sábado, março 31, 2012

Constâncio está vivo e Paulo Portas mudo!

Não foi Paulo Portas que, na anterior legislatura, criticou o vencimento de 624 mil euros que o presidente da TAP tinha em 2009, "mais do dobro do que recebeu Barack Obama"? Não foi ele que falou do ordenado do presidente da Caixa Geral de Depósitos que ganhou "mais do dobro de Angela Merkel"?

O vice-presidente do Banco Central Europeu (BCE), Vítor Constâncio, voltou hoje a deitar um bitaites. Já todos tinham saudades das doutas opiniões deste perito dos peritos.

Para começar, Constâncio disse hoje que é possível Portugal vir a precisar de um segundo programa de ajustamento económico, lembrando que tal cenário "tem de estar sempre em avaliação".

"Está tudo sempre debaixo de análise e dependente da evolução de situações concretas nos mercados financeiros", considerou Constâncio, em Copenhaga, no final de dois dias de trabalho dos ministros das Finanças da União Europeia e de outros intervenientes no sector financeiro europeu.

Apesar de o espectro da bancarrota ter chegado com armas e bagagens a Lisboa, os donos de Portugal continuam a cantar e a rir para os 40% de potenciais pobres/miseráveis e para os 1.200 mil desempregados, tal como continuam a achar um bom exemplo de moralidade interna e externa que os valores das remunerações pagas a alguns gestores públicos.

Não foi Paulo Portas que, na anterior legislatura, criticou o vencimento de 624 mil euros que o presidente da TAP tinha em 2009, "mais do dobro do que recebeu Barack Obama"? Não foi ele que falou do ordenado do presidente da Caixa Geral de Depósitos que ganhou "mais do dobro de Angela Merkel"?

Seja como for, este governo – tal como o anterior - prefere ser assassinado pelo elogio do que salvo pela crítica. Quando Simon Johnson escreveu no “The New York Times” que o próximo problema global dava pelo nome de Portugal, todos lhe chamaram ave de mau agoiro.

"O próximo no radar será Portugal. Este país escapou em grande medida às atenções, muito porque a espiral da Grécia desvaneceu. Mas ambos estão economicamente à beira da bancarrota, e ambos parecem muito mais perigosos do que Argentina parecia em 2001, quando entrou em incumprimento", dizia (e diz) a análise do economista, que é Professor no Massachusstts Institute of Technology.

Em bom ou mau português (para o caso tanto faz), dir-se-á que quem for o último a sair que feche a porta (se ainda existir porta) e apague a luz (se ainda não tiver sido cortada pela EDP). Nada mau.

"Os portugueses nem sequer estão a discutir cortes sérios. (…) Estão à espera e com a esperança de que possam crescer suficientemente para sair desta confusão, mas esse crescimento só pode chegar através de um espantoso crescimento económico a nível global", diz Simon Johnson que, certamente, se esqueceu de ouvir o contraditório de não menos insignes especialistas lusos, a começar em Vítor Constâncio, passando por Teixeira dos Santos e acabando em Vítor Gaspar.

Simon Johnson considera ainda que "nem os líderes políticos gregos, nem os portugueses, estão preparados para realizar os cortes necessários", que o Governo português "pode apenas aguardar por vários anos de alto desemprego e políticas duras", e ainda que os políticos portugueses podem apenas "esperar que a situação piore, e então exigir também um plano de apoio".

Não é propriamente um grande elogio aos políticos portugueses que têm responsabilidades governativas. Mas esses não estão muito preocupados. Desde logo porque, com ou sem bancarrota, terão sempre um lugar “mexiânico” numa qualquer EDP, Galp, CGD ou Banco Central Europeu.

Pobre, pobre é o António Mexia!

Enquanto Portugal têm gestores que ganham modestamente, casos de António Mexia na EDP e Faria de Oliveira na CGD, 1,9 milhões de pessoas vivem abaixo do limiar da pobreza.

Segundo disse hoje o presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS), "às vezes parece que não é suficientemente forte a vontade de combater a pobreza, até para se cultivar a clientela".

"Os números da pobreza em Portugal são preocupantes", porque "cerca de 20%" da população vive ou está em risco de viver em pobreza", ou seja, com "menos de 260 euros mensais", lembrou o padre Lino Maia.

Embora consciente de que os problemas dos escravos portugueses não constam das preocupações dos donos do país, Lino Maia lá vai lembrando que os idoso e as famílias numerosas são "os grupos de risco mais propícios a caírem na pobreza", por razões como o "desemprego, salários de miséria e pensões ainda mais miseráveis".

Desemprego? Salários de miséria? Pensões ainda mais miseráveis? Não, não pode ser. Nunca o primeiro-ministro do reino, o tal que dizia que “ninguém nos verá impor sacrifícios aos que mais precisam”, permitiria tal coisa. Ou não será?

"De entre os 27 países da União Europeia, Portugal é um dos nove mais pobres, existindo cerca de 1,9 milhões de pessoas que vivem abaixo do limiar da pobreza, na sua maioria no Norte", recordou Lino Maia, perguntando: "Haverá vontade de fazer diminuir consideravelmente a pobreza?"

O salário mínimo nacional dos portugueses de segunda (todos aqueles que não pertencem ao mundo putrefacto da política e actividades correlativas) teve um acréscimo de apenas 88 euros desde 1974, enquanto que as pensões mínimas de velhice e invalidez aumentaram apenas 38 euros nos últimos 36 anos. Ou seja, até 2010.

E depois venham dizer que o direito à indignação  só passa por manifestações pacíficas, do tipo: quanto mais me bates mais gosto de ti. E depois venham dizer que houve uma revolução em Portugal.

A propósito do Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, a Pordata divulgou em 2011 alguns dados estatísticos relativamente à situação económica e social do reino lusitano cada vez mais próximo de Marrocos.

Comparando a evolução do salário mínimo e das pensões mínimas de invalidez e velhice desde 1974 até 2010, e descontando o efeito da inflação, constata-se que hoje os beneficiários desses apoios sociais auferem apenas mais 88 euros e 38 euros respectivamente.

E com tão excelentes aumentos, e os dados – repita-se – são vão até 2010,  é curial que o Governo actual entenda que pôr esses portugueses a pão e água, eventualmente a farelo, é uma legítima forma de os obrigar a contribuir para o esforço remuneratório da casta superior formada pelos políticos e toda a corja que os rodeia.

Nesse mesmo ano (2010), correspondia a 15 por cento da população portuguesa o número de pensionistas de invalidez e velhice da Segurança Social com pensões inferiores ao salário mínimo, o que significa que perto de um milhão e meio de pessoas estavam nessa situação.

Além disso, existia mais de meio milhão de pessoas a receber o Rendimento Social de Inserção, dos quais quase metade (47%) com menos de 25 anos.

