em liberdade ou com vida”, afirma o NL.

É este o clima da comunicação social em Angola, onde o MPLA e o seu regime, tentam eliminar todos quanto pugnem por uma imprensa livre, liberdade de expressão e a implantação de uma verdadeira democracia.

Segundo Norberto Hossi, com os milhões do petróleo, Eduardo dos Santos ao invés de trabalhar para uma verdadeira reconciliação nacional, pretende consolidar o seu regime com a eliminação física dos seus adversários políticos, como aconteceu com o jornalista Ricardo de Melo, Nfulumpinga Landu Victor, líder do PDP-ANA, ou Jonas Savimbi.

Mas eles, os tais que comem tudo e não deixam nada, voltaram a andar em matilha pelas ocidentais praias lusitanas. Um dia destes vão aparecer à minha porta. Não lhes será difícil porque já conhecem o caminho de outras e ainda recentes incursões... democráricas.

O que é nacional não presta
- Quero sapatos made in Itália

"Eu vinha cá comprar sapatos italianos, mas fiquei tão impressionado com a qualidade dos sapatos portugueses que vou levar sapatos portugueses. Vinha comprar sapatos italianos porque têm um óptimo nome em termos de design", afirmou o ministro de Economia do Burkina Faso, perdão de Portugal, Manuel Pinho.

Oitenta empresas portuguesas estão, esta semana, a promover o calçado “made in Portugal” na maior feira de sapatos do Mundo, em Milão, e foi aí que o ilustre e bem calçado governante português mostrou como é bom andar bem calçado com sapatos… italianos.

Essa história de que o que é nacional é que é bom não foi inventada por Manuel Pinho e, por isso, ele até ia rentabilizar os custos (pagos por todos os contribuintes) da viagem, aproveitando para comprar uns sapatitos baratos e de alta qualidade, mas de fabrico italiano.

Não está mal. O ministro acabou por não comprar sapatos, nem italianos nem portugueses, mas certamente que os empresários lusos lhe vão fazer chegar uma série deles, de borla – como convém, mostrando que não ficaram ofendidos com a opção italiana do responsável pela economia no governo do Burkina Faso, perdão, no governo do Alto Volta, perdão, no governo português.

TAAG deve sair da "lista negra"

A transportadora aérea angolana, TAAG, acredita que sairá da "lista negra" de Bruxelas quando, provavelmente em Abril, a União Europeia (UE) revelar o resultado das peritagens agora feitas em Luanda.

Para além de pôr em prática as recomendações técnicas exigidas pela UE, todos os organismos do Estado ligados à aviação foram "intimados" pelo presidente da República, José Eduardo dos Santos, a tudo fazerem para que Angola seja um bom exemplo em matéria de aviação.

Desde Julho de 2007, quando foi incluída na "lista negra" da Comissão Europeia, devido à falha de segurança detectada por peritos franceses, a TAAG começou a ser reestruturada de uma ponta à outra, processo que foi também seguido em todos os organismos, incluindo os que gerem os aeroportos.

Segundo um relatório interno da comissão de verificação criada por Eduardo dos Santos, não há razões para que a TAAG continue na "lista negra", porque "desde a segurança física dos aviões às estruturas terrestres de apoio e manutenção, passando pela preparação do pessoal, tudo na TAAG está segundo as mais evoluídas regras mundiais".

Fonte: Jornal de Notícias (Portugal)/Orlando Castro

quinta-feira, fevereiro 28, 2008

Sem comentários... a bem da nação

Despedir para que os ricos fiquem mais ricos

O ministro do Trabalho alemão, Olaf Scholz, apelou hoje às empresas em boa situação económica para criarem mais empregos e qualificarem os seus trabalhadores, em vez de fazerem despedimentos.

Será que em Portugal alguém vai ouvir este apelo? É claro que não. Nas ocidentais praias lusitanas a regra de ouro é despedir.

As afirmações de Scholz foram proferidas na mesma semana em que grandes empresas como a Siemens, a BMW e a Henkel anunciaram a intenção de reduzir em breve milhares de empregos, na Alemanha e no estrangeiro, para obter maiores lucros.

Aí está. Despedir para que os poucos que têm milhões fiquem ainda com mais milhões e os muitos milhões que têm pouco fiquem ainda com menos.

Quénia lá vai de acordo em acordo
até que um dia destes volte a guerra

A notícia diz que o Presidente do Quénia, Mwai Kibaki, e o líder da oposição, Raila Odinga, assinaram hoje um acordo de governo de "coligação", no âmbito das negociações para pôr fim à grave crise pós-eleitoral no Quénia.

Os foguetes estão no ar. A comunidade internacional festeja. Importa, contudo, traduzir a notícia. Kibaki foi reeleito devido a uma fraude eleitoral e sabe bem disso. Odinga também sabe. Assim sendo, o acordo vai durar apenas o tempo suficiente para cada um rearmar as suas hostes.

A assinatura foi feita numa cerimónia pública em Nairobi, transmitida pela televisão nacional, à qual assistiram os mediadores internacionais Kofi Annan, ex-secretário-geral da ONU, e Jakaya Kikwete, presidente da União Africana.

Na fotografia todos ficaram bem. Ficam sempre bem.


A crise política, a mais grave desde a independência (1963), teve origem nas eleições presidenciais de 27 Dezembro, quando depois de os observadores internacionais e a própria comissão eleitoral nacional terem apontado a ocorrência de irregularidades, Raila Odinga contestou a reeleição de Kibaki.

A vaga de violência que se seguiu, por todo o país, fez mais de 1.500 mortos e 300.000 deslocados.

As negociações para um acordo lideradas por Kofi Annan iniciaram-se a 29 de Janeiro.



Cinco homens e uma arma,
uma arma e cinco homens!

Um veterano da guerrilha e elemento importante dos peticionários das Forças Armadas timorenses rendeu-se com cinco homens e uma arma, anunciou hoje o Comando Conjunto da operação de captura do ex-tenente Gastão Salsinha. Agora fica clara a enorme capacidade bélica dos que estão do outro lado. Cinco homens e uma arma. Cuidado com eles.

"É um dia de graças", afirmou o tenente-coronel Filomeno Paixão, 1º comandante do Comando Conjunto da operação "Halibur", ao apresentar os seis peticionários que se renderam às forças de segurança timorenses. E não é para menos pois era um grupo perigoso: cinco homens e uma arma.

Trata-se de Bernardo da Costa "Cris", um veterano da guerrilha que teve um papel importante na dinamização da petição que, em Janeiro de 2006, recolheu assinaturas contra alegada discriminação no seio das Falintil-Forças de Defesa de Timor-Leste (F-FDTL).

Bernardo da Costa "Cris" e o seu grupo, em pé atrás de Filomeno Paixão enquanto o oficial anunciava a sua rendição, entregaram-se às autoridades trazendo uma arma HK33 que tinha sido entregue ao veterano da guerrilha por Susar, um elemento do antigo grupo de Alfredo Reinado.

Desde a morte de Alfredo Reinado, durante o ataque à residência do Presidente da República, José Ramos-Horta, a 11 de Fevereiro, Susar está fugido com o que resta do grupo de Reinado, agora sob a chefia do ex-tenente Salsinha.

"Estava num esconderijo quando passou Susar e nos deu uma arma", explicou aos jornalistas o veterano peticionário. Ou seja, até essa altura eram cinco homens e nenhuma arma.

Sobre o grupo de Gastão Salsinha, o veterano afirmou ter visto que "andam armados" mas não sabe de quantos elementos e quantas armas dispõe o sucessor de Alfredo Reinado. Também não sei. Calculo, contudo, que na mesma proporção serão dez homens e duas armas…

Na sua edição de hoje, o diário Timor Post refere uma reunião de duas horas que houve quarta-feira entre Xanana Gusmão, o bispo de Díli, D. Alberto Ricardo, e o chefe do Estado-Maior General das F-FDTL, brigadeiro-general Taur Matan Ruak, em torno de uma possível rendição de Gastão Salsinha à Igreja Católica.

