quarta-feira, novembro 30, 2011

Portugal é o Governo e o Governo é Portugal?

Pedro Passos Coelho,  primeiro-ministro de Portugal, continua a sua luta para colocar o seu país cada vez mais perto do norte… de África.

Se fosse possível fazer uma entrevista mais íntima a Passos Coelho, certamente que ele diria: “Durmo bem, como bem e o que restar no meu prato dou aos meus cães e não aos pobres”.

Em Portugal, para além dos milhões que legitimamente só se preocupam em encontrar alguma coisa para matar a fome, nem que seja nos restos deixados pelos cães de Passos Coelho, uma minoria privilegiada só se preocupa em ter – com a preciosa ajuda do Governo - mais e mais, custe o que custar.

Quando alguém diz isto, e são cada vez menos a dizê-lo mas cada vez mais a pensá-lo, corre o sério risco de que os donos do poder o mandem calar, se possível definitivamente.

Mas, como dizia a outro propósito Frei João Domingos, "não nos podemos calar mesmo que nos custe a vida".

O primeiro-ministro foi eleito. Mentiu à grande e conseguiu comer de cebolada os portugueses. Manda o bom senso que se pergunte: Como é possível aos cidadãos acreditar num governo em que o primeiro-ministro mente? Mas como o bom senso não enche barriga…

Adaptando de novo, e tantas vezes quantas forem preciso, Frei João Domingos, em Portugal "muitos governantes têm grandes carros, numerosas amantes, muita riqueza roubada ao povo, são aparentemente reluzentes mas estão podres por dentro".

Mas esses, apesar de podres por dentro, continuam a viver à grande e à PSD, enquanto o Povo se prepara para morrer de fome ou de falta de assistência médica. O tempo em que o mais importante era resolver os problemas do povo,  já lá vai. Os políticos anteriores preparam o cemitério  e Passos Coelho deu-lhe o golpe de misericórdia.

Tal como muitos dos políticos que passaram pelo reino lusitano, Passos Coelho continua a pensar que Portugal é o PSD (de vez em quando com a muleta do CDS) e que o PSD é Portugal.

E como pensa assim, o que sobra dos abundantes regabofes do Governo não vai para os escravos, mas sim para os rafeiros que gravitam sempre junto à manjedoura do poder.

E por que não vai para os pobres?, perguntam vocês, eu também, tal como os milhões que todos os dias passam fome. Não vai porque, tanto nas teses de Passos Coelho como nas de Cavaco Silva, não há pobres em Portugal.

Aliás, como é que poderia haver fome se (ainda) existe fartura de farelo? Se os porcos comem farelo e não morrem, também o Povo português pode comer.

Embora seja um exercício suicida, importa aos vivos não se calarem, continuando a denunciar as injustiças, para que Portugal possa novamente abolir o esclavagismo e, dessa forma, ser um dia um país diferente, eventualmente uma nação e quiçá até uma pátria.

O Povo sofre e passa fome. Os países valem, deveriam valer,  pelas pessoas e não pelos mercados, pelas finanças, pela corrupção, pelo compadrio, pelas negociatas.

É por tudo isto que a luta continua. Tem de continuar. Até porque, mais cedo ou mais tarde, a Primavera também vai iluminar as ruas de Lisboa e chegar ao resto do país.

Enquanto os escravos não se revoltarem, os políticos em geral e os deste Governo em particular vão continuar a vestir Hugo Boss ou Ermenegildo Zegna e comprar relógios de ouro Patek Phillipe e Rolex.

Enquanto os escravos vão continuar a ser gerados com fome, a nascer com fome e a morrer pouco depois com... fome, os políticos em geral e os deste Governo em particular vão continuar a ter à mesa trufas pretas, caranguejos gigantes, cordeiro assado com cogumelos, bolbos de lírio de Inverno, supremos de galinha com espuma de raiz de beterraba e queijos acompanhados de mel e amêndoas caramelizadas, e várias garrafas de Château-Grillet 2005.

Laurent Gbagbo no TPI. E os outros?

O ex-Presidente da Costa do Marfim, Laurent Gbagbo, já está no centro de detenção do Tribunal Penal Internacional (TPI), em Haia (Holanda), suspeito de ter cometido crimes contra a Humanidade, anunciou hoje o tribunal.

Por mera curiosidade, recordam-se que, em Março deste ano, o Chefe de Estado do Senegal, Abdoulaye Wade, acusou o governo angolano de dar apoio militar e financeiro a Laurent Gbagbo?
Na altura Eduardo dos Santos falava, como sempre faz, de cátedra porque, recorde-se, até só está no poder (sem ter sido eleito) há 32 anos. E se ele entendia que Laurent Gbagbo devia  continuar a ser presidente, era assim que deveria ser.
Aliás, a culpa do que se passou na Costa do Marfim e geneticamente se passa em quase toda a África, é da comunidade internacional. Desde logo porque se esquece de dizer que, para além de haver (uma espécie de) eleições, quando as há, quem perde tem de sair.
Laurent Gbagbo, como exigia a comunidade internacional, lá pôs o povo a votar. Mas como não explicaram tudo, ele esqueceu-se (como fez em Angola o seu grande amigo José Eduardo dos Santos) de pôr os mortos a votar. Vai daí, perdeu. Perdeu mas o poder é tão bom…
Aliás sempre que de um lado da questão são colocadas eleições, do outro aparece o perigo de guerra civil. Mas, acrescente-se, guerra é coisa rara num continente onde há muitas riquezas, muitas armas e muita gente para morrer.

