O primeiro-ministro português, Pedro Passos Coelho, efectua, no próximo dia 17, uma visita oficial de 24 horas a Angola.
A visita é curta mas já está prometida uma outra, mais numerosa e demorada. Apesar de curta, sempre dá tempo para um encontro com o presidente (não eleito e há 32 anos no poder) José Eduardo dos Santos, com o presidente da Assembleia Nacional e com empresários portugueses e angolanos.
Em matéria de empresários, José António Monteiro Gomes (que há mais de 50 anos trabalhava em Angola) não vai estar presente porque foi ontem assassinado em Luanda.
Do programa de Passos Coelho não deve constar nenhuma visita à família deste empresário português, mas incluirá uma volta pela Escola Portuguesa de Luanda e a obras consideradas emblemáticas da responsabilidade de empresas portuguesas, como a nova Assembleia Nacional e a futura marginal.
Passos Coelho, tal como já fora o caso de Paulo Portas, não esquece que Angola é um dos principais mercados da economia portuguesa fora da União Europeia e tem aumentado os seus investimentos em Portugal.
Perante a pujança colonial angolana, visível tanto em Cabinda como em Portugal, ninguém ouviu ou ouvirá Cavaco Silva recordar que 68% da população angolana é afectada pela pobreza, que a taxa de mortalidade infantil é a terceira mais alta do mundo, com 250 mortes por cada 1.000 crianças.
Ninguém ouviu ou ouvirá Passos Coelho recordar que apenas 38% da população angolana tem acesso a água potável e somente 44% dispõe de saneamento básico.
Ninguém ouviu ou ouvirá António José Seguro recordar que apenas um quarto da população angolana tem acesso a serviços de saúde, que, na maior parte dos casos, são de fraca qualidade.
Ninguém ouviu ou ouvirá Pinto Balsemão recordar que 12% dos hospitais, 11% dos centros de saúde e 85% dos postos de saúde existentes no país apresentam problemas ao nível das instalações, da falta de pessoal e de carência de medicamentos.
Ninguém ouviu ou ouvirá Belmiro de Azevedo recordar que a taxa de analfabetos é bastante elevada, especialmente entre as mulheres, uma situação é agravada pelo grande número de crianças e jovens que todos os anos ficam fora do sistema de ensino.
Ninguém ouviu ou ouvirá António Pires de Lima (Presidente da Comissão Executiva da UNICER e dirigente do CDS/PP) dizer que 45% das crianças angolanas sofrerem de má nutrição crónica, sendo que uma em cada quatro (25%) morre antes de atingir os cinco anos.
Ninguém ouviu ou ouvirá Jorge Coelho (Mota-Engil) dizer que, em Angola, a dependência sócio-económica a favores, privilégios e bens, ou seja, o cabritismo, é o método utilizado pelo MPLA para amordaçar os angolanos.
Ninguém ouviu ou ouvirá Armando Vara (presidente da Camargo Corrêa para África) dizer que 80% do Produto Interno Bruto angolano é produzido por estrangeiros; que mais de 90% da riqueza nacional privada é subtraída do erário público e está concentrada em menos de 0,5% de uma população; que 70% das exportações angolanas de petróleo tem origem na sua colónia de Cabinda.
Ninguém ouviu ou ouvirá algum dirigente dos três actuais maiores partidos portugueses dizer que, em Angola, o acesso à boa educação, aos condomínios, ao capital accionista dos bancos e das seguradoras, aos grandes negócios, às licitações dos blocos petrolíferos, está limitado a um grupo muito restrito de famílias ligadas ao regime no poder.
Tudo, é claro, a bem da Nação!...
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