quinta-feira, maio 31, 2007

Angolanos de primeira votam, os de segunda não

O Governo de Angola, em reunião de ontem e com a presença do Presidente da República, decidiu no alto das suas competências, não autorizar os angolanos na Diáspora votarem ao não permitir que estes se recenseiem por, segundo o ministro da Administração do Território e coordenador da Comissão Interministerial para o Processo Eleitoral (CIPE), Virgílio Fontes Pereira, haver dificuldades de operacionalidade técnica e logística para um correcto(?) recenseamento na Diáspora.

Por Eugénio Costa Almeida (*)

Antes esta desculpa do que aquela que alguns evocavam; da dificuldade de comprovar a angolanidade dos eleitores. A mesma dificuldade, ou talvez muito menor, que aquela que o Governo angolano teve e terá com os refugiados e exilados provenientes dos países limítrofes.

Sabe-se que entre eles tem entrado no País indivíduos que nunca foram ou tiveram qualquer ligação a Angola. Se não nos poderemos recensear, e estando, segundo as nossas informações e como prevê a lei, que haverá representantes da Diáspora com assento na Assembleia Nacional – três deputados, distribuídos por dois círculos, de África e do Resto do Mundo –, como serão eleitos?

Vão sortear entre os partidos mais votados nas legislativas?

Será que a CNE e os seus representantes se vão reunir à volta de uma mesa de poker e de umas quantas e fresquinhas cucas e jogar uma partida de dados cujas faces serão as chipalas dos eventuais candidatos pela Diáspora?

Vamos ser sérios e intelectualmente honestos! Se não podemos votar também não podemos ser eleitos. E se não vamos poder ser eleitos como poderemos ver as nossas reivindicações e anseios tratados, devidamente tratados, nos areópagos da Nação?

As Embaixadas e os Consulados podem ajudar. Mas existem questões que os ultrapassam e só um deputado representante dos emigrantes poderá apresentar devidamente nos locais próprios. Pensamos que ainda vão a tempo de alterar esta medida.

Até porque como prevê Justino Pinto de Andrade as eleições não deverão ocorrer quando estavam previstas mas mais tarde.

Pelo menos o recenseamento em Angola já foi prorrogado. Agora o que no meio desta confusão política, o não se compreende a surpresa da UNITA face à medida governativa, quando esta, juntamente com o MPLA e, agora, com o Fórum Cabindense para o Diálogo (FCD), faz parte do Governo de Unidade e Reconstrução Nacional, o GURN.

Se não concorda nem é achada nas medidas governativas só terá um caminho a fazer…

Notas: (*) Artigo, manchete, de hoje no Notícias Lusófonas
Com a devida vénia faço minhas as palavras do Mestre Eugénio Costa Almeida

quarta-feira, maio 30, 2007

Plágios com visível rabo de fora
made in teia do “PortugalClub”

Os parasitas que nada criam mas tudo plagiam proliferam na Internet. Não há direitos de autor, sentido de responsabilidade, ética ou lei que nos salve dessa praga. O inequívoco exemplo desta triste realidade lusófona é a do PortugalClub que, com múltiplos outros nomes, publica tudo que lhe parece útil sem citar a fonte.

É certo que cita o autor, mas esse suposto escudo de respeito pelas regras consideradas normais em qualquer Estado de Direito tem o gato escondido com o rabo de fora.

Quem ler um texto meu numa das múltiplas montras paridas pelo responsável do luso-brasileiro PortugalClub fica, é claro, convencido que esses textos foram escritos expressamente para aquele local. Ora, não é isso que acontece.

Além disso, outros sites ou blogs repescam alguns desses textos e dão como fonte exactamente essas putrefactas montras do PortugalClub, desvirtuando toda a realidade.

Tudo isto já o disse pessoalmente e por escrito ao autor desta vigarice, Casimiro Rodrigues (foto). Sem resultado, como é óbvio. Mas é pena.

Com esta habilidade saloia, Casimiro Rodrigues, provoca vigarices em cadeia, envolvendo gente que nada tem a ver com o assunto e que de boa fé cita o PortugalClub, ou outras das muitas montras filiadas, como a fonte de algo que foi publicado em primeira-mão noutro sítio qualquer.

Assim não custa viver à sombra da bananeira. Copia-se, cola-se e colhe-se os dividendos do trabalho dos outros.

Se isto não é ser parasita, vou ali e já venho.

As razões do assassinato de Laurent Kabila

«O anterior presidente do Congo, Laurent Kabila (na foto), subiu ao poder graças à ajuda militar angolana, disso ninguém tem dúvidas.

O exército angolano ofereceu a Kabila uma brigada de 3 mil homens muito bem armados e treinados. Na maioria, esses homens eram antigos gendarmes catangueses, desejosos de vingar a derrota sofrida frente a Mobutu quando foi da revolta do Catanga.

Soube só agora que Kabila aceitou a ajuda desses militares mas que, logo após a vitória, em Maio de 1997, dissolveu essa brigada porque a consideraria perigosa por suspeitar que seria leal aos interesses angolanos.

Ora, se isto for verdade, isso significa que Kabila desconfiava do amigo angolano… e, assim, percebe-se melhor a forma como morreu assassinado em Janeiro de 2001

Notas: Texto de Carlos Narciso publicado em:
http://blogda-se.blogspot.com/
Título da responsabilidade do Alto Hama

segunda-feira, maio 28, 2007

Receitas do petróleo angolano (sonhemos!)
deveriam servir para (re)construir o país

O banco português BPI, que parece (apenas parece) nada perceber da realidade angolana, sugeriu hoje que Angola aplique parte das receitas petrolíferas em investimentos, através do fundo de estabilização, recorrendo mais ao financiamento para manter o actual nível de investimentos públicos necessários à reconstrução do país.

Para as economistas Cristina Casalinho e Paula Carvalho, "dificilmente" os proveitos do fundo "seriam superiores aos custos do financiamento", mas a vantagem da opção está em permitir "garantir uma reserva para as gerações vindouras".

As receitas petrolíferas canalizadas para o fundo de estabilização, frisam as economistas no último relatório do BPI sobre a economia angolana, podem ser aplicadas em investimentos "sem risco", cuja remuneração gerará receitas a muito longo prazo, quando as previsões actuais indicam que o actual nível de receitas se mantenha durante apenas 20 anos.

Além disso, escrevem, o fundo "funcionaria como mecanismo de auto-regulação, pois o custo de oportunidade do capital seria aferido directamente, implicando maior exigência e disciplina nos critérios de decisão e implementação dos investimentos".

No ano passado, a despesa do governo central cresceu para 37,3 por cento do PIB, mantendo a trajectória seguida desde 2004, e em 2007 escalará para 37,5 por cento, acima da previsão para os países da África sub-saariana (28,1 por cento) e dos países exportadores de petróleo na região (26,5 por cento).

Para as economistas do BPI, banco que controla a segunda maior instituição financeira angolana (Fomento), as condições de financiamento do Estado angolano "seriam provavelmente vantajosas, atendendo aos prémios de risco praticados, historicamente reduzidos, e também porque o país beneficia actualmente de uma conjuntura extremamente favorável".

"Não se deve excluir, à partida, a hipótese de recurso, pelo menos parcial, ao financiamento. Seria uma hipótese intermédia, em que as necessidades de despesas actuais (imensas) seriam satisfeitas recorrendo simultaneamente às rendas petrolíferas e ao mercado", afirmam.

"Se o princípio da intergeracionalidade da apropriação dos recursos não renováveis justifica a criação de um fundo de estabilização, a intemporalidade dos investimentos públicos em curso ou em vias de concretização favorece a utilização de receitas petrolíferas", referem as economistas do BPI.

No relatório é também sugerido o aumento do orçamento de Estado angolano, mas com "critérios de racionalidade".

