domingo, abril 29, 2012

Kadhafi, Sarkozy e outros que tais!


Ao que parece o regime de Muammar Kadhafi aceitou em 2006 financiar  com 50 milhões de euros a campanha de Nicolas Sarkozy às presidenciais de  2007.

No dia 29 de Novembro de 2011 escrevi aqui (onde mai poderia ser?) que a morte de Muammar Kadhafi, bem como dos seus principais colaboradores, seria uma bênção para os donos do mundo.

Isto porque, explicava, com tais mortes ninguém iria saber os negócios do líder líbio com alguns dos seus grandes amigos que, como José Sócrates, o consideravam um “líder carismático”.

Também não deixava de ter piada que a família de Muammar Kadhafi, a que restar,  apresentasse, como disse que o faria, uma queixa  no Tribunal Penal Internacional contra a NATO por "crimes de guerra".

Independentemente do facto de Kadhafi  ter merecido, na minha opinião, morrer não uma mas uma dúzia de vezes, o que a NATO fez na Líbia (mas que não fará noutros países com ditadores bem mais facínoras) foi o exemplo acabado de que os donos do mundo conhecem a razão da força mas nunca ouviram falar da força da razão.

O antigo líder líbio, de 69 anos, que fugira de Tripoli em finais de Agosto do ano passado, foi capturado vivo (bem vivo, aliás) perto de Sirte (a 360 quilómetros da capital) e assassinado a tiro.

Que se saiba, embora não se tenha a certeza, não foi a NATO a dar o tiro de misericórdia a Kadhafi, embora todos tenham ficado a lucrar com o silêncio definitivo do líder líbio.

Certo foi que foram os aviões da NATO que dispararam contra a coluna de veículos em que seguia Kadhaf.

Embora o homicídio voluntário seja um crime de guerra previsto pelo artigo 8 do Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, a NATO sempre dirá que naquele situação Kadhafi  continuava a constituir uma ameaça para a Líbia, se calhar até para África ou, quem sabe, para o mundo inteiro.

Inicialmente dizia-se que a NATO estaria na região para, além de atirar a pedra e esconder a mão, proteger a população, excluindo sempre o objectivo de derrubar regime.

Como logo se viu, era uma treta como qualquer outra. Alguns países da NATO inundaram os rebeldes com todo o tipo de armas, deram-lhes instrução, planearam os ataques e coordenaram as acções com a Força Aérea da Aliança Atlântica. Tudo, é claro, para defender as populações e nunca para derrubar o regime.

Do lado da NATO estão, como sempre acontece com os vencedores, uma série de países, nem todos de forma sincera. Não será o caso dos europeus mas é, com certeza, o caso de muitos estados árabes que, com medo do cão raivoso, aceitaram (mesmo que contrariados) a ajuda do leão.

Quando se aperceberem (alguns já se aperceberam), o leão terá derrotado o cão e preparar-se-á para os comer a eles. O leão, como mais uma vez se confirma, não terá necessariamente de ter nacionalidade norte-americana.

Aliás, os homens do tio Sam são especialistas em criar leões onde mais lhes convém. Em certa medida Osama bin Laden, tal como Saddam Hussein, como Muammar Kadhafi,  foram leões “made in USA”.  Ao contrário do que pensam os ilustres operacionais da NATO, do FBI da CIA ou de qualquer coisa desse tipo, ninguém tem neste planeta (pelo menos neste) autoridade e poder ilimitados.

Os maus da fita, segundo os realizadores da NATO,  poderão não ter a mesma capacidade bélica do que os EUA e seus aliados. Vão ser, continuam a ser, humilhados, sobretudo pelo número dos mortos que o único erro que cometeram foi terem nascido.

São as leis da razão? Não. São as leis dos instintos. Instintos que vão muito além das leis da sobrevivência. Entram claramente (tal como entrou Bin Laden ou Muammar Kadhafi) na lei da selva em que o mais forte é, durante algum tempo, mas nunca durante todo o tempo, o grande vencedor.

Seja como for, o Mundo Árabe só está do lado dos países da NATO por questões estratégicas, por opções instintivas. Bem ou mal, em matéria de razão, os árabes estão com os seus... e esses não são os nossos...

