quinta-feira, novembro 30, 2006

Entre uma visão do futuro e o futuro de uma visão

"África é para nós uma prioridade indiscutível. Desde o início do meu governo, visitei 17 países africanos e recebi 15 líderes da região, além de ter reaberto 12 embaixadas".

“A nossa forma de abordar o relacionamento com África deve basear-se no realismo. Embora admitindo que temos interesses nem sempre convergentes, está ao nosso alcance aproveitar as áreas onde todos podemos beneficiar, sincronizar a ajuda ao desenvolvimento, coordenar esforços e compreender, afinal, a inevitável complementaridade entre a Europa a África. Assim se consolidará uma parceria voltada para o progresso e a compreensão mútua entre os dois continentes”.

A primeira afirmação é concreta e directa. A segunda divaga sobre o sexo dos anjos. Uma revela a visão do futuro e a outra o futuro de uma visão.

Uma, a primeira, pertence a Lula da Silva e outra a um secretário de Estado do Governo português.

Por outras palavras, uma pertence a um país que tem futuro e a outra um que soçobra no complexo primário e primata de um governo liderado por alguém que se caracteriza por possuir membros com cinco dedos, duas mãos preênseis, dentição completa e cérebro complexo.

A importância da aparência numa sociedade rasca

A sociedade portuguesa, certamente como algumas outras, é o que é e sempre que julgo que está a mudar concluo (erro meu, é óbvio) que o faz para pior. Ou seja, vive de aparências, de rótulos, de embalagens, de coisas acessórias. O essencial fica adiado. Alguém há-de pagar a factura.

Um dia destes enviei um mail a um reputado sociólogo português. A resposta foi simples: “Lamento mas é impossível”. Nada mais incisivo ou, como por vezes se diz, curto e grosso.

Apesar de a resposta ser curta, o mail era longo. E porquê? Porque lá vinha Dr. fulano de tal, Senior Research Coordinator, Chairman of the Academic Board, Institute of Social Sciences, University of Lisbon etc. etc..

Recordo-me de há muitos anos, talvez uns 35, o meu pai ter recebido uma carta de um dos mais poderosos homens da Angola de então, que terminava assim, só assim: “Receba um abraço do Manuel Vinhas”.

Como são diferentes os tempos e as modas. Permitam-me relembrar uma outra história, mais ou menos da mesma altura. Um familiar meu chegou a Nova Lisboa (Huambo) ido de Portugal e, poucos dias depois, foi ter connosco ao Himalaia, um dos muitos bares (ou cafés, como por cá se diz) da cidade. Na mesa estavam cinco pessoas. Sentou-se, bebeu umas Cucas, conversou.

Ao outro dia quis saber mais exactamente quem estava na mesa. “Não é possível”, comentou num misto de espanto e receio. “Mas não se notava nenhuma diferença”, confessou.

Pois não. Não havia diferenças. E quem estava na mesa? Para além de mim, o meu pai (marceneiro), o David (pintor de construção civil), o Marques (engenheiro) e o Figueiredo (engenheiro e director da Cuca, de Nova Lisboa).

Por cá a sociedade é bem diferente. Uma asneira de todo o tamanho dita por Herman José é uma excentricidade, mas se dita por um merceeiro é uma má educação. Um péssimo texto escrito por Margarida Rebelo Pinto é uma obra-prima, um brilhante texto redigido pelo Zé dos Anzóis é um atentado.

E, se assim é, assim seja (até um dia).

quarta-feira, novembro 29, 2006

Só é derrotado quem desiste de lutar

"É evidente que homens desta estirpe, com um jornalismo baixo e rastejante, não terão lugar (no NL). São pessoas que não só não sabem criticar, como são vazios, nulos de ideias", afirma João Preto num comentário feito à minha última crónica publicada n '"O Arauto" com o título "Ninguém nos cala e a luta continua!"

Por Jorge Eurico
In: O Arauto


E como ninguém me cala e a luta continua (nem que seja de derrota em derrota até à vitória final!), permitam-me a Vossa indulgência para dizer que não é a primeira vez, nem a segunda e muito menos a terceira, que João Preto, "advogado" do Menos Pão Luz e Água e destacado patrulheiro de alguns artigos repescados e publicados pelo Club-K, desfere ataques virulentos contra mim e demais companheiros que durante horas, dias, semanas, meses e anos emprestaram o seu (modesto) concurso ao Notícias Lusófonas.

João Preto, que também pode ser branco ou mulato, tem insinuado bastas vezes que sou um sectário, a soldo de instituições contrárias às ideias do "arquitecto da paz" e do Menos Pão Luz e Água, obcecado pela política do "bota-abaixo" em relação ao suposto esforço que, desde o dia 22 de Fevereiro de 2002, o Governo tem feito para melhorar a vida dos angolanos.

É evidente que reconheço e respeito o Direito que assiste a João Preto de (des) dizer o que lhe dá na telha sobre aquilo que como angolano (no pleno gozo dos meus direitos civis e políticos) e jornalista acho por bem trazer publicamente à colação. João Preto tem, pois, todo (e mais algum) Direito de emitir a sua opinião. Reconheço-o, mas não o respeito.

A sua opinião é imerecedora do meu esguardo pelo facto dele, qual menino com o rabinho enfiado entre as pernas, esconder-se de forma timorata por detrás de um nome fictício, João Preto.

Neste aspecto, permitam-me a imódestia, sou ( tomo a liberdade de incluir os nomes de Orlando Castro, Eugénio Almeida e Fernando Casimiro) diferente por ter o defeito (e por isso já sofri e ainda sofro represálias silenciosas quer en Luanda quer em Lisboa) de assumir o que digo (escrevo). Assumo por que assim fui educado e, por outro lado, tenho nome, chipala, endereço, telefone... e correio electrónico.

Aliás, diz a Dona Maria Helena, a minha mãe, que só devemos terçar armas ou trocar argumentos com homens que... os têm no lugar, que dão a cara e que mostram que são verdadeiros homens, com H maiúsculo.

O Acordo de Alvor e Almeida Santos

O Acordo de Alvor, que há 31 anos permitiu a (in)dependência de Angola e previa a paz na antiga colónia portuguesa, representa para António Almeida Santos, um dos signatários, apenas "um pedaço de papel" que "não valeu nada".

Este político socialista, que defende ideais de Esquerda mas prefere viver á Direita, tem razão.

Almeida Santos, tal como a restante equipa portuguesa, sabia à partida que o Acordo de Alvor só valeria se o MPLA não ficasse no Poder. Como ficou...

O dirigente socialista, que a 15 de Janeiro de 1975 era ministro da Coordenação Interterritorial e integrava a delegação portuguesa que assinou com os líderes dos três movimentos de libertação de Angola o Acordo de Alvor, no Algarve, refere que, assim que viu o documento, soube que "aquilo não resultaria".

Nem a idade faz Almeida Santos falar verdade. “Aquilo não resultaria”, como não resultou, porque Portugal viciou as regras do jogo no sentido de dar o Poder a uma das partes.

Se o valor do Povo português se medisse pelo nível dos políticos portugueses que assinaram o Acordo de Alvor, não há dúvidas de que Portugal há muito era uma província espanhola (como para lá caminha agora).

"Do Acordo de Alvor sou apenas um escriba, não sou mais do que isso", diz Almeida Santos (Ministro da Coordenação Territorial em quatro governos provisórios, ministro da Comunicação Social, da Justiça, ministro de Estado, candidato a primeiro-ministro, presidente da Assembleia da República) mentindo mais uma vez ao dizer que Portugal não teve outra alternativa, senão assinar por baixo.

Para mim, Almeida Santos é mais um dos muitos políticos que traiu, na circunstância, muitos portugueses e muitos angolanos, desonrando a Pátria que dele fez um alto dirigente.

Mas de uma coisa Almeida Santos pode estar certo: - nunca será amaldiçoado pelos portugueses e pelos angolanos que amam Angola.

Todos eles detestam estar em longas filas.

Foto: Almeida Santos e Eduardo dos Santos

Embaixador brasileiro defende
a cultura como motor da língua

O embaixador do Brasil junto da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, Lauro Moreira, defendeu hoje o incentivo à cultura como forma de difundir a língua portuguesa. "Ao desenvolver a cultura, nós estaremos, obviamente, promovendo a nossa língua portuguesa. Na medida em que se dinamiza a área cultural e artística, automaticamente valoriza-se a própria língua", disse à Lusa o embaixador, que participa, no Rio de Janeiro, no Fórum Mundial Cultural 2006.

Segundo Lauro Moreira, que assumiu a Missão Permanente do Brasil na CPLP em meados de Agosto, "faltam interesse e decisão política para a difusão da língua portuguesa".

Na opinião do diplomata, o Instituto Internacional de Língua Portuguesa (IILP), criado em 1989 e considerado o berço da CPLP, ainda não conseguiu arrancar.

"Talvez não tenhamos encontrado a melhor maneira de dinamizar o IILP, apesar de já estar havendo um esforço grande nesse sentido. É possível que estejamos insistindo no caminho equivocado", admitiu.

Actualmente há cerca de 220 milhões de falantes do português, a sétima língua do mundo e a terceira do Ocidente, atrás apenas do inglês e do castelhano, mas todos os países da CPLP estão de acordo em que é preciso ampliar a voz da língua portuguesa no mundo.

O embaixador observou que se fala da valorização da língua portuguesa "como se ela fosse um fim em si mesma, quando na verdade a língua é instrumento", e insistiu em que "não se pode difundir a língua sem incentivos às actividades culturais".

Na opinião do embaixador, o novo cargo diplomático criado pelo governo brasileiro para tratar exclusivamente de assuntos internos da CPLP foi um "passo inédito e pioneiro", tendo sido muito bem recebido pelos outros membros da Comunidade.

Lauro Moreira espera que a iniciativa brasileira possa ser seguida por outros países, mas reconhece a existência de "graves dificuldades em termos de recursos financeiros".

"Dificilmente países como a Guiné-Bissau, Timor-Leste e São Tomé e Príncipe vão ter a possibilidade de criar uma embaixada desse tipo em Lisboa. Mas outros países como Angola, Portugal e Moçambique podem perfeitamente fazer isso", destacou o embaixador.

Até a diarreia mata na minha cidade...

Oito pessoas, dos 37 casos registados, morreram de diarreia em alguns bairros periféricos da cidade do Huambo, durante as últimas 24 horas, segundo revelou hoje o chefe de departamento da saúde pública, Salomão Ernesto. Os casos de diarreia, segundo a AngolaPress, estão a ser registados nos bairros de Macolocolo, Rua de Comercio e Calilongue, localizados na periferia da cidade do Huambo.

Dos oito óbitos registados, três ocorreram no Hospital Central do Huambo, onde estão internados outros dez pacientes com diarreia, idos das localidades acima referidas.

"Ainda não temos a certeza da proveniência desta doença, pode ou não ser cólera, mas amostras já foram recolhidas e enviadas para Luanda para os devidos exames e tão logo cheguem teremos as provas", frisou Salomão Ernesto, sustentando que campanhas de sensibilização em termos de prevenção estão a ser efectuadas junto da população afectada e não só.