Veremos nessa altura se acertei no número de homens e de armas.

quarta-feira, fevereiro 27, 2008

Professores um, Sócrates zero

O primeiro-ministro português, José Sócrates, anda com os professores entalados na garganta, mau grado ter hoje elogiado o esforço dos docentes na melhoria do sistema educativo.
Traído pela verdade do subconsciente, Sócrates chamou, no encerramento das jornadas parlamentares do PS, na Guarda, a Maria de Lurdes Rodrigues ministra da avaliação, em vez de ministra da Educação.
Força professores!

Soldados guineenses dão uma ajuda
ao vizinho ditador de Guiné-Conacri

O Estado-Maior General das Forças Armadas (EMGFA) da Guiné-Bissau desmentiu hoje que tenha enviado ou esteja a preparar o envio de 700 soldados guineenses para a Guiné-Conacri como foi noticiado na página na Internet do AfricaTime.com. Será? Aguardemos.

Em comunicado de imprensa divulgado em Bissau, o EMGFA guineense nega qualquer pretensão de ingerência nos assuntos internos da vizinha Guiné-Conacri, afirmando que informações postas a circular de que teria enviado 150 homens e preparava o envio de outros 450 até ao final da semana, não passam de "calúnias e invenções de pessoas sem escrúpulos".

"Já em Janeiro de 2007 as mesmas pessoas tinham inventado coisas semelhantes, mas felizmente que a mentira tem pernas curtas", lê-se no comunicado do EMGFA, em alusão aos rumores postos a circular na Guiné-Bissau segundo os quais soldados guineenses estariam a apoiar o Presidente Lansana Conté no controlo dos protestos de rua que visavam o seu derrube do poder.

Alguma imprensa da Guiné-Conacri deu conta na altura da presença de soldados guineenses nas ruas de Conacri, a capital do país, em acções de repressão contra os manifestantes. Mentira, com certeza. Ou não?

Segundo as mesmas fontes, Lansana Conté não terá sido derrubado em Fevereiro de 2007 devido à protecção que recebeu dos soldados do "seu amigo" João Bernardo "Nino" Vieira, presidente da Guiné-Bissau. Mentira? Não. Com certeza que não.

No comunicado, o EMGFA afirma que os soldados guineenses "estão comprometidos com a tarefa nacional" e que em nenhuma circunstância poderiam envolver-se em problemas dos outros países. Treta. A macro-política regional existe para que os amigos, sobretudo os ditadores, se ajudem quando é preciso.

De acordo com o portal AfricaTime.com, "Nino" Vieira teria enviado a semana passada um contingente de 150 homens para a Guiné-Conacri, numa operação secreta, pela calada da noite e em camiões sem matrícula, para "proteger" qualquer tentativa de golpe de Estado contra o Presidente Lansana Conté, no poder há 24 anos.

O portal avança ainda que os soldados guineenses teriam como missão controlar a situação no caso de Lansana Conté, doente há vários anos, ter que abandonar o poder por incapacidade física, para dar lugar ao seu primogénito Ousmane Conté.

A tarefa dos soldados guineenses seria evitar que uma facção do Exército da Guiné-Conacri tomasse o poder, refere ainda a AfricaTime.com. Tudo mentira? Isso é que era bom.

O portal afirma que "existe qualquer coisa em preparação em Conacri" e que há indicações em como o presidente da Guiné-Bissau tem um novo contingente de 450 homens, do batalhão de Bafatá, prontos para partir para a Guiné-Conacri.

Aguardemos mais alguns dias para vermos que tudo isto é verdade. Para além de dar uma ajuda ao ditador amigo, Nino Vieira vai dando que fazer aos militares de modo a que eles não comecem a pensar em pôr a própria Guiné-Bissau em ordem, ou com outra ordem qualquer.

Dois amigos eternos: Alto Hama e Pululu

«O “Alto Hama” (http://www.altohama.blogspot.com/), do companheiro, amigo e jornalista Orlando Castro, é o café (a única droga socialmente aceitável neste mundo que cada vez se confunde com Sodoma e Gomorra) quente e saboroso que me desperta quando a noite começa a vestir-se de branco.

“O Pululu” (http://www.pululu.blogspot.com/), do não menos companheiro, amigo e académico Eugénio Costa Almeida, é o cigarro ( estou careca de saber que faz mal à Saúde) que aquece e ajuda a avivar o disco duro da memória das minhas memórias.

Até ao momento em que redigia esta crónica, o “Alto Hama” (nascido em 2006) tinha sido “picado” 083.734 leitores e, por seu lado, “O Pululu” (nascido em 2004) tinha sido visitado por 159.752 leitores de distintas partes do mundo.

É evidente que, com muito gosto e honra, me incluo no número de leitores que “picam” estes dois espaços de referência obrigatória do mundo da bloguesfera. São dois espaços incontornáveis quando o assunto é actualidade lusófona e não só.

Não leio o “Alto Hama” e “O Pululu” por causa da fleuma e da indulgente amizade (espero que dure por longos anos) que mantenho com o Orlando Castro e o Eugénio Costa Almeida. Leio estes dois blogues por encontrar neles brilhantes ideias e com as quais me identifico e cauciono.

No “Alto Hama” e n’ “O Pululu” encontro invariavelmente resposta à minha dor de patriota que assiste (im)potente ao esbulho da minha Pátria. Fui, e continuo a ser , incompreendido por aqueles que se julgam angolanos de primeira.

No “Alto Hama” e n’ “O Pululu” Orlando Castro e Eugénio Costa Almeida fazem ecoar o seu grito de raiva de revolucionários que, a dado momento de um passado recente, procuraram a revolução para fazer progredir social, económica e academicamente o País (Angola) que ocupa um lugar especial no lado direito dos seus peitos.

Foram, e continuam a ser, incompreendidos por aqueles que julgam que para ser angolano tem necessaria e obrigatoriamente que se ser negro.

No “Alto Hama” e n’ “O Pululu” Orlando Castro e Eugénio Costa Almeida fazem ecoar o grito militarista de quem procurou o exército e que não encontrou. E não encontraram por serem homens de Paz.

Não encontraram por serem homens de ideias e terem o verbo na ponta da língua. Não encontraram por terem a caneta como arma de combate para induzir quem de Direito a proporcionar dias de mais pão, sol, amor e paz aos angolanos.»

Nota: Artigo de Jorge Eurico publicado ontem no Notícias Lusófonas
(http://www.noticiaslusofonas.com/)

Militares apontam armas à Polícia da ONU
(um país de faz de conta chamado Timor)

Elementos das Forças Armadas timorenses, embora incapazes de mostrar serviço próprio, retiraram hoje e de forma violenta à Polícia das Nações Unidas (UNPol) o segundo elemento do grupo de Alfredo Reinado que se tinha rendido.

O elemento, que pertencia ao grupo do major fugitivo Alfredo Reinado desde o início de 2007, rendeu-se à UNPol no enclave de Oécussi, na parte oeste da ilha de Timor, e foi transportado hoje de manhã para Díli, num helicóptero ao serviço da Missão Integrada das Nações Unidas em Timor-Leste (UNMIT), conta a Lusa.

Esse elemento pertencia às Falintil-Forças de Defesa de Timor-Leste (F-FDTL), como a maior parte dos homens que estiveram com Alfredo Reinado desde a sua saída de Díli, em 2006, e que eram co-arguidos no processo por homicídio, rebelião e posse ilegal de material de guerra.

"Depois de o helicóptero aterrar no aeroporto (internacional), em Comoro, uma viatura das Forças Armadas entrou lá dentro e, de armas apontadas aos elementos da UNPol, levou o elemento que se tinha rendido a nós", contou uma fonte da força internacional.

Não está mal. Com as Forças Armadas ninguém brinca. E como não conseguem apontar as armas aos rebeldes, resolvem apontá-las aos elementos da UNPol, um acto de coragem que será certamente enaltecido pelo Governo de Xanana Gusmão.