"Ao contemplar as várias alternativas de investimento, as autoridades têm de ter presente a necessidade de garantir estruturas mínimas que assegurem o funcionamento do Estado: reforço do sistema judiciário, organismos de registo e notariado, a própria Administração Local e Regional, são exemplos de estruturas necessárias para o desenvolvimento da actividade económica e do país como um todo", referem.

domingo, maio 27, 2007

Portugueses europeus e portugueses africanos


Os portugueses europeus, mesmo considerando o deserto oficial decretado para o sul do rectângulo das ocidentais praias lusitanas, são uma espécie em crescimento. Já os portugueses africanos estão em (negras) vias de extinção. Proliferam os que têm sempre a porta fechada, morrem os que sempre a tiveram aberta.

A grande diferença é que os portugueses europeus, os que sempre viverem em Portugal, sempre consideraram (quiçá com razão) que até prova em contrário todos os estranhos são culpados. Já os portugueses africanos, parte dos que deram luz ao mundo, entenderam que até prova em contrário todos os estranhos são inocentes.

Em África, os portugueses aprenderam a amar a diferença e com ela se multiplicarem. Aprenderam a ser solidários com o seu semelhante, fosse ele preto, castanho, amarelo ou vermelho. Aprenderam a fazer sua uma vivência que não estava nas suas raízes.

Na Europa, os portugueses aprenderam a desconfiar da diferença e a neutralizá-la sempre que possível. Aprenderam a ser individualistas mesquinhos e a só aceitar a diferença como exemplo raro das coisas do demónio.

Com o re(in)gresso de milhares de portugueses africanos ao Portugal europeu, a situação alterou-se momentaneamente. Tão momentaneamente que hoje, 32 anos depois da debandada africana, quase se contam pelos dedos de uma mão os que ainda são portugueses africanos.

Isto é, muitos dos portugueses europeus que foram para África tornaram-se facilmente africanos. No entanto, ao re(in)gressarem às origens ressuscitaram a velha mesquinhez de um país virado para o umbigo, de um país de portas fechadas. Voltaram a ser apenas europeus.

Nessa mesma leva vieram muitos portugueses africanos nascidos em África. Esses não re(in)gressaram em coisa alguma. Mantiveram-se fiéis às suas raízes mas, é claro, tiveram (e ainda têm) de sobreviver. Apesar disso, só olham para o umbigo de vez em quando e as suas portas só estão meias fechadas.

Acresce que muitos destes acabaram por constituir vida em Portugal, muitos casando com portugueses europeus. Por força das circunstâncias, passaram a olhar mais vezes para o umbigo e a porta fechou-se quase completamente.

Chega-se assim aos filhos, nados e criados como “bons” portugueses europeus. Estes só olham para o umbigo e trancaram a porta. Por muito que o pai, ou mãe, lhes digam que até prova em contrário todos (brancos, pretos, amarelos, castanhos ou vermelhos) são inocentes, eles já pouco, ou nada, querem saber disso.

Por força das circunstâncias, os portugueses africanos diluíram-se no deserto europeu, foram colonizados e só resistem alguns malucos que, por força dos seus ideais, ainda acreditam que se o presente de Portugal está na Europa (se é que está) o futuro estará certamente em África.

sexta-feira, maio 25, 2007

Lusofonia? É claro que sim
PALOP? Também e ainda mais

Lusofonia? É claro que sim. Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa? Também. Não poderia ser de outra maneira. De uma forma geral, digo eu (eu e mais meia dúzia de sãos malucos) a Lusofonia é um estado de alma para os milhões que têm pouco e não para os poucos que têm milhões.

O tecido social, económico e político dos que compõem a CPLP (esta sigla que em termos práticos nada significa, quer dizer Comunidade de Países de Língua Portuguesa) está em evolução constante, respondendo como pode (e nem sempre pode bem) aos desafios da sobrevivência.

A relevância das instituições que protagonizam o topo das sociedades merece todo a atenção. No entanto, os principais protagonistas devem ser os operacionais que, no terreno e no dia-a-dia, dão vida e praticabilidade aos países que na nossa língua têm uma parcela da sua Pátria.

E esses são todos aqueles que apostam em 90% de transpiração e 10% de inspiração.

A criação, tanto no âmbito da CPLP como dos PALOP, de um sistema de vasos comunicantes é imprescindível. Tão imprescindível que ninguém lhe passa cartão.

Como algo em constante mutação, a Lusofonia está e estará todos os dias em cima de um tapete rolante que anda para trás. Se se limitar a caminhar (como faz a CPLP), ficará com a sensação de que avança mas, de facto, estará sempre no mesmo sítio. Por isso (ao contrário do que faz a CPLP) terá de correr para ganhar diariamente alguns metros ou, no mínimo, para não perder terreno.

Importa por isso que a hierarquia da CPLP dê o exemplo, não julgando que basta conhecer as cores do arco-íris para ser crítico de pintura. Em teoria é assim.

Não poderá, ao ver o tapete a andar para trás, julgar (como tem acontecido ao longo dos anos) que vai na direcção errada e começar a caminhar no sentido da rotação do tapete...

Sendo certo que a CPLP, os PALOP e todos aqueles que debatem a Lusofonia têm pernas para levar a Carta a Garcia, resta-nos ter vontade para lutar contra os que todos os dias nos aconselham (nomeadamente pelo mau exemplo que dão) a deitar essa carta na primeira valeta.

Mas será, no fim de contas, que tudo isto faz sentido?

Faz, com certeza. Os tempos são (mesmo) outros. Por isso é preciso abalar algumas coisas, antes que essas coisas nos abalem a nós.

... Porque as palavras voam, mas os escritos permanecem.

No dia de África, vivam os PALOP. Viva a Lusofonia.

quinta-feira, maio 24, 2007

I Concurso de Curtas-Metragens Filipa de Vilhena

Mostrando, mais uma vez, que não deixam os seus créditos por “curtas-metragens” alheias, os alunos do 12º Ano de Artes Visuais da Escola Secundária Filipa de Vilhena, do Porto, vão realizar o I Concurso de Curtas-Metragens, cujo regulamento e cartaz reproduzo com especial satisfação.

Regulamento:

Data limite de entrega das curtas-metragens: 30 de Julho
O concurso destina-se a alunos do 3ºciclo e ensino secundário.
Cada trabalho deve ser devidamente identificado, contendo um papel ou ficheiro com o nome de cada elemento, o título da curta-metragem, o nome da escola e o contacto (número de telefone, morada e e-mail).
Tempo máximo: 20 minutos
Os filmes devem ser entregues em formatos de vídeo como .avi, .wmv, .mpeg, .dvd
Deve ser entregue uma ficha técnica.
O concurso será dividido em 2 categorias, Ficção e Não-Ficção. O tema é livre.
Os prémios a atribuir serão constituídos por livros e material relacionado com o cinema, passes de livre-trânsito para o Fantasporto, etc.
Selecção Fantasporto: selecção e exibição no próximo Fantasporto, de um ou mais trabalhos a concurso, mediante autorização dos autores.
Ao júri reserva-se o direito de atribuir este prémio apenas se a qualidade dos trabalhos o justificar.

Enviar os trabalhos para o Conselho Executivo da Escola, ao cuidado da professora Dália Dias.
Rua do Covelo, 205, 4200-239 Porto.

Todos os casos omissos remetem para organização/júri.

Para mais informações, contactar:

Dia de África no Porto

Rui Flores, assessor político das Nações Unidas, é o Convidado Especial do jantar que se realiza no Restaurante Vitória (à Praça Velasquez), no Porto, Portugal, na sexta-feira, dia 25 de Maio, pelas 21 horas, para assinalar o Dia de África.

Rui Flores (na foto) é um dos quatro portugueses que exerce funções na UNIOSIL (United Nations Integrated Office in Sierra Leone), organismo que é dirigido pelo representante especial do Secretário-Geral da ONU no país, o também português, Victor Ângelo.

O evento é organizado por Paulo Morais, António Pires Veloso e Augusto Macedo Pinto.

A UNIOSIL (United Nations Integrated Office in Sierra Leone) está em funções desde 1 Janeiro de 2006. Substituiu a UNAMISL (United Nations Mission in Sierra Leone).

