quarta-feira, fevereiro 29, 2012

Mandem o Acordo Ortográfico às malvas

No programa da TVI24, “Política Mesmo”, o secretário de Estado da Cultura de Portugal admitiu que não concorda com algumas regras presentes no novo Acordo Ortográfico.

Francisco José Viegas defendeu também o presidente do Centro Cultural de Belém, Vasco Graça Moura, que há pouco menos de um mês proibiu os seus serviços de usarem o acordo.

De facto, como lembrou Francisco José Viegas, Vasco Graça Moura foi uma das pessoas que "mais reflectiu" sobre o acordo e que "mais se empenhou" no combate ao mesmo.

"A mim parece-me que é um não-problema. Os materiais impressos e oficiais do Centro Cultural de Belém obedecem a uma norma geral, que é a mesma que vigor em todos os organismos sob a tutela do Estado. Portanto, é um assunto encerrado. Vasco Graça Moura escreverá como quiser. Como eu posso escrever", assumiu na mesma entrevista.

O secretário de Estado da Cultura lembrou que parte da imprensa não aderiu ao acordo e que não são alvo de qualquer punição por isso. Francisco José Viegas recordou que, até 2015, é possível alterar o acordo e acredita que essa possibilidade será usada.

"Temos que aperfeiçoar aquilo que há para aperfeiçoar. Temos algum tempo, temos três anos para o fazer", disse.

Considero, sobretudo dada a disparidade das forças em confronto, que a minha luta pelo português de Portugal e, por isso, contra o Acordo Ortográfico está condenada à derrota.

Apesar disso, continuo a entender que só é derrotado quem desiste de lutar. Ora desistir é algo que me recuso a fazer, mesmo sabendo que do outro lado está uma força monumentalmente maior em todos os aspectos, sobretudo no número de falantes.

Sou, portanto, contra o Acordo Ortográfico. Admito, quando muito, que se deixe que sejam o tempo e os protagonistas a transformar a língua, a dar-lhe eventualmente diferente grafia, tal como acontece com a introdução de novos termos.

É claro que existem letras que, no português de Portugal, podem ser suprimidas sem que venha grande mal ao mundo. Mesmo assim, também não viria grande mal ao mundo se o meu Bilhete de Identidade disse que eu nasci no “uambo”. Mas a verdade é que eu nasci no “Huambo”.

Se o sapato português já foi «çapato» e a farmácia foi «pharmácia», é bem possível que, de forma natural, também o facto passe a fato. Mas a forma natural é deixar a língua fazer a sua viagem ao logo dos anos, das décadas, dos séculos, sem as amarras que lhe querem pôr.

E o que defendo para Portugal, defendo para qualquer outro dos países lusófonos. É legítimo que os brasileiros, não só porque são especialistas em inventar palavras, mas, sobretudo, porque podem impor a razão da força dos seus muitos milhões de cidadãos, queiram neutralizar a força da razão daquela “meia dúzia” de tugas que estão nas ocidentais praias lusitanas.

Não cabe aos que defendem o português, contudo, abdicar e atirar a toalha ao tapete quando podemos ser poucos, mas podemos ser bons (sem querer dizer que os outros são maus). Creio, aliás, que a língua ainda é das poucas coisas que são verdadeiramente nossas. Tudo o resto é “made in” qualquer outro país.

Por isso, esta é para mim, uma questão de identidade e de honra que deve continuar a ter as suas próprias características, respeitando a dos outros e convivendo em sã harmonia com as diferenças.

Aliás, quando me falam de harmonização (seja do que for) cheira-me logo a algo hitleriano. Por isso, custe o que custar, não serei eu a render-me a um acordo ortográfico contra-natura e violador das diferenças que são, aliás, a grande força da Lusofonia.

CM: 122 914. JN: 76 725

Uns sabem mais do que todos os outros. Outros podem saber menos, mas fazem melhor. Uns são os primeiros. Outros são os primeiros… entre os últimos.

O Correio da Manhã (CM) foi o único jornal entre os dez títulos de informação geral mais vendidos em Portugal e cujas vendas em banca melhoraram em 2011, alcançando uma média de 122 914 exemplares vendidos diariamente, o melhor resultado de sempre.

Os dados da Associação Portuguesa para o Controlo de Tiragem e Circulação (APCT) indicam que o CM tem uma quota de mercado entre os diários generalistas de 49,5%, uma subida de 2,2 pontos percentuais face ao ano anterior.

Em segundo lugar surge o semanário Expresso, cuja média de vendas de 91 792 exemplares, o que significa uma quebra de 8,4%. A cair está também o Jornal de Notícias (JN), que perdeu 4,4% dos compradores, para um total de 76 725 exemplares.

A resposta do JN não se fez esperar. Passou a ser uma cópia do CM, embora em versão azul. Acreditando que os portugueses são todos analfabetos funcionais (sabem ler e escrever mas não lêem nem escrevem), resolveram apostar na cópia… a cores.

Não sei se estarão no bom caminho, mas é possível que aprendam alguma coisa com o CM. Recordo-me, aliás, de ter havido um acidente automóvel no viaduto de Gonçalo Cristóvão (em frente à Redacção do JN)  que foi noticiado pelos dois jornais. O JN trazia a notícia. O CM trazia a notícia e a foto…

Mas isso são contas de outro rosário, embora os donos da paróquia já fossem os mesmos.

Falta também saber se o facto de vestir uma camisola do Hulk a um tetraplégico fará deste um excelente jogador do futebol. Se fizer, então o JN está no bom caminho.

terça-feira, fevereiro 28, 2012

Exposição de homenagem a Sérgio Carvalho

É inaugurada no dia 3 de Março, no Palácio das Artes, no Porto (Portugal), a exposição de homenagem a Sérgio Carvalho, um criativo que, segundo Pedro Caetano, “se destacou pela procura de novos caminhos, e sempre com a sua orgulhosa pronúncia do Norte”.