A rendição de hoje em Oécussi é a segunda, no espaço de 48 horas, de um elemento do grupo mais próximo de Alfredo Reinado, depois de um ex-elemento da Polícia Militar se ter entregue à UNPol em Maubisse, segunda-feira.

Pela amostra, vamos todos esperar (de preferência sentados) que os elementos do grupo de Gastão Salsinha se entreguem à UNPol para depois, com o aparato típico dos cobardes, ver as Forças Armadas de Timor-Leste apontarem armas aos bons para que estes entreguem os maus.

Para um país de fez de conta até não está mal. Não está, não!

terça-feira, fevereiro 26, 2008

Movimento Internacional Lusófono

O jornal “O Diabo” divulgou a petição do Movimento Internacional Lusófono “Por uma Força Lusófona de Manutenção de Paz". O trabalho inclui depoimentos do escritor Fernando Dacosta e do general Tomé Pinto, a favor desta petição em particular e do reforço dos laços lusófonos em geral. Gostei de ver. Sobretudo depois de o mesmo jornal me ter colocado três perguntas a propósito da Imprensa angolana e nunca ter publicado as respostas. E tudo isso já foi em Outubro do ano passado (ver “O Diabo” perguntou e eu respondi, mas….).

CPLP em aceleração chega
a um patamar de urgência

A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) aprovou hoje um Plano Estratégico para o desenvolvimento de Timor-Leste, que passa pelo reforço da capacitação institucional e nos domínios da Justiça e Administração Pública.

Não está mal. Se algum dos Estados que compõem a CPLP conseguir avisar com razoável antecedência quando está a prever ter algum conflito, algum problema social ou até uma guerra, fica garantido que a CPLP responde à altura e à largura dos seus dirigentes.

A decisão foi comunicada pelo embaixador guineense Soares da Gama, porta-voz da 16ª Reunião dos Pontos Focais de Cooperação da CPLP, que decorreu segunda-feira e hoje, em Lisboa, e que foi dominada pela crise timorense, desencadeada a 11 deste mês com o duplo atentado ao presidente José Ramos-Horta e ao primeiro-ministro Xanana Gusmão.

Convenhamos que não se deve exigir que a CPLP tenha capacidade de resposta seja para o que for. Assim, meus senhores, golpistas ou não, vejam lá se fazem um calendário das acções que pensam levar a cabo de modo a que a CPLP possa encurtar o tempo de reacção.

Soares da Gama adiantou que o plano visa contribuir para o desenvolvimento de Timor-Leste, através da promoção, difusão e utilização da Língua Portuguesa. Coitada da língua. Além de tão maltratada, ainda há quem julgue que ela alimenta barrigas coladas às costas de tanto tempo estarem vazias.

O secretário-executivo da comunidade lusófona, Luís Fonseca, indicou também que a reunião de hoje permitiu "acelerar" o apoio a Timor-Leste, "dando-lhe carácter de urgência".

Urgência? Mas a crise foi dia 11?

Luís Fonseca explica: "Os acontecimentos recentes em Timor-leste levou-nos a acelerar o apoio e a aprovar o Plano estratégico, elevando-o para um patamar de urgência".

Acelerar? Elevar para um patamar de urgência? Decididamente não sei o significado de acelerar e de urgência.

A (in)dependência de Angola
- Um texto publicado em 2001

A guerra pós-independência gerou em Angola mais de 1 milhão de mortos e 400 mil deslocados. Mais de 14.000 crianças sofrem de deficiências devido à guerra. 60% da população vive em pobreza absoluta ou relativa, 50% não tem acesso a água potável e 70% não tem acesso a cuidados médicos.

Os números que introduzem o Café Luso (*) desta semana são, só por si, aterradores. Como é possível? perguntam, com certeza, todos aqueles que têm memória e que não vivem (apenas) com o mal dos outros. Tenho, contudo, dúvidas se os detentores do Poder em Angola alguma vez pensaram no significado desses números. Se o tivessem feito teriam, há muito, muito tempo, acabado com uma maldita guerra que obriga irmãos a matar irmãos.

São 26 anos de uma penosa (in)dependência que não orgulha a ninguém, sejam angolanos ou portugueses. Isso não significa, está bem de ver, que não existam comemorações. Os portugueses (alguns, pelo menos) comemoram as asneiras que fizeram; os angolanos (alguns, pelo menos) comemoram as asneiras que continuam a fazer.

Enquanto isso o povo morre.

Sem perder de vista os números que nos envergonham, vou tentar responder às questões levantadas.

«Era esta a desejada "descolonização exemplar" que Portugal tão rapidamente fez questão de fazer?»

Com alguma dose de boa vontade sou tentado a dizer que não era essa a descolonização que, seguindo o exemplo subvertido de Salazar, «já e em força» queriam fazer os «revolucionários por correspondência» a quem foi dado, de bandeja, o Poder neste quintal à beira mar plantado.

Mas o que seria de esperar de políticos e militares que para contar até doze tinham (e têm) de se descalçar?

Vendidos à tese de que só os comunistas é que eram bons, os políticos militares e os militares políticos de então procuraram (e conseguiram) fazer tudo ao contrário das regras civilizacionais, preocupados que estavam em exclusivo com a sociedade que era precisodestruir e não com a que era preciso construir.

Era preciso correr com os portugueses (mesmo que eles tivessem, como queria Vasco Gonçalves, de ir para o Campo Pequeno)? Foram corridos. Não todos porque muitos apodreceram nas matas de Angola.

Era preciso dar o poder aos comunistas? Foi dado. Em alguns casos foi dado com uma visível humilhação dos símbolos da Nação portuguesa.

Era preciso anular os adversários dos comunistas? Foram (quase todos) anulados. Para alguma coisa serviu, em época revolucionária, parte da tropa que Portugal tinha em Angola.

Mesmo assim, como ainda hoje se vê, o tiro saiu pela culatra. Nem Portugal, nem Cuba, nem o MPLA conseguiram destruir a UNITA.

«Era esta a independência que os portugueses desejavam? Era esta a independência que os angolanos almejavam?»

Não. Não era esta a independência que os portugueses desejavam, como também não era, não é nem será a que os angolanos desejam.

A maioria dos portugueses e a maioria dos angolanos nunca quiseram o que lhes foi imposto, até porque ambos sabiam e sabem que é muito mais o que os une do que o que os divide.

Só não sabe isto quem, por manifesta e criminosa malvadez, entende que é detentor da verdade absoluta. E esses estão em Portugal como estão em Angola. E esses são todos aqueles que não trabalham para os milhões que têm pouco (ou nada), mas lambem as botas aos poucos que têm milhões.

«Alguém deveria ser responsabilizado por este verdadeiro genocídio?»

É claro que sim. O Tribunal Penal Internacional, do qual tanto se fala por esta hipócrita Europa, deveria julgar os responsáveis, até porque muitos deles ainda por cá e por lá andam.

É certo que muitos deles já há algum tempo concluíram que, afinal, o comunismo/socialismo é apenas o caminho mais longo para o capitalismo. De qualquer modo, podem ter atenuantes mas não devem (não deviam, se estivéssemos num Mundo de Direito) escapar ao veredicto. São, de facto e de jure, responsáveis por este verdadeiro genocídio.

«E a Comunidade Internacional não faz nada?»

Claro que não. Angola tem o petróleo e os diamantes de que a Comunidade Internacional precisa. Essa mesma Comunidade tem as armas e os meios para pôr os angolanos aos tiros uns contra os outros. Não precisa, aliás, de mandar para lá a aviação, os porta-aviões ou os «boinas verdes».

Assim sendo, basta-lhe lamentar o genocídio sem mover uma palha para acabar com ele.

Enquanto isso o povo morre... mas o petróleo continua a jorrar a caminho das multinacionais.

(*)
http://www.portugal-linha.pt/cafeluso/c011106.html

segunda-feira, fevereiro 25, 2008

E se é assim com os vizinhos de Sócrates…

Os mais velhos, as famílias desestruturadas, as pessoas menos qualificadas e as mais endividadas estão entre as que mais facilmente empobrecem, conclui o I Relatório do Observatório de Luta Contra a Pobreza na Cidade de Lisboa. Ou seja, os vizinhos do primeiro-ministro.