Pelo menos desde a Guerra dos Seis Dias, a aprendizagem dos árabes tem sido notável. Aceitam o que os donos do mundo definem como inimigos, enforcam até os seus pares com a corda fornecida pelo Ocidente, mas, na melhor oportunidade, vão enforcar americanos e europeus com a corda enviada de Nova Iorque, Paris ou Londres.

Às vezes os jornalistas são notícia


Um jornalista francês desapareceu ontem no sul da Colômbia, na sequência de um ataque da guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) contra o exército.

Os jornais portugueses, e bem, deram destaque à notícia do desaparecimento de Romeo Langlois, que acompanhava uma patrulha na região de Caquetá, no sul da Colômbia onde ocorreu o ataque.

Residente na Colômbia, Romeo Langlois foi referido como correspondente de guerra e colaborador de jornais como o francês "Le Figaro".

Em Portugal, no entanto, ninguém noticia o desaparecimento, nos últimos anos, de centenas de jornalistas portugueses devido aos ataques de empresários criminosos, de governos corruptos, de estratégias de silenciamento total de todos aqueles que ousam pensar pela própria cabeça.

De facto, o jornalismo em Portugal está em acelerado estado de putrefacção e a caminho da extinção. É que, julgo eu, não basta trabalhar numa Redacção para se ser jornalista. Conheço, aliás, muitos que quanto mais trabalham nas Redacções mais se afastam do Jornalismo.

Os jornais (é claro que também as rádios e as televisões) não são um produto feito à medida dos jornalistas e/ou dos consumidores mas, isso sim, dos empresários. São, cada vez mais, um negócio ou, melhor, uma forma de comércio. São apenas mais um produto em que os seus fazedores (na circunstância catalogados de jornalistas) são escolhidos à e por medida.

Ou seja, basta ter dinheiro para ser dono de um jornal, basta ter um jornal para lá mandar pôr o que muito bem entender, sejam as fotografias da sogra, do rafeiro ou da amante.

Os jornalistas, mais do que informar, mais do que formar, têm de vender. Vender, vender sempre mais. E quem sabe o que fazer para melhor vender não são, na maioria dos casos, os jornalistas.

Os jornalistas são os montadores que, de acordo com o mercado, alinham as peças de um crime, de um comício, de um atentado ou de um buraco na rua. Se o que vende é dar uma ajuda ao partido do Governo, são essas as peças que têm de montar, nada contando a teoria da isenção que é tão do nosso teórico agrado.

Se o que vende é divulgar os produtos da empresa «X», são essas as peças que têm de montar, passando por cima do facto de essa empresa eventualmente não pagar os salários aos seus trabalhadores, promover criminosos despedimentos ou apostar no trabalho infantil.

Se o que vende é dar cobertura às ditaduras (sejam as de Bashar al-Assad ou José Eduardo dos Santos), são essas peças que têm de montar, calibrando-as da forma a parecerem dos melhores exemplos democráticos.

Pouco importa tudo o resto.

Assim sendo, as linhas de montagem não precisam de jornalistas. Tudo o resto são cantigas, tenha a classe uma Ordem ou apenas, como agora, um Sindicato. Tenha o país um governo eleito ou não, seja ou não uma democracia, chame-se Portugal ou Burkina Faso.

Todos este jornalistas, como sempre foi, é e será desejo dos diferentes poderes existentes em Portugal, sobretudo os políticos e os económicos, estão agora (os que ainda a têm) a pensar com a barriga.

Apesar de serem de Maio de 2009, não me esqueço que o Carlos Narciso (um dos mais probos jornalistas de língua portuguesa) dizia que não ia à feira do livro “porque o subsídio de desemprego é manifestamente curto para dar de comer à família e ainda conseguir comprar livros”.

Carlos Narciso, considerado pelo Notícias Lusófonas (opinião que subscrevo) como “um excelente Jornalista, dos mais conhecidos e respeitados em todo o espaço lusófono”, dizia também que “há uma ideia romantizada do que é jornalismo e, nessa ideia, não entram conferências de imprensa enfadonhas, passar meses e anos a escrever pequenas notícias, a frustração de ver oportunidades passar ao lado, a mediocridade premiada, enfim, o dia-a-dia de muitas redacções”.