A Pordata revela ainda que em 2009 (últimos dados disponíveis) Portugal era o quarto país da União Europeia com maiores desigualdades de rendimentos entre os mais ricos e os mais pobres, sendo que o rendimento dos mais ricos era 6 vezes superior ao dos mais pobres (a média europeia era de cinco).

Daí que, como muito bem dizem os donos do reino, continua a ser necessário pedir aos pobres dos países ricos para dar aos ricos dos países pobres. Continuam os milhões que têm pouco ou nada a trabalhar para encher o bandulho dos poucos que têm cada vez mais milhões.

Mesmo após as transferências sociais, quase uma em cada cinco pessoas (17,9%) era pobre, 37 por cento dos agregados constituídos por um adulto com uma ou mais crianças e 33 por cento dos agregados só com idosos também viviam em situação de pobreza.

Em apenas quatro anos (de 2005 a 2009), Portugal passou do 17º para o 9º país com a taxa de risco de pobreza mais alta da UE. Seja como for, esqueléticos fisicamente e apodrecidos mentalmente, os portugueses de segunda continuam a ser uma povo pacífico capaz, pelo menos até agora, da dar o cu e uns cêntimos (os euros já foram todos) por um prato de lentilhas.

Sem as transferências sociais, a taxa de risco de pobreza em Portugal seria cerca do dobro do que é actualmente, revela ainda a Pordata, esclarecendo que em Portugal é pobre quem vive com um rendimento mensal (por adulto) próximo dos 400 euros. Não seria aconselhável, para haver menos pobres, baixar esse valor para 200 euros?

Sugestão de (boa, digo eu) leitura

sexta-feira, março 30, 2012

O (im)poluto cidadão que (do)mina Portugal

A tradução do que o primeiro-ministro de Portugal disse hoje no Parlamento é: os portugueses estão quase a saber viver sem comer e sem ir ao médico, mas tudo indica que possam morrer a todo o momento.

Passos Coelho disse que "infelizmente" haverá um "agravamento do desemprego em Portugal" este ano. Passarão a ser bem mais do que os actuais 1.200 mil. Se a esses se juntar os 20% de pobres e os outros 20% que já não sabem para que servem os pratos, o retrato fica quase completo.

"O Governo viu as suas previsões contidas no Orçamento do Estado para 2012 ultrapassadas relativamente à matéria do desemprego", disse o primeiro-ministro com aquele ar cândido de cidadão impoluto que enganou os portugueses só para chegar à gamela.

"Por essa razão, quando fizemos o terceiro reexame regular da troika tivemos oportunidade de actualizar essas previsões e elas constarão justamente do Orçamento do Estado rectificativo que será apresentado a esta câmara na próxima semana. E dentro dessas previsões nós ajustamos em alta, infelizmente, a previsão para o desemprego. Não será, por isso, infelizmente, novidade que assistiremos ainda ao agravamento do desemprego em Portugal este ano", acrescentou o africanista da Massamá.

O mesmo que, recorde-se, dizia “ninguém nos verá impor sacrifícios aos que mais precisam”.

Passos Coelho, pouco ralado com o facto de os portugueses saberem que têm um primeiro-ministro que mente, afirmou ainda que o Governo está "justamente a trabalhar para atenuar esses efeitos do desemprego, desde logo apostando em políticas activas de emprego”.

Se se olhar para muitos dos deputados do PSD, alguns até se sentam na primeira fila, fica a saber-se quais são as “políticas activas de emprego”. O mesmo se passa quando se olha para as empresas ou entidades nas quais o Governo manda. Não são bem “políticas activas de emprego”, mas antes “políticas activas de tachos”.

É claro que a austeridade é para todos, embora mais para uns do que para outros. Mais, muito mais, para os escravos do que para os seus donos. Muito mais para os desempregados, pensionistas, e idosos do que para os mexias, farias e bavas da praça lusitana.

Praça lusitana (do)minada por um energúmeno que disse: “Estamos disponíveis para soluções positivas, não para penhorar futuro tapando com impostos o que não se corta na despesa”.

Que disse: “Aceitarei reduções nas deduções no dia em que o Governo anunciar que vai reduzir a carga fiscal às famílias. Vamos ter de cortar em gorduras e de poupar. O Estado vai ter de fazer austeridade, basta de aplicá-la só aos cidadãos”.

Que disse: “Ninguém nos verá impor sacrifícios aos que mais precisam. Os que têm mais terão que ajudar os que têm menos. Para salvaguardar a coesão social prefiro onerar escalões mais elevados de IRS de modo a desonerar a classe média e baixa. Posso garantir que não será necessário despedir pessoas nem cortar mais salários para sanear o sistema português”.

El crecimiento económico de Angola no llegó a sus ciudadanos

A bem da nação eles comem tudo!

Os donos dos jornalistas e os donos dos donos dos jornalistas portugueses continuam, seja ou não no calor da noite, a apostar nos autómatos. É fácil, é barato e dá milhões.

O bispo de Viseu (Portugal), D. Ilídio Leandro, sem que daí tenham resultado consequências, afirmou em Maio de 2009, a propósito do Dia Mundial das Comunicações Sociais, que “há muitos jornalistas que estão ao serviço do director e não da verdade”.

Mas será mesmo assim? É mesmo assim em muitos casos, embora existam (cada vez menos) importantes excepções. O bispo deveria ter acrescentado que, por sua vez, os directores estão ao serviço dos patrões (políticos e ou económicos) e não da verdade.

As declarações do bispo de Viseu foram graves. Haverá consequências? Foram e são graves mas tudo vai ficar, vai continuar, na santa paz de... Deus. O “jornalismo” em Portugal atingiu em alguns casos um tal estado de descrédito que já ninguém se preocupa. Num sistema de vale tudo, pouco importa se o jornalismo virou propaganda e apenas é mais uma linha de enchimento comercial.

Mas em Portugal existem organismos com responsabilidade no sector... Existem do ponto de vista formal que mais não é do que uma forma de fingir que Portugal é um Estado de Direito. Tanto o Sindicato dos Jornalistas como a Entidade Reguladora para a Comunicação Social fecharam-se em copas, como se nada se passasse.

A situação descrita pelo bispo é nova? Não. Não é nova embora se tenha agravado com o advento da “ditadura” democrática do governo socialista de José Sócrates e seguida por Pedro Miguel Passos Relvas Coelho. Em alguns círculos, nomeadamente em blogues de jornalistas, o assunto tem sido passado a pente fino, embora – reconheço – sem resultados práticos.

Subentende-se então que é uma situação que assim vai continuar? Exactamente. Vai continuar a agravar-se e até mesmo algumas vozes sonantes, como a do bispo de Viseu, tenderão a calar-se porque ninguém gosta de pregar no deserto. Além disso, mesmo dentro da classe dos jornalistas, a tendência é passar a pensar com a barriga, o que significa que para sobreviver o melhor é comer e calar.

