A revista "Angola In", lançada em 2007 por uma empresa portuguesa e dirigida ao mercado angolano, foi reformulada e a primeira edição da nova série sai em Dezembro, pela primeira vez também nas bancas portuguesas.
Segundo a Lusa, a revista, lançada há quatro anos pela empresa de comunicação Comunicare, pretendia colmatar uma necessidade que a empresa identificou no mercado angolano: "uma abordagem positiva de Angola", resumiu o director-geral, Daniel Mota, à margem da apresentação da segunda edição da revista, em Lisboa.
E se há coisa de que Angola precisa como de pão para a boca é de quem dela faça uma “abordagem positiva”. Para falar dos perto de 70% de angolanos que passam fome já bastam os jornalistas que ainda não foram comprados pelo regime.
Tendo sido, na altura, a primeira revista de informação generalista angolana, segundo a própria empresa, a "Angola In" surge agora com uma periodicidade mensal (era bimestral), e passa a ser vendida também em Portugal, com um preço de capa de 3,50 euros. Em Angola custará 400 kwanzas ou cinco dólares.
Os portugueses vão, assim, ver e ler o que de bom se passa em Angola, na tal “abordagem positiva”, podendo dessa forma passar ao lado do facto de que a taxa de mortalidade infantil é a terceira mais alta do mundo, com 250 mortes por cada 1.000 crianças. Para falar disso bastam os jornalistas que ainda não foram comprados pelo regime.
Um maior alargamento da distribuição às províncias angolanas é outra novidade, sendo Benguela, Huambo, Lubango e Malange as primeiras a receber a nova revista, tal como a colónia de Cabinda. Segundo Daniel Mota disse à Lusa, a empresa duplicou a tiragem, passando para 15 mil exemplares.
Uma aposta na plataforma digital, uma maior difusão de conteúdos online e a tradução para inglês, numa primeira fase, e depois para espanhol são outras apostas.
Nem que lê em inglês ou castelhano tem necessidade de saber que só 38% da população angolana tem acesso a água potável e somente 44% dispõe de saneamento básico, ou que apenas um quarto da população tem acesso a serviços de saúde, que, na maior parte dos casos, são de fraca qualidade. Para falar disso bastam os jornalistas que ainda não foram comprados pelo regime.
A nível editorial, a revista tem uma média de 132 páginas e, apesar de inicialmente ter um foco nas áreas da economia e negócios, passará agora a incluir informação, análise, entrevistas, 'estórias', relato de casos de angolanos de sucesso e até desporto, contou a editora da revista, Manuela Bártolo. O foco será Angola, mas também os restantes países lusófonos.
A revista conta com a colaboração de dez jornalistas fixos e com "cinco ou seis freelancers, tanto na fotografia como na área da produção de conteúdos", acrescentou Manuela Bártolo, que prevê um aumento do número de colaboradores com o alargamento às províncias angolanas.
Muito bem. É a dirá “abordagem positiva”. Abordagem essa que, é claro, não terá espaço para dizer que 45% das crianças angolanas sofrerem de má nutrição crónica, sendo que uma em cada quatro (25%) morre antes de atingir os cinco anos. Para falar disso bastam os jornalistas que ainda não foram comprados pelo regime.
A revista é editada em Portugal, mas a produção de conteúdos é luso-angolana e entre os jornalistas fixos, metade estão em Portugal e a outra metade em Angola. Haverá ainda um conjunto de cronistas, personalidades luso-angolanas que já estão definidas, mas cujos nomes ainda não foram revelados.
A revelação dessas personalidades só será feita, creio, depois de os nomes serem aprovados pelo dono de Angola, que a revista obviamente “não sabe” quem é, mas que se chama José Eduardo dos Santos e que devido à sua “abordagem positiva” do regime está no poder há 32 anos… sem nunca ter sido eleito.
Questionado sobre a origem do financiamento do projecto "Angola In", Daniel Mota disse tratar-se de capitais da Comunicare, mas "há um conjunto de parcerias" nomeadamente com as empresas Idea Can, Interpublishing e Sapo Angola.
Com tão bons parceiros, e outros que certamente não vão faltar, a revista não terá nunca oportunidade de dizer que 80% do Produto Interno Bruto angolano é produzido por estrangeiros; que mais de 90% da riqueza nacional privada é subtraída do erário público e está concentrada em menos de 0,5% da população, ou que 70% das exportações angolanas de petróleo tem origem na sua colónia de Cabinda.
Para falar disso bastam os poucos jornalistas que ainda não foram comprados pelo regime.
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