A situação tem, pelo menos a fazer fé nos muitos exemplos que chegam da região, uma grande vantagem: o povo morre mas as riquezas continuam lá...
No início do ano a comissária para a ajuda humanitária e controlo de crises da União Europeia, Kristalina Georgieva, diz que a UE vai aumentar a assistência humanitária àquele país para 25 milhões de euros em alimentos e medicamentos.
E, ao que parece, a comunidade internacional nada mais pode fazer. Até porque existe uma grande diferença entre a qualidade dos que morrem na Costa do Marfim e a dos que morrem, por exemplo, na Líbia.
“A crise merece a mesma atenção à de outros países em conflito, por causa do número de pessoas afectadas, que excede as que vivem a mesma situação na Líbia”, recordava  – e bem – nessa altura a comissária.
Mas ninguém a ouviu. Citando números da ONU, Georgieeva afirmou que quase 400 mil marfinenses tiveram de sair das suas casas, 200 mil pessoas fugiram da capital, Abidjan, e 80 mil cruzaram as fronteiras da Costa do Marfim com a Libéria e com a Guiné.
Como se constatou, o que Muammar Kadhafi fez ao seu povo foi um verdadeiro genocídio. Como certamente diria João Gomes Cravinho, o líder líbio – que até há pouco tempo era considerado por José Sócrates como um “líder carismático” - não passava de um Hitler.
Em Darfur, no Sudão, fontes certamente muito mal informadas apontaram durante muito tempo para bem mais de 300 mil mortos e 2,5 milhões de deslocados. Embora o massacre tenha sido praticado por um regime islâmico, o melhor foi não lhe chamar genocídio.
Para se falar de genocídio é preciso ver quem são as vítimas e quem são os autores.
Ou seja, se os autores são – por exemplo - israelitas e as vítimas palestinianos, então qualquer que seja o número de mortos e feridos é um genocídio. Se os autores são pretos e as vítimas também pretos (embora com armas e assessorias de brancos), então trata-se de um pequeno conflito, mesmo que morram aos milhares.
Mas o que é que isso importa? O mundo dos bons tem mais com o que se preocupar. A Faixa de Gaza, o cão de Barack Obama, o prémio de José Mourinho, a bitacaia de José Sócrates, são bem mais importantes do que umas centenas ou milhares de mortos em África, mesmo considerando que algumas dessas vítimas sentem a dor em português.
É claro que os africanos podem desaparecer, mas as riquezas naturais continuam lá à disposição dos donos do mundo. É a civilização ocidental no seu melhor.
É certo que a situação na Costa do Marfim ou na República Democrática do Congo continua a ferro e fogo, tal como continua perigosamente instável a vida na Somália, Sudão, Zimbabué, Chade, República Centro Africana...
É claro que o importante não são os africanos mas, antes, o petróleo e outros produtos vitais para o Ocidente. E se até Sarah Palin não tinha a noção do que era essa coisa chamada África, é bem natural que as ruas das principais cidades mundiais se encham de cidadãos de primeira preocupados com outros cidadãos de primeira, e não com essa espécie menor a que chamam pretos.
E assim se faz a história onde as prioridades, entre outras justificações, são feitas pela cor da pele. Racismo? Não. Nem pensar. Apenas uma realidade indesmentível: uns são pretos, outros não!

terça-feira, novembro 29, 2011

Mais uma medalha de honra para a NATO

Perto de sete mil prisioneiros estão nas mãos dos rebeldes líbios, sem acesso a protecção judicial ou policial, havendo relatos de tortura.

Quem o diz é, apenas, o representante especial do secretário-geral da ONU para a Líbia. Que se saiba não familiar ou amigo a família de Muammar Kadafi.

"É indicativo da diferença de atitude em relação ao regime passado [de Muammar Kadafi] que não há negação de que os direitos humanos são violados e na maioria dos casos é permitido o acesso de organizações internacionais aos campos de detenção", disse Ian Martin, na ONU.

Em relatório apresentado ao Conselho de Segurança, Ian Martin sublinha que um "grande número" dos detidos são africanos da região sub-saariana, "nalguns casos acusados ou suspeitos" de serem mercenários.

"Alguns dos detidos foram alegadamente sujeitos a tortura e a maus-tratos. Foram relatados casos de indivíduos visados pela cor da sua pele e também há registo de mulheres em centros de detenção sem guardas do sexo feminino e sob supervisão masculina, além de crianças detidas com adultos", refere o relatório.

Enquanto os prisioneiros políticos detidos pelo regime de Kadafi foram libertados, cerca de sete mil prisioneiros estão em prisões e centros de detenção improvisados, sem acesso a protecção judicial ou policial, adianta-se no documento.

O responsável da ONU deu ainda conta ao Conselho de Segurança do "forte desejo" na Líbia de que Saif Al-Islam Kadafi, filho do assassinado ditador, e outros altos responsáveis do anterior regime, sejam julgados no próprio país, e não em tribunais internacionais.

Por certo irá acontecer a Saif Al-Islam Kadafi o mesmo que ao pai, o que seria uma bênção para os donos do mundo. Se assim acontecer, ninguém vai saber o que ele poderia dizer sobre os anteriores amigos do pai, alguns dos quais, como José Sócrates, o consideravam um “líder carismático”.

Bom seria que a família de Muammar Kadafi apresentasse, como disse que o faria, uma queixa  no Tribunal Penal Internacional contra a NATO por "crimes de guerra".

Independentemente do facto de Kadafi ter merecido, na minha opinião, morrer não uma mas uma dúzia de vezes, o que a NATO fez na Líbia (mas que não fará noutros países com ditadores bem mais facínoras) foi o exemplo acabado de que os donos do mundo conhecem a razão da força mas nunca ouviram falar da força da razão.

O antigo líder líbio, de 69 anos, que fugira de Tripoli em finais de Agosto, foi capturado vivo (bem vivo, aliás) perto de Sirte (a 360 quilómetros da capital) e assassinado a tiro.

Que se saiba, embora não se tenha a certeza, não foi a NATO a dar o tiro de misericórdia a Kadafi, embora todos tenham ficado a lucrar com o silêncio definitivo do líder líbio.

Certo foi que foram os aviões da NATO que dispararam contra a coluna de veículos em que seguia Kadafi.

Embora o homicídio voluntário seja um crime de guerra previsto pelo artigo 8 do Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, a NATO sempre dirá que naquele situação Kadafi continuava a constituir uma ameaça para a Líbia, se calhar até para África ou, quem sabe, para o mundo inteiro.