A UNIOSIL é a primeira experiência integrada das missões das Nações Unidas. O que é que isto significa? Que todas as agências das Nações Unidas a trabalhar no país coordenam a sua acção sob a chefia da UNIOSIL e do seu líder, o representante do secretário-geral das Nações Unidas e “resident representative” além de “country representative” (chefe do PNUD), Victor Ângelo, o português que ocupa o lugar mais alto na estrutura das Nações Unidas e que está no sistema desde 1978.

Victor Ângelo é em termos hierárquicos subsecretário-geral das Nações Unidas, acima disto só mesmo o cargo de secretário-geral.

quarta-feira, maio 23, 2007

José Gama está na mira dos esbirros
- Está ele e todos os angolanos livres

José Gama acaba de deixar no Club-K um esclarecedor aviso à navegação angolana. Ao elogiar a bravura e coragem dos estudantes angolanos, mesmo que poucos, na diáspora que “souberam denunciar a existência de elementos do Estado angolano que desenvolvem colecta de informações, de carácter pessoal”, sobre si, colocou a vida na mira dos esbirros da ditadura angolana.

“Mesmo que seja alvo, pelo menos morrerei com dignidade, por ter o apoio, da extensão do povo, que são vocês. Morrerei com honra porque nunca terão armas para arrancar o que está nos vossos corações. Nascemos para morrer, mas não morremos para nascer. Portanto, não estou preocupado com essas atitudes de pessoas que brincam aos agentes de inteligência”, diz José Gama.

É claro que o MPLA vai dizer que é tudo mentira. Vai dizer que a democracia funciona e que todos são livres de dizerem o que pensam.

E se isso é claro, também o é o facto de os angolanos livres (do MPLA, da UNITA ou de qualquer outro partido) saberem por experiência como funciona o poder que põe sempre a razão da força acima da força da razão.

Creio, embora não tenha a certeza, que nada de mal vai acontecer ao José Gama. Seja como for, para além da minha solidariedade (comungada por todos os angolanos livres), fica a certeza de que não há balas, bombas ou similares que acabem com o puro sentimento dos angolanos de bem.

Estou, estamos, contigo José Gama. Eu e todos os angolanos que entendem que a democracia e o Estado de Direito chegarão um dia à nossa terra.

segunda-feira, maio 21, 2007

Alemanha, África e lusófonos

A ministra da cooperação e do desenvolvimento alemã, Hidemarie Wieczorek-Zeul, afirmou hoje que a chave para o desenvolvimento de África "é um crescimento económico que beneficie também os mais pobres". Como é dito por uma ministra, ainda por cima alemã, se calhar os donos da verdade lusa vão perceber o que, tanto no Notícias Lusófonas como aqui no Alto Hama, tenho dito (eu e muitos outros) ao longo dos anos.

A ministra alemã, que falava na sessão de abertura do Fórum do Banco Mundial "Africa on the Rise" (África em Ascensão), que decorre em Berlim, lembrou que o continente africano teve nos últimos anos uma fase de crescimento económico sem precedentes, acrescentando que "este desenvolvimento positivo ainda não abrange sectores mais pobres da população em muitos países".

Para diminuir a pobreza em África, é necessário mais crescimento sustentado, "mas só isso não basta, sem democracia justiça social e igualdade de oportunidades entre homens e mulheres não haverá progressos significativos no combate à pobreza", advertiu a ministra.

Wieczorek-Zeul assinalou ainda que o fomento das condições de vida das mulheres em África não é apenas uma questão dos direitos humanos é também um elemento fulcral para o crescimento económico.

"Muitos países africanos podiam reforçar consideravelmente a sua economia se promovessem a igualdade entre homens e mulheres", comentou Wieczorek-Zeul.

A ministra alemã exortou simultaneamente os empresários internacionais a aumentar os investimentos directos em África, que actualmente só perfazem 2 por cento do total dos investimentos mundiais.

Wieczorek-Zeul lembrou que o G-8, grupo dos sete países mais industrializados do mundo e da Rússia, apoia os estados reformistas africanos agrupados na Nova Parceria Africana para o Desenvolvimento (NEPAD), que inclui também Angola e Moçambique.

A NEPAD definiu os critérios necessários para que haja mais investimento sustentado em África: boa governação, infra-estruturas suficientes e combate à corrupção.

Wieczorek-Zeul lembrou ainda que o G-8 decidiu na Cimeira de Gleneagles (Escócia), há dois anos, duplicar, até 2010, a ajuda ao desenvolvimento a África, aumentando-a para mais de 36.750 milhões de euros.

No âmbito da União Europeia, os estados membros comprometeram-se também a aumentar a mesma ajuda para 0,51 por cento do respectivo Produto Interno Bruto até 2010.

Espera-se, entretanto, que a ajuda não seja direccionada para os milhões que têm pouco, ou nada, através dos poucos que têm milhões. Se assim for, teremos os mesmos poucos com mais milhões e mesmos muitos milhões ainda com menos.

Se bem que menos de nada…

domingo, maio 20, 2007

Como reles bordel o jornalismo aceita tudo

É cada vez mais corrente e popular a ideia de que os jornalistas portugueses têm, ou querem ter, o poder absoluto de informar. Nada mais falso. Para começar, só têm o poder que o poder económico e empresarial lhes aceita dar. Depois, informar não é uma das prioridades dos jornalistas. Hoje (salvo muito poucas excepções) não se fazem jornais, fazem-se linhas de enchimento de conteúdos em forma de papel, rádio, televisão ou Internet.

A coisa está brava? Não, não está. Estaria se falássemos de Jornais. Resta, contudo, a certeza de que é mais a parra do que a uva. Desde logo porque, ao contrário do que seria de esperar, os «macacos» não estão nos galhos certos. E quando assim acontece (e acontece muitas vezes), tanto jornalistas como todos os outros detentores procuram apenas sobrevalorizar as ideias de poder em detrimento do poder das ideias.

A convivência entre os diferentes poderes não tem sido fácil. O nosso Estado de Direito... democrático ainda é uma criança e, como tal, há muitos vícios, deformações e preconceitos herdados ou estimulados que a muitos dá jeito conservar.

É claro que o «quero, posso e mando» que hoje está instituídos por essas Redacções fora, não serve nenhuma das partes. Não serve mas é praticado, não serve mas é estimulado. Não serve mas vai servindo.

Mas esta discussão, que alimento como forma de salubridade mental, é uma forma de tapar o sol com uma peneira. Tenho a exacta noção que os Jornalistas são comidos à grande e à francesa com a conivência activa de muitos que tendo a Carteira Profissional de Jornalista, que trabalhando nas Redacções, não passam de néscios a quem foi dado o poder de um capataz.

O problema principal reside no facto de que (basta ver as Redacções), médicos, advogados, arquitectos, engenheiros, treinadores de futebol, amigos, filhos e amantes poderem ser jornalistas.

O jornalismo que vamos tendo, qual reles bordel, aceita tudo e todos. É um pouco semelhante à política. Assim sendo, Portugal pode honrar-se de ser um bom exemplo de como se confunde a obra prima do Mestre com a prima do mestre de obras.

E, de facto, aos jornalistas falta-lhe cada vez mais autoridade moral para contestar o que quer que seja. Se todos podem ser jornalistas, porque carga de água não podem os jornalistas ser deputados, assessores de políticos, publicitários etc.?

Podem. Tal como podem, depois regressar às Redacções para serem fiéis acéfalos dos amos a quem antes serviram.

quinta-feira, maio 17, 2007

Diáspora angolana mostra o (muito) que vale

A diáspora angolana vai demonstrar que, afinal, sabe o que quer. Fosse Angola um Estado de Direito e este direito à indignação seria, pelo menos, respeitado, compreendido e até incentivado. Não por questões de regime, mas por razões de identidade e de amor à pátria. Mas não é isso que acontece. Todos os poucos que têm milhões têm medo da verdade quando esta é dita pelos milhões que têm pouco, ou nada.

E, atenção, quando os angolanos no exterior dizem que há muitos a “desgovernar o nosso país, continuando com ideias baixas e a pensar que os angolanos da diáspora continuam sob cativeiro dos mesmos”, estão a criticar o regime no seu todo e não apenas uma das partes. Não apenas o MPLA. A actual UNITA também é culpada.