Também em Maio de 2009, Alfredo Maia – presidente do Sindicato dos Jornalistas - salientava que ainda que a liberdade de imprensa esteja, "do ponto de vista formal, assegurada", há "problemas graves" no jornalismo português.

Alfredo Maia salientava então (e desde então a situação piorou que a "ameaça de desemprego" que paira sobre alguns conjuntos de profissionais e a "precariedade", que atinge "novos e antigos profissionais", são os principais desafios à "autonomia" da imprensa hoje em dia.

Compreendo que como jornalista assalariado e, portanto, igualmente sujeito à ameaça de desemprego, o Alfredo Maia não possa dizer mais. Fica, contudo, um travo amargo porque de um presidente de um sindicato esperava mais. Muito mais.

Já para o então sub-director do jornal Público, a falta de liberdade de expressão passa, no Ocidente, muito mais, por um "tipo de controlo de opinião, que é feito de uma forma muito mais subliminar".

Segundo Amílcar Correia, esse controlo acontecia (acontece) sob a forma de "condicionamento económico dos órgãos de informação", pela "pressão de fontes" e anunciantes, que "num cenário de alguma crise nos media", podem conseguir ter "alguma influência no editorial das respectivas publicações".

Os leitores aqui do Alto Hama certamente que se lembram de já ter lido algo semelhante. E de o ter lido desde há muito tempo e por várias vezes.

Sobre os eventuais excessos derivados da "falta de sensatez e de bom senso" dos jornalistas, Amílcar Correia entende que "a ausência da liberdade de expressão é sempre pior", portanto, "é preferível o excesso de liberdade de imprensa à total ausência de liberdade de expressão".

Aliás, todos sabem que, no reino lusitano, não faltam exemplos de casos onde os jornalistas são “voluntariamente obrigados” a pensar com a barriga.

"Só com jornalistas usando plenamente os seus direitos e garantias existe jornalismo verdadeiramente livre e responsável", destacava Alfredo Maia, certamente pensando nas centenas de jornalistas que nos últimos anos foram obrigados a ir para o desemprego. Tudo, é claro, a bem de uma nação que acaba de instituir a escravatura como forma de, dizem eles, evitar a falência.

Em Angola mas também em Cabinda

A História (também) é feita com memória


Ontem estive no “II Encontro de Gerações JN” que decorreu em Coimbra sob a batuta do Jorge Castilho.

Entre outros, reencontrei o Álvaro Faria, Armando Miro, Artur Miranda, Aurélio Cunha, Carlos Naia, Carlos de Sousa, César Príncipe, Costa Carvalho,  Manuel Correia, Manuel Gomes de Almeida, Manuel Luís Mendes, Manuel Neto da Silva, Maria Alice Rios, Onofre Varela e o Pereira de Sousa.

E por falar em “gerações JN”, nada como recordar, na íntegra, o “Manifesto pelo último grande jornal da cidade do Porto”, publicado há pouco mais de três anos:

“Há um só jornal de dimensão nacional sedeado fora de Lisboa, o “Jornal de Notícias”, resistente último à razia que o tempo e as opções de gestão fizeram na Imprensa da cidade do Porto. Todavia, nunca a precariedade dessa sobrevivência foi tão notória como hoje, sendo tempo de todas as forças vivas da sociedade reclamarem contra o definhamento da identidade de uma instituição centenária que sempre as representou, passo primeiro para a efectiva e irreversível extinção.

Desde sempre duramente penalizado pela integração em grupos de Comunicação Social, pois sempre foi impedido de viver à medida das audiências e dos resultados, o “Jornal de Notícias” tende a ser profundamente descaracterizado pela remodelação que o Grupo Controlinveste encetou, ao lançar um processo de despedimento colectivo que afectou, para já, 122 pessoas em quatro dos títulos de que é proprietário.

São cada vez mais nítidos os indícios de que o referido grupo económico está a usar a crise para levar a cabo uma reestruturação, longamente pensada, que, através da criação de sinergias, destruirá a identidade dos dois jornais centenários de que é proprietário: o JN e o “Diário de Notícias”. Se o processo não for travado, os dois jornais, mesmo que mantenham cabeçalhos diferenciados, serão apenas suportes de conteúdos sem alma. A ideia não é nova e, com a concentração dos media e com alterações legislativas feitas à medida, está em pleno curso.

