domingo, julho 31, 2011

Ser do PSD é pura coincidência...

António Nogueira Leite vai ser vice-presidente executivo da Caixa Geral de Depósitos e ganhar mais de 20 mil euros por mês. Ser do PSD é, pois claro!, mera coincidência.

O académico, que foi conselheiro de Pedro Passos Coelho (quem diria?), vai assumir funções executivas na CGD, ocupando o lugar de número dois do próximo presidente executivo do banco público.

Actualmente António Nogueira Leite  já é:

- Administrador executivo da CUF,

- Administrador executivo da SEC,

- Administrador executivo da José de Mello Saúde,

- Administrador executivo da EFACEC Capital,

- Administrador executivo da Comitur Imobiliária,

- Administrador (não executivo) da Reditus,

- Administrador (não executivo) da  Brisa,

- Administrador (não executivo) da Quimigal

- Presidente do Conselho Geral da OPEX,

- Membro do Conselho Nacional da CMVM,

- Vice-presidente do Conselho Consultivo do Banif Investment Bank,

- Membro do Conselho Consultivo da Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Comunicações,

- Vogal da Direcção do IPRI.

É membro do Conselho Nacional do PSD desde 2010.

Os amigos começam a ocupar os bons lugares. Mas continuam a dizer que querem poupar e reduzir nas despesas. E, para isso, vão aumentar impostos, transportes, saúde etc..

Mas, acrescentam, que ainda agora começaram os sacrifícios… sempre para os mesmos. Os poucos que têm milhões vão continuar a ter mais milhões, os milhões que têm pouco vão passar a ter... nada.

sábado, julho 30, 2011

Azeiteiros para todos os (des)gostos

Portugal tem destas coisas. Nos últimos 20 anos mais do que duplicou a produção de azeite, de 26 mil toneladas para 68 mil, ao mesmo tempo que reduziu para metade o total de lagares.

É caso para dizer que é um país de azeiteiros (“que ou quem produz ou vende azeite”). É altura de o Governo dar loas a todos os azeiteiros nacionais que são, de facto, boas pessoas e produzem algo de qualidade reconhecida internacionalmente.

Em 1990, ano que constituiu o ponto mais baixo que se conhece de produção de azeite, Portugal possuía quase mil lagares, para produzir 26 mil toneladas daquele produto alimentar.

Mas, passados 20 anos, tendo em conta dados do final de 2009, o país já tinha reduzido para metade o número de lagares, ou seja, para pouco mais de 500, aumentando a produção de azeite para as 68 mil toneladas.

Se calhar, partindo deste exemplo de menos lagares mas mais e melhor qualidade, não seria mau adaptar a estratégia a outros azeiteiros (neste caso “indivíduos que exploram prostitutas, chulos”) que proliferam por aí, nomeadamente naquelas coisas a que chamam Assembleia da República, empresas públicas, semi-públicas e similares, mas que, tantas e tantas vezes, parecem mais prostíbulos.

Quando, já para não falar do deputado que rouba gravadores aos jornalistas, se vê que o léxico político-parasitário do reino soma o “pensamento vazio” e a “agenda escondida” a outras pérolas suínas já emblemáticas, como são os casos de “espionagem política”, “sujeira”, “coscuvilhice” e “política de fechadura”, conclui-se que é altura de candidatar os azeiteiros “made in Portugal” a um qualquer prémio do anedotário azeiteiro mundial.

Criados para servir suas majestades

Nem os jornalistas dizem que são jornalistas. Isto porque, cada vez mais, são criados para todo o serviço, às ordens das diferentes majestades do reino.

Recordam-se de o governo nepalês querer usar jornalistas como informadores? Ou das forças de segurança de Israel se disfarçarem de fotojornalistas para melhor identificar manifestantes?

Nessa matéria, Portugal (mesmo, mas sobretudo, nos reinados de José Sócrates e, pela aragem, nada vai ser agora diferente) é um paraíso. O máximo que se consegue é assessores disfarçados de jornalistas, directores fingindo ser jornalistas e, de vez em quando, jornalistas disfarçados de jornalistas.

No caso de Nepal,  o uso de jornalistas como informadores é contrário ao código de conduta emitido pelo Conselho de Imprensa Nepalês.

Também em Portugal, de acordo com todas as leis, os jornalistas são algo que não se encontra na vida real. Nenhuma dessas leis diz que, para manterem o emprego, têm de ser tapetes (mesmo que de luxo) do Poder. Mas que, cada vez mais, são mesmo tapetes, isso são.

Em Portugal usam-se os jornalistas (há, obviamente, excepções) para assinarem textos paridos por assessores, para darem um ar de notícia à propaganda, para fazerem fretes aos seus donos e aos donos dos seus donos, para…

Há uns anos, o Centro Palestiniano para as Liberdades de Média e Desenvolvimento (MADA) relatou que agentes de segurança israelitas se disfarçaram de fotojornalistas para identificar e deter manifestantes, uma prática também denunciada pelos Jornalistas Canadianos pela Liberdade de Expressão (CJFE), que em 2008 documentou o caso de um polícia que se fez passar por repórter com o mesmo fito.