O MPLA acusou a UNITA de estar a produzir esta manifestação. O partido de Isaías Samakuva desmentiu. A explicação dada pelos organizadores no Club-K é elucidativa e deveria merecer a atenção, séria e honesta, de todos.

“A nossa manifestação não tem nada à ver com qualquer partido político angolano mas sim com todos os angolanos que querem ver este país sair da miséria”, dizem numa lapidar e consciente síntese do que se passa.

Fica claro que o regime está podre e que o rei vai nu. Mas tanto vai nu José Eduardo dos Santos, por inacção, como Isaías Samakuva por omissão e passividade.

A manifestação da diáspora, que começa sábado em Paris, seguida por uma outra, dia 26, no Canadá foi designada, e bem, como "A bola de neve". Em Junho, a bola rolará em Bruxelas, Londres, Lisboa e Bona para em Julho rolar em outras cidades e por fim desfazer-se em Luanda no dia 1 de Agosto.

O regime, suportado pelo MPLA e pela actual UNITA, vai começar a abrir as primeiras brechas. E não adianta a estes dois partidos trocarem acusações. Se Eduardo dos Santos comanda tudo o que pode, Isaías Samakuva pouco tem feito para se mostrar capaz de mudar o regime.

Quando a “bola de neve” passar aqui pelas minhas bandas, lá estarei para lhe dar mais alguma força. Força a favor dos angolanos, sem ser contra os angolanos, Força para que o regime deixe de fazer perguntas ao espelho mágico...

A minha amiga "Agostinha" de Ribeira de Pena


Encontrei-a desenvolta, perspicaz e amena ali junto aos Bombeiros Voluntários de Ribeira de Pena, na esquina para o Pavilhão local. Começou por assinalar a presença junto dos muitos forasteiros que por lá andavam, certamente dizendo-lhes que aquela é uma terra de boa gente. E é mesmo.

Tornamo-nos amigos, mau grado o pouco tempo que por lá estive. Apesar disso, creio que tentou dizer-me que a sua terra possui características únicas que são, ou deveriam ser, motivo de visita obrigatória para descobrir como o verde do Minho é surpreendente nos tons castanhos e cinzentos de Trás-os-Montes.

Disse-me também, foi isso que pelo menos eu percebi, que Ribeira de Pena tem vales cavados por numerosos cursos de água e montanhas abruptas envolvendo-os, dando à paisagem um aspecto que alguns gostam de classificar de “Suíça Portuguesa”.

A minha amiga, que baptizei de “Agostinha”, disse-me ainda que o património paisagístico e arquitectónico é notável, o ar ainda é puro e as suas águas límpidas e alertou-me para a gastronomia e os vinhos que são produtos de excelência.

Falou-me igualmente de que seria bom reviver Camilo Castelo Branco, a casa onde viveu, a igreja onde casou, os lugares por onde andou. Não me foi possível seguir à risca o itinerário sugerido pela “Agostinha”. Fica, contudo, a esperança de um dias destes lá voltar para o cumprir.

Obrigado, “Agostinha”!

domingo, maio 13, 2007

Neocolonialismo português soma pontos em Luanda


A TVI, uma das televisões privadas de Portugal, apresentou ontem, com o rótulo de grande reportagem, um trabalho sobre os portugueses em Angola. O assunto merece, pelo menos, duas considerações. Uma revela que a noção do que é Angola é muito limitada ali para as bandas da estação dirigida por José Eduardo Moniz. Limitou-se a falar de Luanda. A outra mostra, aí com alguma perspicácia jornalística, o neocolonialismo de alguns portugueses.

Tal como não aceito que se faça uma reportagem sobre Portugal mostrando apenas Lisboa, não me parece justo para os portugueses que vivem em Angola apresentá-los da forma como a TVI o fez.

Se aquilo são os portugueses em Angola, então os angolanos que se ponham seriamente a pau. Com amigos daqueles ninguém precisa de inimigos.

Explico. Os portugueses ouvidos pela TVI fizeram gala em dizer que estavam em Luanda porque ganhavam muito, mas muito, mais do que em Portugal; que tinham excelentes moradias e não sei quantos (cinco num dos casos) empregados domésticos. É o neocolonialismo na sua mais lídima expressão.

Tal como na época do outro colonialismo lusitano, os empregados domésticos apareciam a dizer que a senhora era como uma mãe. E enquanto os filhos desses portugueses (havia apenas uma excepção) frequentam a Escola Portuguesa, os dos angolanos estudam (os que estudam) na escola pública.

E então onde ficou o resto de Angola, o resto dos portugueses? Será que Angola é só Luanda? Será que só há portugueses em Luanda?

Não. De maneira alguma. Angola é muito mais, é sobretudo o que não está na capital nem no Roque Santeiro. É as terras do fim do mundo onde, como sempre, também vivem portugueses. Portugueses que são angolanos, ao contrário dos portugueses que a TVI mostrou e que só estão em Angola para sacar.

Foto: Cidade do Huambo (também faz parte de Angola e também lá vivem portugueses).

sábado, maio 12, 2007

Quanto não vale ser estrangeiro
- Hipocrisia ignorante do povo português

Que Madeleine McCann desapareceu, já todos sabíamos. O que nós não sabíamos (pelo menos eu) era desta fantástica capacidade portuguesa de ser solidário. Muito bem. Há buscas intensíssimas, há divulgação, há missas, há fitas amarelas, há motards a dar a volta a Portugal, há até o nosso excelentíssimo seleccionador nacional de futebol a apelar pela menina.
Muito bem.

Por: Orlando Gilberto Castro


Mas muito bem mesmo, acho que todos os esforços devem (têm de) ser feitos.

Apenas estou deveras abismado como nós portugueses somos capazes de nos mexer por uma causa.

Sobretudo se não for portuguesa.

É… eu lembro-me de ouvir falar num Rui Pedro, lembro-me de uma Joana…

Vocês não?

Foram duas das oito crianças portuguesas desaparecidas e nunca mais encontradas.

O Rui Pedro desapareceu há nove anos. A estar vivo, terá agora vinte.

A Joana foi há três e põe-se a possibilidade de ter sido morta por familiares.

Não me lembro (talvez por ter sido há muito mais do que nove dias) de nomes como João Teles ou Cláudia Sousa, mais dois nomes da contagem de desaparecidos permanentes da Polícia Judiciária. Os outros somam-se já 79.

É… também não me lembro do apoio incondicional que lhes prestámos.

Não prestámos???

Então se calhar é por isso.

Será que se damos apoio aos estrangeiros não deveríamos dá-lo ainda mais aos portugueses?

Ou sou eu o único a achar que por muito inocente que a Maddie seja, o é tanto como o Rui Pedro?

Jornalistas e fazedores de textos
ou o desastre da (nossa) língua

O presidente do Sindicato dos Jornalistas, Alfredo Maia, considera que os profissionais da Imprensa devem "esforçar-se por dominar a língua" e diversificar a linguagem, sem prejuízo de elaborarem notícias claras e concisas para que possam ser amplamente compreendidas. Basta ver (com olhos de ver) a Imprensa para se concluir que a estrada da Beira é muitas vezes confundida com a beira da estrada.

Respondendo às críticas de que os jornalistas são co-responsáveis pelo uso simples e redutor da Língua Portuguesa, Alfredo Maia (velho companheiro – camarada, prefere dizer - ) admite que os profissionais da comunicação social "optam por repetir as mesmas expressões", pressionados pelo ritmo frenético dos acontecimentos que os impedem de se esmerar na escrita.

O sindicalista defende os jornalistas. Está bem. Mas, como jornalista, o Alfredo Maia sabe que o “ritmo frenético dos acontecimentos” é apenas uma, entre muitas outras, desculpa. Não há pacatez que valha quando a competência é substituída pela subserviência, mesmo em textos bem escritos.

