sexta-feira, abril 30, 2010

Que tal fazer um despedimento colectivo
que inclua todos os órgãos de soberania?

O texto que se segue foi aqui (onde mais poderia ser?) publicado no dia 31 de Dezembro de 2008 sob o título Crise? Que crise? Onde?. E as únicas alterações registadas são o anúncio de um, mais um, despedimento semi-colectivo e as férias de Verão. A bem, é claro, da Nação dos filhos e da miséria dos enteados.

Mesmo quando (não) existem, as crises têm sempre duas faces. Também nestes casos, o pão dos portugueses quando cai ao chão tem sempre a manteiga virada para baixo. Se sempre assim foi, porque razão agora seria diferente?

Vem isto a (des)propósio de um telefonema que acabo de receber de um amigo, empresário no norte de Portugal, cuja empresa está – diz ele – em crise e que pode ser obrigado a despedir umas dezenas de empregados.

“Se não tiver ajuda do Estado, não tenho outra solução. As vendas tiveram uma quebra substancial, tenho dificuldades em receber o que vendo, por isso não há alternativa”, contou-me ele.

“Mas não foi contratado um director para procurar uma saída, uma alternativa? Não é mesmo possível aguentar o pessoal, procurando criar novos produtos, descobrir novos nichos de mercado?”, perguntei eu com a ingenuidade própria de quem nada percebe de empresas.

“O novo director apenas conseguiu constatar que a crise existe e que a solução para reduzir custos é despedir algum pessoal”, disse-se o meu amigo, lamentando a situação e dizendo-se triste por não ter alternativa.

Afinal, pensei eu, a crise existe mesmo.

Antes de, apesar de tudo, lhe desejar boa sorte, perguntei-lhe a medo onde iria passar as férias de Verão. Pareceu-me uma pergunta descabida, sobretudo atendendo ao contexto da nossa conversa. Mas é daqueles coisas em que só se pensa depois de dizer.

“Vou para Cuba”, respondeu-me.

“Como? Cuba? Mas tu vais para Cuba com a situação em que está a tua empresa, com o cenário catastrófico que acabaste de relatar?”, indignei-me.

“Meu caro, a empresa está em crise, mas eu não estou em crise”, respondeu-me com um tom de voz típico de quem vai gozar à grande e à portuguesa... com os portugueses.

João Gomes Cravinho recebeu em Lisboa relevantes discípulos do Hitler africano

A diplomacia levou hoje a comitiva da UNITA que está em Portugal, composta pelo secretário-geral, Abílio Camalata Numa, Adalberto da Costa Júnior e Alcides Sakala, a ter um encontro com com o secretário de Estado, João Gomes Cravinho.

Deixem-me, entretanto, não ser diplomata e manifestar a minha alergia a gentalha do tipo João Gomes Cravinho. Desde logo porque foi este mesmo político e governante socialista que, em Novembro de 2005, numa entrevista ao Expresso, comparou Jonas Savimbi a Hitler.

Tanto quanto sei, não pelas palavras mas sobretudo pelos actos, deverá comparar José Eduardo dos Santos a Deus.

Recordo que o secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação do Governo português disse que “Savimbi foi um monstro, um Hitler africano”.

É claro que se Portugal fosse um Estado de Direito, das duas uma, ou o secretário de Estado pedia desculpa aos milhões de angolanos que gostam de Savimbi, nomeadamente à UNITA, ou seria demitido.

Nada disso aconteceu. Concluo, portanto, que de facto e de jure Portugal não é um Estado de Direito.

Do ponto de vista de Cravinho, do qual o Governo não se demarcou, Angola é sinónimo de MPLA e tudo o resto são monstros e hitleres.

Provavelmente terá sido a muito custo que recebeu em audência os discípulos de Jonas Savimbi, sobretudo dois dos que estiveram até à última com o líder a UNITA: Numa e Sakala.

Conclui-se ainda, segundo o governante português, que Angola está cheia de monstros e hitleres, tantos são os angolanos que admiram Savimbi e reconhecem o contributo que deu para a Independência do país.

«Há coisas que não se definem - sentem-se». Foi isto que em 1975 me disse, no Huambo, Jonas Malheiro Savimbi. É isto que João Cravinho nunca compreenderá. A UNITA não se define - sente-se. Jonas Malheiro Savimbi não se define - sente-se. Angola não se define - sente-se.

E porque se sente, e não há maneira de matar o que se sente, é que Jonas Malheiro Savimbi, continuará na História, mau grado as tentativas dos que nasceram cravinhos e que por isso nunca chegarão a cravos.

Discursos para português (TG)Ver

O primeiro-ministro das ocidentais praias lusitanas a norte (embora cada vez mais a sul) de Marrocos, sempre que fala garante que o Governo usará todos os recursos ao seu alcance para auxiliar empresas, trabalhadores e famílias.

Já vou dormir mais descansado. De barriga vazia (e como eu muitos, mas muitos, milhares de cidadãos que ainda não aprenderam a viver sem comer) mas descansado. Se José Sócrates o diz é porque assim vai ser. Não sei se tal se conseguirá através de menos despedimentos, se por meio de mais um cobertor para os sem-abrigo ou, quiçá, através da oferta de uma ficha de filiação no PS (Partido Solidário, entenda-se).

Recordam-se da mensagem de Natal de 2008, que se fosse levada a séria teria dado à RTP um estrondoso pico de audiências, em que José Sócrates teve uma conversa em família ao estilo de Marcelo (Caetano)?

O primeiro-ministro sublinhou que o ano de 2009 ia ser "difícil e exigente para todos" (isto é como quem diz... sempre para os mesmos), razão pela qual o dever do seu Governo era "não ficar à espera que os problemas se resolvam por si próprios".

"Pela minha parte, e pela parte do Governo, quero garantir-vos que não temos outra orientação que não seja defender o interesse nacional neste momento particularmente difícil. E defender o interesse nacional é usar todos os recursos ao nosso alcance, com rigor, sentido de responsabilidade e iniciativa, para ajudar as famílias, os trabalhadores e as empresas a superarem as dificuldades, e para incentivar o investimento económico que gera riqueza e emprego", disse então José Sócrates.

Digam lá que o homem não fala bem? É claro que não sabe o que diz e nem diz o que sabe. Se assim não fosse diria, desde logo, que o Governo iria responsabilizar os empresários que, devido à suposta generalização da crise, contratam directores para descobrirem a melhor forma de porem as suas empresas também em crise.

Além da garantia de acção perante a crise, usando para tal todos os meios possíveis ao alcance do Estado, José Sócrates pretendeu também deixar uma mensagem de "esperança" em relação ao futuro e de "confiança" face aos próximos desafios resultantes da "grave crise económica e financeira" mundial.

Foi no Natal de 2008. Uma mão cheia de nada. Muitos portugueses estavam nessa altura como estão hoje e estarão nos próximos anos. Isto é, estão como o tolo no meio da ponte. Não sabem para que lado devem ir. E é nessa altura que descobrem que afinal nem ponte existe.

Sócrates frisou que "os portugueses podem contar com a determinação do Governo" no presente "momento difícil da Europa e do mundo". Podem contar para quê? Para andarem no TGV? Para voarem para o novo aeroporto da capital? Ou para terem forma de pagar a casa e ao merceeiro?

"Determinação no apoio à economia. Determinação, também, na defesa e na promoção do emprego. Mas, determinação, sobretudo, na protecção das famílias, especialmente às famílias de menores rendimentos, protegendo-as das dificuldades que sentem e ajudando-as nas suas despesas principais", acrescentou Sócrates. Recordam-se?

E depois das palavras, Sócrates volta a olhar para o lado e a assobiar, dizendo que são as regras de uma economia de mercado.

"Foi por isso que criámos as condições para que baixassem os juros com a habitação, generalizámos o complemento solidário para idosos, protegemos as poupanças, aumentámos o salário mínimo e actualizámos os salários da função pública acima da inflação", disse, ainda e nessa altura Sócrates em referência a medidas tomadas pelo Governo.

Disse e é verdade. Mas o cerne da questão não está na justeza de apoiar quem mais precisa. Está no facto de permitir que poucos tenham milhões à custa de milhões que pouco ou nada têm. De milhões que cada vez têm menos.

"O país precisa de atitude, de empenhamento e de determinação", salientou José Sócrates. Será que ninguém diz ao primeiro-ministro que nada disso é possível num país onde o primado da competência foi substituído pelo da subserviência? Ninguém lhe diz que a bajulação vale muito, muito mais, do que o profissionalismo?

Ninguém lhe diz que o país valoriza quem não erra, esquecendo-se de verificar que os que não erram são os que nada fazem? Ninguém lhe diz que entre um competente e um néscio com uma boa cunha, ou cartão do partido, o país escolhe o néscio?

quinta-feira, abril 29, 2010

UNITA denuncia a existência de presos políticos na colónia angolana de Cabinda

Alcides Sakala, que conjuntamente com Abílio Camalata Numa e Adalberto da Costa Júnior, integram a comitiva da UNITA que está em Portugal, disse hoje que uma das suas tarefas é denunciar a corrupção e as violações de direitos humanos existentes em Angola.

Sakala expressou a "indignação" pela existência de "presos políticos" em Angola, concretamente em Cabinda, e disse que a delegação da UNITA também pretende apelar a uma solução política para o conflito naquela que é, digo eu, uma colónia do regime angolano do MPLA.

