quarta-feira, novembro 22, 2006

Razão e “razões” da actualidade

Queria continuar a... não gostar de Salazar. Queria continuar a achar que ele era um homem mau. Que não deixava ninguém falar. Que se metia nas Redacções dos Jornais e impedia que escrevessem o que sabiam e queriam. Que não deixava que houvesse manifestações. Muito menos greves, claro. Queria... mas graças ao Governo que vamos tendo... sou levado a achar que ele, o Salazar de que tanto se fala hoje – porque será?! – tinha às vezes razão.

Por Fernando Cruz Gomes
Sol Português

E, para além disso, parecia mais puro do que muitos dos que agora se arvoram em salvadores da Pátria. E que só não tinha razão... por não ter mesmo razão. Porque este Governo, que se diz Socialista, está a toda a hora a dar-lhe razão...

No sector da Educação – o importante sector em que se prepara o futuro da Nação – surge agora a ideia de que o Estatuto da Carreira Docente vai mesmo avançar sem o acordo dos professores. Isto é, não resultaram literalmente em nada a montanha de quilómetros de manifestações, as toneladas de palavras dos Sindicatos, as discussões a jeito de conversas de surdos.

Os ministros, quando ouviram os Sindicatos foi só para... Inglês ver (neste caso, Português ver...) Seis meses depois de tudo começar, o primeiro-ministro decreta o que tem decretado até aqui: há, de facto, direito às manifestações, há direito aos Sindicatos, há direito às greves... mas é só “fumaça”. Para que surja alta e pujante a ideia da Democracia, que todos nos ufanamos de ter. Há tudo isso... mas não há a humildade necessária para mudar seja o que for. A iniciativa estava tomada? Então segue-se...

A notícia dizia apenas o seguinte: Ao fim de seis meses de discussão, nada.

O Ministério da Educação (ME) e os sindicatos de professores não chegaram a acordo em relação à revisão do Estatuto da Carreira Docente (ECD), que deverá entrar em vigor no início de 2007. E a verdade é que se reconhece – ao nível das oposições e dos sindicatos – que o Ministério não deixou vir ao de cima o mundo das sensibilidades. Em vários pontos, designadamente na avaliação passar a ser de três em três anos, nos horários da educação especial ou na avaliação de desempenho.

Coisas. Pelos vistos, o Governo ganhou em toda a linha... sem deixar que as outras partes tocassem na menina... Fez que se aproximava aos sindicatos... mas seguiu em frente, quando os viu mais ou menos aguerridos. E chega a parecer que do lado do Governo não apareceu ninguém a saber como funcionam as Escolas.

E esqueceu-se de que é “por aí”, pela Educação, que se cria o Futuro. Se juntarmos às “trapalhadas” da Educação, aquelas que se registam em vários sectores nacionais – as “trapalhadas” que surgem na Justiça e nas Finanças, por exemplo – vem-nos à ideia de que entre “proibir tudo”, como era o caso de Salazar, e o “autorizar tudo... mas sem ligar importância alguma a nada”)... somos capazes de optar, em consciência, pela primeira hipótese. Mas isto é bem capaz de ser filho de uma “mentalidade doentia”, uma asserção muito usada agora em comentários de Jornais grandes que têm direito aos milhões de euros que o Governo disponibilizou para publicar anúncios estatais.

Como dizia, há dias, o jornalista Orlando Castro, o Governo português (do Partido Socialista de José Sócrates) lidera a guerra aos Jornalistas. Depois de ter comprado os que achou necessários, de ter dado cobertura aos negócios que entendeu vitais para eliminar qualquer tipo de contestação, entrou agora (Estatuto dos Jornalistas, Caixa de Previdência) na fase de arrumar os que (ainda) não se renderam.

É um conceito real, no nosso ponto de vista. Antigamente, havia a censura. Execrável, nós sabemos. Hoje... lá pelas bandas do reino socrático, há meios mais sofisticados para atingir os mesmos fins. Uma censura mais sofisticada, em suma. Dêem-lhe outro nome, se quiserem...

1 comentário:

Anónimo disse...

Na carreira docente não existe topo da carreira. Existem sim patamares em que se ganha mais do que noutros. Mas não existem etapas em que as funções desempenhadas mudam. Numa carreira em que se começa por baixo e se vai subindo, aí sim chega-se ao topo. Por exemplo, começa-se por secretário e chega-se a director. Mas na classe docente, começa-se por ser professor e acaba-se sendo professor.

Portanto não faz ponta de sentido falar em chegar ao topo nem em afirmar que só na classe docente todos os professores chegam ao topo. Isso é uma falácia; uma manha inteligente para justificar a criação artificial de dois escalões mas em que se faz o mesmo em ambos: dar aulas.

Um professor quando entra para os quadros atinge imediatamente o topo da carreira, no sentido de que as funções que desempenhará serão sempre exactamente as mesmas.

Não confundir o facto do Estado pagar progressivamente mais pelas mesmas funções à medida que se é professor há mais tempo com progressão na carreira e com chegar ao topo. Isso é para as carreiras em que existe uma hierarquia de cargos. Aí sim, chega-se ao topo.