É agora prática corrente a figura do ”enviado notícias”, jornalista de um dos dois títulos em serviço no estrangeiro, que vê a sua reportagem (ipsis verbis) publicada em ambos, ainda ontem concorrentes, mesmo que integrados no mesmo grupo. Foi agora criada, à custa do despedimento de fotojornalistas, uma agência fotográfica cujos membros integrantes trabalharão, indiscriminadamente, para os jornais “Diário de Notícias”, “24Horas” e “O Jogo” (o JN entrará logo depois nesse esquema, a primeira grande machadada nas matrizes identitárias das publicações).

O resto virá a seguir. Os jornais do Grupo Controlinveste passarão a ser, não importa se sob uma ou várias marcas, veículos de um pensamento unificado. Pensando apenas em optimização de recursos, descaracterizam-se redacções e nada impedirá, como acabou de suceder no JN com a informação internacional, que secções sejam extintas, uma vez que, nesta visão redutora, um só jornalista chegará para alimentar quantos jornais e páginas da Internet for necessário. A prática que se adivinha está já em curso na informação desportiva, em que JN e “O Jogo” partilham trabalho jornalístico.

Com a solidificação deste assustador processo, será o JN o mais penalizado e, com ele, a cidade do Porto, todo o Norte do país, vastas extensões da região Centro e, por conseguinte, a própria qualidade da democracia portuguesa. Toda esta estratégia está a ser desenhada à distância, integrando-se nela a recuperação, há menos de um ano, do cargo de director-geral de publicações, entregue ao director do “Diário de Notícias”. Não importa a qualidade boa ou má dos propósitos, apenas que a estratégia do JN vem sendo traçada por pessoas que desconhecem por completo a história, o papel social, o estilo, os leitores ou os agentes sociais que ao longo de décadas tiveram neste jornal a sua voz.

Cada vez mais, o JN deixará de ser a montra dos problemas e dos anseios de vastas zonas do país (o fecho e o emagrecimento de filiais são paradigmáticos). Com isso, haverá um crescente isolamento de regiões que o centralismo tem colocado cada vez mais na periferia. Com isso, o debate sobre a regionalização será restrito e controlado pelo espírito centralista. Com isso, questões como o peso do Porto e do Norte no Noroeste Peninsular serão menorizadas. Problemas como o da gestão do Aeroporto Francisco Sá Carneiro serão menos discutidos. A progressão da rede de metro do Porto será menos reclamada. O poder local será ainda mais invisível. O empreendedorismo será asfixiado. A vida cultural será ainda mais silenciada. O país exterior à capital será cada vez mais paisagem.

Em sede própria, estão os trabalhadores afectados pelos despedimentos (não apenas jornalistas), muitos deles em situações dramáticas, a lutar pelos direitos que lhes assistem. Aqui, é o jornal que luta pela própria existência. Dentro dos deveres que lhes são impostos, os representantes eleitos pelos jornalistas do “Jornal de Notícias” erguem a voz pela história que lhes cumpre honrar, pedindo que se lhes juntem as vozes de quantos virem na preservação desta identidade uma causa justa.

A cidade do Porto e o Norte assistiram, calados, ao desmantelamento de ícones como “O Primeiro de Janeiro” e “O Comércio do Porto”. Quando reclamaram, era tarde. No caso do JN vão ainda tempo de exigir responsabilidade e sensatez. Quando perceber que o fim de tudo foi assim evitado, também o Grupo Controlinveste agradecerá, e é por isso que reclamamos a recuperação urgente do verdadeiro JN. Nacional mas do Porto.”

sexta-feira, abril 27, 2012

E que tal aprender com Passos Coelho?


O economista e vencedor do prémio Nobel, Joseph Stiglitz, afirma que a Europa está numa situação complicada devido às medidas de austeridade que estão a empurrar o continente "para o suicídio".

Vê-se bem que o homem não percebe nada da matéria. Bastar-lhe-ia falar com o primeiro-ministro de Portugal para perceber que, afinal, é exactamente ao contrário.

Tão ao contrário que o governo português já não aplica a austeridade a cidadãos como António Mexia, presidente executivo da EDP, que recebeu uma remuneração 1,04 milhões de euros no ano passado, um valor em tudo semelhante ao auferido em 2010.