Pois é. São mundos e realidades diferentes. Pelo reino luso o que se encontra é bem diferente. São ministros, assessores, assessores dos assessores, chefes de gabinete, empresários, autarcas, dirigentes desportivos, todos disfarçados de jornalistas. Tão bem disfarçados que, se calhar, alguns até têm carteira profissional.

Para o MADA, esta é “uma violação das leis e cartas internacionais e coloca em risco as vidas dos jornalistas”, enquanto o CJFE afirma que “quando polícias se fazem passar por jornalistas, cria-se um ambiente em que os cidadãos não podem confiar que quem se identifica como jornalista é realmente jornalista”, o que prejudica o relacionamento com potenciais fontes de informação.

Por Portugal, os cidadãos também confiam cada vez menos nos jornalistas. Não porque temam que lhes apareça a amante do dono do jornal a dizer que é jornalista, mas porque nem mesmo os jornalistas dizem que são jornalistas.

Acéfalos e eunucos... com carteira

O comércio do jornalismo é hoje, em Portugal, feito por um maior número de profissionais com carteira (profissional... mas vazia). Acresce que qualquer analfabeto pode ser “jornalista”.

José Rebelo, professor universitário que coordenou equipa do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia (CIES) do Instituto Universitário de Lisboa e que realizou o estudo "Ser jornalista em Portugal - perfis sociológicos", considera preocupante o facto de cada vez mais estagiários estarem a ser utilizados como jornalistas profissionais.
  
Se informar é uma das prioridades dos jornalistas, não o é para os que na maioria dos casos fazem jornais, rádio ou televisão.

Hoje (salvo muito poucas excepções) não se fazem jornais, fazem-se linhas de enchimento de conteúdos de linha branca em forma de papel, rádio, televisão ou Internet. E fazem-se à medida e por medida do cliente. E o cliente não é o público. É quem paga, é quem manda.

A coisa está brava? Não, não está. Estaria se falássemos de Jornalismo. Resta, contudo, a certeza de que é mais a parra do que a uva. Desde logo porque, ao contrário do que seria de esperar, os «macacos» não estão nos galhos certos.

E quando assim acontece (e acontece muitas vezes), os produtores de conteúdos procuram apenas sobrevalorizar as ideias de poder em detrimento do poder das ideias.

A convivência entre os diferentes poderes não tem sido fácil. O suposto Estado de Direito democrático em Portugal ainda é – na melhor das hipóteses - uma criança e, como tal, há muitos vícios, deformações e preconceitos herdados ou estimulados que a muitos dá jeito conservar e sobre os quais espero que, um dia qualquer, o CIES faça também um estudo.

É claro que o «quero, posso e mando» que hoje está instituído por essas linhas de enchimento fora, apenas serve quem entende que jornalismo é uma mera forma de propaganda. Propaganda sobretudo político-económica.

Mas esta discussão, que alimento como forma de salubridade mental, é uma maneira de tapar o sol com uma peneira. Tenho a exacta noção de que os Jornalistas são comidos à grande e à francesa com a conivência activa de muitos que tendo a Carteira Profissional de Jornalista, que trabalhando nas Redacções, não passam de néscios a quem foi dado o poder de um capataz.

O problema principal reside no facto de que (basta ver as Redacções/linhas de enchimento), médicos, advogados, arquitectos, engenheiros, treinadores de futebol, amigos, filhos e amantes serem “jornalistas”.

O jornalismo que vamos tendo, qual reles bordel, aceita tudo e todos. É um pouco semelhante à política

E, de facto, aos Jornalistas falta-lhe cada vez mais autoridade moral para contestar o que quer que seja. Se todos podem ser jornalistas, porque carga de água não podem os jornalistas ser deputados, assessores de políticos, publicitários etc.?

Podem. Tal como podem, depois regressar às Redacções/linhas de enchimento para serem fiéis acéfalos dos amos a quem antes serviram.

É a rebaldaria total a bem da nação

Todos os jornalistas sabem que a sua liberdade termina onde começa a dos outros. Também sabem que a dos outros termina onde começa a sua. O problema está em que a Imprensa é cada vez menos feita por jornalistas. O reino é agora dos estagiários… e similares.

sexta-feira, julho 29, 2011

Vencimento mensal (bruto) de 3.653,81 euros

Só quem não quer fazer coisas sérias é que não percebe que, afinal, não há mais vida para além do PSD/CDS. E se um emprego implicar coluna vertebral e tomates amovíveis… que mal tem?

Vamos a isto rapazes. Muitos de nós estamos a aprender a viver sem comer (desemprego). Antes que se descubra que é uma missão impossível (já faltou mais), o melhor é preencher a respectiva ficha… mesmo quando o ordenado não é grande coisa. Apenas um vencimento mensal (ainda por cima bruto) de 3.653,81 euros...

Assim como está (e ao que parece vai continuar na mesma) Portugal não vai levar a carta a Garcia... mesmo que o general esteja ao dobrar da esquina.

Nos últimos anos, bem antes – reconheça-se – de José Sócrates ter sido eleito sumo pontífice do PS e do Governo, Portugal aposta forte e feio na rapaziada do costume.