Na ocasião, o director provincial do Hospital Central, João Chicoa, deu a conhecer que nos últimos dias, o internamento de pessoas com sintomas de diarreia naquela unidade sanitária tem vindo a aumentar. De acordo com aquele responsável, estão internados 40 pacientes com diarreia, muitos deles em estado de desidratação elevada, devido o tempo que permaneceram nas suas residências.

A população local já está alarmada com a situação e muitos concluem ser mais um caso de cólera, devido às chuvas constantes que se fazem sentir nesta região do planalto central de Angola.

O surto da cólera foi declarado pela primeira vez em Angola a 13 de Fevereiro último, no bairro de Boavista, em Luanda. Na província do Huambo até o principio de Maio do ano corrente estavam notificados 13 casos dos quais três resultaram em mortes. Os casos foram registados nos municípios do Ukuma, Caala, Longonjo, Londumbali e na comuna de Alto-Hama (Londuimbali).

Países lusófonos são parentes pobres

Alguma comunicação social portuguesa continua a pensar que o horizonte da Lusofonia é algo opaco, aqui e acolá translúcido. Transparente só o é – em termos de notícia – quando se torna tenebrosamente negro. Vai daí, o Tadjiquistão é mais importante que a Guiné-Bissau, o Quirguistão mais relevante do que São Tomé e o Uzbequistão mais interessante do que Cabo Verde. Ou seja, que se lixem os que falam português. Na moda estão os que falam, por exemplo, tadjique. Tão simples quanto isso.

Aliás, não deve ser difícil de provar (digo eu) que a comunidade oriunda do Tadjiquistão é, em Portugal, muito mais importante do que a guineense. Tal como todos sabem quem é Emomali Rahmonov e não fazem ideia de quem é Nino Vieira. Tão simples quanto isso.

Só os estúpidos (onde, naturalmente, me incluo) é que podem pensar de maneira diferente, é que podem pensar (se é que pensam) que falar dos países lusófonos deveria ser um imperativo nacional. Tão simples quanto isso.

De facto, bem vistas as coisas, que interessa aos portugueses saber que o crescimento económico de Angola deve este ano atingir os 25%, contra os 14% de 2005? Ou que a produção petrolífera deve subir para mais de dois milhões de barris por dia em 2007?

De facto, bem vistas as coisas, que interessa aos portugueses saber que o mercado angolano cresce 30 vezes mais depressa do que o português, que tem 1,2467 milhões de quilómetros quadrados e que é o 22.º país do mundo em extensão territorial?

De facto, bem vistas as coisas, que interessa aos portugueses saber que entre 2000 e 2004 as exportações portuguesas para Angola cresceram 16%, que em 2005 o volume de negócios foi de 622 milhões de euros e que nesse ano Lisboa comprou a Luanda produtos no valor de 24 milhões de euros, quando em 2001 tinham sido 127 milhões?

De facto, bem vistas as coisas, que interessa aos portugueses saber que o seu país vende para Angola 28 milhões de euros de cerveja, 25 milhões de euros de vinhos, 20,6 milhões de euros de aparelhos eléctricos e electrónicos e 20,1 milhões de euros de enchidos?

Bem vistas as coisas (o que não é o meu caso) é muito mais fino e intelectualmente assertivo escrever sobre Islam Karimov (neste caso o presidente do Uzbequistão) do que sobre Eduardo dos Santos. Tão simples quanto isso.

terça-feira, novembro 28, 2006

Coisa do arco-da-velha entre
os bons e os maus jornalistas

Paulo Baldaia, Chefe de Redacção do Jornal de Notícias, titular da Carteira Profissional nº 1943, afirmou num recente artigo que “está em curso uma campanha dirigida por alguns jornalistas para pressionar o Governo a não acabar com o subsistema de Saúde de que beneficiam. Ouve-se e não se acredita. Está tudo bem quando se trata de acabar com os privilégios injustificados dos polícias, dos bancários, dos funcionários públicos em geral, mas alto e pára o baile quando se trata de mexer nos privilégios dos jornalistas”

Muitos Jornalistas, curiosamente quase todos em cargos de chefia e ou direcção (o que convertido naquilo com que se compram os melões marca uma substancial diferença), estão do lado do Governo.

Nada mais natural. Aliás, se eu estivesse por mérito ou por qualquer outra razão, num desses lugares (quase sempre vitalícios em termos de remuneração) talvez defendesse a mesma tese. Não é certo que fizesse, mas admito a dúvida.

”Os representantes do Sindicato, da Caixa dos Jornalistas e da Casa da Imprensa juntaram-se num programa de televisão, chamado Clube de Jornalistas, no canal 2 da RTP, para uma emissão de propaganda que os devia envergonhar”, escreveu Paulo Baldaia, acrescentando que foi “uma hora a desancar no Governo com pura demagogia, incluindo o jornalista que era suposto ser o moderador. Sem ninguém para o necessário contraditório”.

Fala quem sabe, presumo. Diz o Paulo Baldaia que os defensores da Caixa dos Jornalistas (onde me incluo) “alegam, por exemplo, que os jornalistas são uma classe mal paga. Esquecendo que 10% da população ganha menos de 500 euros. Esquecendo que os centros de saúde e as consultas nos hospitais estão carregados de gente que vive a contar os tostões”.

Tem razão. Aliás, se eu estivesse por mérito ou por qualquer outra razão, num desses lugares (quase sempre vitalícios em termos de remuneração) talvez defendesse a mesma tese. Não é certo que fizesse, mas admito a dúvida.

Paulo Baldaia termina dizendo que “o que é preciso é que o Serviço Nacional de Saúde seja melhor para todos os portugueses e isso só se consegue poupando nos subsistemas que tanto agradam aos que deles beneficiam - eu e restantes jornalistas incluídos”.

E para que o Serviço Nacional de Saúde seja melhor, nada mais adequado do que o nivelar por baixo. Ou seja, o que importa não é acabar com os pobres mas, isso sim, com os ricos. Não havendo ricos... seremos todos iguais – pobres.

Uns mais pobres do que outros, é certo. Tal como os jornalistas. Uns ganham (várias) centenas de contos por mês e a maioria pouco mais de uma centena. E ainda há os que não ganham nada. Sendo que a maioria e estes últimos são, é claro, um paradigma de uma classe privilegiada.

segunda-feira, novembro 27, 2006

Club-k ou o gato escondido com o rabo de fora?

O Clube dos Angolanos no Exterior, Club-k, tem toda a legitimidade para publicar o que bem entende. Duvido, contudo, que tenha legitimidade para (sem qualquer explicação plausível) retirar textos que deu à estampa.

O Alto Hama tem merecido algumas honras de reprodução neste espaço lusófono dos angolanos, o que agradeço. Do mesmo modo agradecia que me explicassem a razão pela qual o artigo «A lição e o exemplo de Lukamba Gato» esteve em linha, foi comentado e pouco depois retirado.

Por uma questão de credibilidade e transparência, seria bom que o Club-k dissesse de sua justiça. Se possível falando verdade.

Foram razões técnicas? Pressões políticas internas (dos membros do Club)? Pressões políticas externas (Direcção da UNITA, do MPLA)? Pressões de influentes comentadores (João Preto, Artur Queirós etc.)?

Adenda: Depois deste texto e dos comentários críticos sobre o assunto colocados no Club-k, o artigo "ressuscitou". Ainda bem.

Xanana afirma que a FRETILIN
hipotecou a soberania de Timor

A direcção da FRETILIN, partido no poder em Timor-Leste, hipotecou a soberania nacional, acusou hoje em Díli o Presidente da República timorense, Xanana Gusmão. A acusação está contida na última de quatro partes do texto "As Teorias da Conspiração", em que Xanana Gusmão rebate o conteúdo de um documento recentemente divulgado pelo Comité Central daquele partido, denominado "Análise da Situação e Perspectivas".

Mantendo o tom irónico utilizado nos anteriores textos, publicados na imprensa timorense nas duas línguas oficiais, português e tétum, Xanana insiste no ataque directo à FRETILIN e à direcção eleita no II Congresso, realizado em Maio passado, questionando novamente a sua legitimidade.

Mas, reportando-se à crise político-militar iniciada em Abril, Xanana acusa o secretário-geral, Mari Alkatiri, o presidente, Francisco Guterres "Lu- Olo", o vice-presidente, Rogério Lobato, e o militante histórico Roque Rodrigues "de terem hipotecado a soberania do país".

"Quem hipotecou a soberania? Só os ilustres doutores da FRETILIN é que devem responder a esta pergunta! E eu posso ajudar. Foi o vosso camarada Presidente, senhor Lu-Olo, foi o vosso camarada secretário-geral do partido, Dr. Mari Alkatiri, foi o vosso camarada vice- presidente do partido, Sr. Rogério e o vosso camarada Dr. Roque Rodrigues. Eles hipotecaram a soberania do país", destaca.

Tão amigos que eles foram... até que os australianos resolveram dar um ar da sua graça.

Alda Sachiambo (UNITA) põe o dedo na ferida

"Vivemos num país em que o parlamento está caduco e o presidente da República nunca foi eleito. Que democracia é esta em que o povo não escolhe os seus representantes e os que estavam no poder durante a guerra se eternizam nos cargos?", questionou, sem disfarçar a indignação que sente, Alda Sachiambo, secretária provincial da UNITA no Huambo em entrevista ao Jornalista Natal Vaz, da Lusa.

"A guerra civil terminou e entrámos numa nova fase - a construção da paz, um processo muito lento, que já se arrasta há quatro anos e meio", lamentou a secretária provincial da UNITA no Huambo, que acusa os "radicais do MPLA de se assumirem como donos do país, pouco empenhados na construção de um futuro de democracia e desenvolvimento para Angola".

Pegando no caso do Huambo, a cidade de Angola mais destruída pela guerra, considerou que "se devia e podia ter feito mais".

"É ver a velocidade a que se investe em cidades como Luanda, a capital, para chegar à conclusão que ficámos de fora. Não há políticas para recuperar o interior de Angola e é curioso que o Huambo, a segunda maior cidade do país tenha ficado à margem do Campeonato Africano das Nações (CAN) de 2010", contou, com mágoa.

Mas há mais queixas. A reinserção dos antigos militares da UNITA está muito atrasada e há muita intolerância política, no Huambo e no resto do país. Relatou diversos incidentes registados na província do Huambo, onde os militantes da UNITA têm dificuldades em arranjar uma sede, lançar campanhas ou promover actividades para os seus militantes.

"Colocar uma bandeira da UNITA numa sede pode desencadear incidentes com as gentes do MPLA e levar à intervenção das forças de segurança, que já chegaram a disparar para obrigar as pessoas a dispersar", disse, acrescentando que "alguns administradores (municipais e comunais) do MPLA ainda pensam que estão no tempo do regime de partido único".