A exposição, coordenada pelo mestre em design, pintura e escultura Acácio de Carvalho, estará patente ao público até ao dia 24 e permite que, lendo, vendo e ouvindo o seu legado se preste homenagem ao artista no primeiro aniversário da sua morte.  Sérgio Carvalho ficou a meio do caminho, na obstinada perseguição de um futuro perfeito. Apesar disso, a eterna arte que lhe dava alma teve passado e tem agora presente, sendo certo que muitos dela farão o futuro.

“Durante anos sentámo-nos frente a frente e durante muitos anos estivemos de costas. De novo frente a frente vejo-o feliz, aos gritos, insatisfeito, à gargalhada, obcecado, apaixonado, a esbanjar talento, a ir contra todos e respeitado por todos. Foi o meu grande director de arte!”, recorda Albano Homem de Melo.

Sérgio Costa Carvalho nasceu a 3 de Janeiro de 1969, no Porto, onde frequentou o curso de Artes Gráficas da Escola Secundária Soares dos Reis. Aos 18 anos trabalhou como ilustrador para a Logo-gabinete de comunicação, e nos tempos livres faz Design Gráfico para a divulgação de projectos que foram apresentados no Teatro Universitário e no Teatro Municipal Rivoli.

Desenhou também, na sua multifacetada e prolixa actividade criativa, a luz para espectáculos dos Táxi, GNR, Xutos e Pontapés.
José Bomtempo e Diogo Anahory dizem que “o Sérgio era um rebelde, um inconformado, um perfeccionista”, acrescentando que, “pela sua forma de ser e de estar, será por nós para sempre recordado como um verdadeiro criativo.”

João Palmeiro recorda que “trabalhar com o Sérgio foi sempre marcado por momentos contagiantes de grande companheirismo e motivação”.  Isto porque, afirma, “a grande faceta criativa do Sérgio, aliada à frenética vontade de se conseguir o trabalho perfeito até aos mais ínfimos pormenores era uma marca sua, assim como a sua paixão pela fotografia."

Mais vale tarde do que nunca?

(...) "O azar de os Limas terem sido apanhados exactamente na altura em que o JN, assustado com a queda nas vendas, saiu finalmente do armário e se assumiu como Correio da Manhã azul."

Um brilhante (des)acordo ortográfico...

segunda-feira, fevereiro 27, 2012

O défice protege os audazes

"Portugal precisa de  reduzir os seus salários relativamente aos países 'core' da zona euro", considerou hoje o economista Paul Krugman.

O Nobel da Economia, tanto quanto julgo saber, não disse que a vaselina é um produto de alto consumo em Portugal, mau grado os portugueses já estarem habituados a apanharem no dito cujo e a serem mal pagos.
  
"Não é simpático, mas é algo que terá de acontecer" afirmou o Nobel da Economia, que está em Lisboa para receber o doutoramento 'honoris  causa' pela Universidade de Lisboa, Universidade Técnica de Lisboa e Universidade  Nova de Lisboa

Em resposta às questões colocadas pelos jornalistas, Paul Krugman lembrou que Portugal  tem um défice comercial muito elevado e que terá de ganhar competitividade.

Esta redução terá de ser feita em relação à Alemanha, que diz ser a  referência dentro da zona euro também em termos de salários, recusando a  hipótese desta redução e salários ser feita numa dimensão mais elevada,  exemplificando com a China. "Portugal não tem de reduzir os seus salários ao nível dos chineses",  disse.

Embora talvez alguns políticos também sejam consumidores de vaselina, não lhes custa promulgar medidas que só vão doer aos outros. Mas a Europa pode ficar descansada. O presidente da República garante que PS, PSD e CDS-PP têm um "compromisso inequívoco" com a estratégia de consolidação orçamental e com as metas de redução do défice.

Aníbal Cavaco Silva assegura (e quando alguém que nunca se engana e raramente tem dúvidas assegura...) que os três maiores partidos portugueses assumem o compromisso de apoio às metas já estabelecidas "por forma a garantir a trajectória de sustentabilidade da dívida pública".

Ora, sendo assim, os mais de um milhão de desempregados, os 20% de pobres e os outros 20% que lambem os pratos vazios já podem ficar descansados. Vão continuar desempregados, pobres e lamber pratos vazios mas o défice será honrado.

Alguns até poderão colocar nos vãos das escadas onde dormem, ou até mesmo na lápide do cemitério, a frase: “O défice protege os audazes”. E, convenhamos, ser audaz com o dinheiro dos outros, à custa da miséria dos outros, até não é uma questão difícil.

O que conta em Portugal é a vontade de quem manda e a submissão de quem é mandado. E se já há gerações que nascem sem coluna vertebral, o melhor é deixar o tempo passar e tudo ficará na santa paz do défice e na santa ceia da classe dominante, onde têm lugar reservado Cavaco Silva,  Passos Coelho, Miguel Relvas e Paulo Portas.

Não adianta por isso dizer que a actual crise financeira, moral, política etc. é culpa dos políticos, essa casta superior que rege a vida dos plebeus.

Não adianta afirmar que o Estado social-democrata ou democrata-cristão, asfixia o povo com impostos, enquanto os gestores das empresas públicas auferem principescas remunerações.

Os portugueses devem apenas limitar-se a perguntar o que é que podem fazer pelo Estado (queriam que fosse o Estado a perguntar o que pode fazer por eles?).

E quando ele diz: baixem as calcinhas, cumpram com um sorriso e peguem na vaselina... Sejam audazes!

Irreversíveis defeitos de fabrico

Não há regime que cale a razão!

E se a Dorothea elogia Portugal…

Angela Dorothea Merkel sabe coisas sobre o reino de Pedro Miguel Passos Relvas Coelho que os súbditos lusos desconhecem. É obra.