Tão ao contrário que o governo português já não aplica a austeridade a cidadãos como Cavaco Silva, Joaquim Pina Moura, Jorge Coelho, Armando Vara, Manuel Dias Loureiro, Fernando Gomes, António Vitorino, Luís Parreirão, José Penedos, Luís Mira Amaral, António Castro Guerra, Joaquim Ferreira do Amaral, Filipe Baptista, Ascenso Simões, Faria de Oliveira ou Eduardo Catroga.

“Nunca houve um programa de austeridade bem sucedido num país grande", declarou ontem o economista aos jornalistas, em Viena, e hoje citado hoje pela agência Bloomberg.

Aí está uma colossal diferença. Portugal é um país pequeno e, ao contrário dos grandes, tem a vantagem de um dia destes ser resgatado do fundo e emergir ali para os lados do Norte de África.

Se a Grécia fosse o único país europeu a aplicar medidas de austeridade, os responsáveis europeus poderiam ignorá-lo, considerou Stiglitz, "mas com o Reino Unido, a França e todos estes países a sofrer a austeridade é como se fosse uma austeridade conjunta e as consequências económicas vão ser duras".

Nada disso. Joseph Stiglitz  deveria reparar que Passos Coelho disse (ainda não era primeiro-ministro, mas foi com isso que lá chegou) “aceitarei reduções nas deduções no dia em que o governo anunciar que vai reduzir a carga fiscal às famílias. Sabemos hoje que o Governo fez de conta. Disse que ia cortar e não cortou. Nas despesas correntes do Estado, há 10% a 15% de despesas que podem ser reduzidas”.

Embora os líderes da zona euro "tenham percebido que a austeridade por si ó não funciona e que é preciso crescimento", não houve ações nesse sentido "e o que acordaram fazer em dezembro é uma receita para garantir que vai morrer", afirmou Joseph Stiglitz referindo-se ao euro.

E acrescentou: "A austeridade combinada como os constrangimentos do euro é uma combinação fatal".

Stigltiz admite uma zona euro de "um ou dois países", constituída pela Alemanha e possivelmente a Holanda e a Finlândia, como "o cenário mais provável se a Europa mantiver a abordagem de austeridade" que levará a altos níveis de desemprego, como o de Espanha que atinge 50 por cento nos jovens desde a crise de 2008, "sem esperança de melhorias nos próximos tempos".

"O que estão a fazer é destruir o capital humano, estão a criar jovens alienados", alertou Joseph Stiglitz. Será que essa dos jovens alienados era dirigida a Passos Coelho? Fica a dúvida para uns e a certeza para a maioria.

Para impulsionar o crescimento os líderes europeus terão, segundo Joseph Stiglitz , de redirecionar as despesas públicas para "utilizar ao máximo" instituições como o Banco Europeu de Investimento e introduzir impostos que melhorem o desempenho económico.

Para que Joseph Stiglitz  não continue a dizer asneiras, aui fica parte da receita de Passos Coelho: “Vamos ter de cortar em gorduras e de poupar. O Estado vai ter de fazer austeridade, basta de aplicá-la só aos cidadãos. Ninguém nos verá impor sacrifícios aos que mais precisam. Os que têm mais terão que ajudar os que têm menos”.

Ou ainda, “queremos transferir parte dos sacrifícios que se exigem às famílias e às empresas para o Estado. Já estamos fartos de um Governo que nunca sabe o que diz e nunca sabe o que assina em nome de Portugal”.

Mas também, “se vier a ser necessário algum ajustamento fiscal, será canalizado para o consumo e não para o rendimento das pessoas. Se formos Governo, posso garantir que não será necessário despedir pessoas nem cortar mais salários para sanear o sistema português”.

Além do mais, “já ouvi o primeiro-ministro dizer que o PSD quer acabar com o 13º mês, mas nós nunca falámos disso e é um disparate.”

Seja feita a vontade do soba maior!


Durante a última campanha eleitoral em Angola, que deu mais de 80% dos votos ao MPLA, o partido de José Eduardo dos Santos prometeu a construção de um milhão de novas casas e a criação de milhões de novos empregos.