A "convicção" de que a maioria da população não possui "conhecimentos suficientes para descodificar" as prosas jornalísticas não deve ser impeditiva, de acordo com Alfredo Maia, para os jornalistas, enquanto promotores da Língua e da Cultura, transmitirem "progressivamente" termos que "não são habituais" à opinião pública.

Promotores de quê? Da língua e da cultura?

"Escrever um texto muito bem composto literariamente tornar-se-ia incompreensível para uma parte significativa" do público, insiste o Alfredo Maia esquecendo, digo eu, que há cada vez mais gente letrada e sobretudo receptiva a saber mais. O problema está em que muitos dos fazedores de textos (Jornalistas são outra coisa) são eles próprios literariamente analfabetos.

"Há excelentes jornalistas em Portugal que escrevem de maneira primorosa, com pertinência léxica e elegância sintáctica. Lê-los também é fundamental, não podemos passar sem eles", sublinha sem, contudo, dizer que muitos deles não têm onde escrever.

Por último, uma grande verdade. Há também jornalistas "com uma carência vocabular extraordinária e com um desconhecimento assustador da própria gramática da Língua", pelo que seriam necessárias "acções regulares de formação/reciclagem".

sexta-feira, maio 11, 2007

Como tudo é (agora) diferente em Timor-Leste

Quem disse: "Já há muito tempo, mesmo antes das eleições, que notei que Ramos-Horta também é da Fretilin. Só um dedinho é que saiu mas todo o corpo está dentro"?

Quem afirmou: "Disse a Ramos-Horta que nós os dois trabalhamos juntos há muito tempo, mas por vezes não nos ouvimos um ao outro"?

Quem explicou: "Não gosto quando hoje dizem uma coisa e amanhã outra. Não dou valor e não aprecio este tipo de atitude"?

Quem assim falou foi Xanana Gusmão em Fevereiro de 2002.

Ise okufa, etombo livala

«Uma das alternativas encontradas por muitos no meio urbano para a sua sobrevivência é a actividade de roboteiro ou seja o transporte de pedras ou outras mercadorias na cabeça e carrinhos de mão», diz a MultiPress a propósito das dificuldades dos ex-militares da UNITA, neste caso em Benguela.

Terá valido a pena ser militar da UNITA? Terá sido para isto que o mais Velho tanto lutou? As perguntas são minhas embora julgue serem comuns a muitos desses soldados.

Terá sido para isto que tantas vezes, em Umbundu (mas não só) Jonas Savimbi dizia «ise okufa, etombo livala»? (em português, prefiro antes a morte, do que a escravatura).

Num cenário em que os poucos que têm milhões continuam a ter cada vez mais milhões e em que, no mesmo país, muitos milhões não têm sequer o que comer, não me custa a crer que a linguagem das armas volte a ser equacionada.

Mal por mal, antes a morte do que a escravatura. E se antes foi o tempo dos contratados e escravos ovimbundus ou bailundos irem para as roças do Norte, agora é o enxovalho de transportar pedras à cabeça para ter “peixe podre, fuba podre… e porrada se refilares”

«Sekulu wafa, kalye wendi k'ondalatu! v'ukanoli o café k'imbo lyamale!» Morreu o mais velho, agora ireis apanhar café em terras do norte como contratados, ou ser escravo na terra que ajudaram a, supostamente, libertar.

Até quando?

quinta-feira, maio 10, 2007

Timor-Leste vira quintal australiano

A influência australiana em Timor-Leste sente-se desde há muito. “O Governo australiano que continua a manifestar-se contra a independência de Timor-Leste está a passar-nos um atestado de menoridade”, dizia-me Xanana Gusmão em 13 de Fevereiro de 1999 (entrevista publicada no Jornal de Notícias). E se, até agora, não passava de influência, com a vitória de Ramos-Horta, a Austrália vai acampar no seu quintal, ou seja em Timor-Leste.

Actualmente os cerca de mil soldados que integram a Força Internacional de Estabilização, liderada pela Austrália, têm-se mantido no país à margem da Missão Integrada da ONU (UNMIT), que conta com cerca de 1.600 polícias provenientes de 20 países, entre os quais Portugal, através da GNR.

À margem da missão da ONU porquê? Porque quem manda são eles. Tão simples quanto isso.

O chefe da diplomacia australiana, Alexander Downer, já deixou claro que o seu país tenciona permanecer em Timor-Leste "pelo menos até às legislativas", marcadas para 30 de Junho.

Pelo menos. No entanto, a pedido de Ramos-Horta por lá vão ficar muitos e muitos anos.

O neocolonialismo de Camberra é fortemente criticado pelo partido maioritário, a FRETILIN, que acusa os militares australianos de condicionarem a política interna de Timor-Leste, a pedido de Ramos-Horta.

Nem mais. Mesmo assim, a comunidade internacional continua de cócoras.

O sinal mais claro das preferências australianas foi dado em Fevereiro passado, quando o parlamento timorense finalmente ratificou o acordo de exploração e partilha das receitas de dois dos maiores campos de hidrocarbonetos do Mar de Timor, Greater Sunrise e Bayu Undan, concretizando uma promessa desde logo enunciada por Ramos-Horta quando tomou posse como primeiro-ministro.

A resolução deste contencioso, que se arrastava desde 2004, foi possível a partir do momento que Mari Alkatiri deixou de ser primeiro-ministro. Ou seja, a partir do momento em que Camberra colocou a chefiar o Governo o seu homem de mão, o seu testa de ferro.

Considerado o país mais pobre da Ásia, Timor-Leste conseguiu, apesar de tudo, com a crise de 2006 desbaratar o capital acumulado desde 2002, quando se tornou a primeira nação do século XXI.

Assim, de ex-colónia de Portugal, Timor-Leste passa agora a quintal da Austrália.

Exposição “Unknown/Sem Título"


Foi ontem inaugurada, com o êxito que a imagem documenta, a exposição de artes plásticas “Unknown/Sem Título” dos alunos do 12º Ano de Artes Visuais da Escola Secundária Filipa de Vilhena, do Porto.

Até ao próximo dia 15, os interessados poderão visitar a exposição, das 10 horas às 12,30, das 14 às 17,30 horas e das 19 às 22 horas, na Casa da Cultura de Paranhos (Largo do Campo Lindo, 7 – Porto).

Creio tratar-se de um bom exemplo do que de válido se faz na Filipa de Vilhena. Lamento que numa sociedade onde se valoriza mais o rótulo do que o produto, a embalagem do que o conteúdo, este excelente trabalho colectivo não tenha merecido – pelo menos até agora – cobertura noticiosa por parte da Comunicação Social.

Lamento mas não me espanto. De há muito que entre um néscio bem cunhado e um génio desconhecido a Imprensa portuguesa, certamente reflexo da mediocridade reinante, prefere o néscio.

Seja como for, vale a pena ver a exposição. Vale sobretudo porque a alma destes alunos (bem como dos respectivos professores) é tão grande que em muito ultrapassa a pequenez dos que para contarem até 12 têm de se descalçar.

Austrália 1, Timorenses 0
- Ramos Horta presidente

Com os votos quase todos escrutinados, é já certo de que o primeiro-ministro timorense, José Ramos-Horta, é o sucessor de Xanana Gusmão na presidência de Timor-Leste. A própria Comissão Nacional de Eleições afirma que, apesar de parcelares, já não existe uma margem suficientemente grande para que seja possível uma reviravolta nos resultados.

Com o discurso de felicitações já escrito desde a primeira volta, a Austrália vê assim coroada de êxito a sua estratégia para Timor-Leste. Mais exactamente para o Mar de Timor. E ainda mais exactamente para o petróleo e gás de Timor-Leste.

A influência australiana sente-se desde o início da crise, em 2006, tendo sido o primeiro país a responder ao pedido das autoridades timorenses com o envio de uma força militar para ajudar a restabelecer a ordem pública.

Os cerca de mil soldados que integram a Força Internacional de Estabilização, liderada pela Austrália, têm-se mantido desde então no país à margem da Missão Integrada da ONU (UNMIT), que conta com cerca de 1.600 polícias provenientes de 20 países, entre os quais Portugal, através da GNR.

