O ex-Presidente da Costa do Marfim, Laurent Gbagbo, já está no centro de detenção do Tribunal Penal Internacional (TPI), em Haia (Holanda), suspeito de ter cometido crimes contra a Humanidade, anunciou hoje o tribunal.
Por mera curiosidade, recordam-se que, em Março deste ano, o Chefe de Estado do Senegal, Abdoulaye Wade, acusou o governo angolano de dar apoio militar e financeiro a Laurent Gbagbo?
Na altura Eduardo dos Santos falava, como sempre faz, de cátedra porque, recorde-se, até só está no poder (sem ter sido eleito) há 32 anos. E se ele entendia que Laurent Gbagbo devia continuar a ser presidente, era assim que deveria ser.
Aliás, a culpa do que se passou na Costa do Marfim e geneticamente se passa em quase toda a África, é da comunidade internacional. Desde logo porque se esquece de dizer que, para além de haver (uma espécie de) eleições, quando as há, quem perde tem de sair.
Laurent Gbagbo, como exigia a comunidade internacional, lá pôs o povo a votar. Mas como não explicaram tudo, ele esqueceu-se (como fez em Angola o seu grande amigo José Eduardo dos Santos) de pôr os mortos a votar. Vai daí, perdeu. Perdeu mas o poder é tão bom…
Aliás sempre que de um lado da questão são colocadas eleições, do outro aparece o perigo de guerra civil. Mas, acrescente-se, guerra é coisa rara num continente onde há muitas riquezas, muitas armas e muita gente para morrer.
A situação tem, pelo menos a fazer fé nos muitos exemplos que chegam da região, uma grande vantagem: o povo morre mas as riquezas continuam lá...
No início do ano a comissária para a ajuda humanitária e controlo de crises da União Europeia, Kristalina Georgieva, diz que a UE vai aumentar a assistência humanitária àquele país para 25 milhões de euros em alimentos e medicamentos.
E, ao que parece, a comunidade internacional nada mais pode fazer. Até porque existe uma grande diferença entre a qualidade dos que morrem na Costa do Marfim e a dos que morrem, por exemplo, na Líbia.
“A crise merece a mesma atenção à de outros países em conflito, por causa do número de pessoas afectadas, que excede as que vivem a mesma situação na Líbia”, recordava – e bem – nessa altura a comissária.
Mas ninguém a ouviu. Citando números da ONU, Georgieeva afirmou que quase 400 mil marfinenses tiveram de sair das suas casas, 200 mil pessoas fugiram da capital, Abidjan, e 80 mil cruzaram as fronteiras da Costa do Marfim com a Libéria e com a Guiné.
Como se constatou, o que Muammar Kadhafi fez ao seu povo foi um verdadeiro genocídio. Como certamente diria João Gomes Cravinho, o líder líbio – que até há pouco tempo era considerado por José Sócrates como um “líder carismático” - não passava de um Hitler.
Em Darfur, no Sudão, fontes certamente muito mal informadas apontaram durante muito tempo para bem mais de 300 mil mortos e 2,5 milhões de deslocados. Embora o massacre tenha sido praticado por um regime islâmico, o melhor foi não lhe chamar genocídio.
Para se falar de genocídio é preciso ver quem são as vítimas e quem são os autores.
Ou seja, se os autores são – por exemplo - israelitas e as vítimas palestinianos, então qualquer que seja o número de mortos e feridos é um genocídio. Se os autores são pretos e as vítimas também pretos (embora com armas e assessorias de brancos), então trata-se de um pequeno conflito, mesmo que morram aos milhares.
Mas o que é que isso importa? O mundo dos bons tem mais com o que se preocupar. A Faixa de Gaza, o cão de Barack Obama, o prémio de José Mourinho, a bitacaia de José Sócrates, são bem mais importantes do que umas centenas ou milhares de mortos em África, mesmo considerando que algumas dessas vítimas sentem a dor em português.
É claro que os africanos podem desaparecer, mas as riquezas naturais continuam lá à disposição dos donos do mundo. É a civilização ocidental no seu melhor.
É certo que a situação na Costa do Marfim ou na República Democrática do Congo continua a ferro e fogo, tal como continua perigosamente instável a vida na Somália, Sudão, Zimbabué, Chade, República Centro Africana...
É claro que o importante não são os africanos mas, antes, o petróleo e outros produtos vitais para o Ocidente. E se até Sarah Palin não tinha a noção do que era essa coisa chamada África, é bem natural que as ruas das principais cidades mundiais se encham de cidadãos de primeira preocupados com outros cidadãos de primeira, e não com essa espécie menor a que chamam pretos.
E assim se faz a história onde as prioridades, entre outras justificações, são feitas pela cor da pele. Racismo? Não. Nem pensar. Apenas uma realidade indesmentível: uns são pretos, outros não!
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