Segundo denunciou a dirigente da UNITA, ainda recentemente houve uma pessoa baleada numa perna porque estava numa actividade partidária na aldeia de Nduluu-Epanda, da comuna de Hengue, município do Bailundo.

"Muitas destas ocorrências remetemos para a direcção do partido, em Luanda, porque se tentarmos uma solução local, nada avança por causa da burocracia.Nunca se chega a nenhuma conclusão", protestou.

"O MPLA tem de saber que precisa de contar com a UNITA para virar a página da guerra", defendendo que o partido agora liderado por Isaías Samakuva tem de se mobilizar e participar na preparação das eleições.

"À partida sentimos que o processo está um pouco viciado, porque o MPLA quer arbitrar e jogar ao mesmo tempo. Temos de estar representados a todos os níveis para defendermos as nossas posições e acautelar que o processo decorra com dignidade. Queremos eleições em 2007. Depois, pode ser demasiado tarde", concluiu.

sexta-feira, novembro 24, 2006

A lição e o exemplo de Lukamba Gato

Ao que consta, o meu velho amigo e companheiro Lukamba Gato vai tentar conquistar a liderança da UNITA durante o X congresso do partido, em 2007, onde deverá enfrentar o actual presidente, Isaías Samakuva, e o sempre candidato Abel Chivukuvuku.

"Venceu a democracia, venceu a UNITA e venceu Angola", sublinhou Lukamba Gato, depois da esmagadora vitória de Samakuva (1067 votos contra 277), acrescentando que aquele Congresso iria marcar uma nova fase no desenvolvimento de Angola.

Gato, que desde a morte em combate, em Fevereiro de 2002 do presidente da UNITA, Jonas Savimbi, assumira o comando do partido até alguns dias antes do IX Congresso, salientou na altura que a democratização da UNITA afigurava-se como um instrumento para participar activamente no exercício em que "estamos todos engajados no quadro das mutações políticas, sociais e económicas em curso no país".

Neste sentido, Lukamba Gato apelou aos seus correligionários para trabalharem em estreita cooperação e colaboração com a nova direcção do partido de forma a restituir a unidade e a coesão à UNITA.

Recordou que depois da morte de Jonas Malheiro Savimbi, muitos haviam vaticinado a extinção da UNITA como partido político, acrescentando que isso não aconteceu graças à perspicácia dos seus militantes.

Será que depois do próximo Congresso, o candidato derrotado também dirá "Venceu a democracia, venceu a UNITA e venceu Angola"?

Esperemos que sim. Para bem da UNITA mas, sobretudo, para bem dos Angolanos.

Governo transforma os jornalistas em salsicheiros
- Bendito seja senhor primeiro-ministro Sócrates!

«Com a massificação dos meios audiovisuais, a multiplicação dos meios de expressão nas novas redes digitais e a convergência de tecnologias, mercados, serviços e equipamentos, a comunicação social constitui hoje um sistema de produção e difusão de informação e de conhecimentos de enorme influência social», afirma o Governo do capataz José Sócrates no seu programa.

Será por isso que o Governo do capataz José Sócrates quer transformar os Jornalistas em salsicheiros (sem desprimor para estes)?

«Da imprensa à televisão e aos blogues, a comunicação social percorreu um longo percurso - da raridade à abundância, do monopólio à concorrência. Hoje, perante novos desafios, a comunicação social enfrenta no nosso País dificuldades decorrentes, nomeadamente, das limitações do mercado publicitário, da ausência de hábitos de leitura, da insuficiência da indústria audiovisual, da fragilidade da regulação, da governamentalização e da insuficiente afirmação do papel dos serviços públicos de rádio e de televisão», afirma o Governo do capataz José Sócrates no seu programa.

Será por isso que o Governo do capataz José Sócrates quer transformar os Jornalistas em salsicheiros (sem desprimor para estes)?

«Importa garantir que a comunicação social constitua um efectivo instrumento de informação e de formação livre e plural na sociedade portuguesa. Para isso, é necessário promover uma política para o audiovisual assente num sistema de regulação independente e eficaz dos media, num serviço público de televisão forte e credibilizado no quadro de um sistema dual equilibrado e numa indústria de conteúdos dinâmica, criativa e economicamente sustentável», afirma o Governo do capataz José Sócrates no seu programa.

Será por isso que o Governo do capataz José Sócrates quer transformar os Jornalistas em salsicheiros (sem desprimor para estes)?

«Em nenhuma circunstância a liberdade de informação pode ficar refém de interesses económicos ou políticos. A concentração da propriedade dos media pode pôr em causa o efectivo pluralismo e a independência do serviço público de informação», afirma o Governo do capataz José Sócrates no seu programa.

Será por isso que o Governo do capataz José Sócrates quer transformar os Jornalistas em salsicheiros (sem desprimor para estes)?

«Importa, por isso, impedir os excessos de concentração e os abusos de posição dominante, promover a transição para as tecnologias digitais de difusão, estimular a co- e a autoregulação do sector, enquanto instrumento de salvaguarda da dignidade humana, dos direitos da personalidade e da isenção e rigor informativos, assegurar os direitos dos jornalistas e o cumprimento das respectivas regras deontológicas, fortalecer o tecido empresarial da comunicação social, designadamente nos planos local e regional, apoiar a investigação sobre temas do sector e estabelecer formas de cooperação e parceria com os países e comunidades lusófonas», afirma o Governo do capataz José Sócrates no seu programa.

Será por isso que o Governo do capataz José Sócrates quer transformar os Jornalistas em salsicheiros (sem desprimor para estes)?

quinta-feira, novembro 23, 2006

Capataz Sócrates quer açaimar os Jornalistas
(a bem da Nação, como diria Oliveira Salazar)

A presidente da Caixa dos jornalistas, Maria Antónia Palla, afirmou ontem na RTP2, no programa do Clube dos Jornalistas, que o secretário de Estado da Saúde, Francisco Ramos, desconhecia a ligação da Caixa de Previdência e Abono de Família dos Jornalistas (CPAFJ) com a Casa da Imprensa.

Não sabia, como não sabe muitas outras coisas, mas o desconhecimento não é importante, segundo a teoria socratiana (de José Sócrates, primeiro-ministro de Portugal). Importante, importante mesmo é dar cabo dos Jornalistas, custe o que custar.

O secretário de Estado diz que o subsistema de saúde dos jornalistas custa ao Estado cerca de 3 milhões de euros por ano. Esqueceu-se, conforme instruções do capataz Sócrates, que o actual subsistema dos jornalistas é mais barato para o Estado do que se passarem todos a ser atendidos no Sistema Nacional de Saúde. A caixa dos jornalistas tem cerca de 5.000 beneficiários e estima que cada um gaste, através do subsistema de saúde, 385 euros por ano.

A CPAFJ faz parte do património dos jornalistas, não como um privilégio de classe, mas como um patamar de qualidade e de direitos que, não sendo o melhor que se poderia desejar, deveria constituir uma referência para todos os trabalhadores, pois a qualidade no apoio social e na saúde deve nivelar-se sempre por cima e nunca por baixo.

José Sócrates pensa de maneira diferente. Depois de ter comprado os jornalistas que achou necessários, de ter dado cobertura aos negócios que entendeu vitais para eliminar qualquer tipo de contestação, entrou agora na fase de arrumar os que (ainda) não se renderam.

Criada em 1943, a CPAFJ reconhece a especificidade e importância de uma actividade constitucionalmente consagrada como estruturante do Estado democrático e tem constituído, há décadas, um factor de coesão, estabilidade e estímulo para uma classe que desempenha um papel social insubstituível.

José Sócrates pensa de maneira diferente. Depois de ter comprado os jornalistas que achou necessários, de ter dado cobertura aos negócios que entendeu vitais para eliminar qualquer tipo de contestação, entrou agora na fase de arrumar os que (ainda) não se renderam.

O facto de os jornalistas disporem de um subsistema de Saúde significa que o Estado tem em conta, há décadas, as especificidades da nossa profissão, designadamente jornadas intensas e prolongadas e informalidade de horários, com fortes impactos na saúde e na qualidade de vida destes profissionais, como demonstra a significativa prevalência de stress e de doenças do foro cardíaco, desgaste rápido e até morte precoce. Esta situação agravou-se nos últimos anos, com a crescente precariedade, um extraordinário aumento dos níveis de exigência, polivalência e de disponibilidade.

José Sócrates pensa de maneira diferente. Depois de ter comprado os jornalistas que achou necessários, de ter dado cobertura aos negócios que entendeu vitais para eliminar qualquer tipo de contestação, entrou agora na fase de arrumar os que (ainda) não se renderam.

O subsistema de saúde dos jornalistas tem sido ciclicamente posto em causa, por alegado elitismo e por ser pretensamente gravoso para o orçamento da Saúde. Mas a verdade é que, não obstante os níveis de comparticipação nas suas despesas serem superiores aos concedidos à generalidade dos trabalhadores, não só se tem pago a si próprio como tem contribuído para o orçamento geral da Segurança Social.

José Sócrates pensa de maneira diferente. Depois de ter comprado os jornalistas que achou necessários, de ter dado cobertura aos negócios que entendeu vitais para eliminar qualquer tipo de contestação, entrou agora na fase de arrumar os que (ainda) não se renderam.

A existência da CPAFJ volta agora a ser posta em causa, com o Governo a pretender eliminar uma instituição paradigmática que, tendo algumas dificuldades de funcionamento, está longe de esgotar as suas potencialidades e virtualidades, podendo e devendo adaptar-se às novas realidades de uma classe em permanente mutação e com novos problemas, fruto das profundas alterações registadas no sector da comunicação social.

José Sócrates pensa de maneira diferente. Depois de ter comprado os jornalistas que achou necessários, de ter dado cobertura aos negócios que entendeu vitais para eliminar qualquer tipo de contestação, entrou agora na fase de arrumar os que (ainda) não se renderam.

Porque eles comem tudo... a luta continua.

Uma flor que só alguns sentem
(ou mukanda para os meus filhos)

Como é que se explica a um filho (no meu caso a três) que não conhece Angola, a razão porque, depois de 31 anos fora da minha terra, preciso dela todos os dias, sinto-a todos os dias, amo-a todos os dias, chamo-a para junto de mim todos os dias? Não se explica.

Por alguma razão, já lá vão os tais 31 anos, Jonas Savimbi me disse que Angola não se define – sente-se. Mas será possível aos meus filhos sentirem algo que não conhecem na alma? No coração conhecem… de tanto ouvirem o pai falar da melhor terra do mundo.

Este é, para mim, um exemplo que contraria o provérbio “longe da vista, longe do coração”. De olhos fechados vejo Angola e, por isso, ela não está longe do coração. Angola é o meu próprio coração, por muito que isso custe a quem não compreende que sentir é a melhor forma de ser digno.

Não sei se alguma vez poderei levar os meus filhos aos recantos e esquinas da minha cidade, de modo a deixá-los respirar o horizonte que cheira a infinito. Creio que seria a melhor forma de, sem palavras, explicar tudo. Explicar porque, nas madrugadas embevecidas pelo silêncio da pequenez portuguesa, respiro o choro de uma dor crónica.