O chefe da diplomacia australiana, Alexander Downer, já deixou claro que o seu país tenciona permanecer em Timor-Leste "pelo menos até às legislativas", marcadas para 30 de Junho.
"Depois das eleições avaliaremos novamente a situação", disse Downer, citado pela emissora estatal ABC, salientando estar convicto de que haverá maior instabilidade quando se realizarem as legislativas.

O voluntarismo de Camberra é fortemente criticado pelo partido maioritário, a FRETILIN, que acusa os militares australianos de condicionarem a política interna de Timor-Leste, a pedido de Ramos-Horta.

As acusações mais fortes foram feitas sobre a alegada "interferência" dos militares australianos na parte leste do país e em Ainaro, no sul, denunciou ainda na campanha eleitoral para a segunda volta o candidato Francisco Guterres "Lu Olo", presidente da FRETILIN.

O sinal mais claro das preferências australianas foi dado em Fevereiro passado, quando o parlamento timorense finalmente ratificou o acordo de exploração e partilha das receitas de dois dos maiores campos de hidrocarbonetos do Mar de Timor, Greater Sunrise e Bayu Undan, concretizando uma promessa desde logo enunciada por Ramos-Horta quando tomou posse como primeiro-ministro.

A resolução deste contencioso, que se arrastava desde 2004, foi possível a partir do momento que Mari Alkatiri deixou de ser primeiro-ministro.

Considerado o país mais pobre da Ásia, Timor-Leste conseguiu, apesar de tudo, com a crise de 2006 desbaratar o capital acumulado desde 2002, quando se tornou a primeira nação do século XXI.

In http://www.noticiaslusofonas.com

quarta-feira, maio 09, 2007

Em Timor-Leste o crime compensa…

«Tudo indica que Ramos-Horta terá vencido as presidenciais em Timor-Leste. E infelizmente o crime, a violência, a intriga, a mentira, a injustiça, a demagogia e o populismo triunfaram. Xanana Gusmão e Ramos-Horta atingiram os seus objectivos em pouco mais de um ano.

Transformaram um país num caos, provocaram centenas de vítimas e de deslocados, semearam o terror, e conseguiram recolher os dividendos de um golpe de Estado suportado pelo governo australiano, americano e seus aliados, como o Banco Mundial.

Tiveram a conivência das Nações Unidas, que conscientes de tudo o que se passava, optaram pela passividade que lhes é habitual.

Timor-Leste terá um presidente da República medíocre, vaidoso, sem qualquer sentido de uma cultura de Estado democrático e sem princípios éticos.

Os vigaristas, intriguistas, mentirosos e pulhas venceram. Pobre povo de Timor-Leste.»

terça-feira, maio 08, 2007

África em nós

Com cinco séculos de história comum, deveríamos, obrigatoriamente, ser o canal preferencial de investimento ocidental em África. O peso afectivo que África tem para os portugueses não tem qualquer tradução na dimensão das relações económicas, ou sequer o mínimo acompanhamento político por parte das nossas autoridades. Com a localização geográfica de que dispomos, poderíamos constituir a porta de ligação de África à Europa; com cinco séculos de história comum, deveríamos, obrigatoriamente, ser o canal preferencial de investimento ocidental em África. Afinal, mais uma oportunidade perdida!

África é, aqui e agora, tema actual e muito presente. Em primeiro lugar, presente para os (poucos) africanos que cá vivem e contribuem para a nossa riqueza cultural e económica, num exemplo de integração que é ímpar na Europa; mas presente também para todos os portugueses que hoje fazem em África a sua vida – lá trabalham, lá têm os seus negócios e as suas famílias; e, por último, no espírito daqueles (muitos) que noutros tempos lá viveram, lá cresceram, de lá trouxeram muitas das suas memórias e parte do seu património.

Todos sentimos a África que há em cada um de nós, mas sabemos também que, ao nível político, o que tem vindo a ser feito em nada contribui para a nossa aproximação a África. O povo português – e cito Agostinho da Silva – “sendo de dispersão, só lhe faz mal haver Estado; espero que no futuro Portugal se solte desse entrave e seja simplesmente (e grandemente) uma Nação”. Pois se a Nação está com África, o Estado ignora África. Até hoje, as iniciativas de carácter oficial são incipientes. A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa é inexistente, para além dos afectos (e de alguns “tachos”, claro); à Fundação Portugal África não se lhe reconhece actividade relevante. E que papel Portugal poderia desempenhar no contexto internacional se estas instituições funcionassem… Se tirássemos vantagem de alguns dos nossos líderes políticos e militares que possuem um profundo conhecimento dos povos africanos; ou até se nos apoiássemos em líderes africanos de dimensão mundial e forte ligação a Portugal, como Joaquim Chissano.

O problema do abandono a África não é exclusivo de Portugal. As relações entre o Ocidente e África têm estado reféns de interesses económicos que se alimentam da miséria e do subdesenvolvimento. Não é por acaso que a esperança de vida média na África subsaariana diminuiu de forma assustadora nos últimos vinte anos, com países como o Botswana a diminuírem a esperança de vida de sessenta e cinco anos em 1988 para trinta e quatro em 2007! E não é seguramente por culpa dos povos africanos que os vinte países menos desenvolvidos do mundo – tal como são considerados pelas Nações Unidas – são todos, mas todos, do continente negro.

Os governos ocidentais não têm, na sua maioria, sabido lidar com África. Mas têm-no feito de forma sabiamente perversa as grandes empresas ocidentais, dos diamantes ao petróleo, dos produtos farmacêuticos à construção. Muita da designada cooperação económica é apenas e tão só uma nova forma de exploração, que se alicerça no conluio entre poderosas empresas europeias e os ditadores locais.

E, nesta perspectiva, a globalização, a tão endeusada globalização, assume o papel de branqueador de todos estes negócios. Esta capacidade que alguns ocidentais têm de circular em todo o mundo, usufruindo da sua tecnologia, dispondo dos recursos naturais de todo o planeta e utilizando os recursos humanos dos países mais pobres, a que chamamos globalização – chamava-se outrora colonialismo. Assim, como então havia colonizados e colonizadores, hoje há globalizados e globalizadores. Muito mais feroz do que o colonialismo político do século XX, surge o colonialismo económico que lhe sucedeu, a que alguns teimam chamar globalização. Tem menos resistências e nem sequer se socorre de governadores nomeados; apoia-se na conivência dos governantes locais corruptos.

A anunciada cimeira Europa África, que decorrerá ainda este ano em Portugal, irá abordar estes temas? Será uma cimeira de povos e nações e de reforço da democracias? Ou de Estados e grupos económicos coniventes com ditadores?

Nota: Artigo de Paulo Morais publicado hoje no Diário Económico
O autor é Professor universitário de Estatística e Matemática na Universidade Lusófona

Ramos-Horta não nasceu para servir
- Os timorenses que se ponham a pau

As eleições presidenciais em Timor-Leste "são cruciais" para a consolidação da democracia no país? São com certeza, embora me pareça que democracia com a barriga vazia seja uma treta. Se calhar, digo eu, é exactamente nisso que pensarão os timorenses quando, amanhã, forem escolher entre Ramos-Horta e “Lu Olo”.

Quem vai ganhar? Na minha opinião, que espero errada, será Ramos-Horta. Porquê? Desde logo porque isso convém a Xanana Gusmão, à Igreja Católica e à Austrália (a ordem é arbitrária). Não convirá, penso, aos timorenses.

Aliás, ainda hoje Ramos-Horta, participou (vestindo o fato de primeiro-ministro) na cerimónia de despedida de Xanana Gusmão do corpo diplomático acreditado em Timor-Leste.

Está, quer se queira ou não, tudo feito para Ramos-Horta vencer. Não vai, é claro, convencer. Mas essa é outra questão.

Ramos-Horta é o tipo de político que espera que o povo suba até ele em vez de, como se esperaria de alguém que quer assumir a liderança de um país onde milhares de pessoas acordam com fome e dormem com fome, ser ele a subir até ao povo.

