quinta-feira, agosto 31, 2006

(Re)flexões (+ ou -) sobre Jornalismo (I)


Se não for possível deixar às gerações vindouras algum património, ao menos lutemos, nós os Jornalistas, para lhes deixar algo mais do que a expressão exacta da nossa incompetência e cobardia, visível quando a subserviência substitui a competência.

Porque não há (digo eu na minha santa ingenuidade) comparação entre o que se perde por fracassar e o que se perde por não tentar, cá estou mais uma vez (já lhes perdi a conta) a tentar o impossível já que - reconheçamos - o possível fazemos nós todos os dias.

Há já muitos anos dizia-se que na profissão de Jornalista a única tarefa humilhante é a que se realiza com mentira, deslealdade, ódio pessoal, ambição mesquinha, inveja e incompetência.

Não será este texto um (mais um) exercício de mero suicídio?

Talvez. Mesmo assim...

Se o Jornalista não procura saber o que se passa no cerne dos problemas que o rodeiam, desde logo os da sua empresa, é, com certeza, um imbecil. Se o Jornalista consegue saber o que se passa mas, eventualmente, se cala é um criminoso. Ou não será assim?

Durante anos ouvi as pessoas dizerem: "isto é verdade" porque vinha no Jornal X.

Será que actualmente, sobretudo nos últimos anos, os jornais em particular e os media em geral continuam a ter credibilidade suficiente para que os leitores assumam como verdadeira qualquer coisa que nele seja divulgada?

Embora ainda verdade (mais verdade ontem do que hoje), esta constatação tende (na minha opinião) a diluir-se pela perda de credibilidade do nosso produto jornalístico que, cada vez mais, deixou de ser uma referência e passou a ser uma outra coisa qualquer.

E deixou porquê?

Quem hoje compra os jornais para entender o que se passa, recebe apenas uma informação generalizadamente massificada, despersonalizada em que o rótulo vale mais (ou até tudo) do que o produto.

Quem analisar (com olhos de ver, se faz favor) os jornais encontram, na maioria dos casos, pouca informação, rara formação e quase nula investigação.


Por outras palavras, os jornais deixaram de ter a sua própria personalidade jornalística, travestindo-se de acordo com a verdade absoluta que, tanto quanto parece, é genética em alguns.

Aliás, não deve haver na história de Imprensa mundial melhores jornalistas especializados no que os outros (sobretudo os outros do lado de dentro a mando dos do lado de fora) querem que eles digam, do que os portugueses (salvam-se algumas honrosas excepções).

Acresce, para mal dos nossos pecados (digo eu), que a precariedade profissional de muitos os obriga a aceitar fazer tudo o que o «chefe» manda (mesmo sabendo que este para contar até 12 tem de se descalçar).

quarta-feira, agosto 30, 2006

O Independente chega ao fim

A directora do semanário O Independente anunciou hoje à redacção do jornal que o semanário vai publicar a sua última edição na próxima sexta-feira, disse à agência Lusa fonte da redacção do jornal.

O jornal Público noticiou hoje que a venda do "O Independente" ao empresário Alberto do Rosário falhou, "pondo em causa a continuidade do semanário".

Uma fonte da direcção do "O Independente", citada pelo Público, disse que "a decisão quanto ao possível encerramento do jornal está dependente de um novo investidor".

Fonte da redacção disse à Lusa que o quadro de pessoal do semanário é, neste momento, composto por cerca de 25 pessoas.

Os últimos dados da Associação Portuguesa para o Controlo de Tiragem e Circulação (APCT), relativos ao primeiro trimestre deste ano e divulgados a 28 de Junho, mostram que "O Independente" protagonizou a maior descida do segmento dos jornais semanários generalistas.

A circulação paga (vendas em banca e por assinatura) do jornal caiu 22,9%, registando a cada sexta-feira vendas médias de 9.392 exemplares.

Sem comentários!

O Estado e o Jornalismo em Angola

A estratégia do Governo angolano para a Comunicação Social, liderada por Manuel Rabelais , passa pela adequação do quadro jurídico-legal do sector, pela reorganização das empresas, formação profissional e a promoção do diálogo com a classe jornalística. Tudo boas intenções, reconheça-se. Tão boas como as divulgadas em Portugal mas que, tal como acontece nas ocidentais praias lusitanas, correm o sério risco de serem mais teóricas do que práticas. Ou será que, dentro em pouco, Angola será um exemplo a ter em conta?

"Estas linhas estratégicas têm como finalidade revolucionar o sector, com vista a oferecermos à sociedade um ambiente legal que permita o exercício da liberdade de expressão de forma livre, plural, isenta e responsável", afirmou recentemente Manuel Rabelais.

Não me parece que, para já, seja isso que acontece. Tenhamos, contudo, alguma paciência e talvez o processo acabe por resultar, tal como a democracia acabará um dia destes (eu sei que quem espera, desespera) por vingar.