Há em Portugal pelo menos dois milhões de pobres. Em Portugal há mais de 20% (vinte por cento, vinte em cada cem, uma em cada cinco) crianças expostas ao risco de pobreza, por muito que isso custe a engolir ao dono da verdade, de seu nome José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa.

O documento, que será apresentado amanhã, explica que o risco de pobreza é mais acentuado também nas populações vulneráveis (crianças, jovens dos bairros mais periféricos e mulheres isoladas com enormes responsabilidades familiares), nos que vêem as suas ocupações e qualificações tornar-se obsoletas e ficam obrigados a fechar os seus negócios, "vendo degradar-se, muitas vezes em idades já avançadas, as suas condições económicas, de habitação e saúde". Ou seja, os vizinhos do primeiro-ministro.

Há em Portugal pelo menos dois milhões de pobres. Em Portugal há mais de 20% (vinte por cento, vinte em cada cem, uma em cada cinco) crianças expostas ao risco de pobreza, por muito que isso custe a engolir ao dono da verdade, de seu nome José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa.

Ainda de acordo com o documento, "estas situações tendem a concentrar-se nos bairros mais antigos das grandes cidades", ou seja, "nos centros históricos que não são renovados e que, frequentemente, são 'invadidos' por uma indústria e um comércio ligados ao turismo", que chamam sobretudo "pessoas vindas de fora de Lisboa".

Há em Portugal pelo menos dois milhões de pobres. Em Portugal há mais de 20% (vinte por cento, vinte em cada cem, uma em cada cinco) crianças expostas ao risco de pobreza, por muito que isso custe a engolir ao dono da verdade, de seu nome José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa.

O estudo alerta igualmente para o facto de existir na capital portuguesa "uma pobreza difusa, não concentrada, que permanece escondida e que, por vezes não expressa as suas necessidades e carências (idosos, pobreza "envergonhada", deficiência...)", bem como "novas formas de empobrecimento e exclusão (endividamento, toxicodependência, destruição das estruturas familiares tradicionais...)".

Há em Portugal pelo menos dois milhões de pobres. Em Portugal há mais de 20% (vinte por cento, vinte em cada cem, uma em cada cinco) crianças expostas ao risco de pobreza, por muito que isso custe a engolir ao dono da verdade, de seu nome José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa.

Existe ainda "uma pobreza extrema com tendência a ser cada vez mais crónica e muito visível", resultante do facto de "as mesmas pessoas concentrem em si diferentes problemas (não possuírem emprego nem grandes qualificações, estarem sem-abrigo, sofrerem de diferentes dependências e encontrarem-se envolvidas nas formas mais subterrâneas de economia informal)".

Há em Portugal pelo menos dois milhões de pobres. Em Portugal há mais de 20% (vinte por cento, vinte em cada cem, uma em cada cinco) crianças expostas ao risco de pobreza, por muito que isso custe a engolir ao dono da verdade, de seu nome José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa.

O relatório destaca igualmente a existência de "uma população que se encontra em risco de pobreza e que, devido a circunstâncias que as ultrapassam e que não podem minimamente controlar (doença prolongada, perda de emprego, viuvez, catástrofes naturais, etc.), podem cair em situações de grave carência e, no limite, numa situação de pobreza extrema".

Há em Portugal pelo menos dois milhões de pobres. Em Portugal há mais de 20% (vinte por cento, vinte em cada cem, uma em cada cinco) crianças expostas ao risco de pobreza, por muito que isso custe a engolir ao dono da verdade, de seu nome José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa.

A análise realizada pelo Observatório de Luta Contra a Pobreza na Cidade de Lisboa conclui ainda que a heterogeneidade que caracteriza muitas freguesias de Lisboa (onde existem pessoas em situação de grande pobreza e outras a viver medianamente) dificulta a aplicação de soluções de combate à pobreza.

Há em Portugal pelo menos dois milhões de pobres. Em Portugal há mais de 20% (vinte por cento, vinte em cada cem, uma em cada cinco) crianças expostas ao risco de pobreza, por muito que isso custe a engolir ao dono da verdade, de seu nome José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa.

Os “mandamentos” de Bill Kovach

A (des)propósito de qualquer coisa, mas a propósito da possibilidade de o Governo de José Sócrates apoiar actividades artesanais e em vias de extinção. Como é o caso do Jornalismo, relembro Bill Kovach, co-autor do livro “Os elementos do Jornalismo” e um dos mais conhecidos e respeitados jornalistas dos EUA.

Diz Bill Kovach que a primeira obrigação do jornalismo é para com a verdade; que o jornalismo deve manter-se leal, acima de tudo, aos cidadãos; que a sua essência assenta numa disciplina de verificação; que aqueles que o exercem devem manter a sua independência em relação às pessoas que cobrem; que deve servir como um controlo independente do poder; que deve servir de fórum para a crítica e compromisso públicos; que deve lutar para tornar relevante e interessante aquilo que é significativo; que deve garantir notícias abrangentes e proporcionadas e que aqueles que o exercem devem ser livres de seguir a sua própria consciência.

Porque de facto qualquer semelhança com a realidade portuguesa é mera coincidência, não tenho dúvidas de que os que seguem as teses de Bill Kovach pertencem a uma actividade já artesanal e cada vez mais em extinção.

Dos pastéis de Belém ao vinho do Porto

Terão os australianos gostado de saber que Ramos Horta tem saudades dos pastéis de Belém e de um bom vinho do Porto? Não creio. Mas também não creio que o presidente da República de Timor-Leste (vulgo quintal da Austrália) esteja a ser sincero nessa referência gastronómica.

E não creio porque penso que a presença portuguesa em Timor-Leste é uma farsa, sobretudo se virmos que Portugal está mais interessado em dizer que faz do que em fazer, mais vocacionado para dizer o que os timorenses devem comer do que em lhes dar comida, mais dirigido a mandar burocratas do que médicos, entre muitos outros exemplos.

Ao falar em português (um pouco à semelhança do que mais ou menos faz Xanana Gusmão), Ramos Horta dá a ilusão de que a língua é uma ferramenta importante. Será?

Não, não é. Portugal deve-o saber. Xanana e Horta sabem-no de certeza. Se quisessem que a língua portuguesa tivesse algum valor (nem que fosse para pedir pastéis de Belém e vinho do Porto), Timor-Leste já deveria ter todas as escolas primárias com o ensino do português.

Recordo, a propósito, uma frase que creio ser de Avelino Coelho, do Partido Socialista Timorense: "Invistam em Timor 500 televisores, 500 professores, um para cada suco e em um ou dois anos todo o país falaria português".

De facto, sendo a identidade timorense tétum, não sei se a língua portuguesa, falada por cinco ou seis por cento da população, e a religião serão suficientes para manter o país na esfera dos pastéis de Belém e do vinho do Porto.

domingo, fevereiro 24, 2008

Uma em cada cinco crianças
do reino socrático português
vive no espectro da pobreza

Portugal é um dos oito países da União Europeia (UE) onde se registam os níveis mais elevados de pobreza nas crianças, nomeadamente nas que vivem com adultos empregados, segundo um relatório da Comissão Europeia.

Tivesse José Sócrates o poder de, como faz em Portugal, controlar a UE e nada disto se saberia. E até seria bom que se não soubesse porque, digo eu, a Comissão Europeia está feita com a Oposição portuguesa.

Alguém acredita que nas ocidentais e socialistas praias lusitanas existam níveis elevados de pobreza nas crianças? Francamente!

Segundo o relatório conjunto sobre a protecção social e inclusão social, que é apresentado amanhã e deverá ser adoptado no dia 29 pelo Conselho de Ministros do Emprego e Segurança Social, em Portugal há mais de 20% (vinte por cento, vinte em cada cem, uma em cada cinco) crianças expostas ao risco de pobreza.

O risco abrange tanto crianças que vivem com adultos desempregados como as que vivem em lares onde não há desemprego.