Ramos-Horta garante que em caso de vitória nas presidenciais irá assumir com "humildade" e "com total determinação" as suas novas responsabilidades "procurando trabalhar com todos os partidos, incluindo a Fretilin".

Alguém acredita? Ramos-Horta conseguirá, no máximo da sua dedicação, trabalhar consigo próprio e de vez em quando com Xanana Gusmão se este for, como tudo indica, o futuro primeiro-ministro.

Quem escolhe são os timorenses. No entanto, para mim, uma coisa é certa: Ramos-Horta não nasceu para servir mas para ser servido. Cá estaremos para ver.

China viola embargo de armas ao Sudão
mas vai integrar força de paz em Darfur

A China vai participar na força de manutenção de paz da ONU em Darfur, indica o departamento de Estado norte-americano, congratulando-se com a ajuda de Pequim aos esforços da ONU para restabelecer a calma na região. Pois. Segundo a Amnistia Internacional, a mesma China (no que é acompanhada pela Rússia. Ambos membros da Conselho de Segurança) violam o embargo de venda de armas ao Sudão que, por sinal. São usadas pela milícia Janjaweed em Darfur.

Que importa que o conflito em Darfur tenha já mortos mais, bem mais, de 200 mil pessoas em quatro anos, e que a milícia Janjaweed seja a responsável fuga e morte de milhares e milhares e milhares de pessoas?

A China tem, e disso não abre mão, uma longa tradição de vender armas ao Sudão. No centro desta relação está (quem diria?) o petróleo. O Sudão tem grandes reservas e a China precisa do combustível para manter a expansão da sua economia.

Primeiro importador do petróleo sudanês, a China foi e será enquanto isso der jeito um dos principais aliados do presidente do Sudão, Omar al-Béchir, que se opõe ao destacamento de 20.000 Capacetes Azuis da ONU para Darfur.

A comunidade internacional exerce actualmente pressão sobre Bechir para que aceite sem tardar esta força e Londres e Washington ameaçaram mesmo Cartum com sanções caso a autorização não surja.

Sanções que, obviamente, serão subscritas pela Rússia e pela China ao mesmo tempo que, pela porta do cavalo, lá vão metendo toneladas de armamento.

segunda-feira, maio 07, 2007

Um, mais um, bom exemplo
desta vez em Ribeira de Pena

Este fim de semana estive, pela primeira vez, em Ribeira de Pena. Entre outras actividades, realizou-se pela segunda vez consecutiva, repartido também por Cerva, o IV Estágio da Primavera Goju-Ryu em Karaté, aberto a todas as associações nacionais de Karaté (foto). O estágio foi administrado pelo Sensei José Campos, representante do JUNDOKAN Internacional, sétimo Dan, apoiado por José Carvalho (quinto Dan) e director técnico do Núcleo Português de Karaté.

Este evento, bem como muitos outros que são regularmente levados a cabo em Ribeira de Pena, passou ao lado – mesmo considerando que juntou o que há de melhor a nível nacional em Goju-Ryu (o Sensei José Campos é não só o mais graduado do país como um dos mais graduados do Mundo) – da comunicação social portuguesa. E isto, por deformação profissional, é algo que me entristece.

Salvaguardando o gratificante exemplo do jornal “O Jogo”, que regularmente acompanha o karaté nacional, todos os outros (já para não falar das televisões) entendem que desporto é só, ou quase, futebol.

Dois dias permitiram-me ainda ver que não é só o karaté, por exemplo, que é enteado. Assisti a um actuação dos “Revoltados”, grupo de Rock que apresentou os seus originais e que, na minha opinião, se estivesse em Lisboa teria um grande futuro.

Como está no Portugal profundo… certamente continuarão revoltados.

Ribeira de Pena pertencendo a Trás-os-Montes e Alto Douro é uma das zonas fronteiriças ao Minho. possui características únicas que são (deveriam ser) motivo de visita obrigatória para descobrir como o verde do Minho é surpreendente nos tons castanhos e cinzentos de Trás-os-Montes.

Vales cavados por numerosos cursos de água e montanhas abruptas envolvendo-os, dão à paisagem um aspecto que alguns gostam de classificar de “Suíça Portuguesa”.

O seu património paisagístico e arquitectónico é notável, o ar (ainda) é puro e as suas águas límpidas. A gastronomia e os vinhos são produtos de excelência. Reviver Camilo Castelo Branco, a casa onde viveu, a igreja onde casou, os lugares por onde andou é um, dos muitos, motivos para visitar Ribeira de Pena.

Legenda: IV Estágio de karaté: À direita, Sensei José Campos (7º Dan Goju-Ryu). À esquerda, o quarto é o Sensei Alberto Santos, 3º Dan.

sexta-feira, maio 04, 2007

Picada de marimbondo. Ernesto Lara Filho sempre

O escritor angolano Pepetela (Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos) recebe amanhã em Santiago de Compostela o prémio Escritor Galego Universal 2007, sendo o primeiro autor de língua portuguesa e, em simultâneo, o primeiro africano a obtê-lo. É dele que, supostamente, eu quero falar. No entanto, desculpem lá, prefiro falar de Ernesto Lara Filho. Porquê? Talvez por nos termos cruzado, há muitos, muitos anos, na então Nova Lisboa (onde publicou, em 1961, Picada de Marimbondo) entre garrafas meio cheias, ou meio vazias...

Ernesto Lara Filho nasceu em Benguela em 1922. Foi (veio) para Portugal a fim de continuar os seus estudos, concluindo o curso de regente agrícola, na Escola Nacional de Coimbra. Percorreu alguns países da Europa, ganhando a vida, por vezes, como empregado de restaurante. Considerado o primeiro grande cronista de Angola. Morreu em 1977, 17 anos após sua irmã, a poetisa Alda Lara.

Picada de marimbondo

Junto da mandioqueira
perto do muro de adobe
vi surgir um marimbondo

Vinha zunindo
cazuza!
Vinha zunindo
cazuza!

Era uma tarde em Janeiro
tinha flores nas acácias
tinha abelhas nos jardins
e vento nas casuarinas,
quando vi o marimbondo
vinha voando e zunindo
vinha zunindo e voando!

Cazuza!
Marimbondo
mordeu tua filha no olho!

Cazuza!
Marimbondo
foi branco que inventou...

Nota: Embora perceba, do ponto de vista literário-cultural, a razão pela qual, por exemplo, o meu amigo Eugénio Costa Almeida coloca lado a lado José Eduardo Agualusa e Pepetela, não consigo separar o escritor Pepetela do Pepetela que participou no massacre de 27 de Maio de 1977, em Angola. Tão responsável é o que puxa o gatilho como aquele que participa na farsa acusatória.

quinta-feira, maio 03, 2007

UNITA preocupada com "perseguição a jornalistas"

A UNITA manifestou-se hoje preocupada com a alegada (um termo politicamente correcto) perseguição a jornalistas em Angola, a detenção de repórteres em Cabinda e o facciosismo dos meios de comunicação social públicos, principal fonte de informação no país.

Em comunicado divulgado a propósito do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, que hoje se assinala, o Comité Permanente da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), fundado por Jonas Savimbi, defende a revisão da actual Lei de Imprensa em Angola.

Os dirigentes da UNITA entendem que na referida Lei de Imprensa existem "cláusulas que dificultam a liberdade de expressão".
Nomeadamente, aquela que impede - por exemplo - a Rádio Ecclesia, emissora católica, de emitir para todo o território nacional, privilégio apenas permitido à pública Rádio Nacional de Angola. Pois!

"A perseguição aos jornalistas que procuram abordar os factos de forma isenta" e "as detenções de jornalistas em Cabinda" são dois dos exemplos "da ausência de liberdade de imprensa em Angola", refere a UNITA.

O segundo maior partido angolano, com 70 deputados na Assembleia Nacional, acusa ainda a imprensa estatal de não divulgar "as actividades dos partidos da oposição e das organizações da sociedade civil".