Além disso, como poucos se recordam, como cada vez menos se recordam, como ainda menos estão interessados em recordar, prometeu aos angolanos o fim da exclusão social, a consolidação da democracia e a restauração dos valores morais.

E assim, vários projectos habitacionais estão em curso, ou em vias disso, ou em vias de estar em vias, em todo o país, seja por iniciativa pública, seja privada (no caso de Angola não sei bem qual é a diferença).

O Governo do MPLA mantém que a construção de habitações sociais é uma das prioridades. Se calhar é por isso que a maior parte dos projectos habitacionais decorrem em Luanda onde, segundo revelou em tempo útil o Notícias Lusófonas citando o próprio ministro o Urbanismo e Construção, faltam 1,7 milhões de habitações.

Os projectos localizados nos municípios do Kilamba Kiaxi, Cacuaco, Viana (Zango) e quilómetro 44 são os mais conhecidos, diz o próprio “Jornal de Angola”, pormenorizando que o complexo habitacional do Kilamba Kiaxi vai beneficiar 160 mil habitantes, com a conclusão de 20 mil apartamentos, até 2011.

No projecto do Quilómetro 44, diz o JA, estão a ser erguidas duas mil casas, cujos beneficiários, na sua maioria, serão os funcionários do futuro aeroporto de Luanda.

Continuando a citar o órgão oficial do Governo, o projecto do Cacuaco vai ser construído em três fases e no final tem 30 mil apartamentos, em prédios de cinco a 11 andares, estando agora em fase de execução dez mil apartamentos que ficarão prontos em dois anos e meio.

Saindo da capital, no Huambo está em execução um projecto habitacional que contempla a construção de 130 moradias, num investimento de 500 milhões de dólares.

Na Huíla, 25 mil novas casas de renda económica são construídas a partir deste ano. Numa primeira fase vão ser edificadas na cidade do Lubango mais de duas mil habitações, e outras mil nos municípios da Matala e da Chibia.

A região Leste - províncias do Moxico, Lunda-Norte e Lunda-Sul -, vai beneficiar de 28 mil habitações sociais. O projecto compreende a construção de 20 mil casas na cidade do Dundo (Lunda-Norte), cinco mil em Saurimo (Lunda-Sul) e três mil no Luena (Moxico).

E enquanto esperam, sentados à porta da cubata, os angolanos ficam a pensar no facto de Angola figurar na lista dos países africanos que apresentaram uma grande taxa de crescimento económico, tendo como motor a extracção do petróleo. Ficam, também, a meditar na certeza de que os moradores em bairros de barracas são a maioria, mais de 80 por cento da população urbana.

Recordam-se, por mero acaso – é óbvio, que segundo revelou em 2009 a organização não-governamental Parceria África-Canadá (PAC), uma sociedade de generais angolanos ganhou perto de 120 milhões de dólares (83 milhões de euros), nos últimos dez anos, com uma participação “silenciosa” no negócio dos diamantes?

Na Revista Anual da Indústria dos Diamantes 2007 dedicada a Angola, a ONG afirmava que abundam por todas as regiões mineiras angolanas casos como o da “Lumanhe Extracção Mineira, Importação e Exportação”, em que empresas “aliadas do governo” impõem a sua presença em projectos de exploração, um negócio que deverá render vários milhares de milhões de dólares nas próximas décadas.

“Na corrida para conseguir uma parte da indústria angolana de diamantes, a Lumanhe demonstrou ser extremamente afortunada, captando uma participação de 15 por cento nos projectos aluviais de Chitotolo e Cuango, e uma participação de percentagem semelhante no projecto de exploração em Calonda”, afirmava o relatório.

A empresa tem como sócios António Emílio Faceira, Armando da Cruz Neto, Luís Pereira Faceira, Adriano Makevela McKenzie, João Baptista de Matos e Carlos Alberto Hendrick Vaal da Silva, cinco dos quais generais das Forças Armadas de Angola.

De acordo com a PAC, o rendimento anual da “empresa dos generais” passou de cinco milhões de dólares em 1997 para 22 milhões de dólares em 2006.

No total, o rendimento no período foi de 120 milhões de dólares, o equivalente a dois milhões de dólares por general, por ano.