Diz ela que apesar da sua dureza, o programa esclavagista do governo português goza de grande apoio político e social, pelo que “há grandes hipóteses de que as medidas acordadas sejam de facto implementadas".

Angela Dorothea Merkel terá sido informada que, afinal, os escravos portugueses são daquele tipo de gentalha que diz que “quanto mais me bates, mais eu gosto de ti”. E se calhar até tem razão.

A chanceler alemã, na sua qualidade de líder do país que tem Portugal como protectorado, louvou hoje o acordo alcançado em concertação social entre o governo português, o patronato e a UGT, incluindo-o nos "progressos alcançados na Europa para uma política sustentável", extensíveis à Itália, Espanha e Irlanda.

"Em Portugal, o governo de Coelho conseguiu chegar a acordo com os parceiros sociais sobre amplas medidas para flexibilizar o mercado de trabalho e para uma política activa de mercado de trabalho", sublinhou a chanceler.

E tem razão. Quando a barriga está vazia a coluna vertebral tende a diluir-se. E isso aconteceu com aqueles parceiros sociais para quem chega um prato de lentilhas ou de farelo. Para os outros parceiros o acordo também chegou porque, desde logo, têm garantida lagosta e várias refeições por dia.

Recorde-se que Pedro Passos Coelho, embaixador da Alemanha e primeiro-ministro de Portugal, garantiu não ter "medo de greves" e prometeu "travar todas as batalhas" para alterar uma lei laboral que actualmente apenas gera "desemprego e precariedade".

Calculo que a tradução das instruções enviadas por Angela Dorothea Merkel seja a correcta, pelo que aí temos o soba do protectorado alemão a dizer, alto e bom som, que no seu reino “quer, pode, e manda”, embora com poderes delegados.

Para Passos Coelho, "o maior mito que se tem vivido na sociedade portuguesa é que não se pode mexer na legislação laboral para não afectar os direitos" dos trabalhadores. Embora nunca tenha sido trabalhador (nem isso é relevante), o embaixador não sabe do que fala mas, é claro, sabe que os escravos estão anestesiados pela barriga vazia, razão pela qual um qualquer prato de farelo é visto como uma dádiva de Deus.

"A quem serve este regime, que supostamente é extremamente avançado de direitos sociais? Que regime avançado é este que só gera desemprego, precariedade, recibos verdes ou contratos a termo? Temos medo das pressões, ou da contestação ou das greves que possam surgir? Eu não tenho!", frisou o dono do governo, recordo, no discurso da sessão evocativa em memória de Francisco Sá Carneiro, no Porto.

E foi preciso ter lata e muita falta de dignidade falar desta forma numa sessão evocativa de Sá Carneiro.

Estes devaneios de um anão que se julga gigante, relembram-me que, recentemente, D. Januário Torgal Ferreira,  bispo das Forças Armadas… portuguesas, disse que se Francisco Sá Carneiro fosse vivo caía para o lado. No entanto, como já morreu, deve estar – segundo D. Januário Torgal Ferreira - a dar voltas no túmulo já que, acrescenta, a austeridade (entre outros dislates deste governo) é uma espécie de "terrorismo".

Pois é. Tal como os sacos vazios não se aguentam de pé, também os portugueses, e pela mesma razão, estão de cócoras e de mão estendida. Passos Coelho ri-se e Merkel aplaude. Acabam, de facto, de  provar que são fuba do mesmo saco.

Calcinhas portugueses e do MPLA julgam que cabindas e angolanos são todos matumbos...

O governo colonial de Cabinda pretende incentivar a produção de mobiliário com madeira da região, segundo a Rádio Nacional de Angola diz ser uma sua constatação.

Para o efeito, diz a RNA,  está em preparação uma feira de produtores mobiliários para avaliar as capacidades da colónia  neste domínio. A ideia, de acordo com o vice-governador do sector económico, Macário Romão Lembe, é potenciar o empresariado local e diminuir a importação deste produto.

“Estamos a iniciar com as empresas de exploração florestal e produtores de mobília porque queremos produzir estes bens localmente para deixarmos definitivamente de os importar e passarmos nós a exporta-los em África e no Mundo”, sublinhou o representante do governo angolano naquela colónia.

O regime angolano continua a comportar-se como se Cabinda fosse uma das suas províncias. A técnica é a mesma que era praticada pelo regime colonial português em relação a Angola, por exemplo.

Mas, apesar do poderio militar, o MPLA vai ser obrigado a seguir o mesmo caminho que Portugal seguiu, ou seja dar a independência a este colónia que, aliás, ainda é protectorado português, mesmo sabendo-se que as autoridades lusas continuam a varrer para debaixo do tapete toda a porcaria que fizeram.

De facto, os cerca de 500 anos de história colonial de Angola (1482-1975) ficam bem longe, apesar das teses oficiais vigentes na actualidade, dos 90 anos de ocupação do Protectorado Português de Cabinda (1885-1975). Embora com uma vertente comum – Portugal, a trajectória de vida de Cabinda e de Angola não têm praticamente pontos comuns.

Assim, são nações distintas e no caso de Cabinda ainda está por fazer a descolonização. O único suporte ao qual se agarra com unhas e dentes o regime angolano para justificar a sua apetência expansionista sobre Cabinda, é o Acordo de Alvor.

O Acordo de Alvor que permitiu a independência de Angola e a anexação por esta de Cabinda, representa, segundo disse o próprio Almeida Santos, um dos signatários, apenas "um pedaço de papel" que "não valeu nada".

Almeida Santos, tal como a restante equipa portuguesa, sabia à partida que o Acordo de Alvor só valeria se o MPLA não ficasse no Poder. Como ficou...