A autonomia para a “província” de Cabinda foi uma das propostas do anteprojecto de Constituição da UNITA, apresentado em Maio do ano passado em Luanda pelo seu líder, Isaías Samakuva.

Seria meio caminho andado... se os donos do poder da potência ocupante, Angola, a isso estivessem receptivos. Mas não estiveram nem estarão, tal é a ambição desmedida pelo poder.

A UNITA no seu anteprojecto de Constituição elegeu a descentralização político-administrativa de Cabinda, por entender que é, era, seria, a via para a resolução da "complexidade dos problemas históricos" do que chama enclave.

A proposta referia que só essa "descentralização" permite "maior agilidade, participação democrática e eficiência" na administração territorial e "consolidação da paz política e social" em Cabinda.

Talvez por ter sido escrita em português, a proposta da UNITA não conseguiu ser digerida pelos donos do poder que, diga-se, só falam uma língua: o mplaês.

E eu penso, desde há muito tempo, que Cabinda não faz parte de Angola e que, por isso, deve ser um país independente. Dir-me-ão alguns, sobretudo os que se julgam donos de uma verdade adquirida nos areópagos da baixa política angolana ou portuguesa, que isso é uma utopia.

Mais coisa menos coisa, são os mesmos que há umas dezenas de anos diziam o mesmo a propósito da independência de Angola, de Moçambique, da Guiné-Bissau, de Cabo Verde, de Timor-Leste. São os mesmos que há pouco tempo diziam algo semelhante a propósito do Kosovo. São os mesmos que nesta altura dizem o mesmo quanto ao País Basco.

Mas, tal como se disse em relação a Angola e ao Kosovo, um dia destes estará por aqui alguém a falar da efectiva independência de Cabinda.

Até que esse dia chegue continuará a indiferença (comprada com o petróleo de Cabinda), seja de Portugal, da Comunidade de Países de Língua Portuguesa ou até mesmo da comunidade internacional.

Portugal continua, como vem sendo hábito recente, de cócoras porque – com razão – teme que qualquer hostilidade em relação ao soba de Luanda possa fazer com que Angola retire a Oferta Pública de Aquisição (OPA) sobre Portugal. E se isso acontecer será uma chatice.

É por isso que Cabinda nunca consta oficialmente da agenda de encontros oficiais entre o consórcio que lidera a OPA e as entidades que gerem Portugal, caso do Governo e do presidente da República.

Eu sei que, no contexto africano, Portugal é do ponto de vista prático uma carta fora do baralho. Cada vez mais o poder do MPLA entende que as autoridades portuguesas fazem tudo o que ele quiser. Até agora tem sido assim. Até conseguem que Anibal Cavaco Silva, enquanto presidente da República, quando fala de Angola sinta necessidade de esclarecer que o país vai de Cabinda ao Cunene...

Louvo, apesar de tudo, que a delegação da UNITA que se encontra em Portugal tenha tido a coragem de falar dos presos políticos em Cabinda.

Ninguém, como é óbvio, vai ouvir o que Abílio Camalata Numa, Adalberto da Costa Júnior e Alcides Sakala têm a dizer sobre Cabinda.

Mas, como dizia o Mais Velho, ainda é a dor que nos faz andar, ainda é a angústia que nos faz correr, ainda são as lamúrias e as lamentações, que de vários cantos do país nos chegam, que nos fazem trabalhar; ainda é a razão dos mais fracos contra os mais fortes que nos faz marchar.

Nada se prova mas tudo se transforma
(... e a ERC recomenda comer e calar!)

A Entidade Reguladora da Comunicação Social (ERC), que é uma entidade portuguesa que ajuda a fingir que Portugal é um Estado de Direito, arquivou o processo sobre alegadas pressões políticas e económico-financeiras aos meios de comunicação social, denunciadas pelo director do jornal Sol, defendendo não terem ficado provadas as denúncias feitas.

"Considera o conselho regulador da ERC que, ponderados os depoimentos prestados perante a ERC e tudo o que foi possível apurar-se na documentação junta ao processo, não ficaram provadas as pressões políticas e económico-financeiras denunciadas pelo director do jornal Sol", refere a entidade.

Sendo regra no reino que nada se prove, mas que tudo se transforme, a ERC não poderia fugir aos ditâmes. Não sei, aliás, se até no Burkina Faso os jornais ou jornalistas recebem documentos com assinatura reconhecida a dizer “isto é uma pressão política e económico-financeira”.

É que se não recebem nunca poderão provar. De resto, os jornalistas em Portugal são despedidos à medida e por medida, os directores são seleccionados pela mesma regra, a publicidade é direccionada consoante o “bom” ou “mau” comportamento da Imprensa... mas nada disso é passível de ser provado.

A 26 de Novembro, a ERC anunciou a abertura de um processo de averiguações relativo a alegadas interferências do Governo em alguns órgãos de comunicação social, nomeadamente no Sol, denunciadas pelo director daquele título, José António Saraiva, à revista Sábado.

"Uma pessoa do círculo próximo do primeiro-ministro e que conhecia muito bem a situação do jornal e a relação com o banco BCP disse-nos que os nossos problemas ficariam resolvidos se não publicássemos a segunda notícia do Freeport", disse José António Saraiva citado pela revista.

No mesmo artigo, a Sábado adiantava ter havido discriminação por parte do Governo e organismos públicos na distribuição de publicidade institucional a jornais nacionais.

Ouvido em Dezembro pela ERC, o director reiterou a denúncia adiantando que foram feitas "tentativas de 'chantagem' sobre a sua direcção editorial e de 'estrangulamento' económico-financeiro", com o objectivo de condicionar a linha editorial do Sol ou mesmo de extinguir o jornal.

Todos os que não são imbecis porque procuram saber o que se passa à sua volta sabem que, de facto, o que José António Saraiva afirmou acontece, sobretudo naqueles meios que não aceitam ser criados, mesmo que de luxo, do poder.

Mas não basta saber. Até mesmo quando a Polícia grava conversas sabe que, dependendo dos escutados, a verdade de hoje pode ser mentira amanhã. O pilha-galinhas sabe sempre que é o culpado de tudo. No entanto, se for dono do aviário pode ficar descansado que nada lhe acontece.

Além de José António Saraiva, a ERC ouviu outros accionistas e responsáveis do jornal como o presidente da BCP Capital, Paulo Azevedo, o presidente da JVC Holding, Joaquim Coimbra, e o presidente da Imosider, José Paulo Fernandes, entre outros.

Além disso, foram também ouvidos o director adjunto José António Lima e o subdirector do Sol, Mário Ramires, que corroboraram as denúncias feitas pelo director.

"Falei [à ERC] das pressões que foram exercidas sobre a direcção do Sol por pessoas próximas do primeiro ministro para não publicarmos notícias sobre o caso Freeport", contou José António Lima depois da sua audição, realizada em Janeiro.

No entanto, a ERC considera do alta da sua divina sabedoria ser impossível provar as acusações, já que a origem de uma das alegadas pressões políticas "não foi identificada por escusa do jornalista" e a outra "não foi confirmada por flagrante contradição dos declarantes".

Por outro lado, refere o organismo, "não ficou provado que a mudança na administração do grupo BCP, ocorrida em Fevereiro de 2008, tivesse alterado a conduta e a estratégia da BCP Capital (...), não podendo, por conseguinte, dar-se como confirmada a existência de pressões de natureza política do BCP sobre o semanário Sol".

Aliás, segundo José António Saraiva, foi da boca de José Sócrates que ouviu a afirmação de que “a melhor forma de controlar a imprensa é controlar os patrões”.

Se calhar, com a hipocrisia típica e atávica que caracteriza os donos da verdade em Portugal, até veremos um dias destes alguns dos carrascos a passear na ribalta da mediocridade e cobardia lusa com a bandeira da liberdade de expressão.

E se até agora o principal barómetro da liberdade de Imprensa era o número de jornalistas mortos no cumprimento do dever, hoje junta-se-lhe uma outra variante para a qual Portugal deu um notório e inédito contributo: os despedimentos.

E até veremos alguns dos algozes da liberdade de imprensa (desde os donos dos jornalistas aos donos dos donos dos jornalistas) citar o artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos: “Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras”.

Há já uns anos, o então secretário-geral da ONU defendeu uma tese que se tornou suicida no caso português. Kofi Annan disse que os jornalistas “deveriam ser agentes da mudança”.

Eles tentaram, o que aliás sempre fizerem, mudar a sociedade para melhor. Acontece que o seu conceito de sociedade melhor não é igual ao dos donos do reino. E a resposta não se fez esperar: Jornalista bom é jornalista desempregado.

Nos últimos anos, pelo menos 181 jornalistas das redacções do Porto de vários órgãos de comunicação social perderam o emprego, 54 dos quais no despedimento colectivo, inédito na Imprensa portuguesa, levado a cabo pelo grupo Controlinveste (JN, DN, 24 Horas e “O Jogo”).

Quando Armando Guebuza e Cavaco Silva
se juntam para gozar com a nossa chipala

O presidente moçambicano e líder do partido que governa Moçambique, Frelimo, desde a independência, Armando Guebuza, considerou hoje em Lisboa que a possível adesão da Guiné Equatorial à CPLP poderá servir para aquele país "melhorar o seu relacionamento", nomeadamente no que diz respeito aos direitos humanos.