Neste caso, Portugal está em penúltimo lugar e é apenas ultrapassado pela Polónia - ambos com mais de 20% de risco de exposição à pobreza - de uma tabela liderada pela Finlândia e Suécia, com sete por cento de risco.

O relatório divide os estados-membros em quatro grupos, consoante os resultados nacionais em cada um de três grandes sectores: desemprego, pobreza dos trabalhadores e insuficiência da assistência social.

No grupo A - os que apresentam melhores resultados, com níveis baixo de desemprego, de pobreza nos lares onde há crianças e segurança social eficaz - estão incluídos Áustria, Chipre, Dinamarca, Finlândia, Eslovénia, Holanda e Suécia.

O grupo B integra Alemanha, Bélgica, Estónia, França, Irlanda e República Checa. Eslováquia, Hungria, Malta e Reino Unido estão no grupo C.

O grupo D, de países onde se registam níveis relativamente altos de pobreza nas crianças, extremamente elevados em trabalhadores e uma fraca assistência social, inclui Espanha, Grécia, Itália, Letónia, Lituânia, Luxemburgo, Polónia e Portugal.

Sócrates ao seu melhor estilo

Segundo o Público, Ana Gomes queixa-se de estarem a tentar cilindrá-la no PS. Mas diz que não pára, a menos que lhe passem "um carro por cima".

Segundo António Barreto, “o primeiro-ministro José Sócrates é a mais séria ameaça contra a liberdade, contra autonomia das iniciativas privadas e contra a independência pessoal que Portugal conheceu nas últimas três décadas”.

Segundo Manuel Alegre, José Sócrates é "teimoso, obsessivo e arrogante", acrescentando que “não há racionalidade capaz de convencer Sócrates".

Segundo o Alto Hama, estamos entregues à bicharada.

sábado, fevereiro 23, 2008

Cavaco Silva vai visitar Moçambique
em viagem assessorada por Cravinho

O secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação português parte amanhã para Maputo, onde vai preparar a visita a Moçambique do Presidente Cavaco Silva, prevista para segunda quinzena de Março. Pôr João Gomes Cravinho a preparar a visita é meio caminho andado para o… fracasso.

A visita a Moçambique de Aníbal Cavaco Silva é a primeira na qualidade de chefe de Estado a um país africano de língua oficial portuguesa (no qual, aliás, prestou serviço militar) pelo que, na minha opinião, deveria merecer o cuidado, o rigor e o profissionalismo que fogem à capacidade deste secretário, mesmo que sendo de Estado.

Segundo Gomes Cravinho, a estada em Maputo vai servir também para negociar a liderança portuguesa no programa de apoio à Polícia de Moçambique, financiado pela União Europeia (UE), razão pela qual vai visitar quer o Comando daquela unidade policial e a delegação local da Comissão Europeia (CE).

Pelos vistos, há muito boa gente, a começar na equipa de Cavaco Silva, que acredita em João Gomes Cravinho. Que o PS, mas sobretudo José Sócrates, acredite, ainda vá que não vá. Mas…

Durante a visita, que termina na terça-feira à tarde, Gomes Cravinho manterá ainda encontros com o seu homólogo moçambicano e também com os ministros moçambicanos da Educação, Ciência e Administração Pública, o que, penso, nada tem a ver com a visita de Cavaco. Mas…

A comitiva de Cavaco Silva incluirá empresários, entre os quais alguns representantes de empresas portuguesas já a operar em Moçambique ou que tenham em perspectiva investimentos neste país africano.


A visita de Cavaco Silva realiza-se num momento de elevado simbolismo - considerado mesmo por muitos analistas de transição e relançamento - na relação entre os dois países, depois de há cerca de quatro meses ter sido concluído(?) em definitivo(?) o processo de reversão definitiva da Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB).

Esperemos, entretanto, não ler declarações de João Gomes Cravinho ao Expresso a dizer – com o seu raro sentido de oportunidade – que o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, é um Hitler de África.

Angola está muito mais pobre

Joaquim Pinto de Andrade e Gentil Ferreira Viana, dois "históricos" do MPLA e protagonistas do movimento dissidente Revolta Activa, morreram hoje, em Luanda e Lisboa, respectivamente.

Joaquim Pinto de Andrade, nascido em 1926, morreu vítima de doença prolongada, na sua residência do Bairro Azul, em Luanda.

Gentil Viana, 72 anos, que residia há mais de três décadas em Portugal, faleceu também vítima de doença prolongada, em Lisboa, onde se encontrava hospitalizado.

Os dois "históricos" hoje falecidos estiveram entre os impulsionadores da tendência política Revolta Activa, no seio do MPLA, em que participaram também o irmão de Joaquim Pinto de Andrade, Mário - primeiro presidente do MPLA -, Carlos "Liceu" Vieira Dias, Maria do Céu Carmo Reis e outros intelectuais angolanos.

Esta tendência contestatária da liderança de Agostinho Neto procurava afirmar-se como "independente, plural, não engajada com nenhum dos blocos" em disputa em Angola no pós independência.

Com a Revolta Activa afirmava-se então no MPLA a "Revolta de Leste", liderada por Daniel Chipenda, além do grupo leal a Neto.

Em 1975, juntamente com muitos outros intelectuais do MPLA, Gentil Viana é preso e só dois anos depois conseguiria a liberdade.

Numa luta na prisão foi ferido com gravidade num olho, tendo ficado praticamente cego de uma vista.

Questionado sobre o seu destino de eleição, Viana acaba por se decidir por Portugal, onde se tinha licenciado em Direito nos anos 60, e mais tarde fugido - com outros intelectuais como o moçambicano Joaquim Chissano e o escritor Pepetela - para iniciar um longo périplo que o levaria a Paris, Gana, Congo Brazzaville, Argélia, China, e mais tarde para a guerrilha em Angola.

Divorciado de uma professora universitária moçambicana residente em Portugal, Gentil Ferreira Viana foi pai de cinco filhos, dois dos quais já falecidos e os outros três residentes em Angola.

Neto de um português, Viana voltou a Angola por duas vezes, depois de se estabelecer em Lisboa em 1977 - a primeira logo após os Acordos de Bicesse (1991) e a última há poucos anos.

O corpo de Gentil Viana ficará em câmara ardente na Casa de Angola, em Lisboa, a partir das 16:00 de domingo.

Na segunda-feira, o féretro segue para Luanda, cidade natal do político angolano, onde será sepultado.

A vida de Gentil Viana cruza-se, em vários momentos, com a de Joaquim Pinto de Andrade.

O seu pai - Frederico Viana, filho de um português - e Pinto de Andrade "pai" foram ambos fundadores da Liga Nacional Africana, movimento político que nos anos 40 e 50 se afirmou como impulsionador da identidade africana nas então colónias.

Também pelos calabouços angolanos passou Joaquim Pinto de Andrade, presidente honorário do MPLA, que se manteve até há pouco tempo activo na política angolana.

Esteve ligado ao "fugaz" Partido Reformador Democrático (PRD), que obteve um resultado pouco expressivo nas eleições de 1992.

Foi durante umas férias em Portugal, em meados dos anos 90, que adoeceu com gravidade, tendo desde então passado longos períodos hospitalizado.

Ainda jovem, abraçou o sacerdócio católico, que abandonou mais tarde para se casar com Vitória Almeida e Sousa, médica pediatra; tiveram dois filhos.

Todos à caça do suposto inimigo número um

O Governo de Timor-Leste expressou hoje o seu acordo com a estrutura e as regras de empenhamento da operação de captura ao grupo do ex-tenente Gastão Salsinha. Tal como aconteceu em relação a Alfredo Reinado, a captura de Salsinha quase parece uma missão impossível. No entanto, aos jornalistas continua a ser fácil chegar à fala com os rebeldes. Coisas…

O Governo timorense deu a sua concordância com as decisões do comando conjunto da operação "Halibur" ("reunir" ou "juntar" em tétum), que reúne as Falintil-Forças de Defesa de Timor-Leste (F-FDTL) e da Polícia Nacional (PNTL).