Seja como for, o que Portugal precisa é de uma estratégia (ou desígnio) que valorize quem tem ideias e não quem diz que as tem. Que institua (e não que sugira que se institua) o primado da competência, independentemente da filiação partidária e das cunhas.

Será isso que vai acontecer? Tudo leva a crer... que não.

É certo que a procissão ainda vai no adro. No entanto, o problema é bem mais extenso. Não se resume a pessoas. Assenta na mentalidade de quem dirige o país e esses não são, necessariamente, os ministros e os secretários de Estado.

São, sobretudo, aqueles que comandam a economia, que dão emprego aos políticos, e os poderes paralelos que ditam as regras do jogo e que, tantas vezes, as alteram quando mais convém. São as grandes empresas, as associações empresariais, as fundações e outros similares que proliferam na sociedade desta República.

Garantem-me que Belmiro de Azevedo afirmou (pelo menos uma vez) que «um subalterno tem o dever de questionar uma ordem do chefe e, se for o caso, dizer-lhe que não é suficientemente competente».

Se calhar essa foi uma das regras que originou o êxito deste empresário. Belmiro sabia (será que ainda sabe?) que um chefe não é só o que manda - é sobretudo o que dá o exemplo. Sabia que a crítica não significa desobediência. Sabia que tinha de se rodear de massa crítica, pois para dizer sempre que «sim» bastava-lhe a própria sombra.

O Governo português está cheio de «sombras». E está este como estão as associação empresariais, os sindicatos, o PS, o PSD, o CDS/PP e os organismos (sobretudo fundações, institutos e similares) criados para dar emprego a ex-políticos e candidatos a políticos.

«Sombras» que vivem religiosamente à custa das bênçãos, das cunhas, e dos padrinhos que, por regra, já chegaram a chefes do estado maior.

Com um país assim, onde são (quase) sempre os mesmos a ter acesso ao poder, sendo todos os outros relegados para fora de jogo, só há duas possibilidades: ter ideias e ser marginalizado ou, agora, ser sombra e filiar-se no PSD (excepcionalmente também no CSD/PP).

Mais dia menos dia o poder há-de sorrir.

Prahlad Jani a caminho de Portugal

Consta, e parece ser mesmo verdade, que o PSD quer continuar a obra deixada por José Sócrates. E é por isso que vai recuperar a ideia de “importar” o indiano Prahlad Jani que, diz ele, não come nem bebe há mais de 70 anos.

O governo indiano, certamente atento ao que ao impacto do assunto, resolveu descobrir, ou tentar – pelo menos, se o que ele diz é verdade ou se Jani é apenas um farsante.

Convenhamos, contudo, que mesmo sendo um farsante isso não seria impeditivo de fazer sucesso no reino lusitano.

Aos 83 anos, Prahlad Jani  ficou 14 dias a ser observado e filmado por uma equipa de 30 médicos escolhida pelo Ministério da Defesa indiano. Segundo os testemunhos, ele não ingeriu (nem expeliu...) nada durante esse tempo.

Estou, no entanto, convencido que a credibilidade de Prahlad Jani teria saído reforçada se os médicos tivessem sido escolhidos por alguém do governo, deste ou do anterior, português.

E é baseado neste caso que, até prova em contrário, está a animar a comunidade científica, que José Sócrates primeiro (certamente com a colaboração institucional de Cavaco Silva) e agora Pedro Passos Coelho pretende ensinar os portugueses a, pelo menos, viver sem comer.

E, convenhamos, se for possível garantir (mesmo sem conhecimento do Parlamento e do Presidente da República) à dona da Europa, Angela Dorothea Merkel, que os portugueses conseguem estar uns anos sem comer, Portugal não tardará muito a ter o défice em ordem e a beneficiar do pleno emprego.

Além disso, serão o FMI e a senhora Angela Dorothea Merkel a pedir ao actual “líder carismático” do reino de Portugal uma ajudinha para implantar o mesmo sistema.

Até agora, sobretudo porque os portugueses (claramente manipulados pelos serviços de informação ou por alguns jornalistas) são uns desmancha-prazeres, os resultados não são animadores. Todos os que tentaram seguir (embora voluntariamente obrigados) o método de Prahlad Jani estiveram muito perto mas, quando estavam quase lá... morreram.

Já em 2006 o Discovery Channel fez um documentário sobre Prahlad Jani que, na altura, concordou em ser filmado durante dez dias e também foi analisado por médicos e cientistas, que não chegaram a uma conclusão nem presenciaram nenhuma impostura.

Data, aliás, dessa altura a tese de José Sócrates de que seria capaz de pôr os portugueses a viver sem comer. Como não encontrou voluntários, obrigou-os pela força da miséria e do desemprego a enveredarem por esse caminho.

Os médicos apenas atestaram que Prahlad Jani estava com a saúde perfeita após o jejum. Depois da nova experiência, Jani deu uma conferência de Imprensa no hospital Ahmedabad. “Eu estou forte e saudável porque é assim que Deus quer que eu esteja”, disse ele.

Jani tem preparado o mesmo discurso para a altura em que virá a Portugal. Há uns meses sabia-se que iria dizer: “Eu estou forte e saudável porque é assim que José Sócrates quer que eu esteja”. Agora, já o informaram, vai substituir José Sócrates por Pedro Passos Coelho.