O dirigente socialista, que a 15 de Janeiro de 1975 era ministro da Coordenação Interterritorial e integrava a delegação portuguesa que assinou com os líderes dos três movimentos de libertação de Angola (MPLA, FNLA e UNITA) o Acordo de Alvor, no Algarve, referiu que, assim que viu o documento, soube que "aquilo não resultaria".

“Aquilo não resultaria”, como não resultou, porque Portugal viciou as regras do jogo no sentido de dar o Poder a uma das partes, o MPLA, sem esquecer que era necessário correr à força com os portugueses de Angola e depois, como defendia Vasco Gonçalves e Rosa Coutinho, entre outros, metê-los no Campo Pequeno.

De facto, se o valor do Povo português se medisse pelo nível dos políticos portugueses que assinaram o Acordo de Alvor, não há dúvidas de que Portugal há muito seria uma província espanhola.

"Do Acordo de Alvor sou apenas um escriba, não sou mais do que isso", diz Almeida Santos (que foi também ministro da Comunicação Social, da Justiça, de Estado, candidato a primeiro-ministro e presidente da Assembleia da República), mentindo mais uma vez ao dizer que Portugal não teve outra alternativa, senão assinar por baixo.

Se o Acordo de Alvor não serviu para nada, importa ter a mesma coerência no sentido de também o considerar inválido no que respeita à anexação de Cabinda por Angola.

Na véspera da proclamação das independências de Angola (em 11 de Novembro de 1975, uma em Luanda pelo MPLA e outra no Huambo pela UNITA e FNLA), tanto o primeiro-ministro como o presidente da República reconheceram que não tinham capacidade para controlar a situação, devendo esta constatação também contribuir para a anulação do Acordo de Alvor.

É no primeiro dia de Agosto que os cidadãos do Protectorado Português de Cabinda comemoram a proclamação da independência do Estado Livre de Cabinda.

Foi nesse dia, em 1975, três meses antes da independência da então República Popular de Angola (país que ocupa desde então Cabinda), que os cabindas começaram a sua difícil, mas não impossível, caminhada em prol dos seus direitos.

Desde então enfrentam dois grandes inimigos. Portugal que ao não honrar os seus até então solenes e nobres compromissos, se transformou num inimigo político, e Angola que é um inimigo militar que transformou Cabinda numa colónia onde, um pouco à semelhança do que faz no resto de Angola, vigora o princípio de que até prova em contrário todos são culpados.

Muitos se recordam mas poucos têm a liberdade de consciência para o dizer. É por isso que, um pouco por todo o lado – até mesmo em Portugal – os que se atrevem a defender a causa de Cabinda são também culpados... até prova em contrário.

Recorde-se que, a partir da revolução portuguesa de 1974, Cabinda entrou por direito próprio na agenda internacional, especialmente na da então OUA (Organização de Unidade Africana, hoje União Africana), onde a FLEC contava com o apoio de alguns países africanos (Uganda, Zaire, Gabão, etc.).

Perante o cenário juridicamente correcto, em face dos tratados assinados, de uma descolonização separada dos dois territórios (Angola e Cabinda), o presidente do MPLA, Agostinho Neto, desencadeou em 1974 uma actividade diplomática intensa para persuadir os líderes africanos a retirarem da agenda da cimeira da OUA o debate previsto sobre o problema de Cabinda.

Agostinho Neto apresentava, aliás, todas as garantias de que as autoridades portuguesas que dominavam o país iriam entregar exclusivamente ao MPLA os destinos de Angola, apresentando mesmo documentos nesse sentido subscritos pelos dirigentes do Movimento das Forças Armadas (MFA). E dessa forma conseguiu que o dossier de Cabinda fosse varrido para debaixo do tapete.

O mesmo se passou em relação ao Acordo de Alvor onde, com cumplicidade activa de Rosa Coutinho, Alto Comissário em Angola, bem como de outras figuras de destaque, caso de Almeida Santos e Agostinho Neto, afastou a FLEC de qualquer discussão do caso de Cabinda, dando como adquirido que o protectorado português era parte de Angola.

Foi todo este cenário que levou o Presidente da FLEC, Luís de Gonzaga Ranque Franque, a declarar a independência de Cabinda.

Recorde-se que, apesar dos esforços conjuntos do MPLA, Portugal, União Soviética e Cuba, alguns países reconheceram Cabinda como um país independente. Foram os casos do Togo, Gabão, República Centro Africana, Uganda e a R. D. Congo (ex-Zaire).

Para terminar, recordo o que sempre disseram os cabindas. Isto é, que só é derrotado quem deixa de lutar. Não creio por isso que alguma vez os cabindas deixem de lutar. Desde logo porque só aceitam estar de joelhos perante Deus. Perante os homens, mesmo que armados até aos dentes, estarão sempre de pé.

Na segunda só cai quem quer

O primeiro-ministro de Portugal, Pedro Passos Coelho, afirmou hoje esperar que "nunca venham mais a ser precisas em Portugal" medidas adicionais de austeridade e que todas as medidas adoptadas "estejam dentro do quadro que está actualmente em vigor".

Alguém acredita? Não. Nem ele acredita, seja na versão isolada ou na de Pedro Miguel Passos Relvas Coelho. Aliás, o primeiro-ministro já está na fase de dizer uma coisa às segundas, quartas e sextas, e outra às terças, quintas e sábados.

O primeiro-ministro fez esta afirmação depois de elogiar a evolução das exportações portuguesas e de criticar as "vozes" que defendem "que é preciso flexibilizar, querendo dizer que é preciso abrandar este ritmo, não ter tanta pressão para cumprir os objectivos" a que Portugal está obrigado.