Falta, contudo, saber se levam mandados de busca ou se, como anteriormente («Matan Ruak foi à caça mas sem licença») terão de voltar para trás por falta de cobertura legal.

Recorde-se que há meia dúzia de dias, o brigadeiro-general Taur Matan Ruak, chefe do Estado-Maior-general das Forças Armadas timorenses, puxou dos galões para dizer que "foi a primeira vez que o Estado timorense autorizou uma operação autónoma das F-FDTL", para procurar os rebeldes.

Tendo, logo a seguir, metido os galões no bolso ao reconhecer a que a operação não resultou porque as suas forças não tinham mandados de busca que permitissem aos militares entrar dentro das casas.

Seja como for, os episódios deste folhetim continuam a ser escritos pela potência colonial (a Austrália), tendo como actores principais os timorenses, por enquanto.

Enquanto Camberra não escreve o último episódio, as forças internacionais, comandadas, dirigidas, enquadradas, hierarquizadas, subordinadas aos australianos continuam a brincar no seu quintal a que nós, idealistas e ingénuos, chamamos de Timor-Leste.

Leis anti-corrupção? Mas existe corrupção?

O líder do Partido da Nova Democracia (PND), Manuel Monteiro acusou hoje em Barcelos "a maioria da classe política portuguesa de estar à cabeça de um imenso polvo que faz leis anti-corrupção para esconder a origem do património acumulado".

Talvez por ser uma afirmação que corresponde ao que a maioria (uma cada vez maior maioria) dos portugueses pensam, tudo vai ficar na mesma, ou não fosse Portugal o mais desenvolvido país do norte de… África.

Em declarações à agência Lusa, o líder do PND usou a palavra "sanguessugas" para se referir à maioria, "não toda", dos políticos portugueses, justificando o adjectivo com o "enriquecimento súbito e as fortunas acumuladas por alguns presidentes de câmara, vereadores, deputados e outros agentes do Estado".

Ora aí está. Manuel Monteiro diz que as fortunas acumuladas por muitos políticos têm de ser justificadas perante a opinião pública, "já que, por certo, não provêm dos ditos pequenos ordenados que usufruem nos cargos públicos que ocupam".

O que Manuel Monteiro não sabe é que essas fortunas resultando dos prémios do Euromilhões que, comprovadamente, sai sempre aos nossos (isto é!) excêntricos políticos.

Monteiro acusou a maioria dos deputados da Assembleia da República de estarem a preparar um pacote legislativo anti-corrupção "para se protegerem a si próprios, com imunidades indignas e medidas que dificultam a investigação criminal dos juízes e das polícias".

E, caro Manuel Monteiro, onde está o espanto. Essas e outras leis são elementares regras de urbanidade e cidadania em qualquer república das bananas, chame-se Portugal ou Burkina Faso.

Manuel Monteiro Classificou a corrupção "como a vergonha da República e da democracia no pós-25 de Abril de 1974". Esta bateu ao lado. Vergonha é coisa que no mundo da política (eu, eu sei que também no jornalismo!) tem pouca relevância e quanto a democracia…

Alguns (muitos) jornalistas não são sérios
mas querem a todo o custo parecer sérios

Que o mundo dos media portugueses, onde supostamente deveriam também, ou sobretudo, trabalhar jornalistas, está pelas ruas da amargura (serão até mais córregos do que ruas) já não é novidade para ninguém. Embora não seja barato nem dê milhões, é fácil culpar o poder de todas essas maleitas.

A verdade, contudo, é que grande parte da culpa, se não mesmo a quase totalidade, é dos chamados jornalistas, uma espécie profissional cada vez mais semelhante às alternadoras (ou, como agora se diz, alternadeiras) que a troco de uns cobres vão para onde der mais jeito.

Também nesta profissão não basta ser sério. É preciso parecê-lo. Ora, o que mais acontece, é que os jornalistas (há, obviamente algumas boas e louváveis excepções) não são sérios mas querem passar a imagem de que são sérios.

Cláudia Borges, jornalista com a Carteira Profissional nº 2113, decidiu no pleno uso dos seus direitos ir assessorar o Ministério da Saúde, agora dirigido por Ana Jorge.

A principal preocupação da jornalista foi entregar a carteira de jornalista, como se isso fosse suficiente (no meu entender) para curar todos os males. É que depois da experiência no Ministério da Saúde volta com certeza à RTP, vai levantar a Carteira e deverá ter à sua espera um cargo de chefia.

O que diriam ou, pelo menos, o que pensariam, os portugueses se um agente da Polícia de Segurança Pública entregasse a carteira profissional para durante uns tempos se dedicar à segurança privada, sendo certo que depois regressaria à Polícia?

Não é, está bom de ver, uma questão de legalidade. É, isso sim, uma questão de moralidade. Os jornalistas incomodam-se por ver ex-ministros irem dirigir empresas com as quais tiveram relações durante o exercício do cargo governativo.

E então aceitam passivamente que jornalistas vão trabalhar para empresas, ou entidades, sobre as quais reportaram?

Será que, depois de uma (ou mais) experiência a assessorar um determinado político, o jornalista regressa à sua actividade com a mesma isenção e equidistância que tinha, ou deveria ter?

Será que o jornalista se atreverá a “cuspir” no prato que o alimentou chorudamente durante meses ou anos?

Pois. Assim vai, para trás, o jornalismo. Pois. Assim vai, para a frente, o comércio jornalístico. Tudo, é claro, a bem da Nação.

sexta-feira, fevereiro 22, 2008

43 mil licenciados nas ruas da amargura

«Pelo menos 43 mil licenciados desempenhavam em 2007 trabalhos de baixa qualificação ou não qualificados, como limpezas ou construção civil, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE). Sem emprego nas suas áreas, dizem-se "dispostos a tudo" para sobreviver.

De acordo com números estimados pelo INE com base no Inquérito ao Emprego, no ano passado 7.200 pessoas com formação académica superior estavam empregadas em trabalhos não qualificados. Vendedores por telefone ou ao domicílio, pessoal de limpeza, lavadeiras e engomadores de roupa, empregadas domésticas ou estafetas são alguns dos exemplos constantes da lista de trabalhos não qualificados, segundo a classificação nacional de profissões.

A estes, somam-se mais de 35.800 licenciados em trabalhos de baixa qualificação, que o INE integra em categorias como "operadores de máquinas e trabalhadores de montagem", "operários, artífices e trabalhadores similares" ou "pessoal dos serviços e vendedores".

Seguranças, metalúrgicos, mecânicos, motoristas ou empregados de loja são algumas das profissões.

No total são pelo menos 43 mil os diplomados nestas situações, mais cinco mil do que em 2006.

No entanto, o verdadeiro número de pessoas com excesso de formação para o trabalho que desempenham pode ser muito superior, uma vez que aquele conjunto não abrange os 46 mil licenciados que integram o "pessoal administrativo e similares", uma categoria que inclui empregados de recepção, telefonistas ou cobradores de portagem, por exemplo, além de funções mais qualificadas como escriturários ou gestores de conta bancária.

"Estão a aumentar os casos de não correspondência entre as habilitações e o tipo de trabalho, por um lado devido ao aumento do desemprego e, por outro, devido à falta de articulação entre as universidades e o mercado de trabalho. A formação nem sempre corresponde às necessidades do mercado", disse à Lusa Marinus Pires de Lima, investigador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa e especialista em Sociologia do Trabalho.

Apesar do número de diplomados por ano ter quase duplicado entre 1997/98 e 2005/06, quando atingiu os 71.828, Portugal continua a ser o segundo país da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) com a menor percentagem de pessoas com formação académica superior, apenas à frente de Itália.

De acordo com a OCDE, só 13 por cento dos portugueses entre os 25 e os 64 anos têm um diploma do ensino universitário ou politécnico, o que corresponde a metade da média dos países-membros da organização (26 por cento).