Inicialmente dizia-se que a NATO estaria na região para, além de atirar a pedra e esconder a mão, proteger a população, excluindo sempre o objectivo de derrubar regime.

Como logo se viu, era uma treta como qualquer outra. Alguns países da NATO inundaram os rebeldes com todo o tipo de armas, deram-lhes instrução, planearam os ataques e coordenaram as acções com a Força Aérea da Aliança Atlântica. Tudo, é claro, para defender as populações e nunca para derrubar o regime.

Do lado da NATO estão, como sempre acontece com os vencedores, uma série de países, nem todos de forma sincera. Não será o caso dos europeus mas é, com certeza, o caso de muitos estados árabes que, com medo do cão raivoso, aceitaram (mesmo que contrariados) a ajuda do leão.

Quando se aperceberem (alguns já se aperceberam), o leão terá derrotado o cão e preparar-se-á para os comer a eles. O leão, como mais uma vez se confirma, não terá necessariamente de ter nacionalidade norte-americana.

Aliás, os homens do tio Sam são especialistas em criar leões onde mais lhes convém. Em certa medida Osama bin Laden, tal como Saddam Hussein, como Muammar Kadafi,  foram leões “made in USA”.  Ao contrário do que pensam os ilustres operacionais da NATO, do FBI da CIA ou de qualquer coisa desse tipo, ninguém tem neste planeta (pelo menos neste) autoridade e poder ilimitados.

Os maus da fita, segundo os realizadores da NATO,  poderão não ter a mesma capacidade bélica do que os EUA e seus aliados. Vão ser, continuam a ser, humilhados, sobretudo pelo número dos mortos que o único erro que cometeram foi terem nascido.

São as leis da razão? Não. São as leis dos instintos. Instintos que vão muito além das leis da sobrevivência. Entram claramente (tal como entrou Bin Laden ou Muammar Kadhafi) na lei da selva em que o mais forte é, durante algum tempo, mas nunca durante todo o tempo, o grande vencedor.

Seja como for, o Mundo Árabe só está do lado dos países da NATO por questões estratégicas, por opções instintivas. Bem ou mal, em matéria de razão, os árabes estão com os seus... e esses não são os nossos...

Pelo menos desde a Guerra dos Seis Dias, a aprendizagem dos árabes tem sido notável. Aceitam o que os donos do mundo definem como inimigos, enforcam até os seus pares com a corda fornecida pelo Ocidente, mas, na melhor oportunidade, vão enforcar americanos e europeus com a corda enviada de Nova Iorque, Paris ou Londres.

Ditadores amigos, a CPLP está convosco

A Guiné-Equatorial não sabe o que é democracia mas, por outro lado, tem fartura de petróleo, o que é condição “sine qua non” para comprar o que bem entender.

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, embaixador Tovar Nunes, afirma que ainda não é possível determinar um prazo para a entrada da Guiné-Equatorial na Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP).

"Existe esse desejo colectivo [pela aprovação da entrada], que será levado em consideração, e o Brasil tem muito apreço pela Guiné-Equatorial e vai dar o tratamento que o pedido merece, junto com outros países. Mas ainda não houve tempo hábil para que essa discussão ocorresse", afirmou Tovar Nunes em declarações à Lusa.

O embaixador realçou ainda que o pedido da Guiné-Equatorial para aderir à CPLP tem uma grande importância para a comunidade, que ganhou maturidade e tem se afirmado também como um espaço de coordenação política.

"A CPLP ganhou uma estatura que a colocou na qualidade de uma instituição na qual as nações desejam participar e isso é muito sintomático. A CPLP atingiu maturidade, e o interesse da Guiné (Equatorial) indica isso", acrescentou o porta-voz.

Quanto aos pré-requisitos necessários para a entrada do país no grupo agora composto por oito Estados, o embaixador garantiu que a cláusula democrática não é a questão que está a "segurar" a admissão.

"Existe, sim, uma cláusula democrática e isso é importante. Essa preocupação nós temos também no âmbito do Mercosul e da Unasul, mas não diria que esse tema estaria especificamente segurando a entrada da Guiné (Equatorial)", sublinhou.

Segundo o embaixador, a aprovação envolve "toda uma série de discussões" que têm que ver com as obrigações que o país terá no âmbito da CPLP, mas especialmente uma consulta colectiva que dependerá do pronunciamento de todos os membros.

O Presidente da Guiné-Equatorial, Teodoro Obiang, afirmou, após um encontro com o chefe de Estado angolano, José Eduardo dos Santos, que o país poderia tornar-se membro da CPLP já na próxima Cimeira da organização, a realizar em Maputo em 2012.

Recorde-se que, em 5 de Julho do ano passado, os presidentes da Guiné-Equatorial e do Brasil, Teodoro Obiang e Lula da Silva, assinaram em Malabo um acordo para a supressão de vistos aos detentores de passaportes diplomático e de serviço.

É assim mesmo. Que se lixem os direitos humanos, a democracia e as regras de um Estado de Direito. Há valores mais altos e, na circunstância, os que sofrem até não são brasileiros...

Lula da Silva assinou na altura com o seu homólogo equato-guineense outros acordos em matéria de Defesa e formalizou a criação de uma Comissão Mista de Cooperação.

O saldo dessa deslocação à Guiné-Equatorial saldou-se ainda pela assinatura de um Memorando de Entendimento no domínio da Formação e Intercâmbio de Experiências nos sectores diplomático e consular.

As fontes diplomáticas acrescentaram que o Presidente brasileiro manifestou apoio à pretensão de Malabo de passar a ter o estatuto de membro efectivo desse elefante branco que dá pelo nome de CPLP.

No comunicado conjunto distribuído então à imprensa, os dois presidentes expressaram a sua disposição em salvaguardar os princípios democráticos e a vontade em cooperar na luta contra o crime organizado.

É mesmo para rir. Teodoro Obiang a falar de princípios democráticos bate aos pontos Jean-Bédel Bokassa, também conhecido como Imperador Bokassa I e Salah Edddine Ahmed Bokassa, Idi Amin Dada ou Mobutu Sese Seko.