Boa! É assim mesmo. Olhai para o que dizemos e não para o que fazemos. Para além de se saber que a força da Guiné Equatorial está no petróleo, se calhar sabe bem a alguns ser enganados por mentiras que tentam ser pela insistência uma verdade.

Questionado sobre se concordava com a adesão à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) de um país que é referenciado pelas organizações internacionais no que respeita à violação dos direitos humanos, Guebuza disse acreditar que a Guiné Equatorial vai "fazer tudo para se conformar com aquilo que são as normas na CPLP".

Normas de quê? De quem? Da CPLP? Mentir é uma coisa, gozar com a nossa chipala é outra, por sinal bem diferente.

Ninguém se atreve, como é timbre do jornalismo português, a perguntar a Guebuza e a Cavaco Silva se acham que Angola respeita os direitos humanos ou se é possível que a presidência da CPLP vá ser ocupada, ainda este ano, por um país cujo presidente, José Eduardo dos Santos, no poder há 31 anos, não foi eleito.

Sobre a mesma questão, o Presidente português escusou-se a antecipar a decisão dos chefes de Estado e de Governo, que vão analisar a proposta de adesão da Guiné Equatorial na próxima cimeira da CPLP, em Julho, em Luanda, mas advertiu que todos os Estados interessados em aderir à comunidade "têm que ter em atenção os estatutos na CPLP".

Advertiu quem? Os que querem entrar? E então os que já lá estão? Será que o que se passa, por exemplo, em Cabinda com execráveis violações dos direitos humanos, é uma questão menor?

É claro que é uma questão menor. Ou não fosse o MPLA dono de Angola, ou não fosse Angola a potência petrolífera que é, para além de ser o primeiro mercado importador de bens portugueses fora da Europa, tendo já passado os EUA.

A verdade, incómoda para os donos do poder, seja em Portugal, Moçambique ou Angola, é que a CPLP está a ser utilizada de forma descarada para fins comerciais e económicos, de modo a que empresas portuguesas, angolanas e brasileiras tenham caminho livre para entrar nos novos membros, caso da Guiné Equatorial.

Reconheço, contudo, que tomando como exemplo Angola, a Guiné Equatorial preenche todas as regras para entrar de pleno e total direito na CPLP. Não sabe o que é democracia mas, por outro lado, tem fartura de petróleo, o que é condição sine qua non para comprar o que bem entender.

Há quem defenda, certamente à revelia dos mais altos interesses petrolíferos, que o caso da Guiné Equatorial deveria ser alvo de uma reflexão mais profunda. Não vejo para quê.

Para aderir, o país terá de adoptar o português como língua oficial, a par do espanhol e do francês e, no âmbito de um acordo assinado em 2009, Portugal disponibilizou-se para enviar professores de português e apoiar a formação de quadros do país africano em universidades portuguesas ou do espaço lusófono, através do Fundo da Língua Portuguesa.

Consta, aliás, que para combater o desemprego em Portugal (700 mil) o Governo vai aumentar a oferta numérica de professores, estando inclusive a pensar numa campanha internacional do estilo: Adira à CPLP que nós exportamos professores. Creio que o Uzbequistão já manifestou interesse.

Governada, como Angola, há mais de 30 anos por Teodoro Obiang Nguema, a Guiné Equatorial é frequentemente acusada por organizações não governamentais de corrupção e atentados aos direitos humanos.

E se isto nada significa em relação a Angola, convenhamos que não pode servir de obstáculo à entrada da Guiné Equatorial.

Legenda: Dois velhos amigos: Robert Mugabe e Armando Guebuza

Aí vem mais um Dia Mundial de algo que está
em vias de extinção: a liberdade de Imprensa

No dia 3 de Maio Portugal vai juntar-se a outros países para comemorar o dia mundial de algo que, no reino lusitano, está em vias de extinção: a Liberdade de Imprensa.

Nem todos, como é óbvio assim pensam. Para além da minha débil experiência profissional (só ando nisto há 36 anos), faço contas aos jornalistas desempregados, aos que mudaram de profissão, aos que estando no activo estão na prateleira, aos que tendo emprego estão desempregados, aos que adoptaram uma coluna vertebral amovível, aos que se filiaram no partido para garantir o emprego, aos que em vez de erectos andam de cócoras, aos que por um prato de lentilhas dizem ámen a tudo.

"Se há coisa que não falta em Portugal é liberdade de expressão," garantiu João Marcelino, director do Diário de Notícias, na Comissão de Ética, Sociedade e Cultura na Assembleia da República.

Sim, é verdade. O que falta, e neste caso João Marcelino passou ao lado, é liberdade de Imprensa. São coisas diferentes mas, como mandam as regras da sobrevivência, dá sempre jeito confundir a obra-prima do Mestre com a prima do mestre de obras.

Quanto ao tão falado mas pouco aprofundado caso de um alegado plano do Governo para controlar a comunicação social, João Marcelino garantiu não ter conhecimento de nada. E considerou que se tal plano existisse "seria muito pouco inteligente numa democracia como a portuguesa" até porque "todas as tentativas acabam sempre a descoberto".

Não saber de nada é, aliás, uma regra de ouro na produção de conteúdos, que não no Jornalismo. No Jornalismo se um jornalista – aprendia-se – não procura saber o que se passa, é um imbecil. Se sabe o que se passa e se cala, é um criminoso. Sempre existiram, é verdade, imbecis e criminosos. Mas nunca, como agora, ser imbecil e criminoso é condição sine qua non para ser “jornalista” mas, sobretudo, para ser director.

Já relativamente a pressões do Governo sobre os órgãos de comunicação social, João Marcelino admitiu na mesma audição que as do Executivo de José Sócrates não são muito diferentes das de outros governos. "Mas se a pergunta é se alguma vez me senti pressionado, a resposta é não."

É óbvio que os directores dos jornais não são pressionados... pelos governos, até porque quem manda nos órgãos de comunicação social são os seus donos. O problema está em que os governos gostam de ser donos dos donos... dos jornais.

Assim sendo, assim é em muitos casos, a pressão é exerciada por múltiplas vias (directas, publicitárias, bancárias etc.) junto dos patrões e não dos mercenários que estes têm decorativamente nos cargos de direcção.

Como bem sabe João Marcelino e faz questão de o dizer, o primeiro-ministro não controla, nem quer controlar, nenhum órgão de comunicação social, não influencia matérias jornalísticas, gosta de todos os jornalistas e até incentiva aqueles que discordam das suas ideias...

Por alguma razão, quando em 2004 chegou à liderança do PS, José Sócrates jurou a pés juntos que a liberdade de imprensa era para si sagrada...

Segundo a organização internacional não-governamental Repórteres Sem Fronteiras (RSF), que claramente nada percebe da poda, a liberdade de imprensa em Portugal diminuiu, registando uma queda do 16º para o 30º lugar na lista dos países que mais respeitam o trabalho dos jornalistas.

Portugal (ainda) não está ao nível do Brasil (71º), Moçambique (83º), Guiné-Bissau (92º), Angola (119º) ou Timor-Leste (74º). Mas para lá caminha, mesmo quando os directores dos órgão de comunicação social dizem o contrário.

E dizem o contrário porque muitos deles não passam de mercenários que, para além de terem coluna vertebral amovível e de gostarem de estar de pé perante os seus súbditos e de joelhos perante o poder, não sabem ler nem escrever.

Por outras palavras, como diria o Mário Crespo, o poder quer que os jornalistas perguntem não o que o Estado/país/bordel pode fazer por eles, mas sim o que eles podem fazer pelo bordel/país/Estado.

E o que melhor podem fazer é aceitar que para serem um dia directores de um jornal têm de ser criados do poder. A bem da nação, está bem de ver.

quarta-feira, abril 28, 2010

Pedras no caminho, facadas pelas costas

Hoje, como ontem e como certamente amanhã (tem sido assim desde Abril do ano passado) tive de (per)correr um caminho cheio de pedras por todos os lados.

Amigos que por lá encontrei, também eles condenados, avisaram-me que fosse com cuidado. Muito cuidado. Se caísse seria difícil encontrar quem me estendesse a mão.

Falavam por experiência própria. Alguns tinham marcas. Fui com cuidado. No fim da jornada não tinha tropeçado e estava de pé.

Tive a sorte de alguns desses amigos não se terem limitado a pôr-se de pé. Foram retirando todas as pedras e, quando chegou a minha vez, o caminho estava limpo.

Não sei o nome de todos eles. Sei, contudo, o nome de todos os que deram ordens para lá pôr as pedras...

Sugestão de mais uma (boa) leitura

Santa ingenuidade dos discípulos de Savimbi

O secretário-geral da UNITA, Abílio Camalata Numa, avisou hoje Portugal que não se deve concentrar apenas nas relações com o MPLA e o actual governo angolano relegando para segundo plano o relacionamento com aquele partido da oposição.

Esta legítima posição da UNITA revela, contudo, grande desconhecimento da metodologia seguida pelo governo socialista de Portugal que, como é público, entende que Angola é o MPLA e o MPLA é Angola. Tudo o resto é paisagem.

