“Como os EUA, também Portugal é uma terra de oportunidades, para quem as saiba aproveitar no momento certo”, disse Cavaco Silva.
Escreve o Público que, segundo o presidente da República, “esse momento é hoje, é agora,” desde logo porque – acrescentou - “àqueles que desejam investir deve ser dada a possibilidade de o fazerem sem entraves burocráticos ou constrangimentos administrativos”.
Cavaco Silva sabe o que diz mas, como acontece desde que chegou pela primeira vez ao poder, 6 de Novembro de 1985, não diz – ao Povo – tudo o que sabe.
O presidente vai, assim, lançando umas “postas de pescada” porque não tem necessidade (em termos vitalícios, tem direito a 4.152 euros do Banco de Portugal, a 2.328 euros da Universidade Nova de Lisboa e a 2.876 euros de primeiro-ministro) de – como acontece com os escravos - pensar com a barriga... vazia.
Aliás, na mesma linha, Passos Coelho (o primeiro-ministro que chegou a primeiro-ministro dizendo que não era possível manter um governo onde o primeiro-ministro mentia) disse que a sua “preocupação não é levar para o Governo amigos, colegas ou parentes, mas sim os mais competentes. Isto não é desconfiança sobre o partido, mas sim a confiança que o partido pode dar à sociedade”. Não cumpriu, mas disse-o para sossegar as hostes ignaras.
Pedro Passos Coelho garantiu (com toda aquela credibilidade que se vai revelando a cada dia que passa) que as nomeações seguirão o critério da competência das pessoas, “sejam ou não do PSD”.
Nessa altura, ingénuos desde nascença, os portugueses interrogavam-se se seria desta que, em Portugal, veriam trabalhadores, administradores, gestores, políticos, a serem avaliados de forma objectiva e imparcial, sem que para essa avaliação contasse o cartão do partido, os jantares com o chefe ou a prenda de anos no aniversário do director.
Bastou ganhar as eleições para se ver ao que vinha Passos Coelho. E se ele afirmou alto e em bom som (retransmitido com toda a pujança pelos porta-microfones da comunicação social) que “as medidas (de José Sócrates) punham país a pão e água”, acrescentando que “não se põe um país a pão e água por precaução”, concretizou a tese de que agora o país tem de entrar na era de comer farelo.
Cada vez mais, em Portugal e ao contrário do que dizem os arautos Cavaco Silva, Passos Coelho e similares, a competência é substituída pela subserviência, não adiantando instituir do ponto de vista legal o primado da transparência quando toda a máquina é constituída por agentes opacos.
Durante muitos anos as decisões políticas pareciam sérias mas não eram. Passou-se depois para a fase em que não pareciam nem eram. Até agora, nas empresas do Estado e nas privadas, nos organismos públicos e na actividade política, o ambiente é, continua a ser, de valorização exponencial do aparente, do faz de conta, do travesti profissional que veste a farda que mais jeito dá ao capataz.
Até à chegada de Passos Coelho a ordem oficial era para apoiar, basta ver o exemplo do ex-chefe do reino socialista e dos seus vassalos, todos aqueles que às segundas, quartas e sextas elogiam o chefe, às terças, quintas e sábados o director e ao domingo esboçam elogios a quem pensam que possa vir a ser chefe , director ou primeiro-ministro.
Passos Coelho chegou, viu e mostrou que é farinha do mesmo saco. Mais uma vez, em Portugal ninguém quer saber que o “stradivarius” que julgam ter é, afinal, feito com latas de sardinha vindas do Paquistão, comprado a um chinês numa feira qualquer onde até se vende vestuário com restos de roupa dos hospitais portugueses.
Pelo meio deste circuito aparecem sempre os sipaios que acalentam a esperança de um dia serem chefes de posto e que, no cumprimento de ordens superiores, passam ao papel tudo o que o chefe manda, mesmo que no lugar da assinatura tenham de pôr a impressão… digital.
Sem comentários:
Enviar um comentário