O comércio do jornalismo é hoje, em Portugal, feito por um maior número de profissionais com carteira (profissional... mas vazia). Acresce que qualquer analfabeto pode ser “jornalista”.
José Rebelo, professor universitário que coordenou equipa do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia (CIES) do Instituto Universitário de Lisboa e que realizou o estudo "Ser jornalista em Portugal - perfis sociológicos", considera preocupante o facto de cada vez mais estagiários estarem a ser utilizados como jornalistas profissionais.
Se informar é uma das prioridades dos jornalistas, não o é para os que na maioria dos casos fazem jornais, rádio ou televisão.
Hoje (salvo muito poucas excepções) não se fazem jornais, fazem-se linhas de enchimento de conteúdos de linha branca em forma de papel, rádio, televisão ou Internet. E fazem-se à medida e por medida do cliente. E o cliente não é o público. É quem paga, é quem manda.
A coisa está brava? Não, não está. Estaria se falássemos de Jornalismo. Resta, contudo, a certeza de que é mais a parra do que a uva. Desde logo porque, ao contrário do que seria de esperar, os «macacos» não estão nos galhos certos.
E quando assim acontece (e acontece muitas vezes), os produtores de conteúdos procuram apenas sobrevalorizar as ideias de poder em detrimento do poder das ideias.
A convivência entre os diferentes poderes não tem sido fácil. O suposto Estado de Direito democrático em Portugal ainda é – na melhor das hipóteses - uma criança e, como tal, há muitos vícios, deformações e preconceitos herdados ou estimulados que a muitos dá jeito conservar e sobre os quais espero que, um dia qualquer, o CIES faça também um estudo.
É claro que o «quero, posso e mando» que hoje está instituído por essas linhas de enchimento fora, apenas serve quem entende que jornalismo é uma mera forma de propaganda. Propaganda sobretudo político-económica.
Mas esta discussão, que alimento como forma de salubridade mental, é uma maneira de tapar o sol com uma peneira. Tenho a exacta noção de que os Jornalistas são comidos à grande e à francesa com a conivência activa de muitos que tendo a Carteira Profissional de Jornalista, que trabalhando nas Redacções, não passam de néscios a quem foi dado o poder de um capataz.
O problema principal reside no facto de que (basta ver as Redacções/linhas de enchimento), médicos, advogados, arquitectos, engenheiros, treinadores de futebol, amigos, filhos e amantes serem “jornalistas”.
O jornalismo que vamos tendo, qual reles bordel, aceita tudo e todos. É um pouco semelhante à política
E, de facto, aos Jornalistas falta-lhe cada vez mais autoridade moral para contestar o que quer que seja. Se todos podem ser jornalistas, porque carga de água não podem os jornalistas ser deputados, assessores de políticos, publicitários etc.?
Podem. Tal como podem, depois regressar às Redacções/linhas de enchimento para serem fiéis acéfalos dos amos a quem antes serviram.
Sem comentários:
Enviar um comentário