Nem todos escolhem o silêncio

quinta-feira, julho 28, 2011

UNITA à beira da implosão

As coisas na UNITA não vão bem. Ao que consta, o presidente (Isaías Samakuva) não só se negou a receber Paulo Lukamba Gato como ameaça expulsá-lo do partido.

Há muito que, por obra e graça do MPLA mas – igualmente – por incapacidade dos seus quadros, se prevê o fim da UNITA.

Jonas Savimbi morreu no dia 21 de Fevereiro de 2002, de morte violenta (em combate e às mãos de alguns dos seus antigos generais). Foi nesse dia que começou a morrer a UNITA. De morte lenta, é certo, mas igualmente (tanto quanto parece) de forma irreversível.

Talvez pouco adiante, como já fizeram o favor de me recordar alguns amigos da UNITA, continuar a dizer nesta altura que a vitória seguinte começou com a derrota anterior. Isso faria sentido se o Mais Velho ainda andasse por cá.

Apesar de todas as enorme aldrabices do MPLA, as eleições legislativas acabaram por derrotar em todas as frentes não só a estratégia mas a sua execução, elaboradas por alguns dos “generais” da UNITA.

Como já em tempos aqui disse, creio que se Jonas Savimbi fosse vivo muitos desses “generais” da equipa da Isaías Samakuva não passariam de “cabos”. Mas quem sabe são eles.

Esperando, embora tendo cada vez menos essa certeza, que a Direcção da UNITA, esta ou qualquer outra, prefira ser salva pela crítica do que assassinada pelo elogio, volto a dizer o que penso com a legitimidade inerente ao facto de ser angolano, mau grado não ser negro.

Desde logo, lembrando que muitos dos “generais” escolhidos por Isaías Samakuva para os combates eleitorais, sociais e políticos levantaram os braços e içaram um pano branco quando se ouviu o primeiro “tiro”.

A hecatombe eleitoral, social e política mostrou que a UNITA não estava mesmo preparada para ser governo e queria apenas assegurar alguns tachos e continuar a ser o primeiro dos últimos.

O sacrificado povo angolano, mesmo sabendo que foi o MPLA que o pôs de barriga vazia, não viu na UNITA a alternativa válida que durante décadas lhe foi prometida, entre muitos outros, por Jonas Savimbi, António Dembo, Paulo Lukamba Gato, Alcides Sakala e Samuel Chiwale.

Terá sido para ver a UNITA com pouco mais de 10% que Jonas Savimbi lutou e morreu? Não. Não foi. E é pena que os seus ensinamentos, tal como os seus erros, de nada tenham servido aos que, sem saberem como, herdaram o partido e a ribalta da elite angolana.
É pena que os que sempre tiveram a barriga cheia nada saibam, nem queiram saber, dos que militaram na fome, mas que se alimentaram com o orgulho de ter ao peito o Galo Negro.

Se calhar também é pena que todos aqueles que viram na mandioca um manjar dos deuses estejam, como parece, rendidos à lagosta dos lugares de elite de Luanda.

Por último, se calhar também é de lamentar que figuras sem passado, com discutível presente, queiram ter um futuro à custa da desonra dos seus antepassados que deram tudo o que tinham, incluindo a vida, para dignificar os Angolanos.

É que, ao contrário do Mais Velho, na UNITA há muitos que preferem ser escravos com lagosta na mesa do que livres embora procurando mandioca nas lavras.

Não creio que Homens como Paulo Lukamba Gato, Alcides Sakala e muitos, muitos, outros, tenham deitado a toalha da luta política ao tapete. Também não creio que aceitem trair um povo que neles acreditou e que à UNITA deu o que tinha e o que não tinha.

E é esse povo que, de barriga vazia, sem assistência médica, sem casas, sem escolas, reclama por justiça e que a vê cada vez mais longe. E é esse povo que, como dizia o arcebispo da minha cidade (Huambo), D. José de Queirós Alves, não tem força mas tem razão.

Polícia do regime colonial angolano prende dezenas de jovens na colónia de Cabinda

Forças policiais do regime colonial angolano prenderam 30 activistas que pretendiam conversar com a delegação da União Europeia  que visitava a  colónia de Cabinda. Nove jovens foram detidos por, pois claro!, atentado contra segurança do Estado.

Segundo o jornal português “i”, um dos poucos meios de comunicação social que ainda faz jornalismo, a delegação da União Europeia pretendia averiguar das condições em Cabinda,  cinco anos passados sobre a assinatura do Memorando de Entendimento para a Paz entre alguns (supostos) independentistas e o governo colonial angolano.

“Aproveitando a presença da delegação - que foi recebida com água e luz, coisa que no território não existia há seis meses e foi restabelecida exactamente no dia de chegada dos representantes da UE -, 30 jovens acabaram por ser detidos pelas forças policiais”, disse ao “i“José Marcos Mavungo, activista dos direitos humanos.

Desses 30, nove acabaram por ficar detidos na 1ª Esquadra de Polícia de Cabinda e, de acordo com o advogado José Manuel Gindi, o Ministério Público remeteu ontem o processo para o tribunal da comarca.

