O presidente da República de Portugal confia, diz ele, na "maturidade cívica" dos portugueses, que estão dispostos a mudar de rumo "com realismo", apelando à diáspora para que apoie o esforço que está a ser feito pelos "irmãos de Portugal".
Eu bem gostava de o ouvir falar na Lusofonia e não só na diáspora. Mas essa é outra luta em que os portugueses não estão interessados. Para eles, ou é a Europa ou o fim do mundo. E se é isso que eles querem…
"Tenho confiança na maturidade cívica dos portugueses, que compreenderam a gravidade da situação do país e estão dispostos a mudar de rumo, com realismo e sentido patriótico", afirmou Cavaco Silva no jantar do Portuguese-American Leadership Council of de the United States (PALCUS), em Washington.
"Apelo à diáspora portuguesa que apoie o esforço que está a ser feito pelos seus irmãos de Portugal, quer investindo em Portugal, ou adquirindo bens portugueses, quer exercendo a prestigiada influência de que dispõe junto dos empresários e dos investidores norte-americanos. Estou certo de que Portugal pode contar convosco", frisou.
O chefe de Estado deixou a garantia da determinação de Portugal em prosseguir o esforço que está a ser feito para cumprir o "ambicioso programa de ajustamento orçamental e de reformas estruturais" que foi subscrito com a 'troika'.
"Existe na sociedade portuguesa um amplo reconhecimento da necessidade de prosseguir esse esforço, apesar dos sacrifícios que daí decorrem", reforçou Cavaco Silva.
E que as autoridades portuguesas estão determinadas, isso estão. Como se já não bastasse entrarem nos bolsos dos escravos portugueses, resolvem todos os dias pô-los de pernas para o ar, numa voraz sofreguidão para ver se não há nenhum cêntimo escondido nas dobras das calças rotas.
Num cenário que já ultrapassa os 800 mil desempregados, com 20% da população já a viver sem comer e outros 20% a viver com o espectro da fome a bater à porta, os donos de Portugal continuam determinados a mostrar que para os portugueses serem burros só lhes falta as penas.
Se eles, os donos do reino, entendem que devem roubar os milhões que têm pouco, ou nada, para dar aos poucos que têm milhões, se o povo aceita isso impávida e serenamente, então o caminho é mesmo o do norte de África.
Para além de tudo (impostos e mais impostos, desemprego e mais desemprego, miséria e mais miséria) os donos do reino tratam os cidadãos como uma casta menor, intelectualmente estúpida e, por isso, digna do estatuto de escravos.
Justificar, como o fez na sua habitual “câmara lenta” o ministro das Finanças, que "a esmagadora maioria dos países da União Europeia paga a electricidade à taxa máxima de IVA", é também uma forma de dizer aos consumidores que são uma cambada de burros.
Tão burros que, pensará o super-ministro, nem sabem que o seu nível de vida é dos mais fracos dessa mesma Europa.
Mas será que os portugueses aceitam continuar a ser “um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice”?
Será que os portugueses “já nem com as orelhas são capazes de sacudir as moscas” porque são “um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta”?
Será que os portugueses vão continuar a aceitar “uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não discriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro”?
Será que os portugueses vão continuar a aceitar “um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País”?
Se calhar vão. Quando a barriga está vazia, até um prato de farelo parece a mais sublime iguaria.
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