A ser assim, é a própria liberdade de imprensa que está em risco... Na maioria dos casos a liberdade de imprensa já foi à vida, dir-se-ia que – como no tempo de Salazar - a bem da Nação. E, ao que parece, ninguém repara que a própria democracia está inquinada e pode finar-se a qualquer momento.

Então o próprio jornalismo está condenado? Está condenado. Para além de terem de comer o que lhe querem dar e calar para manter o emprego, os jornalistas estão a ser transformados em meros autómatos produtores de textos de linha branca aos quais as empresas apenas colam o rótulo que mais conveniente for.

Isso significa vender gato por lebre? Mais do que isso. Significa vender gato por qualquer coisa que dê dinheiro, seja lebre, canguru, preguiça ou até mesmo… coelho. É, aliás, uma forma de pôr os jornalistas ao serviço da “verdade” oficial ditada nas “offshores” da manipulação das massas.

Os órgãos de soberania, nomeadamente o governo, não podem fazer nada? Poder, podiam... mas não era a mesma coisa. Nada fazem porque este é o modelo de “informação” que querem. É o modelo que em vez de dar voz a quem a não tem, amplia a voz dos que têm acesso a tudo. É o modelo que em vez de lutar pelos milhões que têm pouco ou nada, luta pelos poucos que têm milhões. É, portanto, um modelo feito à medida e por medida.

Então não há mesmo solução? Há. Não creio que a solução passe por Portugal mudar de povo. Mas tenho a certeza de que passa por Portugal mudar de políticos. Assim os portugueses tenham, como noutros tempos, tomates para o fazer.

Mudar só os políticos? Não. Há também muitos empresários que deveriam ser apenas trolhas (sem ofensa para estes) e muitos supostos jornalistas que ocupam cargos de direcção e chefia que deveriam aprender a contar até 12 sem terem de se descalçar.

Seja feita a vossa vontade!

A partir de hoje, o Banco angolano-português (há quem diga que é luso-angolano) BIC é o novo dono do famosíssimo Banco Português de Negócios (BPN).

O Estado (português, obviamente), pela via dos seus escravos, assume as fraudes e crimes contíguos de banqueiros e outros políticos no caso BPN, e depois de uma vasta operação de branqueamento volta a vendê-lo aos privados amigos que, provavelmente, o compram com o dinheiro roubado ao… BPN.

A coisa é simples. Nacionalizam-se os prejuízos e privatizam-se os lucros.

A proposta do BIC foi selecionada quase por ajuste directo em Julho de 2011 pelo Ministério das Finanças para comprar o BPN, pelo qual ofereceu 40 milhões de euros. Numa espécie de PPP (Parceria Público-Privada), se ao fim de cinco anos os lucros acumulados excederem 60 milhões de euros haverá lugar ao pagamento de um extra de 20% acima desse valor.

De acordo com o presidente executivo do BIC (Isabel dos Santos, filha do presidente vitalício de Angola, e Américo Amorim têm cada um 25% do capital), Mira Amaral, o banco vai manter "pelo menos 750 trabalhadores" dos mais de 1500 do BPN, enquanto "a marca BPN vai desaparecer".

Calcula-se  em 1,3% do Produto Interno Bruto (PIB) o impacto no défice do custo directo da nacionalização do BPN em 2010 e 2011, um valor que supera os 1,2% do PIB do impacto dos cortes nos subsídios de férias e Natal.

Para além do impacto no défice em 2010 e 2011,  os encargos com juros que terão de ser suportados com as sociedades veículo do BPN vão originar custos na ordem dos 323 milhões de euros por ano, o equivalente a 0,2% do PIB de 2012.  Só em 2010, o impacto na dívida pública do BPN foi de 2,2% do PIB.

E com este cenário só me vem à cabeça o que o impoluto governador do Banco de Portugal disse no dia 27 de Maio de 2009, quando insistiu que a supervisão ao sistema financeiro actuava com métodos e padrões próprios e usados internacionalmente e que não era uma espécie de KGB e FBI juntos.

Na altura, acusando um deputado do Bloco de Esquerda de “equívoco ou ignorância fundamental” sobre o que é a supervisão e o que foi a intervenção do Banco de Portugal no Banco Português de Negócios, Vítor Constâncio disse que a natureza de algumas perguntas formuladas são “com presunções de os supervisores serem uma espécie de KGB e FBI juntos”.

“O supervisor não é um super polícia” com acesso a tudo, disse o então governador do Banco de Portugal, mas sim uma entidade que actua segundo métodos e padrões reconhecidos.

Ok. Percebi na altura e continuo a perceber hoje. Então, em vez de supervisor (visão superior à normal), o Banco de Portugal deveria reconhecer que não passou de um simples visor ou, neste caso, um grande retrovisor.

“Não pode ser cometido o erro, para não dizer outra coisa, de se avaliar a actuação por critérios e objectivos que sejam diferentes das práticas internacionais”, indignou-se Vítor Constâncio, recordando que uma análise do Fundo Monetário Internacional mostrara que as práticas do regulador português estavam no grupo das melhores.

É verdade. O melhor médico que conheci (e assim foi considerado por muitos) foi um que sempre tratou da saúde aos que estavam de boa… saúde. Quando alguém estava doente, mandava-os para o hospital.

Constâncio deixou ainda uma interrogação sobre o papel dos revisores oficiais de contas e auditores, dizendo que as situações detectadas no BPN, ainda antes desta situação que levou à nacionalização, “foram todas identificadas pelo Banco de Portugal e não pelos auditores”.

Ou seja. A culpa é dos outros e não é tão grande porque, embora não sendo uma espécie de KGB e FBI juntos, muito menos PIDE ou DGS, o Banco de Portugal conseguiu fazer o papel dos outros. Se calhar esqueceu-se do seu, e como não tinha ponto...

E por alguma razão já em  1802 Thomas Jefferson dizia: “Acredito que as instituições bancárias são mais perigosas para as nossas liberdades do que o levantamento de exércitos. Se o povo alguma vez permitir que bancos privados controlem a emissão da sua moeda, primeiro pela inflação, e depois pela deflação, os bancos e as empresas que crescerão à roda dos bancos despojarão o povo de toda a propriedade até os seus filhos acordarem sem abrigo...”

Era bom (santa ingenuidade a minha) saber quais são os partidos políticos beneficiados nas suas campanhas eleitorais não só em relação ao BPN como a todos os outros bancos e grandes empresas que, por norma, jogam em vários tabuleiros para terem a certeza de que – seja qual for o partido vencedor – ganham sempre.

De uma coisa os portugueses podem ter a certeza. A corrupção, o compadrio, o clientelismo e outras virtudes políticas vão desaparecer num qualquer buraco dos muitos em que se transformou Portugal.