"Os interesses de Portugal não acabam com o MPLA nem com o Governo de José Eduardo dos Santos", disse Camalata Numa à Agência Lusa no final de reuniões que manteve em Bruxelas com responsáveis do governo belga e deputados do Parlamento Europeu.

Camalata Numa tem razão. Esquece-se, contudo, que o que está em questão não são os interesses de Portugal e muito menos os dos portugueses. Os interesses do governo de José Sócrates, com a natural conivência do presidente da República, Cavaco Silva, não têm a ver nem com os portugueses nem com os angolanos.

A única relação que interessa a Lisboa é a que resulta de quem está no poder, de quem manda no país, mas sobretudo no petróleo. Importa, ainda, não esquecer que uma importante e estratégica parte da economia de Portugal está nas mãos das empresas do regime, das empresas do MPLA.

Referindo-se à visita a Angola do Presidente da República Portuguesa, prevista para se realizar este ano, o membro do parlamento angolano e secretário-geral da UNITA considerou que Aníbal Cavaco Silva é "um dos melhores estadistas portugueses e saberá interpretar melhor os interesses" do seu país.

Novo engano. Cavaco Silva, para além de considerar que Angola se estende de Cabinda ao Cunene, um pouco à semelhança de António de Oliveira Salazar para quem Portugal começava no Minho e acabava em Timor, está interessado em não hostilizar quem pode a todo a momento lançar uma Oferta Publica de Aquisição sobre Portugal, ainda mais numa altura em que o país já vê no horizonte o espectro da bancarrota.

"Portugal deve manter uma relação com Angola de futuro e nós fazemos parte desse futuro, e [os portugueses] não deviam olhar com negligência para aquilo que a UNITA poderá representar nos próximos tempos", declarou Numa.

Camalata Numa, talvez em função do que se passa em Angola, confunde os portugueses com os que governam Portugal. E até mesmo esses, os portugueses, estão mais preocupados m arranjar quem os ajude, admitindo mesmo que qualquer ajuda será bem-vinda, mesmo que enviada pelo MPLA.

Abílio Camalata Numa que foi general das ex-Forças Armadas de Libertação de Angola (FALA), antigo braço armado da UNITA, afirmou que nos encontros que manteve em Bruxelas deu conta das suas preocupações sobre a situação em Angola, nomeadamente no que diz respeito à falta de liberdade de imprensa, de liberdades sociais e a situação de pobreza extrema da maior parte da população do país.

Ou seja, Camalata Numa limitou-se a dizer o que todo o mundo sabe. Sabe mas faz de conta que não sabe. E faz de conta porque, entre outras razões, o petróleo compra os silêncios e até mesmo a dignidade de muitos.

A comitiva da UNITA, que inclui Adalberto da Costa Júnior e Alcides Sakala, também estará em Portugal, certamente na vã tentativa de mostrar aos portugueses que existe vida para além do petróleo, para além do MPLA.

Todos juntos, todos a monte e fé em Deus

José Sócrates e Pedro Passos Coelho sublinharam hoje a intenção de “trabalhar em conjunto” para tentar debelar a crise económica e financeira de Portugal, antecipando medidas do Programa de Estabilidade e Crescimento.

Dizem que, numa altura em que os portugueses começam a morrer por não terem aprendido a viver sem comer, é preciso unir forças para colocar o país na rota certa.

O Alto Hama vai também dar o seu contributo. Sendo feito por um jornalista, vai procurar saber o que se passa para não ser imbecil. E sabendo o que se passa não vai ficar calado porque não quer ser criminoso.

Portugal está, desde há meses, na mira dos especuladores dos mercados financeiros. Depois de despejarem um forte arsenal bélico sobre a Grécia, viram-se agora para as ocidentais praias lusitanas.

Apesar de o espectro da bancarrota ter chegado com armas e bagagens a Lisboa, Portugal continua a cantar e a rir para os 40% de potenciais pobres e 700 mil desempregados, tal como continua a achar um bom exemplo de moralidade interna e externa que os valores das remunerações referentes a 2009 pagas ao presidente executivo da EDP, António Mexia, atinjam 3,1 milhões de euros.

Este parece ser, aliás, mais um exemplo de quem prefere ser assassinado pelo elogio do que salvo pela crítica. Quando Simon Johnson escreveu no “The New York Times” que o próximo problema global dava pelo nome de Portugal, todos lhe chamaram ave de mau agoiro.

"O próximo no radar será Portugal. Este país escapou em grande medida às atenções, muito porque a espiral da Grécia desvaneceu. Mas ambos estão economicamente à beira da bancarrota, e ambos parecem muito mais perigosos do que Argentina parecia em 2001, quando entrou em incumprimento", dizia (e diz) a análise do economista, que é Professor no Massachusstts Institute of Technology.

Em bom ou mau português (para o caso tanto faz), dir-se-á que quem for o último a sair que feche a porta (se ainda existir porta) e apague a luz (se ainda não tiver sido cortada por António Mexia). Nada mau.

"Os portugueses nem sequer estão a discutir cortes sérios. (…) Estão à espera e com a esperança de que possam crescer suficientemente para sair desta confusão, mas esse crescimento só pode chegar através de um espantoso crescimento económico a nível global", diz Simon Johnson que, certamente, se esqueceu de ouvir o contraditório de não menos insignes especialistas lusos, caso de Vítor Constâncio.

Simon Johnson considera ainda que "nem os líderes políticos gregos, nem os portugueses, estão preparados para realizar os cortes necessários", que o Governo português "pode apenas aguardar por vários anos de alto desemprego e políticas duras", e ainda que os políticos portugueses podem apenas "esperar que a situação piore, e então exigir também um plano de apoio".

Não é propriamente um grande elogio aos políticos portugueses que têm responsabilidades governativas. Mas esses não estão muito preocupados. Desde logo porque, com ou sem bancarrota, terão sempre um lugar “mexiânico” numa quaquer EDP, Galp ou Banco Central Europeu.

terça-feira, abril 27, 2010

Dos cartéis de drogas aos cartéis de outros poderes lusos de face mais ou menos oculta

A melhor forma de abater os cartéis de drogas e organizações criminosas é atingi-las no “bolso”, defendeu hoje a administradora da agência antidrogas dos EUA (DEA, Drug Enforcement Administration), Michele Leonhart.

Por outras palavras, é fazer o mesmo que os donos dos jornalistas portugueses, e os donos dos donos (e não só), têm feito nos últimos anos. Obrigarem o pessoal a pensar com a barriga.

Em alusão ao recente congelamento de bens anunciados pelo departamento Federal do Tesouro norte-americano contra dois oficiais da Guiné Bissau por alegado envolvimento no narcotráfico, Michele Leonhart ressaltou que o que impacta no combate à droga é quando o bolso do traficante é afectado.

Ora aí está. Pôr ao serviço das nobres causas das castas superiores que, em Portugal, são sobretudo as famílias Joaquim e José, os métodos que a globalização quer aplicar aos traficantes. Bater onde dói mais, o bolso.

“Isso tem um grande impacto”, enfatizou a representante do DEA ao ser questionada durante a maior conferência mundial anti-drogas, a International Drug Enforcement Conference (IDEC), que decorre esta semana no Rio de Janeiro.

E tem mesmo grande impacto, não sei se nos narcotraficantes, mas de certeza nos jornalistas,entre outros. Reconheça-se, contudo, que estes tiverem e têm alternativas: ou comem e calam e podem pagar a conta ao merceeiro e o empréstimo da cubata, ou não comem nem calam e vão para o desemprego e começam a sentir as dores dos bolsos vazios.

Isto já para não falar de uma outra forma de atingir os portugueses lá no sítio onde dói mais (o bolso), através dos impostos cobrados às castas inferiores: a grande maioria dos cidadãos.

Michele Leonhart deveria, aliás, pagar direitos de autor aos que em Portugal são donos do país e que, desde há muito, aplicam a regra agora defendida pela DEA.

E como o reino, não o dos céus mas o das ocidentais praias lusitanas, está na mão de cobardes, a única solução entendida (pela barriga) como viável é mesmo comer e calar, apostar numa coluna vertebral amovível e numa cabeça subordinada à barriga.

Tão simples quanto isso.

Ser cobarde foi, nos últimos anos, a mais válida forma de (sobre)viver na sociedade portuguesa em geral e, em particular, no comércio e indústria de textos de linha branca a que, por manifesta ignorância, se chama em Portugal "jornalismo".

São esses cobardes poli-partidários (às segundas, quartas e sextas são do PS, às terças, quintas e sábados do PSD e ao domingo piscam o olho aos outros) que, por regra, comandam (mal, mas comandam) este país ou, para ser mais correcto, algumas das partes que no seu conjunto formam o país.

Por isso os cobardes apostam tudo, sobretudo o que é dos outros, na razão da força que é alimentada pela impunidade do reino. Com a cobertura, mesmo que involuntária, de muito boa gente, levam a que a força da razão perca batalhas e mais batalhas.

Ao contrário do que cheguei a pensar, esses cobardes não só estão a ganhar batalhas como poderão vencer a própria guerra. Não lhes falta apoio de quem, ao seu estilo, se está nas tintas para a liberdade de expressão, para a democracia, para as regras de um Estado de Direito, um pouco à “mexiânica” imagem e semelhança dos cartéis de drogas e organizações criminosas.

