Não sei se
ter memória é, nos tempos que correm, uma qualidade. Creio que não. Alguém
disse que quem estiver sempre a falar do passado deve perder um olho. No
entanto, acrescentou que quem o esquecer deve perder os dois...
Tal como o
Papa Bento XVI recordou na sua viagem a Luanda, perante quase um milhão de
fiéis, as “consequências terríveis” dos 27 anos de guerra civil em Angola,
lamentando que esta seja “uma realidade familiar”, apetece-me hoje recordar
também algumas coisas.
Recordar, em
homenagem às vítimas, o massacre de Luanda, perpetrado pelas forças militares e
de defesa civil do MPLA, visando o aniquilamento da UNITA e cidadãos Ovimbundus
e Bakongos, e que se saldou no assassinato de 50 mil angolanos, entre os quais
o vice-presidente da UNITA Jeremias Kalandula Chitunda, o secretário-geral
Adolosi Paulo Mango Alicerces, o representante na CCPM, Elias Salupeto Pena, e
o chefe dos Serviços Administrativos em Luanda, Eliseu Sapitango Chimbili.
Recordar, em
homenagem às vítimas, o massacre do Pica-Pau em que no dia 4 de Junho de 1975,
perto de 300 crianças e jovens, na maioria órfãos, foram assassinados e os seus
corpos mutilados pelo MPLA, no Comité de Paz da UNITA em Luanda.
Recordar, em
homenagem às vítimas, o massacre da Ponte do rio Kwanza, em que no dia 12 de
Julho de 1975, 700 militantes da UNITA foram barbaramente assassinados pelo
MPLA, perto do Dondo (Província do Kwanza Norte), perante a passividade das
forças militares portuguesas que garantiam a sua protecção.
Recordar, em
homenagem às vítimas, o facto de mais de 40.000 angolanos terem sido torturados
e assassinados pelo MPLA em todo o país, depois dos acontecimentos de 27 de
Maio de 1977, acusados de serem apoiantes de Nito Alves ou opositores ao
regime.
Recordar, em
homenagem às vítimas, o facto de, entre 1978 e 1986, centenas de angolanos
terem sido fuzilados publicamente pelo MPLA, nas praças e estádios das cidades
de Angola, uma prática iniciada no dia 3 de Dezembro de 1978 na Praça da
Revolução no Lobito, com o fuzilamento de 5 patriotas e que teve o seu auge a
25 de Agosto de 1980, com o fuzilamento de 15 angolanos no Campo da Revolução
em Luanda.
Recordar, em
homenagem às vítimas, o facto de no dia 29 de Setembro de 1991, o MPLA ter
assassinado em Malange, o secretário Provincial da UNITA naquela Província,
Lourenço Pedro Makanga, a que se seguiram muitos outros na mesma cidade.
Recordar, em
homenagem às vítimas, o facto de nos dias 22 e 23 de Janeiro de 1993, o MPLA
ter desencadeado em Luanda a perseguição aos cidadãos angolanos Bakongos, tendo
assassinato perto de 300 civis.
Recordar, em
homenagem às vítimas, o facto de em Junho de 1994, a aviação do MPLA ter
bombardeado e destruído a Escola de Waku Kungo (Província do Kwanza Sul), tendo
morto mais de 150 crianças e professores.
Recordar, em
homenagem às vítimas, o facto de entre Janeiro de 1993 e Novembro de 1994, a
aviação do MPLA ter bombardeado indiscriminadamente a cidade do Huambo, a
Missão Evangélica do Kaluquembe e a Missão Católica do Kuvango, tendo morto
mais de 3.000 civis.
Recordar, em
homenagem às vítimas, o facto de entre Abril de 1997 e Outubro de 1998, na
extensão da Administração ao abrigo do protocolo de Lusaka, o MPLA ter
assassinado mais de 1.200 responsáveis e dirigentes dos órgãos de Base da UNITA
em todo o país.
Recordar.
Recordar apenas, sujeitando-me a ficar sem um olho. Mas, mesmo assim, longe dos
que pelo silêncio poderão perder os dois.
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