Não sei porquê, mas até estou tentado a pensar que se os bancos fossem sérios e honestos (eu sei que é uma utopia) se calhar muitas das empresas que estão em dificuldade, bem como muitas das que já foram à vida, estariam hoje em boas condições.

Ou será que, para além de lucros milionários, os bancos ainda têm privilégios especiais que os tornam donos e senhores deste reino? Será que os bancos são de facto, de jure seria pedir muito, os donos do país?

E para não se chatear muito com estes problemas domésticos, Vítor Constâncio pirou-se para a vice-presidência do Banco Central Europeu.

A nomeação – importa nunca o esquecer - de Vítor Constâncio baseou-se, segundo as teses oficiais, na sua competência.

Seja como for, creio que neste caso, como na maioria dos praticados em Portugal, o “crime” compensa. Será difícil fazer pior do que aquilo que Constâncio fez nas ocidentais praias lusitanas. Mas, pelo que se vai vendo, nunca se sabe.

Vítor Constâncio, na altura em que supostamente terá prestado provas, foi confrontado com a pergunta de uma eurodeputada luxemburguesa do Partido Popular Europeu sobre as críticas que alguns sectores em Portugal lhe faziam sobre a forma como exerceu as suas responsabilidades de supervisão financeira nos casos BPP, BCP e BPN.

“Como se pode explicar que um homem que fracassou no seu país pode ser responsável pela supervisão na Europa?”, perguntou Astrid Lulling, acrescentando que seria (será) como “dar barras de dinamite a um pirómano”.

Vítor Constâncio rejeitou as críticas feitas e disse ter “muito orgulho” no seu “desempenho à frente do Banco de Portugal”. O mesmo diria com certeza do governador do Banco do Burkina Faso...

quinta-feira, março 29, 2012

O MPLA manda... e é quanto basta!

Não deixam o sipaio ser chefe do posto

O director do órgão oficial do regime angolano, também conhecido por Jornal de Angola,  José Ribeiro,  foi vetado para o cargo de Ministro da Comunicação Social.  Que injustiça!

José Ribeiro tem sido um dos sipaios mais activos e cumpridores da cartilha do regime. Além disso, honra seja feita, de quando em vez descobre pérolas dignas de um merecedor do Prémio Pulitzer. Estranho por isso que o não deixem ser, no mínimo, chefe de posto.

Recordam-se com certeza do brilhante trabalho de investigação de José Ribeiro que o levou a concluir, com rara perspicácia, que “Lisboa continua, infelizmente, a ser o centro das conspirações contra Angola”.

Para justificar os males da democracia portuguesa, José Ribeiro vira-se com as parcas armas e menos bagagens que o MPLA lhe faculta contra a imprensa portuguesa, acusando-a de (ainda) não se render aos dólares do seu patrão e, por isso, continuar “a propalar mentiras sobre a realidade angolana ou a injuriar e difamar os governantes angolanos”.

Governantes que, importa reconhece-lo, são impolutos e incólumes aos malefícios da corrupção que, dizem as más línguas, não consegue entrar no regime angolano.

José Ribeiro diz que “é um hábito que vem de longe e só se justifica pelo ódio ao MPLA, a organização política que derrotou o colonialismo e ajudou a derrubar o regime fascista português”.

Ficamos todos a saber que, embora só tenha ajudado a derrubar o regime fascista português, foi o MPLA “a organização política que derrubou o colonialismo”. Vamos lá todos reescrever a História e tirar dela todos os outros que, até agora, se pensava terem ajudado a derrubar o colonialismo. Só lá pode ficar o MPLA… pelo menos enquanto for ele a pagar ao José Ribeiro.

Escudado pela Sonangol ou por Isabel dos Santos, José Ribeiro diz que “chegou a hora de dizer basta porque, apesar de os racistas terem o direito a serem tratados como doentes, têm também de ser responsabilizados pelos seus actos, sobretudo se desempenham cargos de responsabilidade ou notoriedade pública”.

Nem mais. O MPLA (via Sonangol ou Isabel dos Santos, ou por ambos) vai comprar os principais órgãos de comunicação social de Portugal (além de outras coisas) e mandar internar todos os racistas que neles trabalham. Um dias destes ainda vamos ver o José Ribeiro como director do Expresso, da SIC, da RTP, do Sol ou do Jornal de Notícias.

Visando já a cadeira de director em Portugal, excluída que parece estar a de ministro, José Ribeiro escrevia em Maio de 2008  que “de tudo isto só nos ocorre dizer que é uma pena que, trinta e muitos anos depois do 25 de Abril, venha alguém como o senhor Henrique Monteiro levar o prestigiado semanário “Expresso” para os níveis que nos habituou “O Diabo”, de triste memória”.

“Só agora se compreende que os amigos do distribuidor (Jonas Savimbi) do dinheiro dos diamantes de sangue ainda continuam a chorar a morte de um dos maiores criminosos dos tempos modernos, só comparável a Hitler em maldade e brutalidade”, dizia o sipaio do MPLA, também sem grande originalidade, num visível esforço de reconciliação nacional.

“O Governo de Angola é constituído por gente tão honrada e tão séria como os governos de Portugal ou da Irlanda. O Presidente de Angola é tão honrado e tão sério como os presidentes de Portugal, da Irlanda ou de qualquer outro país da União Europeia. E os nossos dirigentes políticos merecem o mesmo respeito e a mesma consideração que os políticos de Portugal ou da Irlanda”, opinava José Ribeiro, reproduzindo a mukanda que o MPLA lhe mandou debitar no pasquim que dirige.

E, de facto, dizer que José Eduardo dos Santos é tão honrado e sério como Cavaco Silva é como dizer que Kim Jong-Il era tão democrata como Mário Soares. Na comparação do Governo angolano com o seu congénere português, aí creio que não anda longe da verdade.

Dez anos de paz e progresso... para alguns

Nada de novo no reino lusitano

Os deuses estejam convosco!

Vilanagem dos senhores impolutos

Em média,  os trabalhadores portugueses ganham cerca de metade (55%) do que ganham os trabalhadores dos restantes 27 países da União Europeia.

Apesar disso, os gestores portugueses recebem, em média, mais 32% do que os gestores norte-americanos; mais 22,5% do que os gestores franceses; mais 55% do que os gestores finlandeses e mais 56,5% do que os gestores suecos.

Apenas um exemplo de como vai o reino lusitano. O presidente da Caixa Geral de Depósitos, banco do Estado, Faria de Oliveira, ganha mais na CGD do que Christine Lagarde no Fundo Monetário Internacional.

Remuneração base: 371.000,00 €, prémio de gestão: 155.184,00 €, gastos de utilização do telefone: 1.625,47€, renda de viatura: 26.555,23 €, combustível: 2.803, 02 €, subsídio de refeição: 2.714,10 €, subsídio diário de deslocação: 104, 00 €, despesas de representação: não quantificadas (mas no cartão de crédito são contempladas as “despesas correntes de actividade”  devidamente comprovadas com facturas e comprovativos de movimento).