É claro que para Lula da Silva, como aliás para todos os restantes (ir)responsáveis da CPLP, a democracia e os direitos humanos têm, talvez por força do Acordo Ortográfico, um significado diferente.

Tão diferente que, em Janeiro de 2006, a Petrobras adquiriu à empresa norte-americana Chevron um bloco para explorar petróleo na Guiné-Equatorial em águas profundas, especialidade da petrolífera brasileira.

Tão diferente que a construtora Andrade Gutierrez também tem actuado no país por intermédio de sua subsidiária em Portugal.

Tão diferente que essa coisa chamada CPLP aceita impávida, serena e de barriga cheia que o seu actual líder seja o presidente de Angola, não eleito, e que está no poder, tal como Obiang, há 32 anos e o seu partido, o MPLA, dono do país desde a independência, em 1975.

Aliás, a verdade é que ninguém se atreve a perguntar a Passos Coelho e a Cavaco Silva, por exemplo, se acham que Angola respeita os direitos humanos ou se é possível a presidência da CPLP ser ocupada por um país cujo presidente, José Eduardo dos Santos, não foi eleito.

A verdade, incómoda para os donos do poder, seja em Portugal, Moçambique, Brasil ou Angola, é que a CPLP está a ser utilizada de forma descarada para fins comerciais e económicos, de modo a que empresas portuguesas, angolanas e brasileiras tenham caminho livre para entrar nos novos membros, caso da Guiné-Equatorial.

Reconheça-se, contudo, que tomando como exemplo Angola, a Guiné-Equatorial preenche todas as regras para entrar de pleno e total direito na CPLP.

Não sabe o que é democracia mas, por outro lado, tem fartura de petróleo, o que é condição “sine qua non” para comprar o que bem entender.

Sonaecom sim, Público… não!

O Sindicato dos Jornalistas (SJ) de Portugal considera inaceitável o facto de a Sonaecom – que há uma semana anunciou lucros recorde de 57,1 milhões de euros nos primeiros nove meses de 2011 – pretenda sacrificar os trabalhadores do jornal “Público” cortando-lhes parte dos salários e colocando 21 em regime de lay-off.

Em comunicado hoje divulgado, o SJ sublinha que os custos com pessoal do Online e Media (2,72 milhões de euros nos três primeiros trimestres deste ano), que inclui o “Público”, representam menos de 1,5% dos custos operacionais da Sonaecom, o que revela a diminuta expressão dos salários dos trabalhadores do jornal nos custos do grupo.

Assim, considera o SJ, as medidas agora anunciadas relativamente ao jornal só podem ser entendidas como uma forma de a empresa se financiar à custa dos trabalhadores e da Segurança Social para aumentar os seus lucros.

É o seguinte o texto, na íntegra, do Comunicado:

“1. Exactamente uma semana depois de a Sonaecom, do poderoso grupo Sonae, ter anunciado lucros recorde de 57,1 milhões de euros nos três primeiros trimestres de 2011, um aumento de 92,3% relativamente ao mesmo período do ano passado, a administração do jornal “Público” comunicou à Comissão de Trabalhadores a intenção de cortar salários a parte dos jornalistas e outros trabalhadores e de colocar outros 21 em regime de lay-off, poupando assim um milhão de euros em 2012.

2. Perante lucros tão expressivos e a dimensão da Sonae, não é compreensível e muito menos é aceitável que a Sonaecom pretenda sacrificar os trabalhadores ao objectivo único do lucro, diminuindo-lhes os rendimentos e financiando-se à sua custa e à custa da Segurança Social para aumentar os seus lucros.

3. Sublinhe-se que os custos com pessoal do Online e Media (2,72 milhões de euros nos primeiros nove meses deste ano), que inclui o jornal “Público” mas também o portal Miau.pt, representam menos de 1,5% dos custos operacionais da Sonaecom (186,1 milhões de euros no mesmo período), o que revela a diminuta expressão dos salários dos trabalhadores do jornal nos custos do grupo.

4. Ao reduzir durante pelo menos seis meses os salários dos jornalistas e outros trabalhadores ao serviço do “Público”, negócio que representa uma pequeníssima parte dos encargos da Sonaecom e uma gota no universo Sonae, o grupo está a fazer com que sejam eles a pagar parte dos resultados negativos desta componente dos negócios.

5. Pior, ao colocar 21 trabalhadores em regime de suspensão do contrato de trabalho, a Sonaecom transfere para a Segurança Social grande parte (70%) do encargo com as suas retribuições – aliás reduzidas a dois terços – obtendo assim um financiamento indirecto para a operação de reequilíbrio financeiro do “Público”, sem beliscar os elevados lucros do grupo.

6. Assim, a Direcção do Sindicato dos Jornalistas repudia firmemente as intenções da empresa, reafirma a sua solidariedade para com todos os jornalistas e outros trabalhadores ao serviço do “Público” e exorta a Sonaecom a abster-se de medidas que atentem contra o direito ao trabalho e ao salário.”

Passos Coelho esclarece os escravos

O primeiro-ministro de Portugal afirmou hoje que o Governo ouviu as "observações" de quem pedia maior equidade na "repartição dos sacrifícios". Os escravos ficam assim a saber que terão de repartir a sardinha, ou o prato de farelo, pelos novos… escravos.

Dieta imposta pelo Governo acaba com a dor

Um em cada quatro portugueses com dor crónica não segue o tratamento prescrito pelos médicos por falta de dinheiro, indica um estudo da revista "Deco Proteste".  Com a nova dieta implementada pelo Governo (viver sem comer), esse é um problema com os dias contados.

Façam o favor de morrer sem ir ao médico

As taxas moderadoras da Saúde em Portugal vão aumentar 50%, no início de Janeiro. Segundo revelou o ministro da Saúde, Paulo Macedo, durante uma deslocação ao Hospital de S. João, no Porto, essa medida vai permitir ao Estado arrecadar mais 100 milhões de euros de receitas.