Tal como os cartéis de drogas e organizações criminosas, esse polvo político-partidário vai continuar a calar as vozes que tentam dar voz a quem a não tem. Assim aconteceu, assim irá acontecer com certeza por muitas que sejam, e são mesmo, as faces ocultas do poder.

Se os políticos portugueses preferem ser assassinados pelo elogio do que salvos pela crítica, preferem ter correligionários néscios do que adversários inteligentes, é bem possível que a própria a democracia esteja em perigo.

Mesmo que esteja, o que é que isso interessa desde que os cobardes continuem com os seus tachos?

A situação na Guiné-Bissau não justifica
que a “equipa” FELINO entre em acção?

O chefe do Estado Maior General das Forças Armadas portuguesas (CEMGFA) considerou em 24 de Setembro de 2008 estarem criadas as bases da doutrina militar para o emprego de uma força conjunta da CPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa).

Luís Valença Pinto regozijou-se com a participação, pela primeira vez, de forças de todos os países que compõem a CPLP no exercício FELINO no concluído então na área militar de S. Jacinto, em Portugal.

No balanço que fez do exercício conjunto, o CEMGFA considerou que o FELINO 2008 permitiu lançar as bases de doutrina militar para criar uma força conjunta que possa ser activada para missões de paz, sob a égide das Nações Unidas (ONU).

Será que o que se passa na Guiné-Bissau, e que aliás não é caso único neste país da CPLP, não justifica a activação dessa força?

“Portugal ensinou e aprendeu muito e a conduta táctica permitiu recolher referências para essa doutrina militar, cujas base deverão ser testadas em 2009, em Moçambique”, disse Luís Valença Pinto, acrescentando que a construção dessa doutrina militar é condição de base para o emprego comum de forças da CPLP, já que há países de dimensão muito diferente e com realidades distintas das de Portugal, como elemento da NATO.

O CEMGFA salientou que, devido à cooperação militar, seria viável até aqui uma intervenção bilateral ou trilateral, mas não a oito, do ponto de vista militar, dada a necessidade de harmonizar conceitos, técnicas e tácticas, que foi o objectivo do FELINO 2008.

Volto a perguntar: Será que o que se passa na Guiné-Bissau, e que aliás não é caso único neste país da CPLP, não justifica a activação dessa força?

O FELINO 2008 envolveu cerca de 500 militares das forças armadas dos estados membros da CPLP, numa tarefa conjunta destinada a operações humanitárias e missões de paz, com treino cruzado e colocação de forças no terreno.

O exercício FELINO realiza-se alternadamente em cada país desde 2000 para garantir a interoperacionalidade das forças militares, sendo Moçambique a realizar a edição de 2009.

E, por último: Será que o que se passa na Guiné-Bissau, e que aliás não é caso único neste país da CPLP, não justifica a activação dessa força?

Nota: Este texto foi aqui publicado em 8 de Março de 2009. Para que conste.

Se ditador apeado é um criminoso,
o melhor é nunca deixar o poder...

O julgamento do ex-vice-presidente da República Democrática do Congo, Jean-Pierre Bemba, por crimes de guerra e contra a humanidade começou hoje no Tribunal Penal Internacional (TPI), com sede em Haia.

Bemba enfrenta cinco acusações de assassínio, violação e pilhagem cometidos alegadamente na República Centro Africana entre 2002 e 2003.

Na altura, o acusado dirigia o Movimento de Libertação do Congo (MLC), cujos membros foram os presumíveis autores daqueles crimes.

Bemba, de 47 anos, foi detido em Maio de 2008 pelas autoridades belgas em cumprimento de um mandado de captura internacional e foi transferido em julho para o TPI. Desde então, Bemba permanece no centro de detenção de Scheveningen, nos arredores de Haia.

Em Agosto do ano passado, um departamento do TPI decretou que Bemba fosse posto em liberdade condicional, mas o auto foi anulado em Dezembro pela câmara de Recurso do mesmo Tribunal.

A decisão de concessão de liberdade condicional enquanto esperava pelo julgamento foi tomada com base na situação familiar - é casado e tem cinco filhos - e na cooperação demonstrada até ao momento com o Tribunal.

No entanto, os juízes da câmara de Recurso anularam a decisão, alegando que existia risco de fuga do acusado.

Os juízes também alegaram que o país para o qual o presumível criminoso de guerra seria enviado depois de ser libertado “deve ser identificado antes da decisão” de concessão de liberdade condicional e não à posteriori.

Inocentemente, pergunto se Tribunal Penal Internacional limita a sua esfera de actuação aos criminosos quando estes deixam de estar no poder ou se, por acaso, também a aplicam aos que estão no activo.

É que, para mim, criminoso é criminoso quer seja ex-presidente ou actual presidente. No entanto, para quem lidera os areópagos da política internacional, só é criminoso quem já não estiver a decidir para onde vai o petróleo ou os diamantes.

Bemba foi detido a 24 de Maio de 2008, em Bruxelas, na sequência de um mandado de prisão emitido pelo TPI. Curiosamente, ou talvez não, não foi emitido enquanto se encontrava-se em Portugal.

Segundo disse na altura a Federação Internacional dos Direitos Humanos, FIDH, a detenção de Jean-Pierre Bemba constitui "um sinal forte contra a impunidade". Sinal quê? Contra o quê? José Eduardo dos Santos, Robert Mugabe e Joseph Kabila, entre outros, devem estar a rir-se a bandeiras despregadas.

Bemba, principal rival político do Presidente da RDCongo, Joseph Kabila, foi um dos quatro vice-presidentes daquele país durante o período de transição (2003-2006).

É claro que, nessa altura, nem o TPI nem a FIDH actuaram. Pudera!

Recorde-se, como muito bem disse o Carlos Narciso no seu blogue (http://www.blogda-se.blogspot.com/
), em Março de 2007, “foi Angola quem pôs Joseph e Laurent Kabila no poder, no Congo Democrático (que raio de designação para um país daqueles…) e que sustentou esse regime “dinástico” durante a guerra civil”.

“Angola fez o mesmo no outro Congo plus petite, idem para o Zimbabwe. Angola não se inibe de provocar quedas de regimes que não lhe convenham. Foi o que fez com todos os que apoiavam Savimbi, só falhando o golpe de estado que preparou na Zâmbia”, escreveu Carlos Narciso, acrescentando que “nos países onde a pressão da comunidade internacional consegue a realização de um simulacro de democracia, com eleições gerais mais ou menos livres e justas, os “cavalos” angolanos vencem sempre”.

segunda-feira, abril 26, 2010

A subserviência está na primeira fila

A propósito de qualquer coisa, ou de uma coisa qualquer,olho o horizonte limitado que me rodeia e tenho, obrigatoriamente, de concluir que na primeira fila do teatro da vida está a subserviência, colectiva ou individual.

E está na primeira fila, na ribalta, porque quer ser vista. A competência, essa está lá atrás porque – modesta como sempre – apenas quer ver.

Um amigo, dos que está cá atrás, diz-me que um dos que está lá na primeira fila pediu para sair. Dito de outra forma, pôs o lugar à disposição. Ao justificar que essa atitude é bem nobre, o meu amigo teve de mudar de lugar e ir bem mais lá para a frente.

É que, quer se queira ou não, só pede para sair quem afinal quer ficar.

No entanto, ao questionar a alusão à mudança de lugar, o meu amigo mostrou que é dos que pode e deve ficar cá atrás. Se entre a ignorância e a sabedoria só vai o tempo de chegar a resposta, só alguém inteligente é capaz de esperar pela chegada da resposta.

Os que sabem tudo, esses estão na primeira fila…

Cá atrás estão igualmente os que entendem que se um jornalista não procura saber o que se passa no cerne dos problemas é, com certeza, um imbecil.

Ainda mais atrás estão os que consideram que se o jornalista consegue saber o que se passa mas, eventualmente, se cala é um criminoso.

… vejo cada vez mais capatazes na primeira fila.

Versão sul-europeia do Burkina Faso

Costumo dizer que as ocidentais praias lusitanas situadas a norte, embora cada vez mais a sul, de Marrocos estão cada vez mais próximas de duas únicas alternativas.

Portugal ou se afunda totalmente e passa o testemunho a uma comissão liquidatária liderada por Espanha, ou assume que quer ser uma espécie de Burkina Faso da Europa.

Aliás, nada disto é novo. Há mais de 500 anos que os nossos antepassados sabiam que o reino não tinha futuro se aceitasse passivamente estar limitado às actuais fronteiras. Foi por isso que, num daqueles rasgos de heroicidade que nos causam hoje inveja, resolveram dar luz ao mudo.

Lembram-se que foi um português que disse "De África tem marítimos assentos; É na Ásia mais que todas soberana; Na quarta parte nova os campos ara; E se mais mundo houvera, lá chegara!"?

Regressemos, entretanto, à versão sul-europeia do Burkina Faso.

Portugal continua, de facto e cada vez mais de jure, sem ser um país, sem ser um Estado de Direito. É cada vez mais um local muito mal frequentado em que uma reduzida casta de "nobres" donos da verdade escraviza toda a plebe, tratando-a como se fossem escravos. E já faltou mais para o serem.

Em Portugal nada funciona bem para a esmagadora maioria, embora funcione quase na perfeição para os que estão no poder e, é claro, para os que têm esperanças de lá chegar a curto prazo.