Os nove estão, o que aliás é sempre o método e a justificação oficial do regime colonial, indiciados pela prática de crimes contra a segurança do Estado sendo – como é óbvio pelas regras do MPLA – culpados até prova em contrário.

Nos confrontos com o contingente das forças policiais, dois dos jovens ficaram feridos, um deles, André Vítor Gomes, está em estado grave, adiantou ainda José Marcos Mavungo, antigo vice-presidente da ilegalizada Associação Cívica Mpalabanda.

Registe-se que, segundo o Notícias Lusófonas, a vice-governadora da colónia de Cabinda, Aldina da Lomba, disse desconhecer o incidente.

"Nós não temos água nem luz em Cabinda há seis meses e as autoridades restabeleceram a luz e a água para mostrar à delegação da UE que tudo está bem", explicou Mavungo, justificando assim a atitude dos jovens que tentaram manifestar-se para fazer ouvir a sua voz.

Os incidentes aconteceram no exterior do orfanato da Obra Betânia em Cabinda, levando a que quatro crianças tivessem desmaiado com medo, adiantou Mavungo. Nessa altura, a delegação estava reunida com líderes religiosos.

A nova lei de crimes contra a segurança do Estado, que substituiu a anterior, que datava do tempo do partido único em Angola, foi aprovada pela Assembleia Nacional a 4 de Novembro do ano passado e tem sido fortemente contestada por activistas dos direitos humanos por limitar a liberdade de expressão.

Entretanto, Portugal  - a potência que assinou acordos de protectorado com Cabinda, ainda válidos à luz do direito internacional – continua em silêncio, de cócoras e a aguardar as superiores ordens que sobre o assunto serão ditadas pelo regime angolano.

Acresce que Angola tem a garantia de Lisboa (ao que tudo indica corroborada pelo ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, na sua recente visita a Luanda) de que Portugal não vai imiscuir-se na questão de Cabinda, “até porque o próprio presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, afirma que Angola vai de Cabinda ao Cunene”.

Queiram ou não os donos de Portugal, do ponto de vista de um Estado de Direito (que Portugal é cada vez menos) é importante dizer-se que este reino lusitano não só não honrou a palavra dada ao Povo de Cabinda (também, eu sei, não honra a dada aos próprios portugueses) como aviltou a assinatura dos seus antepassados que, esses sim, com sangue, suor e lágrimas deram luz ao mundo.

Portugal não só violou o Tratado de Simulambuco de 1 de Fevereiro 1885 como, pelos Acordos de Alvor, ultrajou o povo de Cabinda, sendo por isso responsável, pelo menos moral (se é que isso tem algum significado), por tudo quanto se passa no território, seu protectorado, ocupado por Angola.

É verdade que entre o petróleo, grande parte dele produzido em Cabinda, e os direitos humanos dos angolanos e dos cabindas, Portugal (quase) sempre escolheu o lado do ouro negro.

Também é verdade que entre dois tipos de terrorismo, Portugal tem como bitola que um deles deve ser considerado de boa qualidade. E qual é ele? É sempre o que estiver no poder. De má qualidade é, claro está,  praticado por todos aqueles que apenas querem que se respeite os seus mais sublimes direitos.

Portugal, honrando a alta qualidade dos seus médicos, optou por ter uma coluna vertebral amovível. Tem coluna quando é para espezinhar os fracos, não a tem quando os outros são, ou parecem ser, mais fortes. No caso de Cabinda é isso que se passa. Mas, apesar de tudo, o problema de Cabinda existe e não é por pouco se falar dele que ele deixa de existir.

Cabinda é um território ocupado por Angola e nem o potência ocupante como a que o administrou pensaram, ou pensam, em fazer um referendo para saber o que os cabindas querem. Seja como for, o direito de escolha do povo não prescreve, não pode prescrever, mesmo quando o importante é apenas o petróleo.

Para que Cabinda deixasse se ser um problema, os sucessivos governos portugueses varreram o assunto para debaixo do tapete. E debaixo do tapete é tanta a porcaria que quando alguém coloca o país ao nível do lixo… até parece uma bênção.

quarta-feira, julho 27, 2011

Eles arruinaram, nós arruinamos

O secretário-geral do PSD, hoje ministro, Miguel Relvas, afirmava em Abril deste ano que o PS escolheu para cabeças de lista ministros e secretários de Estado que "quase arruinaram Portugal".

O PS certamente dizia que, por sua vez, o PSD escolheu aqueles que melhor estão preparados para arruinarem Portugal. E, ao que parece, são cada vez mais os portugueses que já estão tentados a ter saudades de José Sócrates.

E, num caso ou no outro, uma coisa é certa. Portugal está e estará arruinado.

Com farinha do mesmo saco, nem os condimentos serão suficientes para mostrar que o pirão é diferente.

Miguel Relvas dizia ainda que "o PSD está de consciência tranquila, com uma grande esperança, com equipas rejuvenescidas, com equipas de grande qualidade, com muitos independentes".

Equipas rejuvenescidas no PSD? É verdade, se rejuvenescer significar trocar as onças por gatos bravos, colocar estagiários no lugar dos profissionais. Quanto à qualidade, basta recordar que o partido não escolheu, por exemplo, Fernando Nobre para presidente do Parlamento.