Ainda assim, em Portugal os diplomados têm cada vez mais dificuldade em arranjar trabalho. A taxa de desemprego entre as pessoas com habilitações superiores mais do que duplicou desde 2002 e hoje são quase 60 mil os que não conseguem um lugar no mercado.

Fartos de esperar por um emprego condicente com os anos que dedicaram aos estudos, muitos jovens licenciados "arrumam" o diploma na gaveta e dirigem-se às empresas de trabalho temporário, dispostos a aceitar qualquer tarefa por qualquer remuneração.

"Cerca de 80 por cento de todos os currículos que recebemos são de licenciados. São sobretudo da área das ciências sociais, embora também comecem a aumentar na área das ciências exactas", disse à Lusa Sónia Silva, directora da Select, uma das maiores empresas de trabalho temporário a operar em Portugal.

Só no mundo dos call-centers, onde o pagamento à hora fica-se em média pelos 2,5 euros, 35 por cento dos cerca de 7.500 operadores têm um curso superior, segundo a Select. Também nos super e hipermercados são cada vez mais os diplomados na reposição de stocks ou atrás das caixas registadoras.

O grupo Auchan, proprietário das marcas Jumbo e Pão de Açúcar e um dos líderes no sector da distribuição alimentar, por exemplo, não foge à regra. Cerca de dez por cento dos 7.100 colaboradores têm um "canudo" e 270 são operadores de caixa.

"É paradoxal que um país que tem tão poucos licenciados desperdice desta forma pessoas especializadas que estudaram anos a fio". É assim que Daniela, de 27 anos, resume o seu "desencanto". Licenciada em Engenharia do Ambiente pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, onde está agora a concluir um mestrado, nunca conseguiu uma oportunidade de trabalho correspondente à sua formação. Sempre sonhou trabalhar na conservação da Natureza, mas hoje é empregada num bar da capital, onde ganha o equivalente ao ordenado mínimo nacional.

Com o curso acabado há dois anos, Daniela lembra-se de ter chegado a enviar mais de 50 currículos por semana, mas quase nunca recebeu resposta. Candidatou-se a seis bolsas de investigação, mas todas foram negadas. Sente-se num "ciclo vicioso": "Pedem sempre pessoas com experiência e por isso nunca me aceitam, mas se nunca me derem uma oportunidade, nunca poderei ganhar experiência".

"Se nada mudar, terei de começar a pensar em sair de Portugal. Se o meu país não me valoriza, talvez outros o façam", desabafa.

"Revoltada" e "desencantada" é também como se sente Ana, de 32 anos, psicóloga clínica, com uma pós-graduação em Psicoterapia. Depois de oito anos a trabalhar num call center para pagar os estudos, deixou os telefones em 2006. Alugou um consultório e também dá consultas num hospital, mas no final do mês recebe cerca de 400 euros.

"Desesperada", diz-se na disposição de concorrer "a rigorosamente qualquer coisa" e pensa passar a engomar para fora. Por enquanto, sente que já não lhe é permitido sonhar muito e questões como construir família e ter filhos nem sequer se podem colocar.

"A minha geração está profundamente deprimida. Andámos a tirar licenciaturas e pós-graduações para não ter emprego ou arranjar trabalhos a ganhar uma merda. Vivemos à custa dos pais, sem termos sequer condições para sermos independentes e vivermos condignamente. Sentimos que o Estado não faz nada por nós. Estamos por conta própria".»

Nota: Texto de Joana Pereira Bastos da Agência Lusa

Comentário: Parabéns Senhor José Sócrates, ilustre primeiro-ministro de Portugal!

quinta-feira, fevereiro 21, 2008

Voos da CIA? Prisioneiros? Portugal?
Jamais, jamais, explicou Santos Silva

O Governo português reiterou hoje e – como sempre – muito bem, a posição de que "não tem indícios" de que Portugal tenha sido "conivente ou cometido ilegalidades" no caso dos "voos da CIA". Todos devemos gritar: “Porreiro, pá!”.

A afirmação é do ministro dos Assuntos Parlamentares, Augusto Santos Silva, único membro do Executivo a comentar hoje a revelação do Governo do Reino Unido ter admitido a passagem de prisioneiros ilegais no seu território a caminho da prisão de Guantánamo.

Se foi Santos Silva a dizer não restam dúvidas. Este ministro, tal como o seu primeiro, além de muitas e enormes qualidades que os jornalistas portugueses tão bem conhecem, não mente.

Santos Silva “jamais” mentiria, acrescentaria com todo o seu sentido de oportunidade o ministro Mário Lino.

Apesar da revelação do executivo britânico, Santos Silva afirmou que "não há nenhuma razão para o Governo alterar a sua posição". Claro que não. Desde logo porque a rapaziada que ia passar férias a Guantánamo era convidada da CIA e não prisioneiros.

Aliás. Os norte-americanos, sejam da CIA, do FBI ou de qualquer outra elite policial, nunca fizeram, fazem ou farão prisioneiros, como todos sabemos. Todos a começar por Sócrates e acabando em Santos Silva

"Continuamos a não ter nenhum indício da participação do Estado Português em alguma ilegalidade", acrescentou Santos Silva, mesmo depois de o presidente do Governo Regional dos Açores, o socialista Carlos César, ter admitido que voos ilegais tenham passado pelos Lajes.

O ministro britânico dos Negócios Estrangeiros, David Miliband, admitiu hoje que os serviços secretos norte-americanos utilizaram em duas ocasiões o território britânico de Diego Garcia, no Oceano Índico, para transferir secretamente dois suspeitos de terrorismo.

Vários países europeus têm sido implicados no caso dos "voos da CIA" e, recentemente, uma organização não-governamental britânica, a Reprieve, divulgou um relatório segundo o qual mais de 700 presos foram ilegalmente transportados para a Base de Guantanamo através de território português, entre 2002 e 2006.

Essa de território português não é credível. Não seria Espanha? Não seria Marrocos?

Em "pelo menos seis ocasiões, aviões de transferência de prisioneiros voaram directamente da Base das Lajes nos Açores para Guantanamo, Cuba", segundo a Reprieve.

Hoje, o presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, disse em Bruxelas que todos os Estados-membros da União Europeia devem ser "transparentes" e investigar a alegada utilização de território europeu para o transporte ilegal de prisioneiros pelos serviços secretos norte-americanos.

E lá está Durão Barroso a meter o bedelho onde não é chamado. Santos Silva, com a ajuda de Mário Lino e a supervisão técnica de José Sócrates, já escreveu a Barroso perguntando-lhe: “Não percebeu ou quer que lhe faça um projecto?”.

Querem eleições na Guiné-Bissau?
- Então abram os cordões à bolsa

As autoridades da Guiné-Bissau reuniram-se hoje com os representantes da comunidade internacional no país para pedir 5,1 milhões de euros para a realização das eleições legislativas previstas para o último trimestre deste ano. É assim mesmo. Querem eleições? Querem dizer que há democracia? Então paguem.

"O Ministério das Finanças quer informar que a situação financeira do país não é tão saudável e exige sacrifício", afirmou o secretário de Estado do Tesouro guineense, Pedro Ucaim Lima, acrescentando que “o governo da Guiné-Bissau não consegue financiar eleições e precisa dos parceiros.

Em boa verdade, não sei se o Governo guineense consegue pagar alguma coisa além do sustento de meia dúzia de afortunados que gravitam à volta do poder. Quanto ao povo, que continue como até aqui. Na miséria.

"Pedimos que roguem por nós junto dos vossos governos por esta nova causa. A estabilidade no país passa por realizar o acto eleitoral no seu tempo próprio", disse Pedro Ucaim Lima. E disse bem.

Para mim, nesta fase do campeonato, os guineenses precisam mais de comida do que de eleições. No entanto, para que a comunidade internacional possa continuar a comer do bom e do melhor, na santa paz dos areópagos da macro-política, é preciso realizar eleições.

O montante solicitado pelas autoridades guineenses deverá ser utilizado no pagamento das dívidas relativas ao último acto eleitoral. É isso, agora paga-se a dívida anterior, depois pede-se para pagar a dívida de agora, e assim vai África em geral e a Lusofonia em particular.