O jornalista é que agrediu Pinto da Costa

Foi tudo ao contrário! Tal como aqui foi dito (talvez, quem sabe?, em primeira mão) no dia 26 de Agosto de 2009, confirmou-se que foi o José Carmo, repórter fotográfico do Jornal de Notícias, quem atropelou o carro em que seguia Pinto da Costa e não, como alguns malditos jornalistas disseram, o contrário. Também agora se conclui que foi o jornalista da TVI quem agrediu os seguranças que acompanhavam Pinto da Costa e insultou o presidente do FC do Porto.

segunda-feira, novembro 28, 2011

“Elementos do FC Porto agridem jornalista”

O Sindicato dos Jornalistas (SJ) de Portugal repudiou hoje os insultos e a agressão de que foi vítima o jornalista Valdemar Duarte, ao serviço da “TVI”, no final do encontro entre FC Porto e Sporting de Braga, que decorreu ontem, dia 27 de Novembro, no Estádio do Dragão.

Em comunicado, que a seguir se transcreve na íntegra, o SJ denuncia o comportamento “absolutamente inaceitável” do presidente do FC Porto bem como dos elementos que o acompanhavam e manifesta a sua solidariedade para com o camarada de profissão agredido.

O SJ apela também aos jornalistas para que “continuem a desempenhar a sua missão com a maior coragem e a resistir à intimidação física ou psicológica, fazendo respeitar o direito dos cidadãos à informação livre e independente”.

Eis o comunicado:

“1.O Sindicato dos Jornalistas repudia veementemente a agressão ao jornalista Valdemar Duarte, ao serviço da TVI, por elementos ligados ao presidente do Futebol Clube do Porto, Pinto da Costa, ocorrida na noite de ontem, domingo, no interior de instalações deste clube.

2.De acordo com as informações que o SJ possui, o nosso camarada foi insultado pelo presidente do clube quando se encontrava a descer da tribuna de imprensa e dirigindo-se à sala de imprensa do Estádio do Dragão.

3.Posteriormente, o mesmo jornalista foi agredido por um elemento que acompanhava Pinto da Costa e foi ameaçado fisicamente por elementos da equipa de segurança privada de serviço ao Estádio do Dragão durante o jogo entre FC Porto e Sporting de Braga.

4.A Direcção Nacional do SJ manifesta total solidariedade para com o jornalista Valdemar Duarte e denuncia como absolutamente inaceitável o comportamento do presidente do FC Porto, bem como dos elementos próximos deste dirigente desportivo ou da empresa de segurança privada.

5.O SJ considera que o agressor deve ser punido exemplarmente, já que não pode haver qualquer justificação para a violência – física ou verbal – nem se pode aceitar que dirigentes desportivos exerçam retaliações de qualquer tipo porque não gostem da forma como este ou aquele profissional, este ou aquele órgão de informação realizam a sua missão de informar ou exercem o direito à opinião.

6.Nesse sentido, o SJ apela aos jornalistas e a outras pessoas que testemunharam os acontecimentos, para que se disponibilizem a depor no inquérito judicial que necessariamente terá de ser aberto, bem como na apreciação da queixa que o SJ vai apresentar à Entidade Reguladora para a Comunicação Social.

7.O SJ apela por outro lado à Liga Portuguesa de Futebol Profissional e às demais autoridades para que contribuam para a reposição do respeito pela integridade física dos jornalistas que se deslocam às instalações dos clubes em missão profissional.

8.O SJ apela ainda aos jornalistas que cobrem as actividades do FC Porto, em particular, e dos clubes desportivos em geral, para que continuem a desempenhar a sua missão com a maior coragem e a resistir à intimidação física ou psicológica, fazendo respeitar o direito dos cidadãos à informação livre e independente.”

Joaquins, Pedros, Paulos e… Relvas

Portugal vive saturado de (des)informação e não há nada que lhe valha. O Pedro substituiu o José, mas o reino continua a ser dos joaquins…

E não há nada a fazer. E não há porque aos fazedores de informação, outrora chamavam-se jornalistas, (sejam, ou não, amigos do José, do Pedro, do Paulo, do Joaquim ou do Relvas) restam duas opções: serem domados e manter o emprego, ou o inverso.

É claro que, no meio desta enorme teia de corrupção, há lugares para todos, mas sobretudo para os invertebrados, quase todos amigos do José, do Pedro, do Paulo, do Joaquim ou do Relvas. Dos primeiros para agradar aos sobas, do segundo para não perderem o emprego.

Com a hipocrisia típica e atávica que caracteriza os donos da verdade em Portugal, até vemos os Josés, os Pedros, os Paulos, os Joaquins ous os Relvas do reino a recordar, comovidos, os jornalistas assassinados, mutilados, detidos, despedidos e por aí fora por exercerem, em consciência, a liberdade de expressão à qual, em teoria, têm direito.

Aliás, já se começaram a ver muitos dos Josés, dos Pedros, dos Paulos, dos Joaquins e dos Relvas que amordaçam os jornalistas, a ir para a ribalta com a bandeira da liberdade de expressão, forma mais ou menos eficaz de ninguém reparar na sua face oculta e na sua apologia pelo calor da noite.

Durante muitos anos o principal barómetro da liberdade de Imprensa era o número de jornalistas mortos no cumprimento do dever, hoje junta-se-lhe uma outra variante para a qual Portugal deu, dá e dará, um notório e inédito contributo: os despedimentos. Isto, é claro, para além de haver um outro instrumento de medição que se chama corrupção.

Até já estamos a ver alguns dos algozes da liberdade de expressão (desde os donos dos jornalistas aos donos dos donos dos jornalistas) citar o artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos:

“Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras”.

Há cinco anos, o então secretário-geral da ONU defendeu uma tese que se tornou suicida no caso português. Kofi Annan disse que os jornalistas “deveriam ser agentes da mudança”.

Eles tentaram, o que aliás sempre fizerem, mudar a sociedade para melhor. Acontece que o seu conceito de sociedade melhor não é igual ao dos donos dos jornalistas nem ao dos donos dos donos dos jornalistas.

E a resposta não se fez esperar: Jornalista só é bom se hoje for amigo do Pedro, do Joaquim e do Relvas, tal como ontem foi do José e do Augusto. Amanhã – talvez – deixe de ser o Pedro e o Relvas. O Joaquim mantém-se.