A nova directora do FMI, Christine Lagarde, vai ter um rendimento anual líquido de 323 mil euros, a que se somam 58 mil euros para gastar em despesas, o que representa mais 10% do que o seu antecessor, Dominique Strauss-Kahn.

O total de 381 mil euros anuais que Lagarde vai receber (salário mais despesas) é um aumento de 11% relativamente ao que recebia Dominique Strauss-Kahn, o ex-director da instituição.

Mas a casta superior tem muitos outros protagonistas, como são os casos de Joaquim Pina Moura, Jorge Coelho, Armando Vara, Manuel Dias Loureiro, Fernando Gomes, António Vitorino, Luís Parreirão, José Penedos, Luís Mira Amaral, António Mexia, António Castro Guerra, Joaquim Ferreira do Amaral, Filipe Baptista, Ascenso Simões, Duarte Lima.

Ou até mesmo Cavaco Silva que, em termos vitalícios, só tem direito a 4.152 euros do Banco de Portugal, a 2.328 euros da Universidade Nova de Lisboa e a 2.876 euros de primeiro-ministro.

É claro que Portugal também tem 1.200 mil desempregados, 20% de miseráveis e outros 20% de semimiseráveis, mas esses são aqueles escravos que têm obrigatoriamente de trabalhar para os seus… senhores!

quarta-feira, março 28, 2012

Também na América Latina

Marrocos não levantará problemas

Álvaro Santos Pereira, afirmou hoje  que a actual legislação que regula o mercado laboral é "um entrave à criação de emprego" e promove o desemprego.

Estamos, é bom de ver, a falar do ministro da Economia e do Emprego de Portugal. Aprovada que vai ser a legislação parida pelo Governo, o país vai acelerar na criação de emprego. Consta que, com facilidade, de 1.200 mil desempregados o país passará a breve trecho para 1.199 mil.

Álvaro diz que "as leis que regulam o mercado de trabalho são hoje um entrave à competitividade das nossas empresas e à criação de emprego," sendo que "a sua rigidez constitui hoje um autêntico encargo para trabalhadores e empregadores, um impedimento ao crescimento da nossa economia".

Os que sobreviverem poderão, quem sabe, comprovar ou não as teses deste Governo e deste mesmo ministro que, em 14 de Novembro de 2011, também afirmava que 2012  "irá marcar o fim da crise" e permitir a Portugal retomar o crescimento da economia.

E se já era assim com a actual legislação, com as modificações agora impostas a recuperação deve estar aí mesmo ao dobrar da esquina…

Os escravos, como qualquer bom súbdito, não sabem se a barriga vazia os manterá vivos até lá, nem se o fim da crise é para os milhões que têm pouco ou nada ou, pelo contrário, é apenas para os poucos que têm cada vez mais milhões. Mas isso pouco importa.

Segundo o ministro disse em Novembro, "2012 será um ano determinante para Portugal e para a economia portuguesa", pois "certamente irá marcar o fim da crise e será o ano da retoma para o crescimento de 2013 e 2014".

Álvaro Santos Pereira diz que é  "muito importante" que Portugal "perceba que os sacrifícios são absolutamente fundamentais para que o Estado possa pôr as suas contas em ordem". Não falava de legislação laboral como condição sine qua non, mas estaria certamente a pensar nela.

É verdade. O Estado e a corja que lhe é coincidente  ficam com as contas em ordem. Quanto aos escravos, os portugueses, esses ficam depenados e esqueléticos. Mas, afinal, não é mesmo para isso que existem escravos?

Por sua vez, Cavaco Silva tem afirmado, como se nada tivesse a ver com o assunto, que "há limites para os sacrifícios", indo mesmo ao ponto de dizer que o Orçamento do Estado para 2012 tinha "falta de equidade fiscal", referindo-se então à suspensão dos subsídios de férias e de Natal.

No caso de Cavaco Silva ainda se compreende. Ele chegou há pouco tempo à vida do país. Só foi primeiro-ministro  de 6 de Novembro de 1985 a 28 de Outubro de 1995, presidente da República eleito em 22 de Janeiro de 2006 e reeleito em 23 de Janeiro de 2011…

O ministro, não se fale de inaptidão porque se assim for ele será despedido à luz da nova lei, reafirmou aquilo que mantém os cemitérios cheios, ou seja, as (boas, diz ele) intenções do Governo em colocar no terreno políticas para aumentar a competitividade e baixar o défice externo.

Santos Pereira, certamente de acordo com a cartilha escrita por Miguel Relvas,  acredita que, depois de deitar borda fora o excesso de carga (os portugueses), o governo voltará a pôr a pôr a caravela portuguesa a flutuar.

Se acaso o conseguir, resta saber onde é que o barcaça vai emergir, decorrendo negociações para que Marrocos não levante problemas.

Valha ao menos o facto de, segundo o ministro da Economia, 2012 marcar o fim da crise. Manuel Pinho já tinha decretado o seu fim em 2007 e Teixeira dos Santos em 2009. Para muitos portugueses esse será também o fim. Isto porque se prevê que em 2012 muitos deles estejam já a saber viver sem comer.

Se calhar, no exacto momento em que vão conseguir atingir tal desiderato… morrem. Mas aí a culpa não será com certeza do Governo porque, ao que parece, lhes fornecerá todos os instrumentos para terem sucesso…

Inquérito do Alto Hama

Entrevista à Deutsche Welle

terça-feira, março 27, 2012

Porto é o melhor destino europeu para ver que Lisboa é Portugal e o resto... paisagem!

O Porto (Portugal) foi eleito o "Melhor Destino Europeu 2012" entre 20 cidades seleccionadas por um júri da Associação dos Consumidores Europeus.

Sim, é mesmo a cidade que é a capital do Norte, ou seja, da região com mais beneficiários a receber prestação de desemprego (126.558).

Quando desafiei um velho amigo e colega (um dos melhores Jornalistas que conheci), que também é um dos 1.200 mil desempregados do país, a votar no Porto, ele disse-me:

“Eu quero que a cidade do Porto se foda!”. Como na resposta eu dei duas alternativas (Fafe e Matosinhos), ele achou por bem esclarecer as coisas:

“Deixa-te de lérias, pá! Tu sabes muito bem o que é que eu quero dizer. Tenho 54 anos (exactamente cinquenta e quatro, só cinquenta e quatro e já cinquenta e quatro), estou desempregado, nunca mais na vida vou ter emprego - pior!, nunca mais na vida vou ter trabalho -, não sei se viva não sei se morra, e vou interessar-me pela elevação do Porto a uma merda qualquer? O Porto que me pôs no olho da rua?! Ou pensas que eu e tu tínhamos sido deitados fora como fomos se estivéssemos em Lisboa?”