"Se essas vozes fossem escutadas, aí sim, nós poderíamos ficar em piores circunstâncias. E se os resultados, em consequência desse abrandamento, dessa flexibilização, nos tivessem de conduzir a um desempenho pior, aí sim, seria necessário reforçar medidas, que eu espero nunca venham mais a ser precisas em Portugal", afirmou Passos Coelho, durante uma visita ao 17º Salão Internacional do Sector Alimentar e Bebidas (SISAB), no Pavilhão Atlântico, em Lisboa.

Passos Coelho manifestou-se convicto de que, se Portugal "não abrandar, não aligeirar o esforço" que está a fazer, vai ser bem sucedido e não serão necessárias "medidas adicionais".

Recorde-se que foi este mesmo Pedro Passos Coelho quem, antes de chegar à gamela, dizia que:

“Estas medidas (do governo anterior) põem o país a pão e água. Não se põe um país a pão e água por precaução. Estamos disponíveis para soluções positivas, não para penhorar futuro tapando com impostos o que não se corta na despesa”.

“Aceitarei reduções nas deduções no dia em que o Governo anunciar que vai reduzir a carga fiscal às famílias. Sabemos hoje que o Governo fez de conta. Disse que ia cortar e não cortou. Nas despesas correntes do Estado, há 10% a 15% de despesas que podem ser reduzidas”.

“O pior que pode acontecer a Portugal neste momento é que todas as situações financeiras não venham para cima da mesa. Aqueles que são responsáveis pelo resvalar da despesa têm de ser civil e criminalmente responsáveis pelos seus actos”.

“Vamos ter de cortar em gorduras e de poupar. O Estado vai ter de fazer austeridade, basta de aplicá-la só aos cidadãos. Ninguém nos verá impor sacrifícios aos que mais precisam. Os que têm mais terão que ajudar os que têm menos. Queremos transferir parte dos sacrifícios que se exigem às famílias e às empresas para o Estado”.

“Já estamos fartos de um Governo que nunca sabe o que diz e nunca sabe o que assina em nome de Portugal. O Governo está-se a refugiar em desculpas para não dizer como é que tenciona concretizar a baixa da TSU com que se comprometeu no memorando”.

“Para salvaguardar a coesão social prefiro onerar escalões mais elevados de IRS de modo a desonerar a classe média e baixa. Se vier a ser necessário algum ajustamento fiscal, será canalizado para o consumo e não para o rendimento das pessoas”.

“Se formos Governo, posso garantir que não será necessário despedir pessoas nem cortar mais salários para sanear o sistema português. A ideia que se foi gerando de que o PSD vai aumentar o IVA não tem fundamento.

“A pior coisa é ter um Governo fraco. Um Governo mais forte imporá menos sacrifícios aos contribuintes e aos cidadãos. Não aceitaremos chantagens de estabilidade, não aceitamos o clima emocional de que quem não está caladinho não é patriota”.

“O PSD chumbou o PEC 4 porque tem de se dizer basta: a austeridade não pode incidir sempre no aumento de impostos e no corte de rendimento. Já ouvi o primeiro-ministro dizer que o PSD quer acabar com o 13º mês, mas nós nunca falámos disso e é um disparate”.

Ou ainda: “Como é possível manter um governo em que um primeiro-ministro mente?”

domingo, fevereiro 26, 2012

Mukanda para Rafael Massanga Savimbi

Rafael Massanga Savimbi reivindica um funeral condigno para o seu pai. Tem todo o direito. Pena é que Angola, país  pelo qual o pai deu a vida, não seja um Estado de Direito.


Caro Rafael, se dezenas de anos depois da independência, uma das quais proclamada pelo teu pai, dez anos depois da paz total, Angola continua a ter 68% do seu povo de barriga vazia, continua a ser (re)construída à imagem e semelhança do MPLA, como se fosse um regime de partido único, não vão permitir que se honre (sem esquecer os muitos erros) a memória do teu pai.

Se o MPLA é Angola e Angola é o MPLA, herói nacional há só um, Agostinho Neto e mais nenhum. Quando o MPLA for apenas um dos partidos do país e Angola for um verdadeiro Estado de Direito, então haverá outros heróis. Então o teu pai terá o reconhecimento que merece.

Até lá, os angolanos continuarão sujeitos à lavagem do cérebro de modo a que julguem que António Agostinho Neto primeiro e depois Eduardo dos Santos são os únicos que deram um contributo na luta armada contra o colonialismo português e na conquista da independência nacional.

Repara, por exemplo (e, por favor, não deixes de ter memória) que o dia 17 de Setembro, instituído feriado nacional em 1980 pela então Assembleia do Povo, um ano após o falecimento de Agostinho Neto, em 10 de Setembro de 1979 na antiga União das Republicas Socialistas Soviéticas, deve-se, segundo a cartilha do MPLA, ao reconhecimento do seu empenho na libertação de Angola, em particular, e do continente africano.

Não te admires, meu caro Rafael, que um dia destes ainda venham dizer que ele, ou a Eduardo dos Santos, deu um decisivo contributo para a libertação da Europa...

Fruto da entrega de Agostinho Neto à causa libertadora dos povos, o Zimbabwé e a Namíbia ascenderam igualmente à independência, assim como contribuiu para o fim do Apartheid na África do Sul, esclarecem os donos do poder em Angola.

Pelos vistos, desde 1961 e até agora que só existe Agostinho Neto. Se calhar até é verdade. Aliás, bem vistas as coisas, tanto Holden Roberto como o teu pai, tanto a FNLA como a UNITA, nunca existiram e são apenas resultado da imaginação de uns tantos lunáticos.

Agostinho Neto foi também, segundo uma cartilha herdada do regime de partido único (hoje em termos práticos assim continua), “um esclarecido homem de cultura para quem as manifestações culturais tinham de ser antes de mais a expressão viva das aspirações dos oprimidos, arma para a denúncia dos opressores, instrumentos para a reconstrução da nova vida”.