Um dia, com ou sem o pai, eles acabarão por conhecer a minha (e também deles) terra. E nessa altura, mesmo sem saberem o sítio exacto onde deixei o cordão umbilical, vão respirar o silêncio, beber o infinito e dormir embalados pela certeza de que, afinal, o pai tinha razão quando chorava de saudade.

Terão, certamente nessa altura, uma lágrima no canto do olho. Uma lágrima que ao cair na terra quente de Angola fará nascer uma flor. Uma flor sem nome, uma daqueles flores que só alguns vêem, que só alguns sentem.

quarta-feira, novembro 22, 2006

Razão e “razões” da actualidade

Queria continuar a... não gostar de Salazar. Queria continuar a achar que ele era um homem mau. Que não deixava ninguém falar. Que se metia nas Redacções dos Jornais e impedia que escrevessem o que sabiam e queriam. Que não deixava que houvesse manifestações. Muito menos greves, claro. Queria... mas graças ao Governo que vamos tendo... sou levado a achar que ele, o Salazar de que tanto se fala hoje – porque será?! – tinha às vezes razão.

Por Fernando Cruz Gomes
Sol Português

E, para além disso, parecia mais puro do que muitos dos que agora se arvoram em salvadores da Pátria. E que só não tinha razão... por não ter mesmo razão. Porque este Governo, que se diz Socialista, está a toda a hora a dar-lhe razão...

No sector da Educação – o importante sector em que se prepara o futuro da Nação – surge agora a ideia de que o Estatuto da Carreira Docente vai mesmo avançar sem o acordo dos professores. Isto é, não resultaram literalmente em nada a montanha de quilómetros de manifestações, as toneladas de palavras dos Sindicatos, as discussões a jeito de conversas de surdos.

Os ministros, quando ouviram os Sindicatos foi só para... Inglês ver (neste caso, Português ver...) Seis meses depois de tudo começar, o primeiro-ministro decreta o que tem decretado até aqui: há, de facto, direito às manifestações, há direito aos Sindicatos, há direito às greves... mas é só “fumaça”. Para que surja alta e pujante a ideia da Democracia, que todos nos ufanamos de ter. Há tudo isso... mas não há a humildade necessária para mudar seja o que for. A iniciativa estava tomada? Então segue-se...

A notícia dizia apenas o seguinte: Ao fim de seis meses de discussão, nada.

O Ministério da Educação (ME) e os sindicatos de professores não chegaram a acordo em relação à revisão do Estatuto da Carreira Docente (ECD), que deverá entrar em vigor no início de 2007. E a verdade é que se reconhece – ao nível das oposições e dos sindicatos – que o Ministério não deixou vir ao de cima o mundo das sensibilidades. Em vários pontos, designadamente na avaliação passar a ser de três em três anos, nos horários da educação especial ou na avaliação de desempenho.

Coisas. Pelos vistos, o Governo ganhou em toda a linha... sem deixar que as outras partes tocassem na menina... Fez que se aproximava aos sindicatos... mas seguiu em frente, quando os viu mais ou menos aguerridos. E chega a parecer que do lado do Governo não apareceu ninguém a saber como funcionam as Escolas.

E esqueceu-se de que é “por aí”, pela Educação, que se cria o Futuro. Se juntarmos às “trapalhadas” da Educação, aquelas que se registam em vários sectores nacionais – as “trapalhadas” que surgem na Justiça e nas Finanças, por exemplo – vem-nos à ideia de que entre “proibir tudo”, como era o caso de Salazar, e o “autorizar tudo... mas sem ligar importância alguma a nada”)... somos capazes de optar, em consciência, pela primeira hipótese. Mas isto é bem capaz de ser filho de uma “mentalidade doentia”, uma asserção muito usada agora em comentários de Jornais grandes que têm direito aos milhões de euros que o Governo disponibilizou para publicar anúncios estatais.

Como dizia, há dias, o jornalista Orlando Castro, o Governo português (do Partido Socialista de José Sócrates) lidera a guerra aos Jornalistas. Depois de ter comprado os que achou necessários, de ter dado cobertura aos negócios que entendeu vitais para eliminar qualquer tipo de contestação, entrou agora (Estatuto dos Jornalistas, Caixa de Previdência) na fase de arrumar os que (ainda) não se renderam.

É um conceito real, no nosso ponto de vista. Antigamente, havia a censura. Execrável, nós sabemos. Hoje... lá pelas bandas do reino socrático, há meios mais sofisticados para atingir os mesmos fins. Uma censura mais sofisticada, em suma. Dêem-lhe outro nome, se quiserem...

Onde será que morrem por ano
mais de um milhão de crianças?

Mais de um milhão de crianças morre todos os anos em África, 800 mil das quais poderiam ser salvas se recebessem cuidados básicos, indica um relatório apresentado hoje em Joanesburgo na África do Sul.

Realizado pela Aliança Mundial para a Saúde Materna, do Recém-nascido e Criança (PMNCH, sigla em inglês) - composta por uma equipa de 60 pessoas e nove organizações internacionais - o estudo refere que 1,16 milhões de crianças morrem em África no primeiro mês de vida e 3,3 milhões antes de completarem os cinco anos de idade.

Segundo o estudo, intitulado "Oportunidade para os recém- nascidos em África", a vida de dois terços destas crianças pode ser salva através de programas que já existem, mas que não estão a ser postos em prática.

Por exemplo, no continente africano engravidam todos os anos 30 milhões de mulheres e apenas dois terços das grávidas recorrem a centros pré-natais.

O relatório refere também que só 10 por cento dessas mulheres recebem tratamento preventivo contra a malária e que a apenas 1 por cento das mães seropositivas é administrado o tratamento recomendado para impedir a transmissão do vírus da Sida aos filhos.

"Pensamos em soluções de alta tecnologia, mas em África 87 por cento dos recém-nascidos morrem devido a infecções, incluindo o tétano, complicações pré-natais e situações que se podem tratar com cuidados básicos", refere a Aliança Mundial.

Imunizar as mulheres contra o tétano, ter assistência qualificada durante o parto, tratar rapidamente as infecções dos recém- nascidos e educar a mãe nas questões de higiene são algumas das soluções propostas para baixar o nível de mortalidade infantil naquele continente.

Muitas das mortes prematuras podem ser evitadas se o bebé for, por exemplo, mantido quente em contacto com a pele da mãe.

Esta técnica, conhecida como cuidado maternal "canguru", consiste em utilizar o calor corporal da mãe nos bebés prematuros, que registam baixas temperaturas.

Salvar estas vidas custaria anualmente 1,39 dólares (1,07 euros) per capita, o que significa um total de mil milhões de dólares (773,1 milhões de euros) por ano para todo o continente.

Nigéria, República Democrática do Congo, Etiópia, Tanzânia e Uganda são os países de África onde morrem mais recém-nascidos, apesar de alguns deles terem registado alguns progressos.

Mercenários ao serviço do MPLA
também "trabalham" em Portugal (II)

«A estratégia do Mpla não é de hoje e penso que vai acentuar-se à medida que se aproximarem as eleições. Em 1992 aconteceu o mesmo e alguns boatos falavam até em 50.000 usd de despesa mensal com jornalistas portugueses. Não sei se tal foi verdade, mas que assisti em Luanda a uma competição para ver qual dos jornalistas portugueses inventava mais dislates, lá isso assisti. Mas também é verdade que alguns recusaram tal competição e fizeram o seu trabalho da maneira mais correcta (mesmo tendo vindo a sofrer por isso mais tarde).»

A afirmação, expressa num comentário ao texto anterior, é só por si esclarecedora. Terrivelmente esclarecedora se Portugal fosse um verdadeiro Estado de Direito. Mas como não é, tudo vai continuar em águas de bacalhau com o Governo actual, a exemplo dos anteriores, a cantar e a rir.

No mesmo comentário, e com toda a razão, se diz que o Governo português “estará sempre do lado do MPLA, porque os dois partidos governamentais em Portugal (PSD e PS) sempre foram bons amigos do Mpla”.

O que é curisoso é que, sabendo o que se passa, tudo continua na mesma. O Governo de Lisboa fecha os olhos, a Assembleia da República tem mais com que se preocupar, os partidos não estão interessados, os organismos ligados – neste caso – ao Jornalismo dormem na forma e tudo continua na santa (mas podre) paz do Senhor.

Até um dia. Até ao dia em que estará marcada uma conferência de Imprensa para anunciar que, pela primeira vez na história da Humanidade, Portugal criou um burro que vive sem comer...

Nota: As notícias do dia seguinte dirão que quando estava mesmo, mesmo, mesmo a aprender a viver sem comer... o burro morreu.

terça-feira, novembro 21, 2006

Mercenários ao serviço do MPLA
também "trabalham" em Portugal

Eugénio Costa Almeida, meu amigo e Mestre lusófono do melhor que há, insurge-se no seu blog contra o facto de a Guiné-Bissau ir pedir, ou já ter pedido, a Angola que a apoie na reabilitação da sua Comunicação Social. Não é para menos. Mas, quer se queira ou não, é muito mais, mas muito mesmo, o que une Eduardo dos Santos a Nino Vieira do que o que os separa. Mas a questão é bem mais lata.

Tal como na Guiné-Bissau, também em Angola os verdadeiros Jornalistas correm o risco de terem acidentes estranhos e até de chocarem contra alguma bala. Também em Portugal (e cada vez mais) correm o mesmo risco. Mas a estratégia do MPLA, perante a passividade da UNITA (o único partido da oposição que deveria aspirar ao poder), vai muito mais longe.

Tem-se falado no recrutamento de mercenários da imprensa em Portugal para, em Luanda, ajudarem a silenciar uns tantos e a manter no poder os que já lá estão há 31 anos.

No entanto, pouco se tem falado da actividade do MPLA/Governo de Eduardo dos Santos directamente em Portugal onde, neste caso perante a passividade do Governo português, contrata mercenários da imprensa para, em Portugal, ajudarem a silenciar uns tantos que teimam em ser livres.

Porque razão os eventos levados a cabo pela actual Direcção na Casa de Angola em Lisboa não são noticiados por grande parte da imprensa portuguesa? Porque razão nem mesmo a RTP/África os noticia?

Porque razão grande parte da imprensa portuguesa tem supostos especialistas em assuntos angolanos que, afinal, são meros propagandistas das verdades oficiais, muitos deles com, no mínimo íntimas, ligações ao MPLA?

Porque razão grande parte da imprensa portuguesa veta (é óbvio que por “razões” legais, funcionais e uns tantos outros ais) os Jornalistas que querem escrever sobre a outra face do Governo de Luanda?

Porque razão os portugueses são obrigados a comer as verdades oficiais do Governo de Luanda sem que, em Portugal, se diga, mostre e prove (o que não é nada difícil) que a ditadura de Eduardo dos Santos só interessa aos poucos que têm milhões e não aos milhões que têm pouco ou nada?