O comité permanente do maior partido da oposição angolana chama ainda a atenção para "a situação a que estão submetidos alguns jornalistas da Comunicação Social do Estado, a falta de apoio à imprensa privada e as péssimas condições laborais e sociais dos profissionais da comunicação social".

Está (quase) tudo dito.

A (des)propósito do Dia Mundial
da (falta) de Liberdade de Imprensa

Bill Kovach, co-autor do livro “Os elementos do Jornalismo” e um dos mais conhecidos e respeitados jornalistas dos EUA, diz que a primeira obrigação do jornalismo é para com a verdade. Qualquer semelhança com a realidade portuguesa é mera coincidência.

Bill Kovach diz que o jornalismo deve manter-se leal, acima de tudo, aos cidadãos. Qualquer semelhança com a realidade portuguesa é mera coincidência.

Bill Kovach diz que a essência do Jornalismo assenta numa disciplina de verificação. Qualquer semelhança com a realidade portuguesa é mera coincidência.

Bill Kovach salienta que aqueles que o exercem devem manter a sua independência em relação às pessoas que cobrem. Qualquer semelhança com a realidade portuguesa é mera coincidência.

Bill Kovach considera que o Jornalismo deve servir como um controlo independente do poder. Qualquer semelhança com a realidade portuguesa é mera coincidência.

Bill Kovach acrescenta que o Jornalismo deve servir de fórum para a crítica e compromisso públicos. Qualquer semelhança com a realidade portuguesa é mera coincidência.

Bill Kovach diz que o Jornalismo deve lutar para tornar relevante e interessante aquilo que é significativo. Qualquer semelhança com a realidade portuguesa é mera coincidência.

Bill Kovach corrobora que o Jornalismo deve garantir notícias abrangentes e proporcionadas e que aqueles que o exercem devem ser livres de seguir a sua própria consciência. Qualquer semelhança com a realidade portuguesa é mera coincidência.

quarta-feira, maio 02, 2007

Liberdade de Imprensa na Lusofonia
- O que (re)afirma a Freedom House

A propósito do texto anterior vejamos: Portugal, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, são os únicos países lusófonos com liberdade total de imprensa, considerou a Freedom House. No seu relatório anual sobre a liberdade de imprensa a organização sedeada em Washington coloca Portugal em 12.º lugar na lista liderada pela Finlândia e Islândia com o mesmo número de pontos. Angola é considerado um pais onde não existe essa liberdade.

Portugal compartilha o 12.º lugar com o Liechenstein e Palau (Micronésia), ficando acima de países como a Alemanha, Irlanda e Estados Unidos que compartilham o 16.º lugar.

A avaliação é feita com base no "ambiente jurídico em que os média operam, as influências políticas na actividade jornalística e acesso a informação e pressões económicas sobre o conteúdo e disseminação de notícias".

Cabo Verde e São Tomé são por seu turno dois dos apenas oito países africanos onde segundo a organização existe liberdade de imprensa. à escala mundial os dois países estão colocados em 61.º lugar.

No ano passado Cabo Verde foi colocado entre os países de liberdade "parcial" de imprensa e a organização afirma que a sua subida nos "rankings" se deve "à continua consolidação das tendências democráticas que levaram a uma maior abertura no ambiente em que os média operam e numa diminuição dos casos de intimidação legal e de ataques a jornalistas".

Moçambique (87.º lugar), Timor-Leste (90.º), Brasil (90.º) Guiné-Bissau (102.º) são considerados países onde existe a liberdade "parcial" de imprensa enquanto Angola (135) é considerado um pais onde não existe essa liberdade.

O relatório afirma que "apesar de garantias constitucionais, a liberdade de imprensa é restrita em Angola".

O documento descreve como uma "melhoria" uma nova lei de imprensa aprovada no ano passado mas diz que esta contém ainda "várias normas restritivas".

"Apesar de o Governo na generalidade tolerar críticas dos média privados, entidades governamentais muitas vezes pressionam os media independentes a cobrir o Governo a uma luz mais favorável", diz o documento, acrescentando que "detenções arbitrárias, intimidação e ataques contra jornalistas continuam a ocorrer".

terça-feira, maio 01, 2007

Liberdade de Imprensa em Angola?
- Cuidado, muito cuidado, com a ressaca

A pluralidade de órgãos de comunicação social e o acesso a uma informação diversificada são sinais de que o direito à liberdade de imprensa é exercido de facto em Angola. Esta opinião foi manifestada pelos jornalistas, Paulo Mateta, Luísa Rogério e Maurício Camuto a propósito do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa a assinalar-se a 3 de Maio. O que leva Jornalistas, os primeiros defensores do que pensam ser toda a verdade, a só dizer meia verdade?

Os jornalistas consideram que o 3 de Maio deve ser visto como uma data de reflexão em torno do desempenho dos profissionais da Comunicação Social, buscando formas de exercer este direito constitucionalmente consagrado em prol da democracia e prestação de um melhor serviço público. É que há uma diferença, substancial no caso, entre o que está consagrado “de jure” e que acontece “de facto”.

Falando à Angop por ocasião da data, o secretário geral adjunto da União dos Jornalistas Angolanos (UJA), Paulo Mateta, apontou como indicadores satisfatórios desse exercício a existência de órgãos públicos e privados, a ausência de censura, bem como o contributo dos jornalistas na afirmação da democracia e melhoria do desempenho do Governo.

Chamar para a liberdade de informação, no caso de Angola, os órgãos públicos é o mesmo que chamar para a selecção de futebol um paralítico. Ou seja, este pode saber tudo sobre futebol… mas não pode jogar.

Apesar do desenvolvimento do sector, Paulo Mateta considera que falta melhorar em termos de criatividade, buscando aqueles assuntos que mais preocupam a comunidade, tarefa condicionada pelo difícil acesso às fontes de informação.

Ou seja, traduzindo a tese de Paulo Mateta, não é possível dar voz a quem a não tem. E se é assim, a liberdade de informação é uma treta.

"É preciso dizer que há uma obrigação do Estado em prestar informação ao cidadão, logo sendo a informação um direito impõe-se que os vários poderes prestem os dados necessários para a formação da opinião pública e devidos esclarecimentos", frisou o jornalista, acrescentando que esses são os pressupostos para uma informação verdadeira, rigorosa e isenta.

Não são os únicos pressupostos. Aliás, na maioria dos casos, até nem são pressupostos. Se os Jornalistas estão à espera que o Estado/Governo lhes dê a informação correcta, nem podem esperar sentados. O Estado só diz o que quer, quando quer e como quer. Em Angola como em qualquer outro país.

Para Mateta, a abordagem transparente das questões sociais é uma forma de prestar um serviço público de qualidade e de dar credibilidade aos órgãos. Isto é verdade. Basta, para atingir tal desiderato, que os Jornalistas entendam que se não vivem para servir, não servem para viver.

Por seu turno, o director da Rádio Ecclésia, Maurício Camuto reconhece terem sido dados passos importantes na consolidação da liberdade de expressão fruto da maior exigência dos cidadãos e do actual momento de paz no país. Além de lutar pela conquista de espaço através do aumento da qualidades das matérias, os jornalistas devem bater-se pela melhoria das suas condições de trabalho, sociais, dignificação da classe e actualização profissional permanente.

Tudo verdade. O diagnóstico é o correcto. Falta é saber se a medicação existe. Ou seja, os antibióticos curam e devem ser tomados depois das refeições. O problema está em que para os tomar os doentes devem primeiro ter direito às refeições.

O facto de não haver registo em 2006 de casos de atropelos gritantes à liberdade de imprensa (denúncias, prisões, actos de violência) é uma prova da mudança de mentalidade em relação ao trabalho do sector, segundo a secretária geral do Sindicato de Jornalistas Angolanos (SJA), Luísa Rogério.

Falso. Ou, pelo menos, parcialmente falso. O facto de não haver queixas pouco significa. Ou seja, quem garante que os Jornalistas ou os media mais verdadeiros não foram “comprados”? É que o Poder (seja ele qual for, seja do MPLA, da UNITA ou outro) também aprende a não caçar onças com pau curto.