Cá para mim quem tem razão é José Eduardo Agualusa quando diz que “uma pessoa que ache que o Agostinho Neto, por exemplo, foi um extraordinário poeta é porque não conhece rigorosamente nada de poesia. Agostinho Neto foi um poeta medíocre”.

Continuemos, contudo, a ver a lavagem cerebral – bem visível hoje em todo o país - que o regime do MPLA pretende levar a cabo: “Dotado de um invulgar dinamismo e capacidade de trabalho, Agostinho Neto, até à hora do seu desaparecimento físico, foi incansável na sua participação pessoal para resolução de todos os problemas relacionados com a vida do partido, do povo e do Estado”.

Numa coisa a cartilha do MPLA tem toda a razão e actualidade: “como o marxistas-leninista convicto, Agostinho Neto reafirmou constantemente o papel dirigente do partido, a necessidade da sua estrutura orgânica e o fortalecimento ideológico, garantia segura para a criação e consolidação dos órgãos do poder popular, forma institucional da gestão dos destinos da Nação pelos operários e camponeses”.

Como sabes, os destinos da Nação estão entregues desde 11 de Novembro de 1975 a um tipo de operários e camponeses contra os quais o teu pai lutou e deu a vida. Ou seja, contra os poucos que têm cada vez mais milhões. Ao teu pai se interessaram mais os milhões que tinham pouco ou nada.

Em reconhecimento da figura do (suposto único) fundador da Nação angolana, estão erguidas em vários pontos do país estátuas, que simbolizam os seus feitos e legados, marcado pelas suas máximas “De Cabinda ao Cunene um só povo e uma só nação” e “O mais importante é resolver os problemas do povo”.

Pois! Nem Cabinda é Angola nem os problemas do povo foram resolvidos. Mas as estátuas aí estão para serem vistas por um povo que continua a ser gerado com fome, a nascer com fome e a morrer pouco depois com... fome.

Mas, acredita, é esse povo que ainda hoje é gerado com fome, que nasce com fome e morre pouco depois com fome que se orgulhou de – mesmo só comento mandioca – trazer um Galo Negro ao peito. É esse povo que, mesmo calado, continua a ver no teu pai o que ele merece e que um dia será reconhecido. Ou seja, ser um dos heróis de Angola.

Nada como dos reinos amigos...

Tudo começa antes do berço!

As práticas educativas parentais desde o nascimento dos filhos são responsáveis, em noventa por cento dos casos, por comportamentos inadequados como o “bullying” e a indisciplina escolar, defende em livro o investigador e psicólogo Luís Maia.

Será? Não me digam que vamos ter de responsabilizar os pais de Pedro Passos Coelho ser hoje um adulto com comportamentos inadequados?

“E Tudo começa no Berço”, é o título do livro a ser lançado amanhã, no qual o autor defende que é desde o nascimento da criança que se desenvolvem grande parte das suas características, positivas ou negativas.

"Perdoem-me pais, mas a culpa de muitos de nós não termos controlo sobre o comportamento dos nossos filhos, estou convencido, não é dos filhos, nem da sociedade: é nossa", escreve o autor alertando para a necessidade de os pais estarem mais presentes na vida dos filhos.

Vou pôr esta questão aos meus pais e, é claro, cobrar-lhes com juros o resultado do meu (des)empenho nesta vida. Tem de ser.

Se hoje é essencial para se estar materialmente bem na vida não ter coluna vertebral ou, em alternativa, tê-la com características amovíveis, só posso culpar os meus pais por não me terem dotado com essas valências.

Se hoje é condição “sine qua non” para se ter um bom emprego, ou até apenas trabalho, saber pensar com a cabeça dos outros – sobretudo dos donos do país – porque carga de chuva os meus pais não me deram essa possibilidade?

Se hoje é vital para sobreviver, sobretudo nas ocidentais praias lusitanas, não ter tomates, que culpa tenho eu que os meus pais mos tivessem dado, embora – creio – pensando na finalidade primária de dar continuidade à espécie?

Também não percebo (e que lhes vou cobrar, lá isso vou) a razão pela qual me educaram no sentido de eu ser o que sou e não o que os outros querem que eu seja.

Seja como for, adoro os meus pais.

Agora é que a coisa vai…

Para mais esclarecimentos pode consultar o seu “gestor de carreira” no Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) mais perto do vão das escadas onde dorme ou da esquina onde pede esmola.

sábado, fevereiro 25, 2012

Quem não faz não erra. E esses são os bons!

A Lusofonia é uma realidade (por muito que digam o contrário todos aqueles que compraram a verdade com o cartão de membro de um qualquer partido) que em muito ultrapassa os 220 milhões de cidadãos.

Se assim é, porque carga de chuva a Imprensa portuguesa dá mais importância ao Quirguistão do que a Angola, ao Iraque do que à Guiné-Bissau, ao Cazaquistão do que a Moçambique?

Seja lá porque for, a Comunicação Social lusitana está a contribuir não só para assassinar a Lusofonia mas, importa dizer, para o seu próprio fim, mesmo quando vê entrar muito dinheiro de Angola, por exemplo, pela porta do cavalo.

Não serão, creio, os quirguizes, os iraquianos ou os cazaque que vão comprar jornais, ouvir as rádios ou ver as televisões portuguesas.

Por culpa (mesmo que inconsciente ) dos poucos que têm milhões, continuam os milhões que têm pouco à espera que a chamada comunidade lusófona acorde. E ela tarda a acordar porque a Imprensa, nomeadamente a portuguesa, continua a dormir o sono imposto pelos donos do poder que, desde há anos, a vão domesticando.

É claro que, como em tudo na vida, não faltarão os que na Imprensa portuguesa dirão que não é possível entregar a carta a Garcia (será que sabem o que isso significa?), justificando que os correios estão fechados...