Na minha opinião, o MPLA domina (por força do dinheiro com que compra quase tudo e quase todos) grande parte da imprensa portuguesa. Não por dominar as empresas jornalísticas mas, isso sim, por ter nas mãos alguns mercenários que estão em estratégicos postos de comando.

Mercenários bem pagos (é claro!) e que quando vão a Luanda (à Luanda de Eduardo dos Santos, que não à do Povo) ficam nos melhores hotéis, comem do melhor, bebem do melhor e até têm das melhores companhias.

segunda-feira, novembro 20, 2006

Chorei na madrugada

A noite bateu,
no fundo
e descalçou
a minha alma.
Chorei ao som
da madrugada.
A escuridão iluminou
o sonho
e a respiração
gaguejou lenta
como um arco-íris
monocromático.


(Acordei. Afinal não estava na minha terra)

domingo, novembro 19, 2006

Sete milhões de crianças não completam um... ano

Onze milhões de crianças com menos de cinco anos morrem anualmente devido à pobreza e sete milhões delas não chegam a completar um ano, denunciaram hoje várias Organizações Não Governamentais (ONG) espanholas.

A grande maioria situa-se em África e muitas delas falariam português se não morressem antes de aprenderem a falar.

Os dados são divulgados na véspera de mais um aniversário da aprovação da Declaração Universal dos Direitos das Crianças, em 1959, e da Convenção sobre os Direitos das Crianças, em 1989, pela Assembleia-Geral da ONU, data escolhida por alguns países para assinalar o dia mundial da criança.

A associação Ajuda em Acção recorda que os membros das Nações Unidas se comprometeram na Cimeira do Milénio, em 2000, a reduzir em dois terços a mortal idade infantil até 2015, o que, segundo a ONU, está muito longe de ser alcançado .

Segundo esta organização não governamental, todos os dias morrem mais de 30.000 menores de cinco anos, ou seja, 11 milhões de mortes anuais. Muitos deles falariam português se não morressem antes de aprenderem a falar.

Setenta por cento destas mortes devem-se a subnutrição e doenças que em países ricos são facilmente debeladas, como doenças respiratórias, diarreias ou malária.

Por seu turno, a ONG Mãos Unidas assegura que sete milhões de crianças não chegam a celebrar o seu primeiro aniversário e que no mundo existem 15 milhões de órfãos devido à Sida, a maioria na África subsaariana.

Muitas delas falariam português se não morressem antes de aprenderem a falar.

A organização sublinha ainda o facto de 130 milhões de crianças não ire m à escola, de 82 milhões de meninas perderem a sua infância devido a matrimónios precoces e de 246 milhões de crianças trabalharem, 72 milhões das quais antes de atingirem os 10 anos.

Muitas delas falariam português se não morressem antes de aprenderem a falar.

Médicos Sem Fronteiras
obrigados a deixar Angola

Os Médicos Sem Fronteiras (MSF), que trabalham em Angola há 23 anos no apoio ao governo na área da saúde, decidiram abandonar o país por fases. Os belgas e espanhóis da deixam o país já no próximo mês de Dezembro, os suíços em Março do próximo ano e os holandeses até Junho, segundo notícia do Correio da Manhã.

Quer isso dizer que Angola tem já capacidade para assumir o nobre trabalho que estava a ser desenvolvido pelos MSF? Não.

“Desde que a guerra acabou, sentimos menos apoio por parte de algumas entidades angolanas. As dificuldades aumentaram e daí que decidimos sair”, afirmou a responsável dos MSF da Holanda, Erna Vangoor.

Medite-se num exemplo: As autoridades sanitárias angolanas registaram mais de 910 mil casos de malária em crianças entre Janeiro e Dezembro de 2005, das quais 4.446 acabaram por morrer em consequência da doença.

“Demos por terminada a nossa missão de emergência humanitária. Agora cabe ao Governo de Angola, país rico em diamantes e segundo maior produtor de petróleo em África, responsabilizar-se pela saúde do povo, apesar de haver muita falta de serviços, de medicamentos e de infra-estruturas”, esclareceu a responsável dos MSF.

Por outras palavras, segundo a mesma responsável dos Médicos Sem Fronteiras, “a retirada vai criar mais problemas às populações, particularmente agora com o recrudescer da cólera”.

É exactamente isso. Os poucos que têm millhões vão continuar a tratar-se nos melhores hospitais do mundo, os milhões que têm pouco, ou nada, vão continuar a morrer famintos nas esquinas do segundo maior produtor de petróleo em África.

Eugénio Costa Almeida pergunta se Angola vai receber, para resolver a saída dos MSF, mais brasileiros e chineses, acrescentando que “se forem médicos venham eles porque curandeiros e kimbandas temos bons e com fartura!!”.

O ministro da Saúde, Sebastião Veloso, sabe a resposta mas não pode responder. Aliás, basta ver o orçamento que (não) tem. Além disso, se quiser olhar para o povo, corre o sério risco de ser demitido por sua excelência o rei José Eduardo dos Santos.

sábado, novembro 18, 2006

“Comam e calem”, diz e manda dizer
José Sócrates, o capataz do Governo

“Esteja calado e ouça”, disse o primeiro-ministro de Portugal (de que outro país poderia ser?) ao deputado Nuno Melo do CDS/PP. Da próxima, até porque gosta de ser criativo, José Sócrates dirá “coma e cale”. E como oportunidades não faltam, um dia destes ouviremos o chefe do governo de Portugal (de que outro país poderia ser?) dizer : “Eu quero, eu posso, eu mando”.

Mas, o mais grave é que a tese do autocrático (há muito que deixou de ser simples arrogância) José Sócrates está a fazer escola.

Sobejam os exemplos na vida política, empresarial, social (ou qualquer outra) dos que se põem em bicos de pés para, nem sempre usando de um poder legitimiado pela escolha popular, mandar calar os outros, retirando-lhes um dos mais elementar direitos – o de terem direito de opinião.

Por vias indirectas, mas quase todas com o rabo de fora, o Governo de Portugal (de que outro país poderia ser?) está a criar na sociedade verdadeiros arautos da verdade absoluta (que já não é socialista mas, isso sim, socrática) e que, cada vez mais, vão alternando o “ouça e esteja calado” com o “esteja calado e ouça”.

Alguns vão acrescentando, seguindo o espítiro criativo do chefe, “esteja calado e ouça... se quer comer”.

Em Portugal (de que outro país poderia ser?) esta praga domina de tal forma os diferentes poderes que, sinceramente, começo a pensar que mesmo não ouvindo o melhor é estar calado.

Aliás, como diz o meu merceeiro recordando-me uma história já velha deste Portugal (de que outro país poderia ser?), nada melhor para não errar do que nada fazer. Ou seja, estar calado e ouvir, comer e calar porque, afinal, “eles querem, podem e mandam”.

E que querem, querem. E que podem, podem. E que mandam, mandam.

Não admira, por isso que em Portugal (de que outro país poderia ser?) sejam cada vez menos os que se acham no direito de ter e de manifestar uma opinião diferente da do chefe.

Até eu que tenho um grave “defeito” de fabrico, o de ser o que sou e não o que os outros querem que eu seja, moldado nas terras de gente boa (Angola), fui ao arquivo recuperar a proposta de militante que um amigo do Partido Socialista de Portugal (de que outro país poderia ser?) me enviou...

Nota: Este texto foi publicado no Notícias Lusófonas a 1 de Junho de 2006. Repito-o porque acabo de receber desse mesmo amigo do PS (a propósito dos últimos artigos sobre os Jornalistas) o aviso “vê se moderas as críticas”...


E os culpados de todos os males
são (obviamente) os Jornalistas

No dia 8 de Outubro, a propósito do assassinato da jornalista russa Anna Politkovskaia, escrevi que Putin e companhia não estavam com meias medidas: Quando ouviam falar de Jornalistas pegam logo na pistola. Pegavam e utlizavam. Em Portugal, as coisas são diferentes. Os Jornalistas morrem de forma mais subtil.

Uns são comprados (viram assessores, consultores etc.), outros silenciados (prateleiras) e outros vão para o desemprego. Não morrem fisicamente (pelo menos por enquanto) mas vêem a dignidade ir desta para melhor.

O Governo português (do Partido Socialista de José Sócrates) lidera a guerra aos Jornalistas. Depois de ter comprado os que achou necessários, de ter dado cobertura aos negócios que entendeu vitais para eliminar qualquer tipo de contestação, entrou agora (Estatuto dos Jornalistas, Caixa de Previdência) na fase de arrumar os que (ainda) não se renderam.

Assim, pelas bandas do reino socrático, há meios mais sofisticados para atingir os mesmos fins. Não é preciso dar um, ou quantos forem precisos, tiro no Jornalista.

Basta, no Natal, por exemplo, oferecer-lhe uma pistola. Depois faz-se uma reestruturação empresarial (sinónimo óbvio de despedimentos). Quando o Jornalista descobrir que não tem dinheiro para pagar o empréstimo da casa ou os estudos dos filhos... dá um tiro na cabeça.

Porquê os Jornalistas? Porque a verdade é incómoda, seja na Rússia, em Angola ou em Portugal. O que varia são os métodos para calar o mensageiro. No caso russo, segundo a Comissão para a Protecção dos Jornalistas, morreram 23 entre 1996 e 2005.

Apesar desta dura realidade, todos aqueles que estão de pistola em punho sairam à rua na Rússia para condenar o que se passou e dizer que a liberdade de Imprensa é um valor sagrado.

Em Portugal, apesar da guerra que o Governo move aos Jornalistas, não faltam ministros, deputados e políticos em geral (todos de pistola no bolso) a dizer que a liberdade de Imprensa é um valor sagrado.

Sagrado sim desde que não toque nos interesses instalados, desde que só diga a verdade oficial.

sexta-feira, novembro 17, 2006

Manifesto em defesa da Caixa dos Jornalistas

A CPAFJ (Caixa de Previdência e Abono de Família dos Jornalistas) faz parte do património dos jornalistas, não como um privilégio de classe, mas como um patamar de qualidade e de direitos que, não sendo o melhor que se poderia desejar, deveria constituir uma referência para todos os trabalhadores, pois a qualidade no apoio social e na saúde deve nivelar-se sempre por cima e nunca por baixo. Não é José Sócrates dono da verdade? Então é comer e calar...

Criada em 1943, a CPAFJ reconhece a especificidade e importância de uma actividade constitucionalmente consagrada como estruturante do Estado democrático e tem constituído, há décadas, um factor de coesão, estabilidade e estímulo para uma classe que desempenha um papel social insubstituível.

Não é José Sócrates dono da verdade? Então é comer e calar...

O facto de os jornalistas disporem de um subsistema de Saúde significa que o Estado tem em conta, há décadas, as especificidades da nossa profissão, designadamente jornadas intensas e prolongadas e informalidade de horários, com fortes impactos na saúde e na qualidade de vida destes profissionais, como demonstra a significativa prevalência de stress e de doenças do foro cardíaco, desgaste rápido e até morte precoce. Esta situação agravou-se nos últimos anos, com a crescente precariedade, um extraordinário aumento dos níveis de exigência, polivalência e de disponibilidade.

