Portugal vive saturado de (des)informação e não há nada que lhe valha. O Pedro substituiu o José, mas o reino continua a ser dos joaquins…
E não há nada a fazer. E não há porque aos fazedores de informação, outrora chamavam-se jornalistas, (sejam, ou não, amigos do José, do Pedro, do Paulo, do Joaquim ou do Relvas) restam duas opções: serem domados e manter o emprego, ou o inverso.
É claro que, no meio desta enorme teia de corrupção, há lugares para todos, mas sobretudo para os invertebrados, quase todos amigos do José, do Pedro, do Paulo, do Joaquim ou do Relvas. Dos primeiros para agradar aos sobas, do segundo para não perderem o emprego.
Com a hipocrisia típica e atávica que caracteriza os donos da verdade em Portugal, até vemos os Josés, os Pedros, os Paulos, os Joaquins ous os Relvas do reino a recordar, comovidos, os jornalistas assassinados, mutilados, detidos, despedidos e por aí fora por exercerem, em consciência, a liberdade de expressão à qual, em teoria, têm direito.
Aliás, já se começaram a ver muitos dos Josés, dos Pedros, dos Paulos, dos Joaquins e dos Relvas que amordaçam os jornalistas, a ir para a ribalta com a bandeira da liberdade de expressão, forma mais ou menos eficaz de ninguém reparar na sua face oculta e na sua apologia pelo calor da noite.
Durante muitos anos o principal barómetro da liberdade de Imprensa era o número de jornalistas mortos no cumprimento do dever, hoje junta-se-lhe uma outra variante para a qual Portugal deu, dá e dará, um notório e inédito contributo: os despedimentos. Isto, é claro, para além de haver um outro instrumento de medição que se chama corrupção.
Até já estamos a ver alguns dos algozes da liberdade de expressão (desde os donos dos jornalistas aos donos dos donos dos jornalistas) citar o artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos:
“Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras”.
Há cinco anos, o então secretário-geral da ONU defendeu uma tese que se tornou suicida no caso português. Kofi Annan disse que os jornalistas “deveriam ser agentes da mudança”.
Eles tentaram, o que aliás sempre fizerem, mudar a sociedade para melhor. Acontece que o seu conceito de sociedade melhor não é igual ao dos donos dos jornalistas nem ao dos donos dos donos dos jornalistas.
E a resposta não se fez esperar: Jornalista só é bom se hoje for amigo do Pedro, do Joaquim e do Relvas, tal como ontem foi do José e do Augusto. Amanhã – talvez – deixe de ser o Pedro e o Relvas. O Joaquim mantém-se.
Nos últimos seis anos, por exemplo, pelo menos 181 jornalistas que não eram amigos do José nem do Joaquim e que trabalhavam nas redacções do Porto de vários órgãos de comunicação social perderam o emprego, 54 dos quais no despedimento colectivo, inédito na Imprensa portuguesa, levado a cabo pelo grupo Controlinveste (JN, DN, 24 Horas e “O Jogo”).
Pois é. Mas quem os mandou ser Jornalistas? Os que quiseram ser tapetes do poder continuam, por enquanto, a ter emprego...
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