Segundo a Transparency International, mais de meio mundo acredita que partidos, parlamentos, polícia e tribunais são as instituições mais atingidas por uma corrupção quotidiana generalizada.

Todavia, no caso do tal reino das ocidentais praias lusitanas, tudo se resolverá com o tal "apelo à cidadania responsável e participativa" para a qual, penso, é fundamental que os portugueses se inscrevam nas organizações mais incólumes à corrupção e que, nesta altura, são com certeza os partidos nacionais, a começar pelo Socialista de José Sócrates.

Mas nada disto é relevante. Importa é salientar o orgulho luso de ver Sócrates dizer a Durão Barroso: "Conseguimos, pá!".

Ao que parece, 70% dos portugueses (claramente manipulados pelas forças do mal que só sabem fazer campanhas negras) considera os partidos políticos (isto é, aqueles seitas consideradas vitais nas democracias) as instituições mais corruptas.

Mas poderá lá ser! Corrupção nos partidos portugueses? Certamente que Transparency International se esqueceu de ouvir os militantes socialistas, os candidatos a militantes socialistas, os desempregados que querem ser socialistas para arranjar emprego, os empregados à custa do PS etc.

Se os tivesse ouvido saberíamos que no partido de José Sócrates a corrupção não entra. E não entra porque já lá está, porque nunca de lá saiu, digo eu.

"Hoje somos confrontados diariamente com dramas pessoais e familiares que dificilmente poderíamos imaginar. São dramas que as estatísticas nem sempre revelam, mas que nos vão alertando para a dimensão social que a actual crise económica e financeira tem vindo a assumir", declarou o chefe de Estado português um dia destes.

Que Cavaco Silva tenha dificuldade em imaginar os múltiplos dramas dos portugueses, ainda vá que não vá. Não pode, contudo, é escudar-se na ignorância de quem vive longe do país real para sacudir a água do capote e para fingir que não sabe que Portugal talvez gostasse de ser mas (ainda) não é um Estado de Direito.

Cavaco Silva e os seus assessores estão a levar demasiado tempo para ver o diagnóstico que há muito foi feito por quem, mesmo desempregado, não penhorou a liberdade de opinião.

Um Estado de Direito conquista-se quando se não tem medo de dizer a verdade. E esta, quer o presidente queira ou não, não é pertença nem do queixoso, nem do réu, nem do juiz e muito menos daqueles que têm dinheiro para comprar o queixoso, o réu e o juiz.

Os políticos de uma forma geral, sejam o Presidente da República, os membros do Governo, os deputados ou autarcas, teimam em tapar o sol com uma peneira, mesmo quando o fazem a meio da noite.

De um presidente de um Estado de Direito (eu sei que não é o caso de Portugal) esperar-se-ia que tomasse medidas para castigar tanto o ladrão que entra em casa como o que fica à porta. Mas não. Cavaco Silva, na sua qualidade de mais alto magistrado da nação, parece querer castigar as vítimas e não os ladrões.

De um presidente de um Estado de Direito (eu sei que não é o caso de Portugal) esperar-se-ia que visse a quem beneficia a infracção, que argumentos usa para cilindrar a liberdade e sobretudo porque o faz de forma completamente impune.

De um presidente de um Estado de Direito (eu sei que não é o caso de Portugal) esperar-se-ia que procurasse - por exemplo - saber como é possível a uma empresa despedir dezenas de trabalhadores quando, poucos meses antes, os donos e ou administradores gastaram mais de 500 mil euros em carros novos para seu uso pessoal.

De um presidente de um Estado de Direito (eu sei que não é o caso de Portugal) esperar-se-ia muita coisa. E não apenas o óbvio para tudo continuar na mesma, para uns relembrarem o António (de Oliveira Salazar) e outros a necessidade de uma nova revolução.

Pois! Mas ainda há uns (e não são poucos) para quem a coisa só se revolve a tiro. Parece-me uma boa opção. Temo, contudo, que ao escolher-se a política do olho por olho, dente por dente, fiquemos todos cegos e desdentados. E se calhar os responsáveis pela tragédia vão continuar a ter pelo menos um olho e dois dentes...

De uma coisa os portugueses não podem esquecer-se: Como dizia Platão: "O castigo por não participares na política é acabares por ser governado por quem te é inferior."

Só a cantar destronamos
a melancolia e a tristeza

«Canta, meu amigo, canta porque eu tenho a certeza de que só a cantar destronamos a melancolia e a tristeza.

Eu não choro, Orlando. Cansei-me de ver o cacimbo chegar à mente de tantas pessoas, que idealizávamos como boas, e sinto um profundo nojo.

Tu sabes que não se chora de nojo, vomita-se. Por isso decidi partir para longe, para muito longe daí, exactamente para aqui, junto às tuas palavras, num lugar onde posso sempre conversar contigo e com o Ernesto Lara Filho, com a Alda Lara, com o Rebelo de Andrade, com o Viriato da Cruz, o Pessoa, o Gedeão, o Camões, o José Carlos Barros e tantos outros que sobreviveram a todas as situações em que se promoveram as revoluções estáticas, (que implantaram parasitas oportunistas,) indiferentes às guerras, aos ódios, às competições.

Orlando, nesse lugar eu posso escutar e murmurar várias melodias, mesmo depois de o tempo ter-me enrouquecido a voz, do Rui Mingas, do Ngola Ritmos, do Barceló de Carvalho, o Bonga, do Elias Dia Kimuezo, do Teta Lando, do Zeca, na Grândola Vila Morena, do Fausto, o nosso conterrâneo, várias mensagens do Duo Ouro Negro, o Hino da Alegria e o Bolero de Ravel, a iniciarem-se sempre num pianinho muito vivo e a crescerem, a crescerem sempre num alegro andante para um lugar muito distante, que principia e continua sempre aqui, o meu ideal de alegria e de vida e a oferecerem-me tantas memórias bonitas, que ambos guardamos, daquele tempo que não é ultrapassável pelo tempo, e não se negoceia com os vendilhões nos templos, sempre, sempre a desafiar-me a ver muito mais do que tudo o que já vi.

Sabes, Orlando?! eu nasci aí e só por isso nunca envelheci, porque nunca emigrei desse lugar, aqui.

Eu confiei a minha liberdade à minha alma grande, sempre pequena neste meu desejo de ser simples e crescer sempre e ser cada vez mais autêntico.

Autêntico!, Orlando.

Não como aquele “cantor de intervenção” que vi na televisão a prestar vassalagem ao Governador Geral. (Eu não chamo presidente a alguém que rouba a sua própria gente e afirma ser defensor do desenvolvimento pioneiro, com exageradas contas bancarias blindadas no estrangeiro.)

Sabes, Orlando?, eu sou assim feliz porque tenho as mãos e os bolsos brancos, vazios de trintadinheiros, e nunca vivi no estrangeiro.

Orlando, quando quiseres vir-me visitar, tu sabes onde poderás encontrar-me.

Só te quero recordar a minha morada porque a fluência do trânsito parece andar demasiado engarrafada: eu moro no cruzamento onde desagua a Rua da Fraternidade, que se prolonga na Avenida da Igualdade, ambas fazendo ligação com a travessa da Amizade e a Auto-estrada da Dignidade.

Quando quiseres aparecer, não é necessário avisar, basta bateres à minha porta, decorada de transparências pintadas com a luz do sol e do luar.

Não venhas cansado de urgências porque elas provocam desistências.

Aparece, rapaz, não é preciso avisar, só é necessário chegar.»

José Filipe Rodrigues

Nota: Estou a caminho, meu Velho. Há muito que meti os pés na picada...

domingo, abril 25, 2010

Bilhete aos (amigos) que restam

São muitos,
cada vez mais,
os que ao meu lado
fogem sem pensar
e me vão apunhalando,
quase sempre
pelas costas.
São poucos,
cada vez menos,
os que pensam,
sem fugir.
Por cada punhalada,
recebem uma promoção,
uma gratificação,
um elogio.
Mas,
como dizia
o Mais Velho
dos Mais Velhos,
ainda é a dor
que nos faz andar,
ainda é a angústia
que nos faz correr,
ainda são as lamúrias
e as lamentações,
que de vários cantos
do país nos chegam,
que nos fazem trabalhar;
Ainda é a razão
dos mais fracos
contra os mais fortes
que nos faz marchar.

Entre as brumas da memória, ó Pátria....

Ao mesmo tempo que Portugal celebra uma das mais importantes efemérides da sua História moderna, o 36º aniversário da Revolução do 25 de Abril, há 700 mil portugueses sem emprego, 20% da população na pobreza e outros 20% com ela à porta.

“Deixámos o império, abraçamos a democracia, escolhemos a Europa, alcançámos a moeda única, o euro. Mas duvidamos de nós próprios. Os portugueses perguntam-se todos os dias: para onde é que estão a conduzir o país? Em nome de quê se fazem todos estes sacrifícios?”, salientou o chefe de Estado, Aníbal Cavaco Silva, num discurso na sessão solene na Assembleia da República comemorativa do 25 de Abril de 1974.

Cavaco Silva perguntou hoje o que os 700 mil portugueses sem emprego, os 20% que são pobres e os outros 20% que já têm a pobreza à porta perguntam todos os dias e desde há muito tempo.