Se Passos Coelho estivesse a formar uma equipa de basquetebol, certamente que a iria rejuvenescer e dar-lhe altos índices de qualidade contratando alguns dos melhores... tenistas.

Miguel Relvas dizia igualmente que “muitos destes independentes que no passado poderiam ter acompanhado o PS acompanham hoje o PSD, porque sabem que o projecto de mudança está com o PSD e está com Passos Coelho".

É verdade. Muitos dos que hoje estão com a camisola laranja estavam, ontem, vestidos de rosa. Isso significa que o actual PSD apresenta um credível projecto de mudança? Não. Significa que esses (in)dependentes estarão (quase) sempre do lado do vencedor.

Também o então líder parlamentar e hoje ministro, Miguel Macedo, dizia há um ano: "O que temos hoje no país é impostos a mais, endividamento a mais, despesa pública a mais, riqueza a menos, poder de compra a menos, dificuldades a mais para as famílias e para as empresas".

Tudo isto era verdade. Era e é, acrescente-se.

Miguel Macedo apontou então os "mais de cem mil portugueses que abandonam por ano o país porque não encontram em Portugal um presente e, sobretudo, não vislumbram em Portugal um futuro", e criticou os resultados invocados e o tom utilizado pelo então primeiro-ministro, José Sócrates.

E então? Nada. O PSD tinha e continua a ter uma garganta suficientemente funda para ir dizendo algumas verdades mas, até agora, apresenta-se como um partido castrado ou, pelo menos, detentor de tomates amovíveis. Sendo que a maior parte das vezes os deixa na gaveta.

Segundo o então líder parlamentar do PSD, "os portugueses hoje não vivem melhor depois de cinco anos de Governo socialista" e Portugal é "um país com mais pobres, mais excluídos e mais desigualdades".

Só faltou dizer que os portugueses que estão a aprender a viver sem comer são cidadãos de terceira, ou seja são todos aqueles que pensam pela sua própria cabeça e que não têm nem coluna vertebral nem tomates amovíveis.

Eia! Tantos africanistas no reino lusitano

Pedro Passos Coelho afirmou durante a campanha eleitoral que tem uma ligação pessoal a África. E com ele estão muitos outros. Pinto Balsemão, Belmiro de Azevedo, António Pires de Lima, Jorge Coelho, Armando Vara, Paulo Portas etc. etc..

Passos Coelho reafirmou no dia 5 de Junho que a Lusofonia é uma prioridade. Será que o líder do PSD e primeiro-ministro é um português africano ou apenas português europeu que olha para África sem ver os africanos?

Na campanha eleitoral, Pedro Passos Coelho, considerou que é "o mais africano de todos os candidatos ao Parlamento", pela sua ligação pessoal a África, por ter uma mulher da Guiné-Bissau e uma filha que "também é africana" e, talvez, por ter bebido água do Bengo (Angola).

“A minha raiz pessoal está muito ligada a África, também. Praticamente posso dizer que casei com África", acrescentou o presidente do PSD.

Será para acreditar?

Passada a fase eleitoral em que todos os políticos portugueses tinham alguma coisa de africano, continuo à espera de saber se para o governo liderado por Passos Coelho, por exemplo, Angola vai de Cabinda ao Cunene, e se eventualmente vai dizer alguma coisa sobre o facto de 68% da população angolana ser afectada pela pobreza, ou de a taxa de mortalidade infantil ser a terceira mais alta do mundo, com 250 mortes por cada 1.000 crianças.

Também vou ficar à espera de ver António José Seguro dizer alguma coisa sobre o facto de apenas um quarto da população angolana ter acesso a serviços de saúde, que, na maior parte dos casos, são de fraca qualidade.

Por outro lado, como é óbvio, não fico à espera de ouvir Pinto Balsemão recordar que em Angola 12% dos hospitais, 11% dos centros de saúde e 85% dos postos de saúde existentes no país apresentam problemas ao nível das instalações, da falta de pessoal e de carência de medicamentos.

Ou Belmiro de Azevedo recordar que a taxa de analfabetos é bastante elevada, especialmente entre as mulheres, uma situação é agravada pelo grande número de crianças e jovens que todos os anos ficam fora do sistema de ensino.

Ou António Pires de Lima (Presidente da Comissão Executiva da UNICER e dirigente do CDS/PP), ou  Paulo Portas, dizer que 45% das crianças angolanas sofrerem de má nutrição crónica, sendo que uma em cada quatro (25%) morre antes de atingir os cinco anos.

Ou Jorge Coelho (Mota-Engil) dizer que, em Angola, a dependência sócio-económica a favores, privilégios e bens é o método utilizado pelo MPLA para amordaçar os angolanos.

Ou Armando Vara (presidente da Camargo Corrêa para África) dizer que 80% do Produto Interno Bruto angolano é produzido por estrangeiros; que mais de 90% da riqueza nacional privada é subtraída do erário público e está concentrada em menos de 0,5% de uma população; que 70% das exportações angolanas de petróleo tem origem na sua colónia de Cabinda.