Mas não é com esses que se faz a História da Lusofonia apesar de, reconheço, muitos deles teimarem em flutuar ao sabor de interesses mesquinhos e de causas que só se conjugam na primeira pessoa do singular.

Não entendem, nunca entenderão, que a Lusofonia deveria ser um desígnio nacional. E não entendem porque, de facto e cada vez mais de jure, já nem tirando os sapatos conseguem contar até 12, tal a dependência da máquina de calcular.

Creio, contudo, que vale a pena continuar a lutar. Lutar sempre, apesar da indiferença de (quase) todos os que podiam, e deviam, ajudar a Lusofonia.

Um dia destes um amigo, também ele apaixonado pela Lusofonia, fez-me o retrato do que entende ser o mal da nossa (lusófona) sociedade: “Quem trabalha muito, erra muito; quem trabalha pouco, erra pouco; quem não trabalha, não erra; quem não erra... é promovido”.

Será? Pela experiência, creio que é mesmo assim, no entanto penso que não poderá continuar a ser assim, a não ser que queiramos ver a Lusofonia substituída pela Francofonia ou por outra qualquer fonia.

Pelo que a Imprensa portuguesa faz, tudo leva a crer que é essa a estratégia. Fica, contudo, uma certeza. Se cá estamos para ver, também cá estaremos para dizer quem foram os que estavam a cantar no convés enquanto o navio se afundava.

Resta-me acreditar (continuar a acreditar) que a Lusofonia pode dar luz ao Mundo e que, por isso, não há comparação entre o que se perde por fracassar e o que se perde por não tentar.

Se calhar, mais uma vez, estamos a tentar o impossível. Mas vale a pena (até porque a alma não é pequena) já que o possível fazemos nós todos os dias.

Portugal ou Burkina Faso, tanto faz!

Também em Portugal basta ter dinheiro (mesmo que seja de origem angolana) para ser dono de um jornal e, é claro, para ditar as regras.

Regras que dão do dono autoridade para, através dos sipaios de serviço,  lá mandar pôr (com a servil anuência do director, escolhido a dedo em qualquer prostíbulo do calor da noite) o que muito bem entender, sejam as fotografias da sogra, do rafeiro ou da amante.

Importa, por exemplo, não esquecer que os Jornalistas (se é que essa espécie ainda existe) não se podem opor a “modificações formais introduzidas nas suas obras” pelos seus superiores hierárquicos (os tais), mesmo que estes tenham surgido das mais aviltantes e putrefactas sarjetas.

Essa coisa do direito à liberdade de criação e do direito à liberdade de expressão é algo, convenhamos, que não se encontra nas sarjetas onde muitos deles fizeram a sua formação, certamente como brilhantes cidadãos-jornalistas.

Em Portugal, por exemplo, é possível ao capataz pôr tudo do avesso e atribuir essa estratégia a um autor que, afinal, nada tem a ver com a questão.

Tudo isso porque o Estado concede, e o patrão agradece, expressamente à estrutura hierárquica das linhas de montagem a faculdade de alterar, sem consentimento do autor, os trabalhos originais criados, desde que aquela invoque, "designadamente", "necessidades de dimensionamento (...) ou adequação ao estilo" do órgão de (des)informação.

Em síntese, e por uma questão de “adequação ao estilo”, será possível (quase) tudo, desde adulterar até manipular, passando pela censura e terminando na nova regra de ouro: comer e calar.

Os Jornalistas (se é que essa espécie ainda existe), mais do que informar, mais do que formar, têm de vender. Vender, vender sempre mais. E quem sabe o que fazer para melhor vender não são, na maioria dos casos, os jornalistas.

Os Jornalistas (se é que essa espécie ainda existe) são os montadores que, de acordo com o mercado, com os seus donos e com os donos dos seus donos, alinham as peças de um crime, de um comício, de um atentado ou de um buraco na rua. Se o que vende é dar uma ajuda ao partido do Governo para que este ganhe as próximas eleições, são essas as peças que têm de montar, nada contando a teoria da isenção que é tão do nosso teórico agrado.

Se o que vende é divulgar os produtos da empresa «X», são essas as peças que têm de montar, passando por cima do facto de essa empresa eventualmente não pagar os salários aos seus trabalhadores, promover criminosos despedimentos ou apostar no trabalho infantil.

Se o que vende é dar cobertura às ditaduras, são essas peças que têm de montar, calibrando-as da forma a parecerem dos melhores exemplos democráticos.

Pouco importa tudo o resto.

Assim sendo, as linhas de montagem não precisam de jornalistas 24 horas por dia, basta-lhes sete horas. E aos jornalistas basta-lhes, ao que parece, uns tantos euros por mês...

Tudo o resto são cantigas, tenha a classe uma Ordem ou apenas, como agora, um Sindicato, uma Caixa dos Jornalistas ou coisa nenhuma. Tenha o país um governo eleito ou não, seja ou não uma democracia, chame-se Portugal ou Burkina Faso.

E viva Rebekah Brooks. O que é que tudo isto tem a ver com Rebekah Brooks, a rainha dos tablóides britânicos? Tudo e nada. Depende da perspectiva ser vertical ou horizontal…

Se as fraldas são mudadas com frequência…

A proposta de revisão dos estatutos do PSD, hoje aprovada em Conselho Nacional, impede os condenados a dois ou mais anos de prisão de exercerem cargos partidários pelo período correspondente à pena.

Ou seja, todos os condenados nessas circunstâncias não poderão exercer cargos partidários mas, é claro, poderão transitar para os conselhos de administração das empresas públicas ou para as outras onde – porque não cospem nos pratos que lhe dão comida – os novos donos reverenciam os donos do poder.

"Constitui inelegibilidade para qualquer cargo do partido qualquer condenação a pena de prisão igual ou superior a dois anos, pelo período correspondente à pena, a contar desde a data da prolação da respectiva decisão", lê-se no documento a que agência Lusa teve acesso.