Um relatório à medida e por medida

Nada como um “bom” relatório, assinado por uma entidade “credível”, feito à medida e por medida, para sossegar a alma dos vivos em Timor-Leste.

De facto, embora datado logo do dia seguinte aos acontecimentos (o que prova a suposta eficiência e celeridade dos investigadores), o primeiro relatório dos peritos das Nações Unidas aos acontecimentos do passado dia 11 em Díli, deixa em aberto a hipótese de Alfredo Reinado ter sido morto depois de José Ramos Horta ter sido atingido a tiro.

Não está mal. É que a tese de que Reinado fora morto uma hora antes de o presidente ser atacado, representava um pedregulho no sapato das autoridades timorenses, nomeadamente do primeiro-ministro, Xanana Gusmão.

O relatório, datado de 12 de Fevereiro, seria supostamente confidencial mas, como é conveniente para sossegar as tais almas, acabou por ser divulgado pela Lusa. Uma, é claro, conveniente fuga de informação ao jeito de quem – digo eu – não deve estar com a consciência muito tranquila.

O relatório explica detalhadamente os acontecimento do dia do ataque, ressaltando por isso que o presidente timorense terá sido ferido antes de Alfredo Reinado e de um elemento do grupo de atacantes, Leopoldino Exposto, terem sido abatidos.

É que assim tudo faz sentido. O presidente atacado e o atacante morto como resposta. Não terá sido assim que as coisas se passaram, mas o que conta é a versão oficial. E este relatório surge na altura exacta e, por ter a chancela da ONU, não estou a ver alguém, até mesmo os craques do FBI, a dizer o contrário.

É claro que poderá aparecer um outro relatório, igualmente “credível”, numa versão revista e aumentada em função de outras “verdades”. É que, já agora, seria conveniente aproveitar a onda para crucificar alguns adversários políticos, colando-os ao que se quer dizer que aconteceu, tenha sido golpe de Estado, tentativa de rapto, fogo pesado de fisgas contra Xanana… ou outra fantochada qualquer.

Recordar, agora e sempre, o meu Presidente

Mau grado a vontade, os avisos e as pressões dos quadrúpedes ruminantes, com ou sem gibas sobre o dorso, que em Angola e Portugal nasceram a saber tudo e são donos divinos da verdade, volto a publicar – como, aliás, faço todos os anos desde 2002 – o texto que escrevi na altura em que se confirmou que Jonas Savimbi tinha sido morto em combate.

O Povo Angolano, Angola, África e todos os que pugnam pelos ideais de liberdade e democracia no Mundo, estão de luto. Luto por diversas razões.

O Dr. Jonas Malheiro Savimbi, Presidente da UNITA, tombou heroicamente em combate! Tombou heroicamente em combate o meu Presidente.

Tão heroicamente que as Forças Armadas de Angola (ou pelo menos parte delas) tiveram necessidade de O humilhar... mesmo depois de morto. Trataram o meu Presidente como um cão raivoso, como um troféu de caça. Até na morte Jonas Savimbi atemorizou os militares de José Eduardo dos Santos.

Os adversários, ou até mesmo os inimigos, merecem respeito. E isso não aconteceu. As FAA não humilharam Jonas Savimbi, humilharam uma grande parte do Povo Angolano.

A África perdeu um dos seus mais insignes filhos, cuja vida e obra O situam na senda dos arautos da História Africana como N'Krumahn, Nasser, Amílcar Cabral, Senghor, Boigny e Hassan II.

O Dr. Jonas Malheiro Savimbi, Presidente da UNITA, o meu Presidente, tombou em combate ao lado das suas tropas e do Povo mártir, apanágio só concedido aos Grandes da História.

Deixou-nos como maior e derradeiro legado a sua coragem e o consentimento do sacrifício máximo que pode conceder um combatente da liberdade, a sua Vida.

Fiel aos princípios sagrados que nortearam a criação da UNITA, o Dr. Savimbi, rejeitando sempre e categoricamente os vários cenários de exílios dourados, foi o único dos líderes angolanos que sempre viveu e lutou na sua Pátria querida.

A ela tudo deu e nada tirou, ao contrário de outros com contas, palácios e mansões no estrangeiro.

Fisicamente o meu Presidente morreu. Fisicamente o meu Presidente foi humilhado. Mas uma coisa é certa. Não há exército que derrote, mate ou humilhe uma cultura, um povo, uma forma eterna de ser e de estar.

Jonas Savimbi, o meu Presidente, continuará a ter quem defenda essa cultura, esse povo, essa forma eterna de ser e de estar.

«Há coisas que não se definem - sentem-se». Foi isto que em 1975 me disse, no Huambo, Jonas Malheiro Savimbi. É isto que José Eduardo dos Santos nunca compreendeu. A UNITA não se define - sente-se. Jonas Malheiro Savimbi não se define - sente-se. Angola não se define - sente-se.

E porque se sente, e não há maneira de matar o que se sente, é que Jonas Malheiro Savimbi, o meu Presidente, continuará vivo. Vivo no esforço pela paz em Angola, vivo pela dignificação dos angolanos, vivo pela liberdade, vivo pela coerência... vivo porque os heróis não morrem nem são humilhados.

Obrigado Presidente.

quarta-feira, fevereiro 20, 2008

Uma força lusófona de manutenção de paz
- Vamos lá pessoal, toca a assinar a petição

O Espaço Lusófono deve ser um espaço de Paz e, nessa medida, um exemplo para o mundo. Infelizmente, ainda não chegámos ao tempo em que a Paz se garanta sem o recurso a forças policiais e militares. Obviamente, a verdadeira Paz está para além disso – deve ser, sobretudo, resultado de uma contínua acção cívica e cultural. Mas, para que essa acção cívica e cultural produza efeito, é necessária a existência de condições mínimas de segurança e estabilidade.

Os recentes acontecimentos trágicos em Timor-Leste deixaram uma vez mais evidente que existe a necessidade imperiosa de uma força policial e militarizada de manutenção de paz que, no quadro da ONU, possa agir no espaço da CPLP com a eficácia, imparcialidade e compreensão da realidade local que outras forças não lusófonas, naturalmente, não podem ter. Sem que isso exclua, obviamente, uma mais ampla acção no plano cívico e cultural, que deve mesmo ser reforçada.

Esta força já demonstrou a sua necessidade durante o anterior conflito na Guiné-Bissau, quando uma pequena flotilha portuguesa foi capaz de realizar uma missão decisiva nesse país africano e agora tornou a sentir-se a sua ausência em Timor.

A CPLP tem actualmente um estatuto muito mais administrativo, formal e protocolar do que seria de esperar para quem defenda a aproximação lusófona e é nossa convicção de que tal estrutura – simultaneamente policial e militar – deveria surgir no seio da CPLP e dos países que a compõem para criar uma força de reacção rápida capaz de acorrer a qualquer emergência de segurança.

Esta força poderia incluir, tanto quanto possível, unidades policiais oriundas de todos os países lusófonos, de Timor a Cabo Verde e forças navais brasileiras e portuguesas, para além de forças especiais angolanas, brasileiras e portuguesas e um componente de combate e transporte aéreo, de muito rápida intervenção em qualquer país lusófono. Pela própria natureza multinacional desta força, não haveria espaço para que surgissem críticas de "imperialismo" ou de defesa de interesses económicos ou particulares, como sucede frequentemente com missões assumidas pela NATO, Rússia ou pelos países anglo-saxónicos.

Esta força policial e militar poderia, inclusivamente, potenciar a CPLP até um novo patamar de intervenção e participação no mundo e alavancar a defesa da presença do Brasil como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, bem como prefigurar, a uma nova escala, a formação de uma verdadeira Comunidade Lusófona, enquanto espaço de paz e segurança para todos os povos que o destino quis unir por esse fio de Ariadne chamado "língua portuguesa".

Se concorda com a criação desta força policial e militar de manutenção da paz da CPLP, assine esta Petição.