Nos últimos seis anos, por exemplo, pelo menos 181 jornalistas que não eram amigos do José nem do Joaquim e que trabalhavam nas redacções do Porto de vários órgãos de comunicação social perderam o emprego, 54 dos quais no despedimento colectivo, inédito na Imprensa portuguesa, levado a cabo pelo grupo Controlinveste (JN, DN, 24 Horas e “O Jogo”).

Pois é. Mas quem os mandou ser Jornalistas? Os que quiseram ser tapetes do poder continuam, por enquanto, a ter emprego...

Venha a nós a mão-de-obra barata!

Afinal eram apenas robalos

O bastonário da Ordem dos Escravos de Portugal afirma que não é só na política que as coisas vão mal, observando que ao longo dos anos a corrupção alastrou a todos os níveis do aparelho de Estado.

Tirando a questão da corrupção, que não existe em Portugal, tal como não existe – por exemplo – em Angola, concordo que não é só na política que as coisas vão mal. Aliás, no reino de Passos Coelho e companhia o que é difícil de descobrir é o que vai bem. Se é que alguma coisa vai bem.

Falando na abertura do ano da fome, Zé Povinho frisou que "pessoas houve que acumularam fortunas gigantescas no exercício exclusivo das mais altas funções públicas, durante anos" e que "bancos foram saqueados em milhares de milhões de euros e os principais beneficiários continuam impunes".

Bem que o bastonário da Ordem dos Escravos poderia aproveitar a ocasião para dizer alguma coisa, por pequena que fosse, que os portugueses não soubessem. Como se diz para as bandas do Futungo de Belas (Angola), é normal que o dono do país e os seus acólitos tenham comparticipação nos negócios. Portanto...

Assim, com ou sem robalos, já se sabe que numa democracia como a portuguesa, criminosos só são os pilha-galinhas. Todos os outros, os que roubam o aviário, são gestores que merecem ainda mais do que aquilo que roubam.

No discurso, o bastonário criticou o roubo por parte do Estado cidadãos que trabalham, trabalharem ou querem trabalhar, e acusou o Governo de estar mais preocupado em "pacificar os milionários eu financiaram as campanhas eleitorais" do que com os escravos que estão todos os dias a aprender a viver sem comer.

De facto, segundo o bastonário, são tudo tretas. Todo o sistema e todos aqueles que fazem política estão bem e recomendam-se. É verdade que entre fazer política e ser político vai uma abissal distância, mas esse é claramente um problema dos escravos (os tais pilha-galinhas) e não dos peritos dos peritos que geram a coisa pública.

Neste último capítulo, Zé Povinho insurgiu-se por em Portugal se deixar que sejam sempre os mesmos a pagar a crise, que as dívidas sejam nacionalizadas e os lucros privatizados.

E porque carga de chuva não deveria ser assim? O que conta é a vontade de quem manda e a submissão de quem é mandado. E se já há gerações que nascem sem coluna vertebral, o melhor é deixar o tempo passar e tudo ficará na santa paz do sumo pontífice do reino esclavagista de Portugal.

A actual crise "financeira e moral", cuja única responsabilidade é dos plebeus, foi também escalpelizada pelo bastonário que acusou o Estado de "asfixiar o povo com impostos", parte dos quais para pagar "os défices de empresas cujos gestores auferem principescas remunerações".

É verdade que os portugueses estão a ficar asfixiados. Mas a culpa não é do Estado que está a ser feito à medida de Passos Coelho e por medida de Miguel Relvas. A culpa é exclusivamente dos portugueses que teimam em não querer viver sem comer. Se o fizessem, como recomenda o Governo, já não seria necessário asfixiá-los.

"O país e o povo empobrecem, enquanto outros enriquecem escandalosamente", enfatizou o bastonário. Terá razão? Não. Não tem. Como em qualquer reino que se preze, as castas superiores têm todo o direito a viver escandalosamente melhor do que a plebe.

2012 será o princípio do fim… de Portugal

O próximo ano será o mais difícil para Portugal e qualquer crescimento que a economia possa ter em 2013 irá depender muito da retoma que venha a acontecer no resto do mundo, em especial da zona euro, referem economistas da OCDE.

Estarão os portugueses preocupados? Os mesmos de sempre estarão, com certeza. Mas a esses juntam-se mais uns tantos. Serão sobretudo os 800 mil desempregados (montante que o Governo quer ajudar… a crescer), os 20 por cento de pobres (que o Governo acha que seria aconselhável chegar, pelo menos, aos 30 por cento) e os outros 20  por cento de miseráveis (que o Governo quer que sejam muito menos por baixa nos efectivos – ou seja, por terem morrido).

Em entrevista à Agência Lusa, por telefone a partir de Paris, o economista sénior David Haugh e o economista português Álvaro Pina, que são responsáveis pela análise da economia portuguesa na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), explicaram as projecções para a economia portuguesa incluídas no 'Economic Outlook' da organização, divulgado hoje.

"O ano mais difícil para Portugal será 2012, porque será um ano de um grande esforço em termos de consolidação orçamental, também porque será um ano em que os desequilíbrios no sector privado começarão a ser resolvidos, em termos de desalavancagem do sector privado por exemplo", explicou Álvaro Pina.

Também creio que, como disse o ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira, 2012 será o princípio do fim. Não da crise, mas do país. Tudo, é claro, a bem da nação esclavagista que este governo tem como meta suprema.

Nas previsões divulgadas, a OCDE prevê que a economia portuguesa recue 1,6% este ano e 3,2% em 2012 e aponta para que a taxa de desemprego alcance os 13,8% em 2012.

Não creio, contudo, que a taxa de desemprego seja assim tão preocupante. Desde logo porque há cada vez mais portugueses que, com engenho e arte, estão a montar os seus próprios negócios. São disso exemplos os assaltos às caixas multibanco ou às ourivesarias. Em breve serão também os hipermercados pois, reconheça-se, nenhuma tarefa pode ser bem desempenhada com a barriga vazia.