Fico, entretanto, à espera (sentado) de ver se alguém do novo governo PSD/CDS se lembra de que, no dia 9 de Julho de 2004, o presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, Luís Filipe Menezes, defendeu a criação de um Ministério para a Lusofonia, independente do Ministério dos Negócios Estrangeiros, e a "naturalização de todos aqueles que queiram ser portugueses".

Igualmente sentado vou continuar para ver se alguém se preocupa em explicar aos jovens portugueses o que é a real Lusofonia. Hoje, para eles, é mais importante o que se passa em Kiev do que o que se passa em Luanda, é mais importante o que se passa em Bruxelas do que o que se passa na Cidade da Praia, é mais importante o que se passa em Tripoli do que o que se passa em Díli.

E se calhar até têm razão. Portugal adoptou oficialmente a tese de que a Europa é que tem futuro (e, de facto, os credores é que mandam). E quem sou eu para justificar que o presente pode ser a Europa, mas que o futuro, esse passa pela África lusófona? Sim quem sou eu?

Se, de facto, a dita CPLP é uma treta, e a Lusofonia é uma miragem de meias dúzia de sonhadores, o melhor é mesmo encerrar para sempre a ideia de que a língua (entre outras coisas) nos pode ajudar a ter uma pátria comum espalhada pelos cantos do mundo.

E quando se tiver coragem (para mim será cobardia, mas quem sou eu?) para oficializar o fim do que se pensou poder ser uma comunidade lusófona, então já não custará tanto ajudar os filhos do vizinho com aquilo que deveríamos dar aos nossos próprios filhos.

É claro que na lusofonia existem muitos seres humanos que continuam a ser gerados com fome, nascem com fome e morrem, pouco depois, com fome. Mas, é claro, morrem em... português... o que significa um êxito para a língua.

terça-feira, julho 26, 2011

Pratos vazios para milhões de lusófonos

Em toda a Lusofonia, os que têm, pelo menos, três refeições por dia têm razões para cantar e rir. E os milhões que nem um prato de pirão têm?

Mais de 800 milhões de pessoas enfrentam a fome diariamente e, a cada minuto, 15 crianças e 15 adultos morrem de fome. Grande parte destes milhões são nossos irmãos na Lusofonia.

Em todo o Mundo, 1,1 mil milhões de pessoas não têm acesso a água potável; 2,5 mil milhões não têm saneamento básico; 30 mil morrem diariamente devido ao consumo de água imprópria. Esta é, igualmente, uma realidade da Lusofonia.

A Sida já infectou mais de 60 milhões de pessoas e tirou a vida a um terço destas; e a malária mata 2,5 milhões de pessoas anualmente. Esta continua a ser uma outra vertente da Lusofonia...

Por esse Mundo, 1,6 mil milhões de pessoas não têm acesso a electricidade e a maioria recorre à queima de combustíveis que provocam a poluição do ar e problemas respiratórios. Queiramos ou não, também aqui a Lusofonia dá o seu contributo.

Segundo o Programa Alimentar Mundial (PAM) da ONU, cerca de 12 milhões de pessoas poderão morrer de fome em Angola, Botswana, Lesoto, Malaui, Moçambique, Suazilândia, Zâmbia e Zimbabwe, Somália e por aí fora.  Aqui figuram dois lusófonos.

Continua a não fazer sentido pedir aos pobres dos países ricos para dar aos ricos dos países pobres. Em vez de se preocupar com o povo que não pode tomar antibióticos (e não pode porque eles, quando existem, são para tomar depois de uma coisa que o povo não têm: refeições), o mundo Lusófono (a CPLP existe?) que pode (e deve) ajudar continua a pensar apenas o seu umbigo.

Angola, actualmente com cerca de 13,9 milhões de habitantes, terá, segundo as projecções do FNUAP, 53 milhões de pessoas em 2050, enquanto a Guiné-Bissau, hoje com 1,3 milhões, contará 3,3 milhões de habitantes dentro de 48 anos.

Em relação a Moçambique, o país terá 38,8 milhões de habitantes em 2050, contra os actuais 19 milhões, e Cabo Verde contará 807 mil pessoas, quase o dobro das actuais 446 mil.

Segundo aquelas projecções, em média, os países menos avançados do mundo triplicarão também a sua população até àquele ano, em contra-ciclo com os mais avançados, que terão menos 15 milhões de pessoas até 2050.

Por isso, alerta o FNUAP, são necessárias medidas urgentes para combater a falta de saúde reprodutiva, ajudar as mulheres a evitarem uma gravidez não desejada e eliminar o analfabetismo e a discriminação com base no sexo.

Em termos de mortalidade infantil, Moçambique é o terceiro país com maior índice (128 por 1.000), apenas atrás da Serra Leoa (146/1.000) e do Malaui (130/1.000). A Guiné-Bissau surge em quinto (121/1.000) e Angola em oitavo (118/1.000). Cabo Verde tem uma taxa de mortalidade infantil de 50 por cada mil nascimentos.

Em relação à esperança de vida à nascença, Moçambique ocupa o segundo lugar no "ranking" negativo, com 37,3 anos para os homens e 38,6 para as mulheres. Guiné-Bissau e Angola situam-se entre os últimos 10 a 20, com uma esperança de vida, respectivamente, de 44 anos e 44,5 para os homens e 46,9 e 47,1 anos para as mulheres, abaixo da média dos países menos avançados (50,6 anos para os homens e 52,2 para as mulheres).