Talvez um dia destes o Estado angolano deixe de ser dono e senhor da Comunicação Social. É que, agora, integram o sector público a Rádio Nacional de Angola (RNA), com estúdios centrais em Luanda e 18 emissoras provinciais, a Televisão Pública de Angola (TPA), com delegações nas diferentes províncias e com emissões locais em Cabinda, Lubango (Huíla) e Benguela, bem como (o que só por si é um claro exemplo) o único diário, o Jornal de Angola, com correspondentes em todas as províncias, e uma agência nacional de notícias (Angop), que também se estende por todo o país.

Figuram também órgãos de comunicação social privados, nomeadamente a emissora Luanda Antena Comercial e a Rádio Ecclésia, emissora católica de Angola. No interior do país existem também emissoras locais, como a Rádio Morena, em Benguela, Rádio Comercial de Cabinda e a Rádio 2000 do Lubango.

Quanto à Imprensa, além do matutino estatal existem sete semanários, designadamente o "Agora", "Folha-8", "A Capital", "Jornal Angolense", o "Semanário Angolense", o "Independente", e "Cruzeiro do Sul".

No campo das intenções (que importa registar porque as palavras voam mas os escritos são eternos), o ministro angolano da Comunicação Social defende que a Imprensa angolana tem de ser um sector "moderno, dinâmico, forte, sério responsável e objectivo".

Manuel Rabelais reitera a necessidade de existirem profissionais "bem formados e competentes", para o exercício de um jornalismo "isento, plural, responsável e patriótico", acrescentando que "o sector da comunicação social tem de ser moderno, dinâmico, forte, sério, responsável e objectivo, capaz de interagir com outros sectores e assim contribuir e influenciar positivamente nos esforços do Estado e da sociedade".

Será?

Tito - o construtor de Toyotas

Já lá vão trinta e tal anos. As chamadas Águas Quentes do Alto Hama, em Angola, uma espécie rudimentar mas pura de termas, eram um dos locais habituais onde, por o horizonte saber a infinito, eu passava os fins de semana e, nos derradeiros tempos, as semanas do fim.

Das pessoas que frequentavam o local pouco recordo, para além de alguns amigos sonhadores que, no meio de umas churrascadas e de umas tantas grades de cucas, davam largas à imaginação.

No entanto, um morador nas redondezas é para mim sinónimo daque local. Não existem Águas Quentes sem ele e, certamente para mim, sem ele aquele local nunca seria o mesmo. Era o Tito.

Um puto albino que estava sempre lá, calmo e sereno como antevendo que não valia a pena chatices. Sorria, falava pouco mas tinha um olhar tão vago e penetrante como o pôr do sol.Junto ao asfalto da estrada para Luanda, o Tito montava o seu negócio.

Com carolos de milho, cápsulas de cerveja e uns pedaços de arame, construia os automóveis que vendia a todos quantos amassem verdadeiras obras primas do artesanato. Apesar de serem diversos os modelos, uns mais desportivos outros mais de serviço, o Tito só fabricava uma marca: Toyota.

Nenhuma outra conseguiu cativar o Tito, aquele puto albino de olhar tão vago e penetrante como o pôr do sol.

Comprei-lhe vários modelos e, não fora o canibalismo daqueles que nunca tiveram a honra de conhecer o Tito, ainda hoje os poderia ter.

Penso que esses Toyotas do Tito estarão algures no fundo mar junto a Moçamedes, local onde foram guardados para a eternidade os caixotes daqueles cujo único erro que cometeram foi amarem Angola.

No entanto, como hoje aqui comprovo, o Tito, aquele puto albino de olhar tão vago e penetrante como o pôr do sol, deixou no meu coração um dos seus últimos Toyotas.

Obrigado Tito.

terça-feira, agosto 29, 2006

O possível é feito todos os dias

É só mais uma das facetas desta aventura de acreditar que as palavras voam, mas os escritos são eternos. Tão eternos quanto o engenho e a arte de quem entende que dizer o que pensa ser a verdade é uma das qualidades mais sagradas.

Alto Hama é uma pequena localidade da minha amada Angola. É, igualmente, o nome da secção que assino (por especial, e também eterna, amizade do António Ribeiro) no Notícias Lusófonas. Além disso é o nome de um livro que será apresentado no dia 23 de Setembro na Casa de Angola de Lisboa (obrigado Mestre Eugénio Costa Almeida) e editado pela Papiro.

Alto Hama é, tal como a localidade, um cruzamento que dá acesso a todos os pontos de vista. No entanto, se a minha liberdade termina onde começa a dos outros, também a dos outros termina onde começa a minha.

Além de tudo, importa dizê-lo, é um desafio para quem faz da escrita uma forma de vida. Tarefa impossível? Não. Mas mesmo que o fosse eu estaria na primeira linha. É que o possível faço eu todos os dias.

Obrigado a todos.