"Portugal está muito dependente do que acontece na zona euro. As exportações portuguesas dependem muito do mercado da zona euro e dado o actual contexto de debilidade da procura interna, tanto pública como privada, as exportações serão o motor do crescimento. Qualquer crescimento da economia portuguesa irá amplamente, muito amplamente vir das exportações em vez da procura interna", acrescenta Álvaro Pina.

Talvez como resultado da água do Bengo, compreendo que Portugal se tenha virado, no passado, para a Europa. Quanto ao presente, não sei se quando Portugal conseguir emergir da crise não estará mais perto do Norte de África. Mas quanto ao futuro, creio que ele estará na Lusofonia.

Mas isso é uma utopia. Em vez de investir bem nos países lusófonos, Portugal prefere andar de mão estendida, pedindo aos pobres dos países ricos que sustentem os ricos de um país pobre.

Razão tinha Passos Coelho – antes apanhar o cheque em branco que os portugueses lhe deram – quando dizia: “Ninguém nos verá impor sacrifícios aos que mais precisam. Os que têm mais terão que ajudar os que têm menos. Queremos transferir parte dos sacrifícios que se exigem às famílias e às empresas para o Estado”.

Razão tinha Passos Coelho – antes de se descobrir que é um aldrabão – quando dizia que “para salvaguardar a coesão social prefiro onerar escalões mais elevados de IRS de modo a desonerar a classe média e baixa”.

Razão tinha Passos Coelho – antes de assumir a liderança de um governo esclavagista – quando dizia: “Se vier a ser necessário algum ajustamento fiscal, será canalizado para o consumo e não para o rendimento das pessoas. Se formos Governo, posso garantir que não será necessário despedir pessoas nem cortar mais salários para sanear o sistema português”.

Razão tinha Passos Coelho – antes de ter comprado o reino – quando dizia: “A ideia que se foi gerando de que o PSD vai aumentar o IVA não tem fundamento. A pior coisa é ter um Governo fraco. Um Governo mais forte imporá menos sacrifícios aos contribuintes e aos cidadãos”.

Tal como tinha razão quando perguntava:  “Como é possível manter um governo em que um primeiro-ministro mente?”

domingo, novembro 27, 2011

No reino lusitano ainda está para nascer um primeiro-ministro que minta tanto quanto ele

Pedro Passos Coelho assegurou que "o Governo está, como sempre esteve, aberto ao diálogo com todas as forças políticas e sociais que queiram participar activamente no debate acerca de todas as escolhas".

Aí está o primeiro-ministro de Portugal ao seu melhor nível. Isto é, a mentir e a passar atestado de menoridade aos portugueses que nele acreditaram, levando na mesma onda os que nunca foram à sua missa.

Falando em Coimbra, o primeiro-ministro assegurou que "o Governo valoriza o consenso político em torno das grandes questões estratégicas nacionais", tendo mesmo o desplante de garantir que quer "manter um contacto construtivo constante com o principal partido da oposição" em todas aquelas matérias.

Mesmo para os portugueses que votaram em Passos Coelho mas que, nesta altura, já têm dúvidas se o primeiro-ministro não será Miguel Relvas,  as palavras deste governo pouco mais são do que a confirmação de alguém que acredita ser um ser superior e, por isso, dono de todos aqueles que tentam sobreviver no estado esclavagista que está a construir.

"O debate político frutuoso e a coesão social são condições decisivas para a superação da emergência nacional", acrescentou o chefe do governo, para quem não basta ter os seus servos a aprender a viver sem comer, pelo que ainda entende que eles não têm direito de pensar… a não ser que seja pela cabeça do sumo pontífice do reino.

"Não bastam os votos na Assembleia da República dos deputados da maioria para superar a emergência nacional", sublinhou, defendendo ser "necessária a convergência de todas as forças políticas e sociais em Portugal".

Falando para um país que julga já estar suficientemente castrado e de barriga vazia, Passos Coelho continua a fazer gala da sua capacidade de impor a regra de ouro deste governo: quero, posso e mando. Quem não estiver bem, acrescenta, que abandone a “zona de conforto” e vá pensar para outros reinos.

Para Passos Coelho, todos (menos os seus lacaios) são culpados  até prova em contrário. Não tardará muito que vá dizer que ainda está para nascer um primeiro-ministro que tenha feito, pelos portugueses, tanto como ele.

E tendo em conta os seus objectivos e aspirações, até está a fazer obra. Por exemplo, conseguiu uma nova dieta alimentar para a maioria dos portugueses. Se os porcos propriamente ditos comem farelo e não morrem, os escravos portugueses também o podem fazer.

Há coisas que este governo quer ressuscitar que foram extintas há centenas de anos. Mas a verdade é que, perante a passividade de todos, Passos Coelho está a dar corpo a mais uma forma de escravatura.

Para além de serem obrigados a pensar com a barriga… vazia, os escravos (excluem-se desta categoria os políticos, directores, administradores, gestores patrões e similares) até deveriam era trabalhar sem ganhar ou, até, pagar para trabalhar, sendo com certeza essa a melhor metodologia para vencer a crise.

Como bem sabem os 800 mil desempregados, os 20% que ainda vivem (isto é como quem diz) na miséria e os outros 20% que a têm à porta, em todas as sociedades (é o caso de Portugal)  em que existem seres superiores e inferiores, em que os esclavagistas estão no poder, os escravos têm de pagar os manjares dos seus donos, seja pelas pensões vitalícias ou por outros emolumentos.

Aliás, por muito que seja o dinheiro envolvido na chulice, importa reconhecer que os políticos portugueses, os de ontem e os de hoje (a fazer fé nas fábricas partidárias, possivelmente também os de amanhã), são mesmo seres superiores que, como exímios azeiteiros, exploram os escravos até ao tutano. E exploram porque tal lhes é permitido. E sé é isso que a plebe quer, não há nada a fazer.

Aliás, basta ver a galeria de notáveis e superiores cidadãos lusos para ter a certeza de que todos eles, de Dias Loureiro a Oliveira e Costa ou Ângelo Correia, de Jorge Coelho a Armando Vara  merecem tudo o que recebem e ainda muito mais.