Não é José Sócrates dono da verdade? Então é comer e calar...

O subsistema de saúde dos jornalistas tem sido ciclicamente posto em causa, por alegado elitismo e por ser pretensamente gravoso para o orçamento da Saúde. Mas a verdade é que, não obstante os níveis de comparticipação nas suas despesas serem superiores aos concedidos à generalidade dos trabalhadores, não só se tem pago a si próprio como tem contribuído para o orçamento geral da Segurança Social.

Não é José Sócrates dono da verdade? Então é comer e calar...

A existência da CPAFJ volta agora a ser posta em causa, com o Governo a pretender eliminar uma instituição paradigmática que, tendo algumas dificuldades de funcionamento, está longe de esgotar as suas potencialidades e virtualidades, podendo e devendo adaptar-se às novas realidades de uma classe em permanente mutação e com novos problemas, fruto das profundas alterações registadas no sector da comunicação social.

Não é José Sócrates dono da verdade? Então é comer e calar...

E a CPLP a vê-los passar... cantando e rindo

O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) organiza terça-feira, em Genebra, uma reunião com vários sectores da comunidade portuguesa para angariar fundos e ajudar 2.000 crianças angolanas a aprender português. Bravo. Enquanto isso, à boa maneira portuguesa, a CPLP vai cantando e rindo... de barriga cheia.

Ariana Magalhães, do ACNUR, disse hoje que o projecto está concluído e deverá começar em 2007, mas falta garantir o seu financiamento. A estimativa do ACNUR é que o apoio a cada criança custe cerca de 15 euros (ena tanta massa!), "não apenas para o ensino do português, mas dando-lhes condições para aprender".

Enquanto isso, à boa maneira portuguesa, a CPLP vai cantando e rindo... de barriga cheia.

"Este projecto é muito importante porque representa uma plataforma de acesso à escolaridades destas crianças, a maioria refugiadas que regressaram a Angola depois da guerra e que viveram os últimos anos em países limítrofes de Angola", afirmou, acrescentando que este apoio "é também uma via para uma integração sustentável".

Segundo a mesma fonte, a reunião vai permitir juntar o Alto- Comissário, o ex-primeiro-ministro português António Guterres, com a comunidade portuguesa na Suíça, composta por cerca de 80.000 pessoas.

Enquanto isso, à boa maneira portuguesa, a CPLP vai cantando e rindo... de barriga cheia.

Ariana Magalhães acrescentou que com esta iniciativa, o ACNUR pretende chamar a atenção para a "necessidade urgente de apoiar Angola, nomeadamente na reintegração dos cerca de 350.000 refugiados que já regressaram ao país", depois de três décadas de guerra civil, que terminou em 2002.

A ajuda às 2.000 crianças insere-se num projecto maior do ACNUR para Angola na área da educação, orçado em 780 mil euros a passar à prática em 2007.

De acordo com Ariana Magalhães, além das 2.000 crianças previstas inicialmente, o projecto poderá apoiar mais, dependendo da adesão das pessoas a esta iniciativa de recolha de fundos.

"O ACNUR garante que toda a verba recolhida será canalizada directamente para as crianças através do Serviço de Jesuítas para os Refugiados", disse a responsável.

A falta de verbas do ACNUR para realizar todos os projectos faz com que a agência da ONU tenha este tipo de iniciativas junto dos privados, nomeadamente instituições, empresas e comunidades.

Segundo a responsável da ONU, a fadista portuguesa Mariza associou-se a esta iniciativa e vai passar a mensagem do objectivo do projecto durante os seus concertos.

Enquanto isso, à boa maneira portuguesa, a CPLP vai cantando e rindo... de barriga cheia.

“Sua preta de merda, vai mas é para a tua terra”

A cena passou-se hoje no cruzamento do Monte dos Burgos, no Porto (Portugal). No local é habitual estarem mulheres, algumas com crianças ao colo, a pedir esmola ou a vender desodorizantes para os carros. Um automobilista mais chateado pelo assédio não esteve com meias medidas e, abrindo a porta, disse-lhe: “Sua preta de merda, vai mas é para a tua terra”.

Da cena registei duas coisas. Primeiro, a mulher não era preta (nunca vi ninguém dessa cor em tal actividade); segundo, o agressor era branco, usava fato e gravata e guiava um carro de gama alta.

É claro que se uma andorinha não faz a Primaveira, um automobilistas estúpido que nem uma porta não faz a regra. Não deixa, contudo, de ser (eventualmente) uma excepção que não deveria existir.

Acresce que, por falta de melhor fórmula para agredir a mulher, o fulano utilizou com certeza um argumento que há muito trazia recalcado naquela coisa onde habitualmente existe o cérebro.

Nem mais nem menos do que “sua preta de merda”. Pouco posso fazer quanto à opacidade mental daquela besta, o mesmo se passando quanto às latrinas onde vegeta e se alimenta.

Fica, contudo, o registo. É claro, como diz o meu amigo, colega e companheiro Paulo F. Silva, que não faz sentido falar de racismo. Fará, talvez, falar de imbecilidade... pela cor da pele.

quinta-feira, novembro 16, 2006

Malária provocou em Angola
12 702 mortos no ano passado

A malária provocou 12.702 mortes em Angola no ano passado, período em que foram registados mais de 2,2 milhões de casos desta doença em todo o país, informou hoje, em Luanda, o Ministério da Saúde. As autoridades sanitárias angolanas registaram mais de 910 mil casos de malária em crianças entre Janeiro e Dezembro de 2005, das quais 4.446 acabaram por morrer em consequência da doença.

A malária é a principal causa de morte em Angola, sendo responsável por 40 por cento dos gastos anuais em saúde pública.

Os dados foram revelados por Ana Fernandes, do Programa Nacional de Luta contra a Malária, numa conferência de imprensa destinada a divulgar a realização de um inquérito sobre indicadores de malária em Angola.

Este inquérito, que está a ser realizado desde a semana passada pelas empresas angolanas Consaúde e Cosef, tem como objectivo quantificar o número de pessoas que sabem o que é a malária e quais as formas de prevenir a doença.

O estudo, que abrange todo o território angolano, envolverá a realização de cerca de três mil inquéritos a pessoas residentes em zonas urbanas e rurais, estando também prevista a recolha de amostras para avaliar o estado da população em termos de infecção parasitológica e de anemia.

No quadro da estratégia de combate contra a malária, o governo angolano decidiu introduzir a pulverização domiciliária nas províncias de Benguela, Huíla e Namibe, tendo também lançado, desde Abril, o tratamento com COARTEM, uma nova combinação terapêutica baseada na artimisinina.

A introdução deste tratamento surgiu depois de vários estudos terem demonstrado que o plasmódio que causa a malária desenvolveu resistência à cloroquina.

A taxa de resistência ao tratamento com cloroquina, segundo dados oficiais, chega a atingir 60 por cento em algumas regiões do país, quando a OMS recomenda a mudança de tratamento no caso de a resistência ser superior a 25 por cento.

A malária é uma doença endémica nas 18 províncias de Angola, onde oito em cada dez pessoas que recorrem às consultas nos postos e nos centros de saúde angolanos sofrem desta enfermidade.

Esta doença é a principal responsável pelo absentismo escolar e laboral, além de representar 35 por cento da procura de cuidados de saúde em Angola e 20 por cento dos internamentos hospitalares registados no país.

A taxa de mortalidade situa-se entre os 15 e os 30 por cento, um valor elevado que as autoridades sanitárias atribuem à crescente resistência do parasita da malária aos tratamentos que têm sido utilizados, baseados na cloroquina e amodiaquina, o que levou o Ministério da Saúde a introduzir no país o COARTEM.

Em termos de prevenção, está a decorrer em todo o país uma campanha de informação sobre a malária, ao mesmo tempo que são distribuídas redes mosquiteiras tratadas com insecticidas de longa duração.

UNITA denuncia falta de políticas credíveis
contra a “institucionalização da corrupção”

O líder parlamentar da UNITA, Alcides Sakala, denunciou hoje a ausência de "políticas credíveis" para combater a corrupção e a falta de transparência, manifestando preocupação pelo que considerou ser a "institucionalização da corrupção" em Angola. Força companheiro! Os angolanos merecem a verdade.

"Preocupa-nos a institucionalização da corrupção e a falta de transparência nos actos de governação, mas o mais grave é a ausência de políticas credíveis para combater estes males", afirmou o presidente da maior bancada da oposição angolana.

Alcides Sakala, que discursava na abertura da discussão na generalidade das propostas de Programa de Governo para 2007/8 e de Orçamento Geral do Estado para 2007, considerou que existe uma "excessiva partidarização nos órgãos e nas estruturas de direcção do Estado".

Na perspectiva do líder parlamentar da UNITA, estas estruturas "estão dominadas por grupos demasiado politizados, partidarizados e fechados numa lógica de exclusão", considerando que a manutenção deste quadro "bloqueará o progresso e o desenvolvimento social e económico global".

"O crescimento económico tem que permitir o desenvolvimento socio-económico do país, só assim estaremos à altura de quebrar o ciclo vicioso da pobreza", defendeu.

"Reconhecemos a existência de um certo crescimento acelerado e da estabilização macroeconómica, mas ancorada no petróleo e nos diamantes, o que torna a economia angolana bastante vulnerável", salientou Sakala, acrescentando que o crescimento que actualmente se regista "não tem efeitos multiplicadores no resto da economia nacional".

Esta questão foi também abordada na intervenção do líder parlamentar da FNLA, Benjamim da Silva, que denunciou a falta de transparência a nível das receitas petrolíferas e diamantíferas, mas também na dívida externa.

"Não verificamos a existência de transparência nas receitas petrolíferas e diamantíferas, nem na dívida externa", afirmou.

Na sua intervenção perante o plenário da Assembleia Nacional, Benjamim da Silva salientou, por outro lado, que, apesar do conflito armado já ter terminado há mais de quatro anos "as dotações orçamentais para a defesa continuam chorudas".

As condições de vida dos angolanos dominaram a intervenção do deputado Domingos Tunga, do PRS, na qual salientou que, "os angolanos continuam cada vez mais pobres".

"Continuamos a constatar a existência de assimetrias na vida das populações, numa manifesta falta de sensibilidade política", afirmou Domingos Tunga, defendendo a necessidade do executivo promover "uma melhor justiça social", que pode passar por um melhor relacionamento entre o Estado e a iniciativa privada.

Por seu lado, o vice-presidente da bancada parlamentar do MPLA, Norberto dos Santos 'Kuata Kanaua', reconheceu que a economia angolana "continua a repousar sobre o sector extractivo".

O vice-presidente da bancada parlamentar maioritária na Assembleia Nacional considerou, no entanto, que "o governo conseguiu elaborar um programa e um orçamento que vão ao encontro das legítimas aspirações dos angolanos", pelo que solicitou a sua aprovação pelos deputados.