A prova de que se “acumulam dúvidas quanto ao futuro do país”, frisou Cavaco Silva, está no número de jovens que parte para o estrangeiro, na maioria precisamente aqueles que são “os mais qualificados e os promissores”. Mas, porque na maioria deles persiste o desejo de regressar, Portugal não deve desperdiçar esse “potencial”, caso contrário, o país poderá transformar-se um “país periférico”.

Será que os 700 mil portugueses sem emprego, os 20% que são pobres e os outros 20% que já têm a pobreza à porta, ainda têm tempo para ter dúvidas?

Por isso, exortou o chefe de Estado, “não podemos perder tempo, porque a concorrência será implacável” e, quem ficar para trás, terá de fazer um enorme esforço de recuperação. “No mundo actual, não esperemos que os outros nos ajudem se não acreditarmos em nós próprios, se formos incapazes de fazer aquilo que nos cabe fazer”, acrescentou, sustentando que no dia de hoje se celebra a esperança dos que acreditaram, sobretudo em si próprios.

Mas, afinal, que esperança podem ter os 700 mil portugueses sem emprego, os 20% que são pobres e os outros 20% que já têm a pobreza à porta?

Na sua intervenção, que encerrou a sessão solene, o Presidente da República voltou ainda a sublinhar que é nos momentos de “grave crise”, como aquela que Portugal atravessa actualmente, que há que abrir caminhos que levem o país a novas oportunidades, como o mar e as indústrias criativas.

“Que justificação pode existir para que um país que dispõe de tão formidável recurso natural, como é o mar, não o explore em todas as suas vertentes, como o fazem os outros países costeiros da Europa?”, questionou o chefe de Estado, considerando que há que repensar a relação com o mar e apostar mais no sector dos transportes marítimos e dos portos.

Terá sido descoberta a pólvora? perguntam os 700 mil portugueses sem emprego, os 20% que são pobres e os outros 20% que já têm a pobreza à porta.

“Portugal e os portugueses precisam de desígnios que lhes deem mais coesão, mais auto-estima e mais propósito de existir. O mar é certamente um deles”, defendeu.

Por outro lado, continuou Cavaco Silva, Portugal deve apostar na conversão de alguns centros urbanos em “grandes pólos internacionais de criatividade e conhecimento”, como ocorreu em Barcelona, Berlim, Amesterdão e Estocolmo.

Portugal deve isto, Portugal deve aquilo. E também deve muito aos 700 mil portugueses sem emprego, aos 20% que são pobres e aos outros 20% que já têm a pobreza à porta.

Além de Lisboa, Cavaco Silva apontou o exemplo do Porto como “uma cidade que dispõe de todas as condições para ser um pólo aglutinador de novas indústrias criativas”, nomeadamente ligadas à moda, design, cinema, teatro, informática e comunicação.

“Uma aposta forte dos poderes públicos, conjugada com a capacidade já demonstrada pela sociedade civil relativamente a projectos culturais de referência, poderão fazer do Porto e do Norte uma grande região criativa, sinónimo de talento, de excelência e de inovação”, sustentou, elogiando a capacidade empreendedora “das gentes do Norte” e do Porto, cidade onde existe “muito do melhor que Portugal fez nas últimas décadas”.

Quem diria? E é por ser assim que no Porto e não região Norte se situa a maioria dos 700 mil portugueses sem emprego, dos 20% que são pobres e dos outros 20% que já têm a pobreza à porta.

“Só falta mobilizar esforços para transformar o Porto e o Norte numa grande região europeia vocacionada para a economia criativa e fazer desse objetivo uma prioridade da agenda política”, acrescentou ainda Cavaco Silva.

É isso aí. Por outras palavras, pouco falta para que os 700 mil portugueses sem emprego, os 20% que são pobres e os outros 20% que já têm a pobreza à porta aprendam a viver sem comer.

Deixem-me chorar enquanto ouço Angola

Deixem-me chorar baixinho
enquanto ouço Teta Lando,
deixem-me ser adulto e criança
na saudade que anda devagarinho
quando parado vou andando
nesta dor de tanta esperança.

Deixem-me chorar baixinho
enquanto ouço Elias Dia Kimuezo,
deixem-me sonhar mais um dia
olhando o horizonte mesquinho
de um sofrimento bem coeso
aliviado apenas por uma poesia.

Deixem-me chorar baixinho
enquanto ouço Carlos Lamartine
entrar numa alma despedaçada,
como se fosse um passarinho
que, como eu, também não atine
com a mangueira estilhaçada.

Deixem-me chorar baixinho
enquanto ouço até Rui Mingas
nas ruas da minha memória,
esburacada pela falta de carinho
que anoitece enquanto gingas
numa saudade carente de história.

Deixem-me chorar baixinho
enquanto ouço o Paulo Flores
cantar um semba de verdade.
Deixe-me chorar bem pertinho
de todos os grandes amores
que hoje apenas são saudade.

O Povo é quem mais ordena?

«Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti, ó cidade

Dentro de ti, ó cidade
O povo é quem mais ordena
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena

Em cada esquina um amigo
Em cada rosto igualdade
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade

Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
Em cada rosto igualdade
O povo é quem mais ordena

À sombra d’uma azinheira
Que já não sabia a idade
Jurei ter por companheira
Grândola a tua vontade

Grândola a tua vontade
Jurei ter por companheira
À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade.»


O Povo é, 36 anos depois do 25 de Abril de 1974, quem mais ordena desde que esteja de acordo com quem está no poder.

Democracia de barriga vazia

Ao mesmo tempo que Portugal celebra uma das mais importantes efemérides da sua História moderna, o aniversário da Revolução do 25 de Abril, África em geral, e a Lusófona em particular, “celebram” o facto de que 90 por cento dos mais de um milhão de mortes anuais provocadas pela Malária ocorrem neste continente.

Ao mesmo tempo que Cavaco Silva discursa, em Lisboa, África regista que aquela doença mata uma criança em cada 30 segundos... Mas Portugal regista igualmente mais de 700 mil desempregados, bem como cerca de 40% da população que começa a ter dificuldades em viver sem comer.

Certamente que Portugal tem toda a legitimidade para festejar uma data que foi importante também para os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa. Aliás, foi graças a esse 25 de Abril que eu posso, hoje, aqui escrever o que entendo.

Também é graças a esse 25 de Abril que muitos fazem tudo para que eu, como outros, não possa pôr o poder das ideias acima das ideias de poder.

Lisboa quer hoje, 36 anos depois, pôr a razão da força acima da força da razão. E se assim é, que o diga e assuma de uma vez por todas. Se para se ser cidadão de primeira é preciso, hoje, ser socialista mais do que ser competente, então que se assuma.

Se Portugal quer apenas trabalhar com os poucos que têm milhões e não com os milhões que têm pouco, que o diga abertamente.

Deixem-me, quando passam 36 anos sobre a dita Revolução dos Cravos, lembrar que em todo o Mundo 815 milhões de pessoas sentem todos os dias, a todas as horas, o que é a fome.

Quase todas nasceram com fome, sobreviveram com fome e morrem com fome. Muitas delas pertencem à Lusofonia, apesar de os dirigentes da CPLP continuarem a ter (pelo menos) três refeições por dia.

Deixem-me, quando passam 36 anos sobre a dita Revolução dos Cravos, lembrar que 1,1 mil milhões de pessoas não têm acesso a água potável; 2,5 mil milhões não têm saneamento básico; 30 mil morrem diariamente devido ao consumo de água imprópria.

Deixem-me, quando passam 36 anos sobre a dita Revolução dos Cravos, recordar os actuais 700 mil desempregados que sabem que os 3,1 milhões euros que António Mexia arrecadou significam que ganhou em cada mês 25 anos de salário médio de cada português.

Deixem-me, quando passam 36 anos sobre a dita Revolução dos Cravos, lembrar que não adianta ter uma democracia quando se tem a barriga vazia.

sábado, abril 24, 2010

A rapaziada socialistas está nervosa (II)

Se os deputados que o PS tem na Comissão Parlamentar de Inquérito à actuação do Governo português na tentativa de compra da TVI, tipo Ricardo Rodrigues, Manuel Seabra ou Osvaldo Castro, são os seus pesos-pesados, então não tardará que José Sócrates atire a toalha ao tapete.

Ricardo Rodrigues, que não permite protagonismos socialistas por camaradas alheios, também já avisou que o PS abandonará a Comissão de Inquérito se o procurador Marques Vidal, responsável pelo processo Face Oculta, for ali ouvido como pretende o PSD.

“Se alguma vez algum procurador de um processo vier ser ouvido nesta comissão ou entrarem aqui escutas, o PS abandona a Comissão Parlamentar de Inquérito”, afirmou também do alto da sua sabedoria (presumo que delegada) Ricardo Rodrigues.

Para o deputado socialista, “o PSD, ao pedir as escutas do processo Face Oculta, está a misturar o que é justiça e o que é política”.

“Estou aqui para avaliar responsabilidades políticas e não judiciais”, reforçou, concluindo que “esta comissão é o desprestígio completo da Assembleia da República”.

Cá para mim, o desprestígio completo da Assembleia da República tem, entre outros, um nome que começa a entrar nos anais do anedotário nacional, com ou sem sotaque: Ricardo Manuel de Amaral Rodrigues.