Se em Portugal a casta superior é constituída por todos aqueles que trabalham não para os milhões que têm pouco ou nada (os escravos), mas sim para os poucos que têm cada vez mais milhões, ninguém pode dizer que eles não são competentes e merecedores que os plebeus continuem a pagar para manter a sua mama.

Qualquer besta que esteja no poder é bestial

O Presidente moçambicano, Armando Guebuza, está em Lisboa para a primeira Cimeira Luso-Moçambicana, com o objectivo de reforçar a relação entre os dois países.

Acompanham Guebuza os ministros dos Negócios Estrangeiros, Oldemiro Baloi, dos Transportes e Comunicações, Paulo Zucula, da Energia, Salvador Namburete, e das Obras Públicas, Cadmiel Muthemba.

Armando Guebuza reúne-se amanhã, no Palácio de Belém, com o seu homólogo português, Aníbal Cavaco Silva, dia em que haverá reuniões sectoriais entre os ministros moçambicanos das Finanças, Negócios Estrangeiros e Economia, e os seus homólogos portugueses.

Durante a permanência da delegação moçambicana em Lisboa, será oficializada a entrada da REN no capital da Hidroeléctrica de Cahora Bassa, adquirindo metade dos 15% que Portugal ainda detém, segundo disse à Lusa uma fonte ligada ao processo.

Como sempre, não vão faltar rasgados panegíricos a Armando Guebuza. Portugal tem, aliás, um protótipo de discursos encomiásticos em que só se alteram os nomes dos protagonistas.

No caso presente, basta substituir o “líder carismáticos” da Líbia, Muammar Kadafi, pelo do presidente de Moçambique. É simples, é eficiente e permite a Portugal estar sempre de bem com todos, mesmo quando estes não passam de umas bestas. Isto porque, como todos sabem, qualquer besta enquanto estiver no poder é bestial.

Sobre Armando Guebuza, leia-se o que escreveu Carlos Cardoso (Jornalistas moçambicano assassinado a 22 de Novembro de 2000) no “Metical” de 15 de Julho de 1997:

“Via Ripua, mais uma vez passamos a conhecer assuntos intestinais do partido Frelimo, discutidos, em surdina lá dentro. Desta vez, é a sucessão de Chissano. Ripua quer Guebuza.

Já o tinha proposto Primeiro-Ministro. Na nossa opinião Guebuza não. O nosso parecer assenta em dois factores:

1. As pessoas têm medo de Guebuza; 2. Ele foi, talvez por uma razão de causa e efeito o primeiro factor, um dos ministros mais incompetentes a passar pela governação da Frelimo. Onde tocou, estragou.

Vamos à questão do medo.

É verdade que Chissano tem gerido a presidência com grau de hesitação, por vezes prejudicial para o país. Mas com ele na presidência desde 1986, Moçambique foi praticando níveis de liberdade de expressão. E hoje está bem evidente quanto melhorou na governação a pauta aduaneira por exemplo, fruto do uso crescente dessa liberdade.

Via debate, o país foi encurtando o caminho para consensos e assim se arranjaram algumas soluções.

Moçambique precisa, pois, de um presidente, cuja personalidade, ainda que menos hesitante do que a de Chissano seja pelo menos tão aberta ao diálogo como a dele. Guebuza tem sido o contrário disso. As pessoas calam-se por causa dele. Não tem nem um décimo da postura de Chissano no tocante a aceitação de crítica contra ele.

A governação do país ficaria seriamente prejudicada com um presidente inspirador de temor e revolta entre os cidadãos.

Em segundo, mas não menos importante, lugar, a questão da incompetência. Armando Guebuza tem sido mau gestor da coisa pública.

Como Governador de Sofala pôs em perigo o relacionamento com Portugal.

Como ministro do Interior, adoptou para a operação produção, um método que anulou qualquer hipótese para a concretização das intenções que lhe deram vida (pese as responsabilidades do presidente Samora Machel numa conceptualização apressada do programa).

E nos transportes Guebuza cruzou os braços perante o alastramento impetuoso do roubo e da corrupção, levando entre outros males, a uma quebra terrível do tráfego via porto de Maputo e ao desmoronamento quase irreversível da LAM.

No partido Frelimo há outros sucessores possíveis para Chissano, apesar de nenhum deles, depois da morte de Samora Machel, ter defendido o país, contra a pilhagem desenfreada das nossas riquezas, tem no seu CV muitos mais méritos do que Guebuza para o cargo do PR.

Por outras palavras, a transição pós-Chissano pode ser pacífica. Mas, a escolha final é a dos eleitores. Pelo menos enquanto Guebuza não for PR.”

No tempo em que na Comunicação Social portuguesa se fazia Jornalismo, tive a oportunidade de entrevistar Joaquim Chissano, então presidente de Moçambique, e Armando Guebuza, na altura secretário-geral da Frelimo.

Do que a memória registou, ficou-me de Chissano a imagem de um estadista de nível mundial, tão capaz de dialogar com o arrumador de carros como com o secretário-geral da ONU. Era o homem certo no lugar certo, na circunstância a Presidência de Moçambique.

Quanto a Guebuza não ficou a imagem mas, isso sim, a certeza de um político arrogante, sem grande preparação intelectual e que tinha orgulho em demonstrar que a razão da força era a solução para todos os problemas.

A entrevista a Guebuza até nem correu bem porque, provavelmente ao contrário do que estaria habituado, não aceitei fazer as perguntas que um dos seus muitos assessores tinha preparado.

“Assim não dou a entrevista”, disse-me Guebuza, acrescentando: “Eu é que sei o que é importante perguntar”.

Perante a minha recusa, Guebuza acabou por aceitar responder ao que eu quis perguntar, deixando no fim um recado: “Se fosse em Moçambique eu dizia-lhe como era”.

Diria, com certeza. Diria, não diria Carlos Cardoso?

Legenda: Dois velhos amigos: Robert Mugabe e Armando Guebuza