Acima da média e já próximo dos valores dos países mais avançados (71,9/homens e 79,3/mulheres), Cabo Verde tem uma esperança de vida para o sexo masculino de 67 anos e 72,8 para o sexo feminino.

Quanto à percentagem de número de partos assistidos por técnicos qualificados, em que a média dos países pobres ronda 34 por cento, Angola tem uma taxa de 23 por cento, atrás da Guiné-Bissau (35%), Moçambique (44%) e Cabo Verde (53%).

Quanto à taxa de prevalência do vírus HIV/Sida, Moçambique é um dos países mais afectados do continente africano, com um índice de 6,13 por cento entre os homens e de 14,67% entre as mulheres, ainda longe de países como o Lesoto (17,4/homens e 38,08/mulheres) e do Botsuana (16,08/homens e 37,49/mulheres).

Angola tem uma taxa de prevalência de 2,23 nos homens e de 5,74 nas mulheres e a Guiné-Bissau 1,06 nos primeiros e 2,98 nas segundas. Cabo Verde não surge referenciado neste item e Portugal tem 0,41 para os homens e 0,19 nas mulheres.

Quando o lixo é uma bênção…

Para não enfrentar os problemas, Portugal varre-os para debaixo do tapete. E é tanta a porcaria que lá está que quando alguém coloca o país ao nível do lixo… até parece uma bênção.

O primeiro-secretário da embaixada de Portugal em Angola, Paulo Lourenço, diz que a visita dos embaixadores dos países membros da União Europeia acreditados em Angola a Cabinda é importante para a comunidade europeia porque vai permitir uma avaliação mais rigorosa e objectiva das circunstâncias no terreno.
Em entrevista a um dos muitos meios de propaganda do regime, no caso à Angop, o diplomata ajudou mais uma vez, e certamente cumprindo as ordens do governo de Lisboa, a branquear a negra situação, sobretudo mas não só em matéria de liberdades e direitos humanos, que se vive na colónia de Cabinda.
Mas se do regime angolano (MPLA) é de esperar tudo, de Portugal esperar-se-ia algo de diferente, algum decoro e equidistância, mesmo sabendo-se que a corda no pescoço raramente permite actos decentes e nobres.
Mas a verdade é que Portugal, mesmo antes de estar no patamar do lixo, nunca se lembrou (para isso é preciso ter dignidade, honra e memória) dos compromissos que assinou, a não se com  “troika”  e mesmo assim não se tem a certeza de que amanhã se vão lembrar.
Mas, queiram ou não, do ponto de vista de um Estado de Direito (que Portugal é cada vez menos) é importante dizer-se que este reino lusitano não só não honrou a palavra dada ao Povo de Cabinda (também, eu sei, não honra a dada aos próprios portugueses) como aviltou a assinatura dos seus antepassados que, esses sim, com sangue, suor e lágrimas deram luz ao mundo.
Portugal não só violou o Tratado de Simulambuco de 1 de Fevereiro 1885 como, pelos Acordos de Alvor, ultrajou o povo de Cabinda, sendo por isso responsável, pelo menos moral (se é que isso tem algum significado), por tudo quanto se passa no território, seu protectorado, ocupado por Angola.
Quando o presidente da República de Portugal, Aníbal Cavaco Silva, diz que Angola vai de Cabinda ao Cunene está, também ele,  a dar cobertura e a ser conivente com as violações que o regime angolano leva a efeito contra um povo que apenas quer ter o direito de escolher o seu futuro.
É verdade que entre o petróleo, grande parte dele produzido em Cabinda, e os direitos humanos dos angolanos e dos cabindas, Portugal (quase) sempre escolheu o lado do ouro negro.
Também é verdade que entre dois tipos de terrorismo, Portugal tem como bitola que um deles deve ser considerado de boa qualidade. E qual é ele? É sempre o que estiver no poder.
De má qualidade é, claro está,  praticado por todos aqueles que apenas querem que se respeite os seus mais sublimes direitos.
Portugal, honrando a alta qualidade dos seus médicos, optou por ter uma coluna vertebral amovível. Tem coluna quando é para espezinhar os fracos, não a tem quando os outros são, ou parecem ser, mais fortes. No caso de Cabinda é isso que se passa. Mas, apesar de tudo, o problema de Cabinda existe e não é por pouco se falar dele que ele deixa de existir.
Cabinda é um território ocupado por Angola e nem o potência ocupante como a que o administrou pensaram, ou pensam, em fazer um referendo para saber o que os cabindas querem. Seja como for, o direito de escolha do povo não prescreve, não pode prescrever, mesmo quando o importante é apenas o petróleo.
Cabinda (se é que Paulo Portas e os restantes membros do governo sabem alguma coisa sobre o assunto) é um problema político e não jurídico, embora tenha uma dimensão jurídica.
Para que Cabinda deixasse se ser um problema, os sucessivos governos portugueses varreram o assunto para debaixo do tapete. E debaixo do tapete é tanta a porcaria que quando alguém coloca o país ao nível do lixo… até parece uma bênção.