Tem, mais uma vez, toda a razão.

De facto, pelo menos 181 jornalistas das redacções do Porto de vários órgãos de comunicação social perderam o emprego nos entre 2004 e 2009, 54 dos quais no despedimento colectivo do grupo Controlinveste.

Justificado pelo grupo de Joaquim Oliveira com a "evolução acentuadamente negativa do mercado" e a "profunda quebra de receitas", o despedimento abrangeu um total de 75 jornalistas do Jornal de Notícias (JN), Diário de Notícias (DN), O Jogo e 24 Horas.

Destes, 54 (23 no JN, seis no DN, 15 n' O Jogo e 10 no 24 Horas) nas redacções do Porto destas publicações.

No caso do jornal 24 Horas, em Janeiro de 2009, deixou mesmo de existir a delegação do Porto, com a saída de todos os jornalistas que a compunham.

Depois disso foram também "convidados a sair" três jornalistas da Rádio Regional de Lisboa (Rádio Clube Português), do grupo Media Capital, no Porto.

O esvaziamento das redacções do Porto, de vários órgãos de comunicação social, já vinha a acontecer há algum tempo, acompanhado do encerramento de publicações sedeadas na cidade, como O Comércio do Porto.

Este jornal, que era o diário mais antigo do país, foi encerrado em Julho de 2005 pelo grupo que então o detinha, os espanhóis da Prensa Ibérica, que acabou também com A Capital, um dos mais prestigiados títulos de Lisboa.

No caso d' O Comércio do Porto perderam o emprego 50 jornalistas.

Em  2003, a estação televisiva NTV, um canal regional do Porto criado em 2001 através de uma parceria entre a PT Multimédia e a RTP, dispensou também 25 dos 37 jornalistas contratados a termo certo, tendo acabado por desaparecer para dar origem à então RTPN , que absorveu os restantes profissionais.

Também em 2003 a Lusomundo Media/PT encerrou a redacção do Porto da revista Notícias Magazine, despedindo os quatro jornalistas que a compunham.

Em 2006 foi a vez de o jornal Público iniciar um processo de rescisões que resultou na saída de 11 jornalistas no Porto (incluindo os correspondentes de Aveiro, Famalicão, Braga e Vila Real), enquanto o semanário Expresso dispensou, em Junho de 2007, dois jornalistas na redacção da cidade.

A estes juntaram-se, em Agosto de 2008, mais 32 jornalistas de outros dos mais antigos diários portugueses, o portuense O Primeiro de Janeiro, alvo de um processo de despedimento colectivo.

Em 2009, contactado pela agência Lusa, o director da licenciatura de Jornalismo da Universidade do Porto, Rui Centeno, atribuiu este esvaziamento e até encerramento de várias redacções no Porto ao facto de "tudo estar centralizado em Lisboa".

"Como tudo se centra em Lisboa, dispensam-se os mais 'dispensáveis'", lamentou Rui Centeno, que associa também este "desinvestimento" à crise que se vive actualmente e à reestruturação que está a ocorrer nos grupos de comunicação social.

Essa reestruturação, nomeadamente em termos de convergência de meios, "terá repercussões em termos de empregabilidade", sublinhou Rui Centeno.

Enquanto responsável por um curso superior de jornalismo, Rui Centeno manifestou-se "muito preocupado" com a vaga de despedimentos.
Também para o director do Centro de Estudos de Comunicação da Universidade do Minho, Manuel Pinto, "as perspectivas que se desenhavam não são nada tranquilizadoras" .

"E não é preciso ser adivinho para ver borrasca no horizonte", escreveu Manuel Pinto numa terça-feira de Janeiro de 2009 (dois dias antes de ser conhecida a decisão da Controlinveste), no blogue colectivo "Jornalismo e Comunicação".

No 'post' intitulado "Borrasca no horizonte", Manuel Pinto apontava vários casos de empresas de comunicação social onde se previam despedimentos.

"Num ano de agravamento drástico da crise, um dos sectores que mais se ressente, vital para a viabilidade dos media, é a publicidade. Ora essa fonte decisiva de recursos da economia das empresas mediáticas está a secar a um ritmo que alarma os gestores. Não só na publicidade de agência, mas inclusivamente nos classificados", considerou.

No mesmo blogue e na sequência do texto de Manuel Pinho, o ex-jornalista e académico Joaquim Fidalgo considerou que "há, de facto, muita "borrasca" no sector dos media. E já não é apenas no horizonte previsível: ela aí está, muito concreta, a precipitar-se dramaticamente em cima das nossas cabeças...".

É (quase) como no reino do MPLA

Muito obrigado Pedro Passos Coelho!

O número de beneficiários, em Portugal, a receber subsídio de desemprego foi maior do que no mês de Janeiro, mas os desempregados sem qualquer subsídio ultrapassaram os 45%.

Em nome dos mais de 1.200 mil desempregados agradeço, reconhecida e humildemente, aos donos de Portugal na pessoa de Pedro Passos Coelho.

Quase 300 mil desempregados não tiveram acesso a nenhuma espécie de subsídio de desemprego em Fevereiro, segundo dados divulgados pela Segurança Social.

Em nome dos mais de 1.200 mil desempregados agradeço, reconhecida e humildemente, aos donos de Portugal na pessoa de Pedro Passos Coelho.

De acordo com o Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), no final de Fevereiro encontravam-se inscritos nos centros de emprego 648.018 desempregados, dos quais 289 mil recebiam subsídio de desemprego; 31,5 mil recebiam subsídio social de desemprego inicial e 31,1 mil recebiam subsídio social de desemprego subsequente. Estes números representam um crescimento de 16,9% em relação ao mesmo mês de 2011.

Em nome dos mais de 1.200 mil desempregados agradeço, reconhecida e humildemente, aos donos de Portugal na pessoa de Pedro Passos Coelho.

Relativamente a Janeiro de 2012, a Segurança Social pagou mais 17.775 subsídios de desemprego, o que significa um aumento de 5,3%. A região com mais beneficiários a receber prestação de desemprego foi o Norte (126.558). O distrito onde o ISS registou mais subsídios de desemprego foi o Porto (78.092), acima de Lisboa (63.248).

Em nome dos mais de 1.200 mil desempregados agradeço, reconhecida e humildemente, aos donos de Portugal na pessoa de Pedro Passos Coelho.

Ainda de acordo com o ISS, de Janeiro para Fevereiro o número de beneficiários destas prestações aumentou em todos os 18 distritos de Portugal continental e nas regiões da Madeira e dos Açores.

Em nome dos mais de 1.200 mil desempregados agradeço, reconhecida e humildemente, aos donos de Portugal na pessoa de Pedro Passos Coelho.

segunda-feira, março 26, 2012

Conversas (+ ou -) cruzadas sobre a CPLP

Numa louvável iniciativa da Tertúlia Crioula Portuense realizou-se hoje, na Escola Profissional de Economia Social, no Porto, mais uma sessão de "Conversas Cruzadas".