De facto, apesar de este Partido Socialista, representado por estes deputados, estar contra a chamada do procurador, o mesmo não se passou quando Souto Moura, o antecessor de Pinto Monteiro na Procuradoria, foi à Comissão de Inquérito do “Envelope 9″, em 2007.

O “Envelope 9″, recorde-se nomeadamente a estes socialistas, foi um escândalo associado ao processo “Casa Pia” quando foi descoberta a existência entre os documentos do processo sobre abuso de menores de uma listagem de facturações telefónicas detalhadas de vários titulares de órgãos de soberania, incluindo Jorge Sampaio, então Presidente da República.

Também Manuel Seabra expeliu fogo e ódio no ataque que, na Comissão de Ética (ainda por cima de Ética) do Parlamento português, no início de Março, dirigiu à jornalista Manuela Moura Guedes.

É um estilo que, tanto quanto parece, está a fazer escola neste PS sempre que alguém resolve contestar as teses do primeiro-ministro, qual dono e senhor a verdade no reino lusitano.

Manuel Seabra teve, aliás, o condão - como já aqui escrevi - de me trazer à memória (e esta coisa de ter memória é claramente um defeito de fabrico) o que em se passou no dia 9 de Junho de 2004, na lota de Matosinhos, quando Sousa Franco morreu de ataque cardíaco.

Já nessa altura, e se calhar há defeitos congénitos que nenhum tipo de cosmética altera, Manuel Seabra mostrava que não olha a meios para atingir os seus fins.

Também nessa altura já eram dirigentes socialistas José Sócrates, Vieira da Silva e Francisco Assis que, aliás, se mostraram-se perplexos com a agitação da campanha na lota de Matosinhos. Tão perplexos, digo eu, que Manuel Seabra até foi penalizado com o cargo de deputado...

Esperanças viradas para Angola e Líbia

O Presidente da Guiné-Bissau, Malam Bacai Sanhá, sabe bem quem o pode ajudar a pôr ordem numa casa onde poucos têm muito pão, e em que os que ralham nem sequer sabem se têm barriga.

Depois de ter ido a Angola e de lá ter mandado o ministro da Defesa, Sanhá enviou hoje um conselheiro à Líbia para informar Muhammar Khadafi sobre os acontecimentos no país.

E, goste-se ou não, o presidente guineense sabe que, no contexto dessa coisa aberrante (pela sua nula eficácia) que dá pelo nome de CPLP, só há um país capaz de agir: Angola. De todos os outros, com Portugal à cabeça, sabe-se que não agem, apenas reagem e quase sempre mal e tarde.

Para o bem e para o mal, Angola não se limita como os outros ineptos parceiros lusófonos, a constatar o óbito. Faz o que lhe for possível para salvar o doente.

Paralelamente, Sanhá sabe igualmente bem que o líder líbio, Muammar Khadafi, também não deixa os seus créditos por países alheios.

Ainda em Novembro do ano passado, enquanto Portugal cogitava longa e sonolentamente sobre a ajuda a dar à Guiné-Bissau, Khadafi ofereceu ao país quatro viaturas todo-o-terreno, 500 peças de fardamento, 250 pares de botas militares, fotocopiadoras, computadores e dois grupos geradores.

Apesar de os guineenses serem o mais mártir dos povo lusófonos, os líderes guineenses vão continuar a saborear várias refeições por dia, esquecendo que na mesma rua há gente que foi gerada com fome, nasceu com fome e morreu com fome.

Também em Bissau se pensa que é possível enganar toda a gente durante todo o tempo. Mas não é. E, mesmo que famintos, ainda sobra força aos guineenses para um dia destes voltarem a fazer o que já começa a ser um hábito: puxar o gatilho.

E é exactamente para evitar passar pelo mesmo que Nino Vieira que Sanhá terá no país, muito em breve, militares angolanos e muito equipamento líbio.

Não creio que essa seja a solução. Mas os guineenses lá sabem. Os problemas poderão ficar em coma induzido, mas quando acordarem lá se vão voltar a ouvir as AK-47.

Os jornalistas têm a chave para o problema, falta-lhes saber se existe alguma fechadura!

Os sindicatos de jornalistas da Europa dizem que vão lutar de forma decidida para recuperar a confiança da opinião pública no sector.

De boas intenções está o mundo dos donos dos jornalistas, e o dos donos dos donos, cheio. Mas urge lutar. Desde logo porque está em causa uma dupla sobrevivência: a dos jornalistas e a dos sindicatos.

Segundo o presidente da Federação Europeia de Jornalistas (FEJ), Arne König, a luta justitica-se em função da realidade: “uma mistura tóxica de cortes editoriais, condições de trabalho precárias e jornalismo pouco ético ter conduzido a uma espiral descendente dos média e da democracia na Europa”.

A decisão de luta, que ainda não é uma declaração de guerra, foi tomada na Assembleia-Geral da FEJ, que decorreu de 16 a 18 de Abril em Istambul, na Turquia, reunindo organizações da classe de 24 países, entre as quais o Sindicato dos Jornalistas portugueses.

Durante a reunião magna, os debates foram dedicados a assegurar o futuro do jornalismo e a contrariar o impacto da crise dos média, que levou a cortes nas redacções e ao encerramento de vários jornais, bem como à queda dos padrões de qualidade, devido “aos cortes selvagens nos custos editoriais, à redução do número de jornalistas e ao menor investimento em edição, investigação e especialização”.

Até aqui... nada de novo. O diagnóstico do sector há muito que é conhecido, bem como o estado terminal dos jornalistas, enquanto tal. Ou seja, enquanto estes estão moribundos, em coma real ou induzida, os seus substitutos – produtores de conteúdos por medida e à medida – estão com uma saúde de ferro.

Realçando a necessidade de encontrar respostas para a crise de financiamento do sector, o presidente da FEJ sublinhou, no entanto, que “não se pode comprometer a independência editorial ou a necessidade de um jornalismo credível e ético”, e apelou a maiores níveis de solidariedade no seio da classe.

Independência editorial? Jornalismo credível e ético? Onde?

Pois é. Independência editorial, pelo menos na praça pública do reino lusitano, é coisa tão rara que um dia destes só se encontrará mo Museu da Imprensa. Jornalismo credível e ético é, igualmente e por exclusão de partes, algo mirífico no reino da utopia. Se não existe independência editorial...

“A mensagem de Istambul é que a unidade é a nossa maior força e que a solidariedade é a chave para vencer as batalhas sobre a direcção futura do jornalismo e dos média”, concluiu Arne König.

A chave é essa. Falta saber se a porta tem fechadura...

De falência em falência a caminho da Grécia

Portugal, e não me estou a referir aos emblemáticos casos de António Mexia ou João Rendeiro, continua a somar pontos no sentido de mostrar que os portugueses vão ver-se gregos para dar a volta à crise.

Ficou agora a saber-se, o que nem sequer causa espanto, que o número insolvências de empresas cresceu 7,7 por cento no primeiro trimestre deste ano face ao mesmo período do ano passado.

O número de insolvências em território português foi de 821 em 2008, 1 122 no ano passado e 1 209 até 17 de Abril de 2010. Mas uma vez, e como começa a ser um hábito, o Porto é o distrito que mais insolvências registou este ano, ou seja 288, seguido de Lisboa com 233 e Braga com 175.

Que a economia portuguesa entrou, entra e entrará, mais uma vez e sempre para o lado dos mais fracos, em derrapagem e que, a todo o momento, pode fazer mais um buracão no fundo negro em que se encontra, já todos sabem, incluindo (espero, embora sem ter a certeza) os líderes políticos do país.

Se calhar o país ainda está a tempo de evitar que o povo saia à rua para, ao estilo recente da Grécia, dizer que não podem ser sempre os mesmos a pagar a crise.

Numa coisa, reconheço, José Sócrates tem razão. Agora não são exactamente os mesmos a pagar a crise. Ou seja, são os mesmos de sempre e mais uns milhares que até agora tinham escapado (700 mil desempregados, 20% da população na pobreza, desemprego a atingir os 11% este ano). Do outro lado, aí sim, continuam sempre os mesmos (políticos, banqueiros, administradores, gestores e empresários).

Chegados a esta fase negra, já pouco pode ser feito. Cá para mim, como não é possível mudar de país, o melhor mesmo é mudar de políticos... para começar.

Mas mesmo assim a coisa está feia. É que a esmagadora maioria dos políticos portugueses é farinha do mesmo saco. Às segundas, quartas e sextas viram à direita, às terças, quintas e sábados à esquerda e ao domingo vagueiam pelo centro.

Portanto, se calhar o melhor mesmo é mudar de sistema. É que, convenhamos, entre um sistema em que poucos roubam e um em que muitos roubam, não me parece difícil escolher.

E para a economia voltar a funcionar é urgente dar oportunidade ao primado da competência e não, como o fazem os últimos governos das ocidentais praias lusitanas, ao da filiação partidária, do compadrio, da corrupção e de outras virtudes paridas no calor das noites horizontais.

Eu sei que agora rouba-se... democraticamente. Se calhar, a fazer fé no exemplo lusitano, a democracia inventou-se exactamente para isso: para se poder roubar à vontade.

E a vida tem destas coisas. Depois admirem-se que entre uma ditadura de barriga cheia e uma democracia com ela vazia, os portugueses não tenham dúvidas em escolher.

E, note-se, já há muita gente que nem sabe se tem barriga...