Esta proposta de estatutos, que vai ser submetida ao Congresso do PSD de 23, 24 e 25 de Março para discussão e votação, estabelece, por outro lado, a eliminação da chamada "lei da rolha", que prevê a suspensão ou expulsão dos militantes que contrariem as orientações do partido em período pré-eleitoral.

Em período pré-eleitoral ainda vá que não vá. Depois a rolha volta a funcionar, se for caso disso. Por regra não é necessário. Aliás, cada vez mais, a ausência de coluna vertebral  é essencial para se ser político. E sem ela ninguém se atreve a discordar do sumo pontífice social-democrata, de seu nome Pedro Miguel Passos Relvas Coelho.

Por outro lado, o texto aprovado por unanimidade (pudera!) na reunião do Conselho Nacional do PSD aumenta o número de membros efectivos deste órgão de 55 para 70 e o número de suplentes de 10 para 15.

Segundo o secretário-geral do PSD, José Matos Rosa, o objectivo desta alteração é "assegurar um equilíbrio entre os membros efectivos do Conselho Nacional e os membros inerentes", para que estes últimos não sejam em número superior.

O documento aprovado inclui ainda uma disposição transitória que determina que, se esta proposta de estatutos for aprovada pelos congressistas em Março, as novas regras estatutárias já se aplicam à eleição dos órgãos nacionais no último dia desse Congresso.

Está, portanto, no bom caminho este PSD que é de Pedro Miguel Passos Relva Coelho mas que nada tem do PPD de Francisco Sá Carneiro.

Para mim, entre analfabetos puros e os que são analfabetos funcionais (sabem ler e escrever mas não lêem nem escrevem), eu prefiro os puros. Por regra são só isso: analfabetos. Quanto aos primeiros, os donos da política, basta olhar para muitos dos par(a)lamentares do reino lusitano, para saberem que aliam sempre ao analfabetismo um boa dose de estupidez.

Dêem uma condecoração ao homem!

Para embalar o Zé Povinho diz-se que, como se alguém acreditasse, que Ricardo Rodrigues, o deputado do PS que a 30 de Abril de 2010 afanou os gravadores dos jornalistas da revista Sábado, vai ser julgado a 15 de Maio, acusado do crime de atentado à liberdade de imprensa.

A interpretação do Ministério Público é a de que o deputado roubou (ele dos que “tomou posse”) os gravadores para "obstar a que as declarações por si prestadas fossem utilizadas e publicadas".

O deputado diz que não é nada disso. Cá para mim foram os jornalistas que, à socapa, meteram os gravadores nos bolsos do deputado para o incriminar.

Em caso de condenação, que tem tantas probabilidades de acontecer como a dos camelos terem penas, Ricardo Rodrigues pode enfrentar uma pena de prisão de três meses a dois anos, ou multa de 25 a 100 dias.

É claro que o deputado não vai responder pelo crime de furto. Ou seja, a montanha nem um ratinho (mesmo que de plástico) vai parir. Vale ao menos o facto de a partir do caso Ricardo Rodrigues a criminalidade em Portugal nunca mais ter sido a mesma. Os carteiristas, por exemplo, quando são apanhados defendem-se dizendo que apenas “tomaram posse”, de forma “irreflectida”, da carteira da vítima.

Ainda me recordo que numa declaração sem direito a perguntas dos jornalistas (que pelo sim e pelo não mantiveram os gravadores a uma distância segura, não fosse haver mais alguma “irreflectida tomada de posse”), o deputado Ricardo Rodrigues anunciou, quando o caso se tornou público, que apresentou no Tribunal Cível de Lisboa uma providência cautelar contra a revista Sábado e dois jornalistas da mesma publicação.

Na Assembleia da República, o deputado socialista, acompanhado pelo então líder parlamentar, Francisco Assis, e por um outro membro da direcção do grupo, Sérgio Sousa Pinto, justificou a sua “tomada de posse” (não como deputado mas como tomador de posse de gravadores alheios) pelo “tom inaceitavelmente persecutório” das perguntas e pelos “temas e factos suscitados, falsos e mesmo injuriosos”.

Em causa, apontou, estavam perguntas relacionadas com a sua “alegada cumplicidade” com clientes que “patrocinou” enquanto advogado e que “foram condenados relativamente a factos de 1997”.

E ainda “injúrias e difamações que estão a ser julgadas no Tribunal de Oeiras”, em que são réus a SIC, a SIC/Notícias e o jornalista Estevão Gago da Câmara.

“Porque a pressão exercida sobre mim constituiu uma violência psicológica insuportável, porque não vislumbrei outra alternativa para preservar o meu bom nome, exerci acção directa e, irreflectidamente, tomei posse de dois equipamentos de gravação digital, os quais hoje são documentos apensos à providência cautelar”, justificou Ricardo Rodrigues.

E é graças também a esta original forma de “tomar posse” do que é dos outros, que Portugal, desceu um monte de lugares no “rating" da liberdade de Imprensa.

Para quem não sabe, não quer saber ou é do Partido Socialista, recorde-se tantas vezes quantas for preciso, o que se passou a 30 de Abril de 2010.

O vice-presidente da bancada parlamentar do PS, Ricardo Rodrigues, ficou (meteu ao bolso, furtou, roubou) com dois gravadores dos jornalistas da revista Sábado durante uma entrevista.

Questionado sobre as suas ligações a um antigo processo de burla nos Açores e a casos de pedofilia, o deputado terminou bruscamente a entrevista e levou os dois gravadores consigo.

Foi, mais uma vez, o Portugal no seu melhor! Ou, citando o então primeiro-ministro do reino, José Sócrates, mais uma demonstração inequívoca de que em Portugal não há falta de liberdade... para afanar os gravadores dos jornalistas.