O tema foi: "Comunidade dos Países de Língua Portuguesa: uma Aliança entre Nações, uma Aliança meramente Económica e Comercial, ou nem Uma nem Outra?"

Por razões de força maior, Domingos Simões Pereira, Secretário Executivo da CPLP, teve de abandonar mais cedo a tertúlia,  mas apesar disso teve tempo para dizer que discordava com tudo quanto eu disse na minha intervenção.

E o que eu disse foi o que se segue:

Permitam-me, caros amigos, três pontos prévios: Primeiro, saudar a Tertúlia Crioula Portuense por esta iniciativa, agradecendo o convite. Segundo, enaltecer a presença nesta mesa de tão ilustres convidados e, por último, fazer votos para que todos entendam que é preferível ser salvo pela crítica do que assassinado pelo elogio.

É a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa uma Aliança entre Nações, uma Aliança meramente Económica e Comercial, ou nem Uma nem Outra?

Creio que a CPLP é algo que não se enquadra em nenhuma destas questões, sendo para mim um “elefante branco” que Vasco Graça Moura, escritor de créditos firmados e actual presidente do Centro Cultural de Belém, definiu como “uma espécie de fantasma que não serve para rigorosamente nada, que só serve para empatar e ocupar gente desocupada”.

Teoricamente a CPLP tem como objectivos prioritários, a  concertação político-diplomática entre os seus estados membros, nomeadamente para o reforço da sua presença no cenário internacional; a cooperação em todos os domínios, inclusive os da educação, saúde, ciência e tecnologia, defesa, agricultura, administração pública, comunicações, justiça, segurança pública, cultura, desporto e comunicação social; A materialização de projectos de promoção e difusão da língua portuguesa.

Mas será que existe uma estratégia comum em matéria, por exemplo, de educação? Não. Não existe.

Será que existe uma estratégia comum em matéria, por exemplo, de saúde? Não. Não existe.

Será que existe uma estratégia comum em matéria, por exemplo, de ciência e tecnologia? Não. Não existe.

Será que existe uma estratégia comum em matéria, por exemplo, de defesa? Não. Não existe.

Não vale a pena continuar a pôr estas perguntas porque, de facto não existe nenhuma estratégia comum, seja em que matéria for. Comum a todos, comum como se existisse uma verdadeira comunidade. Existem casos pontuais, entre alguns dos estados-membros, mas nada em sentido comunitário.

Três países lusófonos - Guiné-Bissau, Angola e Moçambique - estão entre os que têm a pior taxa de mortalidade infantil, de acordo com o relatório sobre a Situação da População Mundial relativo a 2011.

Segundo o relatório do Fundo das Nações Unidas para a População (FNUAP), em cada 1.000 nascidos vivos, morrem 192,6 na Guiné-Bissau (só ultrapassada pelo Afeganistão e pelo Chade), 160,5 em Angola e 141,9 em Moçambique.

Entre os países de língua portuguesa, seguem-se São Tomé e Príncipe, com 77,8 crianças, e Timor-Leste, com 56,4. Mais abaixo, surgem Cabo Verde, com 27,5, e Brasil, com 20,6. Portugal apresenta uma taxa de 3,7.

Ainda no capítulo da saúde materno-infantil, 1.000 em cada 100.000 mulheres na Guiné-Bissau morrem no parto (pior registo só no Afeganistão e no Chade).

Com números acima das 500 mortes estão Angola (610) e Moçambique (550). O relatório não apresenta dados sobre São Tomé e Príncipe, enquanto em Timor-Leste 370 em 100.000 mulheres morrem no parto. Os números descem em Cabo Verde (94), no Brasil (58) e em Portugal (7).

No que diz respeito à taxa de partos entre adolescentes (15 a 19 anos), é Moçambique que lidera, com 185 (em cada 1.000), 170 na Guiné-Bissau, 165 em Angola, 92 em Cabo Verde, 91 em São Tomé e Príncipe, 59 em Timor-Leste, 58 no Brasil e 17 em Portugal.

Os indicadores fazem ainda referência à percentagem de "partos atendidos por pessoal qualificado em saúde", sendo esta menor, entre os países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), em Timor-Leste (18), inferior apenas no Afeganistão, Chade e Etiópia.

Na Guiné-Bissau (39) e Angola (47) menos de metade das mulheres beneficiaram deste atendimento especializado. Acima dos 50 por cento surgem Moçambique (55), Cabo Verde (78), São Tomé (82) e Brasil (97).

Na saúde sexual e reprodutiva, é em Angola que as mulheres entre os 15 e os 49 anos menos usam contraceptivos, seja através de que método for. Apenas 6% o fazem, seguidas por 10% das guineenses e 17% das moçambicanas.

Em Timor-Leste, 22% das mulheres usam contraceptivos, taxa que aumenta para 38% em São Tomé e Príncipe, 61% em Cabo Verde, 80% no Brasil e 87% em Portugal.

Apenas quatro dos países da CPLP apresentam dados sobre a taxa de prevalência do vírus VIH/SIDA entre a população dos 15 aos 24 anos, com Moçambique a distanciar-se pela negativa, com percentagens de 3,1% nos homens e de 8,6% nas mulheres (apenas menor do que em países como Botswana, Lesotho, África do Sul, Swazilândia e Zâmbia).

Na Guiné-Bissau, o vírus VIH/SIDA afecta 0,8% de homens e 2%  de mulheres, em Angola, 0,6% de homens e 1,6% de mulheres e, em Portugal, 0,3% de homens e 0,2% de mulheres.

Nos indicadores relativos à educação, a taxa de alfabetização da população entre os 15 e os 24 anos é de 78% nos rapazes e 62%  nas raparigas tanto na Guiné-Bissau como em Moçambique, e de 81% e 65% em Angola.

Taxas de alfabetização totais ou quase totais verificam-se em São Tomé e Príncipe (95% dos rapazes e 96% das raparigas), no Brasil e em Cabo Verde, com os mesmos números para rapazes e raparigas (97 e 99%), e em Portugal (100% para os dois sexos).

Não há dados sobre a alfabetização em Timor-Leste, mas o relatório indica que 79% dos rapazes e 76% das raparigas em idade escolar estão matriculados no "ensino fundamental".

Esta é, apesar de pálida, a realidade dos países da CPLP.

Até há pouco tempo, o argumento da guerra serviu às mil maravilhas para que esse “elefante branco” que dá pelo nome de CPLP, enquanto organização que congrega os países lusófonos, dissesse que só podia – quando podia – mandar algum peixe. Para ensinar a pescar era imprescindível a paz.

E agora? Há muito que existe paz, nomeadamente em Angola e mais ou menos na Guiné-Bissau. Será que as canas de pesca são mais caras que as Kalashnikov? Será que os angolanos só vão ter direito à cana de pesca quando a Sonae abrir o primeiro Continente em Luanda?