As propostas de Programa Geral do Governo para 2007/2008 e o Orçamento Geral do Estado para 2007 deverão ser votadas na generalidade ao final da tarde, estando a sua aprovação assegurada pela maioria absoluta que o MPLA detém no parlamento.

quarta-feira, novembro 15, 2006

Já preenchi a ficha do PS. Pelo sim e pelo não...

A propósito das intenções do Governo português querer extinguir a Caixa dos Jornalistas (ver texto anterior), recordo que os assessores de imprensa do Governo socialista e socrático ganham entre 2400 e 4500 euros... por mês. É desta que vou aceitar a sugestão de um meu amigo e filiar-me no PS.

Entre os que têm ordenados-base mais altos estão os responsáveis da comunicação dos ministros das Finanças, dos Negócios Estrangeiros, da Administração Interna e da Justiça, que recebem mais do que os do primeiro-ministro.

É desta que vou aceitar a sugestão de um meu amigo e filiar-me no PS.

De acordo com o jornal Público (18.06.2006), o elevado valor dos ordenados justifica-se com o facto dos salários não serem obrigatoriamente tabelados, podendo ser negociados entre as partes desde que se abdique das despesas de representação. Assim, e de acordo com o despacho de nomeação de responsável pela pasta das finanças, Teixeira dos Santos, a assessora Fernanda Pargana tem um ordenado-base 4500 euros.

Ou seja, é desta que vou aceitar a sugestão de um meu amigo e filiar-me no PS.

Numa altura em que tudo é «simplex», sobretudo se for mais «PSimplex», este Governo mostra que, afinal, a tradição continua a ser o que era e que, como ontem, os "jobs" são para os "boys", os génios são menos importantes do que os néscios desde que estes tenham cartão do partido.

Ou seja, é desta que vou aceitar a sugestão de um meu amigo e filiar-me no PS.

O Governo simulou que queria alterar o (mau) estado das coisas mas, mais uma vez, foi mais a parra do que a uva. Mais o acessório do que o essencial. Basta ver que Setenta por cento do total de rendimentos brutos declarados em sede de IRS pertencem a trabalhadores dependentes. Tudo como dantes.

Ou seja, é desta que vou aceitar a sugestão de um meu amigo e filiar-me no PS.

José Sócrates, na mesma linha de António Guterres, sabe como ninguém que a comunicação social é vital para vender gato por lebre, e para além de recrutar jornalistas para assessorar os seus ministros colocou os jornalistas do partido nos locais certos.

Ou seja, é desta que vou aceitar a sugestão de um meu amigo e filiar-me no PS.

Sócrates sabe bem que os jornalistas também sabem que mais vale ser um propagandista de barriga cheia do que um ilustre Jornalista com ela vazia.

Ou seja, é desta que vou aceitar a sugestão de um meu amigo e filiar-me no PS.

Este Governo (tal como os outros) está-se nas tintas para os portugueses em geral e para os Jornalistas em particular. Porquê? Porque, regra geral, os Jornalistas sabem contar até 12 sem terem de se descalçar. Assim sendo, fazem contas e chegam à conclusão de que o melhor é estar de acordo, é dizer sempre que sim, é ter o cartão do partido que está no poder.

Ou seja, é desta que vou aceitar a sugestão de um meu amigo e filiar-me no PS.

É que, se não for nos jornais haverá sempre um lugar como assessor que, mais volta menos volta, abre as portas para se ser director de um jornal. Não me canso de repetir o que disse Inês Pedrosa: "Temos cada vez mais jornalistas que saltam das redacções para se tornarem criados de luxo do poder vigente".

E, é claro, depois dessa rodagem há sempre a possibilidade de ver criados saltarem do poder para serem directores de jornais.

Ou seja, é desta que vou aceitar a sugestão de um meu amigo e filiar-me no PS. Pelo sim e pelo não...

Não é disto que os jornalistas gostam
mas é disto que os socialistas gostam

O Sindicato de Jornalistas portugueses manifestou-se hoje contra as intenções do Governo de extinguir a Caixa dos Jornalistas e garantiu que vai lutar pela defesa dos direitos dos profissionais da comunicação social. Em comunicado, hoje divulgado, o Sindicato "apela desde já a que todos os profissionais da comunicação social se mantenham unidos em torno de um objectivo central: a defesa da Caixa dos Jornalistas".

O Sindicato presidido por Alfredo Maia assegura que a administração da Caixa dos Jornalistas e a direcção da estrutura sindical "iniciaram um processo de discussão interna para encontrar soluções que garanta a preservação dos direitos dos jornalistas".

O secretário de Estado da Saúde, Francisco Ramos, anunciou hoje na Assembleia da República que o financiamento público de subsistemas de base profissional para cuidados de saúde, como o que existe para os jornalistas, vai terminar a partir de Janeiro.

"Todos [os subsistemas] que existem" financiados directamente pelo orçamento do Ministério da Saúde vão perder este apoio a partir de 1 de Janeiro, adiantou Francisco Ramos.

O Sindicato de Jornalistas afirma que foi "surpreendido pelas declarações do secretário de Estado da Saúde" e sustenta que a "surpresa decorre do facto do membro do Governo apresentar uma data que não só não foi anunciada às entidades com responsabilidades nesta matéria como contraria frontalmente a perspectiva de uma solução concertada".

O Sindicato sublinha que segunda-feira realizou-se uma reunião na qual estiveram presentes o ministro do Trabalho e da Solidariedade Social, os secretários de Estado da Segurança Social e da Saúde, a comissão administrativa da Caixa dos Jornalistas.

Nesta reunião, o ministro Vieira da Silva anunciou a intenção de encerrar a Caixa dos Jornalistas, mas, sobretudo no que diz respeito ao subsistema de saúde, comprometeu-se a agendar uma reunião para prosseguir a discussão.

A presidente da Caixa dos Jornalistas, Maria Antónia Palla, disse à agência Lusa que tencionava propor ao Governo o aumento das contribuições para a Segurança Social dos trabalhadores da comunicação social, de modo a garantir a manutenção do subsistema de saúde.

No entanto, o Governo anunciou hoje a intenção de acabar com o financiamento do subsistema de saúde.

Isto significa que os jornalistas vão deixar de ter direito à comparticipação das despesas de saúde e à livre escolha de médicos e exames.

Criada em 1943, a Caixa dos Jornalistas tem duas vertentes, uma de Segurança Social, que assegura os pagamentos de prestações como o subsídio de desemprego, de maternidade e de doença, e outra de Saúde, que assegura a comparticipação das despesas de saúde, com base numa tabela acordada com o Ministério da Saúde.

Está dado o primeiro passo em Angola
- Começou o recenseamento eleitoral

Hoje é, poderá ser, um dia histórico para Angola. Começou o recenseamento eleitoral. É o primeiro dos muitos passos que é preciso dar para que as eleições sejam, ou possam ser, uma realidade. Há 14 anos que todos esperamos. Mais uns do que outros, é certo.

Para Isaías Samakuva, "existem condições para que o processo decorra com normalidade, mas isso também depende da vontade política".

O presidente da UNITA reafirmou a sua preocupação com o atraso que se verifica na credenciação dos elementos dos partidos políticos que vão fiscalizar o recenseamento, mas admitiu que a situação aparenta estar a ser resolvida.

"O importante é que as nossas queixas não sejam vistas apenas como ataques, nós não estamos a atacar ninguém, apenas queremos manter o povo ao corrente do que se está a passar", frisou, salientando que "se as irregularidades forem corrigidas, tudo vai correr bem".

Este problema foi admitido pelo ministro da Administração do Território, Virgílio Fontes Pereira, que coordena a Comissão Interministerial para o Processo Eleitoral (CIPE), rejeitando, no entanto, que as responsabilidades sejam totalmente do governo.

"Reconheço algum atraso que é da nossa responsabilidade, mas isso também resultou do facto de alguns partidos terem apresentado listas de fiscais eleitorais que não estavam em condições para permitir a credenciação", afirmou o ministro, em declarações aos jornalistas.

Virgílio Fontes Pereira assegurou, no entanto, que o executivo "está a fazer tudo para ultrapassar a situação", destacando a importância do processo de recenseamento dos eleitores na "consolidação do processo democrático" em Angola.

"Os angolanos, ao participarem neste processo, estão a afirmar o seu vínculo democrático e a assumir plenamente a sua cidadania", frisou.

Uma ideia também manifestada por Caetano de Sousa, presidente da Comissão Nacional Eleitoral (CNE), para quem "é importante que os cidadãos façam o recenseamento para que possam participar nas eleições".

"O recenseamento é uma condição essencial para se poder votar", recordou, apelando aos angolanos para que se registem o mais rapidamente possível, de forma a "evitar as acumulações na fase terminal do processo".

A importância do processo de recenseamento eleitoral foi salientada pela generalidade dos líderes políticos angolanos presentes nesta cerimónia, que decorreu na Escola Primária 3007, nas imediações do Governo Provincial de Luanda.

Ngola Kabangu, vice-presidente da FNLA, assegurou à Lusa que o seu partido apelou aos militantes para que se "empenhem no sentido de fazer avançar o processo", que considerou ser "fundamental para o povo angolano".

Por seu lado, Eduardo Kuangana, presidente do PRS, segundo maior partido da oposição parlamentar, considerou que o início do registo dos eleitores "tem uma grande importância, não só para os angolanos, mas também para África e para o mundo".

"Desde 1992 que não temos nenhum processo eleitoral em Angola, por isso atribuímos grande importância a este acto, até porque lutamos muito para que ele se realizasse", afirmou.

Da mesma forma, Anália Vitoria Pereira, presidente do PLD, considerou que "mais vale tarde do que nunca", manifestando o desejo de que o processo de recenseamento eleitoral "decorra bem e seja extensivo a todas as províncias".

Nesta primeira fase, que decorre até 15 de Dezembro, o recenseamento dos eleitores será feito apenas em 51 municípios, dos 164 existentes no país, envolvendo 295 brigadas, num total de cerca de duas mil pessoas.

O processo será interrompido até 15 de Janeiro, altura em que o governo prevê o seu reinício, abrangendo progressivamente todo o território nacional.

Para o Arcebispo de Luanda, D. Damião Franklin, o sucesso deste processo passa "pelo desempenho e pela responsabilidade dos angolanos".

"Votar é um dever cívico, direi mesmo que é uma forma de exercer a caridade e o amor ao próximo para que o bem comum seja uma realidade", afirmou o arcebispo, em declarações à Lusa, assegurando "todo o apoio" da Igreja Católica ao processo eleitoral em Angola.

Coisas de angolanos II

O meu amigo e companheiro (ele trata-me por camarada) Paulo F. Silva disse de sua justiça. E disse com toda a cordialidade e bom senso que o caracterizam. Não sei se abona a meu favor, mas a verdade é que no Alto Hama (blogue e Notícias Lusófonas) já escrevi mais de uma centena de artigos a falar de Angola.

Nenhum outro artigo (e muitos foram transcritos em vários blogues e sites) mereceu tanta salutar polémica como estes sobre a cor da pele. Por que terá sido, caro Paulo?