Segundo declarações do vitalício Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, feitas em 2008, existia a esperança de que “a vontade política que norteia a CPLP, bem como as excelentes relações entre os seus membros dêem lugar a programas concretos que fomentem o crescimento económico, a erradicação da pobreza e a integração social, para que a médio/largo prazo pudéssemos estar todos no mesmo patamar de desenvolvimento”.

E acrescentava: "deve-se, por isso, pensar muito a sério na criação de facilidades financeiras para a promoção recíproca do investimento e da cooperação económica".

Todos estão de acordo. Só que... continua a não fazer sentido pedir aos pobres dos países ricos para dar aos ricos dos países pobres. Em vez de se preocupar com o povo que não pode tomar antibióticos (e não pode porque eles, quando existem, são para tomar depois de uma coisa que o povo não tem: refeições), a CPLP mostra-se mais virada para questões políticas, para o suposto aprofundamento da democracia.

Que adiantará ter uma democracia quando se tem a barriga vazia? Valerá a pena pedir, ou exigir, que se respeite a legitimidade democrática se o povo apenas quer deixar de morrer à fome?

Ainda não foi desta, e seguramente nunca será, que  a CPLP – organização presidida pelo único país lusófono cujo presidente nunca foi eleito e está há 32 anos no poder, Angola, vai perceber a porcaria que anda a fazer em muitos países lusófonos.

De facto, a dita CPLP é uma treta, e a Lusofonia é uma miragem de meia dúzia de sonhadores. O melhor é mesmo encerrar para sempre a ideia de que a língua (entre outras coisas) nos pode ajudar a ter uma pátria comum espalhada pelos cantos do mundo.

E quando se tiver coragem para oficializar o fim do que se pensou poder ser uma comunidade lusófona, então já não custará tanto ajudar os filhos do vizinho com aquilo que deveríamos dar aos nossos próprios filhos.

É claro que na lusofonia existem muitos seres humanos que continuam a ser gerados com fome, nascem com fome e morrem, pouco depois, com fome. Mas, é claro, morrem em... português... o que, se calhar, significa um êxito para a CPLP.

Alguém na CPLP  quer saber que no país que preside à  organização, 68% da população é afectada pela pobreza, que a taxa de mortalidade infantil é a terceira mais alta do mundo, com 250 mortes por cada 1.000 crianças? Não, ninguém quer saber.

Alguém na CPLP quer saber que apenas 38% da população tem acesso a água potável e somente 44% dispõe de saneamento básico?

Alguém na CPLP quer saber que apenas um quarto da população angolana tem acesso a serviços de saúde, que, na maior parte dos casos, são de fraca qualidade?

Alguém na CPLP  quer saber que 12% dos hospitais, 11% dos centros de saúde e 85% dos postos de saúde existentes no país apresentam problemas ao nível das instalações, da falta de pessoal e de carência de medicamentos?

Alguém na CPLP  quer saber que a taxa de analfabetos é bastante elevada, especialmente entre as mulheres, uma situação que é agravada pelo grande número de crianças e jovens que todos os anos ficam fora do sistema de ensino?

Alguém na CPLP quer saber que 45% das crianças angolanas sofrerem de má nutrição crónica, sendo que uma em cada quatro (25%) morre antes de atingir os cinco anos?

Alguém na CPLP quer saber que a dependência sócio-económica a favores, privilégios e bens é o método utilizado pelo regime  para amordaçar os angolanos?

Alguém na CPLP  quer saber que 80% do Produto Interno Bruto angolano é produzido por estrangeiros; que mais de 90% da riqueza nacional privada é subtraída do erário público e está concentrada em menos de 0,5% de uma população; que 70% das exportações angolanas de petróleo tem origem na sua colónia de Cabinda?

Alguém na CPLP quer saber que o acesso à boa educação, aos condomínios, ao capital accionista dos bancos e das seguradoras, aos grandes negócios, às licitações dos blocos petrolíferos, está limitado a um grupo muito restrito de famílias ligadas ao regime no poder?

Não. O silêncio (ou cobardia) são de ouro para todos aqueles que existem para se servir e não para servir. E quando não têm justificação para tamanha cobardia, lá aparecem a inaugurar uma nova sede…

Creio que o moçambicano Tomaz Salomão, secretário executivo da SADC (Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral), foi quem melhor definiu a realidade africana, definição essa que também se aplica à CPLP. Quando confrontado com a presença de muitos regimes ditatoriais disse: "São ditadores, mas pronto, paciência... são as pessoas que estão lá. E os critérios da liderança da organização não obrigam à realização de eleições democráticas”.

Será talvez por isso que um dia destes a Guiné-Equatorial vai integrar a CPLP.

Admito que o Secretariado Executivo da CPLP esteja limitado nas suas funções porque tem de implementar as decisões da Conferência de Chefes de Estado e de Governo, do Conselho de Ministros dos Negócios Estrangeiros e do Comité de Concertação Permanente. Se calhar é por isso que a CPLP não erra, ou erra pouco. De facto, nada melhor para não errar do que nada fazer.

Mesmo com meios limitados, não consigo perceber – por exemplo – a razão pela qual a CPLP não patrocina a criação de um jornal on-line para toda a comunidade. Para ter o site que tem, mais valia estar quieta.

Um jornal desse tipo, verdadeiro órgão de comunicação e agregação de todos os cidadãos lusófonos, seria não só fácil de fazer, barato como até autossustentável. Fica aqui o repto, assim os dirigentes da CPLP queiram levar a carta a Garcia. Pelo que tenho visto, essas cartas são sempre deitadas na primeira valeta. Mas não custa tentar.

Para terminar, também não percebo a razão pela qual a CPLP não age, apenas e quando calha reage. Não é, julgo eu, por deixar de falar dos problemas que eles deixam de existir. Não me recordo, por exemplo, de ouvir a CPLP falar de Cabinda, embora saiba – pelo menos – que existe lá um problema. Tem preferido varrer o lixo para debaixo do tapete. No entanto, um dias destes, o tapete apodrece e o lixo volta a aparecer…

Eu sei que há assuntos proibidos, assuntos tabu na CPLP e nos países que a integram. Cabinda é um desses assuntos. Está agora a fazer um ano publiquei um livro sobre Cabinda. Aproveitando a presença aqui de um representante da Universidade Lusófona, recordo que tentei, por diversas vezes, fazer uma apresentação do livro na Universidade Lusófona do Porto, já que na minha opinião é um assunto que se enquadra na lusofonia.

De mail em mail… nunca a Universidade Lusófona encontrou uma abertura no calendário para se fazer a apresentação. É minha convicção que se o livro não falasse de Cabinda mas antes enaltecesse a figura de José Eduardo dos Santos, não teriam faltado oportunidades.