Quando critico, e critico muitas vezes (aí vai mais um lugar comum!), os poucos que têm milhões por se esquecerem dos milhões que têm pouco, ou nada, estarei a falar de quê?

O Alto Hama não é (mais um lugar comum) um espaço de notícias. É, assumo, um livro aberto onde regularmente digo o que sinto e penso. Tudo com nome e chipala.

E, embora Angola ocupe espaço relevante naquela “coisa” que temos em cima dos ombros, também tenho opinião sobre o que se passa nos restantes membros da Comunidade de Países de Língua Portuguesa, e não só.

Sendo o Alto Hama um espaço quase exclusivamente pessoal (às vezes, para além de um outro texto de um amigo também a minha sombra dá palpites), não lhe cabe noticiar, analisar, divulgar ou informar.

Isso, meu caro Paulo, por todas as razões e mais algumas, deveria caber à tal comunicação social supostamente nada racista e intelectualmente válida. A esses media que para colher opiniões sobre o apuramento de Angola para o Mundial de Futebol só conseguiram, em Portugal, encontrar angolanos trolhas e empregadas de limpeza.

Medias que, contudo, para falar do investimento português em Angola descobriram, por exemplo, que o presidente de um grande grupo bancário português é angolano.

É evidente que há muitos outros, muitos mesmo, temas que podem e devem ser tratados. Se para tal tiver engenho e arte não os deixarei escapar, mesmo que os escritos venham a ser considerados por ti, caro Paulo, como “leviandade pura”.

Espero, por isso, que continues a “achar graça ao atrevimento dos meus escritos (...), ao meu desplante”, mesmo que “torças o nariz a alguns dos meus raciocínios”.

E sempre que entenderes, porque o Alto Hama é um espaço da responsabilidade de alguém que tem nome, morada e rosto, está à vontade, nem que seja, sobretudo se for, para me dizer (mais um lugar comum) que estou a confundir a obra-prima do Mestre com a prima do mestre de obras.

Kandandu. Pois claro!

Coisas de angolanos

O meu amigo e companheiro Paulo F. Silva publicou no seu blog o texto que se segue. Merece leitura atenta. O meu comentário aparecerá num texto autónomo... logo que possível.

«Há dois dias que mantenho com o Orlando uma animada (e divertida…) discussão (por escrito e verbal) sobre se a questão da pele é, ou não, importante, para se chegar onde, afinal, todos queremos: uma sociedade mais justa e equilibrada para brancos/negros/mestiços/vermelhos/castanhos/às-bolinhas/ou às-riscas. Isto só é possível entre angolanos que tiveram de deixar a sua terra em condições muito pouco favoráveis, porque para quem nada disso teve de viver, felizmente, escreve logo que a conversa não passa de uma discussão do sexo dos anjos. E, bem vistas as coisas, o Pedro até acaba por ter razão.

Ontem, o Orlando insistiu na peleja rácica, e confesso que fiquei possesso (salvo seja!), porque para um angolano tão interessado (que não eu, diga-se) entendo que há matéria bem mais interessante para reflectir. Além de que discordo frontalmente de coisas escritas no Alto Hama que, para mim, roçam a leviandade pura. “Africano é sinónimo de negro e angolano é sinónimo de empregado da construção civil ou de mulher de limpeza” é um exemplo. “De qualquer modo chateia ver (e chateia que se farta!), por exemplo, alguma Comunicação Social, supostamente nada racista e intelectualmente válida, a confundir a estrada da Beira com a beira da estrada” é outro exemplo.

Vamos por partes. Tal como sucede com Viagens pela rua da amargura, Alto Hama é um blogue de um jornalista português nascido em Angola.
Mais do que isso. “Alto Hama é, tal como a localidade, um cruzamento que dá acesso a todos os pontos de vista. No entanto, se a minha liberdade termina onde começa a dos outros, também a dos outros termina onde começa a minha”, escreveu o Orlando no seu primeiro post. Agrada-me o cruzamento de pontos de vista, imagino quatro idiotas (atenção: pessoas que têm ideias…) a chegarem ao mesmo ponto, sentarem-se e a conversarem/discutirem do que lhes aprouver sendo que este não tem uma ideia comum aqueloutro. Agrada-me menos a história da minha liberdade e a da liberdade dos outros, porque é uma frase tão gasta no tempo que só me ocorre mais um lugar comum: o que hoje é verdade, amanhã…

Nem sempre concordo com o que o Orlando escreve, nem a isso era obrigado. Acho graça ao atrevimento dos seus escritos, por vezes, ao seu desplante, por outras. Também torço o nariz a alguns dos seus raciocínios, e só espero que ele faça o mesmo comigo!

Para quem demonstra – com o seu trabalho, o seu pensamento, no dia-a-dia, sempre, até no toque do telemóvel… – tão resoluto empenhamento na questão angolana, podia – apetece-me escrever devia! – preocupar-se com outras questões para além da problemática rácica. Não é que o Orlando não o faça, basta dar uma vista de olhos rápida pelos títulos dos seus post para se perceber que assim é, de facto. Também é verdade que o “Alto Hama” não vem apenas desde Agosto. Só que há um milhão de assuntos e interrogações relativas à sociedade angolana que ele podia tratar, e nem sempre o faz. Como eu gostaria, mesmo discordando da sua abordagem.

Aqui ficam algumas pistas, sem qualquer preocupação de as inventariar de A a Z, ou com qualquer outra coerência lógica:

1. o que é que está a ser feito em matéria de paz e de reconciliação nacional?
2. o que é que está a ser feito em matéria de estabilidade política?, e de reforço da coesão nacional?
3. há estabilidade macro-económica?
4. a pandemia da sida ameaça, ou não, ser uma questão de segurança nacional?
5. qual é o ponto da situação no domínio da recuperação das infra-estruturas económicas?
6. qual é o ponto da situação no domínio da promoção do crescimento económico no sector não petrolífero?
7. a valorização dos recursos nacionais, hoje, não passa, em exclusivo, pelos há anos chamados países de Leste; vantagens e desvantagens dessa deriva;
8. para quando eleições gerais?, até quando pode o regime prolongar a actual situação?; porque o faz?
9. a administração do Estado e da Justiça está presente em todo o território angolano?
10. como resolver, ou proporcionar a sua resolução, da instabilidade na província de Cabinda?

Aqui chegado, deixa-me dizer-te, camarada Orlando (porque é assim que trato todos os meus companheiros de profissão…), que rejeito liminarmente qualquer tentação do tipo os que me estão próximos é que são bons, os outros são os maus da fita. Por outras palavras: nem toda a gente do MPLA alinha cegamente pelo regime, tal como nem toda da UNITA alinha cegamente pelo que lhe é vendido pela sua direcção política, e por aí adiante.

Mas vou falar-te de coisas concretas, objectivas, daquelas que o povo entende. Não falarei em nomes de pessoas, porque, reconheço, me é confortável, mas abro uma única excepção. Luandino Vieira lançou, ontem, em Luanda, “O Livro dos Rios” – o primeiro de uma trilogia denominada “De Velhos Rios e Guerrilheiros” –, e ao fim de tantos anos de silêncio criativo de um dos grandes nomes vivos da literatura angolana (sim!, ela existe!!!) e um dos maiores de língua portuguesa, não há blogue que lhe pegue! Porquê? Será que este branco do MPLA paga a factura ideológica da pele na sua própria terra?

A requalificação da marginal de Luanda vai custar ao Estado 135 milhões de dólares. Alguém se interrogou sobre o significado de 30 anos de abandono total?

A TAAG teve de suspender algumas das suas linhas internacionais por falta de manutenção dos seus aviões. Alguém consegue explicar como pode isto estar a acontecer?

Há dias Luanda recebeu mais um banco comercial. Alguém já disse quantos bancos comerciais tem Angola e o que isso pode significar?

Angola tem recebido dezenas de toneladas de soro de farmacêuticas internacionais para combater o surto de cólera que assola o país? Alguém se interroga sobre tão generosa oferta?

O ministro da Geologia e Minas, Mankenda Ambroise, descobriu, muito recentemente, que "Angola detém um considerável potencial e grande variedade de recursos minerais, entre os quais, além dos diamantes, o ouro, as pedras preciosas, semi-preciosas, agro-minerais, metais básico, cobre, rochas ornamentais, materiais de construção de origem mineira (inertes), minerais industriais, minérios de ferro e manganês, águas subterrâneas minerais e minero-medicinais" e que era chegada a hora de relançar a indústria mineira. Só agora? Então o que é que se andou fazer nos anos mais recentes de paz?

A Justiça é outra área muito, muito sensível, nem vale a pena explicar porquê. Mas alguém se preocupa com as prisões sobrelotadas? Isto para não falar do modo discricionário como o poder judiciário actua, é claro…

Não vou arvorar-me em grande descobridor da verdade angolana, mas alguém já paraste 60 segundos para pensar no que significa o elevadíssimo interesse chinês em Angola? Estaremos a assistir à exportação para África do chamado “socialismo do mercado”? Será que ainda não percebeste que podemos estar a viver a recolonização de Angola?

Meu caro, podia ainda falar-te da débil classe empresarial; da administração pública sobredimensionada e viciada no sistema de direcção centralizada agora em desuso; no sistema financeiro absolutamente incipiente; no excessivo peso do sector empresarial público na economia; na carência geral de infra-estruturas; na ineficácia dos sectores sociais; na gravíssima situação no sector da educação; na importância fulcral que representa a urgente revitalização da frota pesqueira nacional e artesanal; na necessidade de integrar o sector “informal” do comércio na economia formal de tributação fiscal; na importância do desenvolvimento do turismo como fonte magnífica de receitas; na necessidade de assumir que as obras públicas constituem, em simultâneo, um poderoso meio de combate ao desemprego ou de criação de emprego e um modo de potenciar o crescimento económico do país; no inadiável redimensionamento da organização e funcionamento das políticas de ciência e tecnologia; da imprescindível recuperação das infra-estruturas de saúde tornadas inoperacionais pela guerra, além da gritante falta de quadros habilitados nesta área – por muito que te custe a crer, possuo abundante material sobre estas questões e até podia produzir um post bem fundamentado sobre qualquer uma delas…

Podia, ainda, falar-te de coisas que sei serem-te caras, como as 100 mil crianças separadas das suas famílias, os 50 mil órfãos abandonados, os 3,5 milhões de deslocados das suas áreas de residência por força da guerra e exclusivamente dependentes da ajuda humanitária.

Mas não o farei. O texto vai demasiadamente longo, a hora já é inoportuna. E tudo isto para te dizer, simplesmente, que há “éne” coisas mais urgentes a tratar que o distante problema do branco/negro/mestiço/vermelho/castanhos/às-bolinhas/ ou às-riscas (sem nunca perder de vista, é claro, os factos históricos).
Como tu próprio dirias, kandando…

Adenda
Com tudo isto, esqueci-me da "Comunicação Social, supostamente nada racista e intelectualmente válida". E ao tema regresso porque não consegui entender o que o Orlando Castro pretende dizer. Talvez o próprio me auxilie...»

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