“Os investidores estrangeiros que actuam em Angola parecem ter incluído essas transferências de dinheiro simplesmente como fazendo parte dos custos de negociação. Contudo, ao reivindicarem cinco a 25 por cento de cada projecto, essas empresas aliadas do governo não estão a tirar dinheiro ao governo ou aos investidores. É o povo angolano que paga o preço”, afirmava.

“A pergunta fundamental”, dizia a ONG, é “o que os angolanos poderiam ter feito com esse dinheiro”, que equivale ao necessário para construção de cem hospitais provinciais como o do Dondo, capital da Lunda Norte, no valor de 1,25 milhões de dólares.

“Os 120 milhões de dólares recebidos pelos generais dariam para construir 150 escolas e pagar a 800 professores um salário mais digno de 300 dólares todos os meses durante 25 anos, sobrando ainda dinheiro para giz, papel e canetas”, afirmava a PAC.

De acordo com a ONG, existem um pouco por todas as regiões produtoras de diamantes “projectos de mineração onde as empresas angolanas apoiantes do governo retiram a sua parte”.

Entre as recomendações da ONG ao governo angolano estava a realização de leilões ou licitações para atribuição das participações em sociedades mineiras, e que os ganhos destes sejam encaminhados para projectos sociais nas regiões diamantíferas.

“O governo angolano e a Endiama devem deixar de oferecer grandes percentagens dos projectos de sociedade conjunta às empresas angolanas apoiantes do governo. Todos os vínculos nominais que existem entre as áreas de concessão e as empresas angolanas deveriam ser cancelados”, defendia o relatório.

Além disso, adiantava, o executivo e a Endiama deve “trabalhar a questão da distribuição dos benefícios do sector diamantífero angolano», uma vez que os beneficiados actualmente resumem-se ao governo, empresas e aos amigos do governo, «e pouco é retribuído aos moradores das regiões que produzem diamantes”.

Conclusão? Nas próximas eleições, se as houver, o MPLA via ter bem mais do que 80% dos votos…

quinta-feira, abril 26, 2012

Mário Soares diz, com toda a razão, que já teve protagonismo suficiente no passado!


O antigo Presidente da República Mário Soares disse hoje que na sua idade protagonismo é coisa que não lhe interessa muito, considerando que já teve "o suficiente no passado".

Questionado sobre a crítica indirecta que o primeiro-ministro lhe fez na terça-feira, quando disse estar habituado a que algumas figuras políticas queiram assumir protagonismo em datas especiais, Mário Soares começou por dizer que se tratou de uma frase de Passos Coelho que não queria comentar.

Perante a insistência dos jornalistas, no final de uma conferência organizada pela revista Visão intitulada "Conversas às quintas com a Visão", que decorreu no Museu da Electricidade, o antigo chefe de Estado acabou por referir que na sua idade já não está muito interessado em protagonismo.

"Cheguei a uma idade em que protagonismo já não é uma coisa que me interesse muito, como imagina. Já tive o suficiente no passado", declarou, recusando, contudo, a ideia de ter ficado "zangado" com as palavras do primeiro-ministro.

A acusação indirecta de Passos Coelho foi feita quando questionado sobre a decisão de Mário Soares e de Manuel Alegre de não comparecerem nas comemorações oficiais do 25 de Abril em solidariedade com a Associação 25 de Abril, que integra alguns dos chamados 'capitães de Abril' e esteve ausente da cerimónia no Parlamento por estar contra a política seguida pelo Governo.

As armas e os ladrões assinalados


A Polícia de Segurança Pública de Portugal afirmou hoje que existem no país mais de 1,4 milhões de armas legais, tendo sido emitidas em 2011 perto de 21 mil novas licenças de uso e porte  de armas.

Tirando as legais, quer-me parecer que o número das ilegais até dava para começar uma revolução. Aliás, se calhar ainda há algumas em boas mãos do tempo do próprio PREC de 1974.

O relatório do Departamento de Armas e Explosivos da PSP revela ainda que a maior parte das novas licenças diz respeito a armas de caça, tendo sido emitidos 11.777 dos 20.845 pedidos de licença efectuados no ano passado.

Não sei se não há mais caçadores do que caça, razão pela qual me parece que a finalidade de muitas delas possa ser, um dia destes, fazer justiça pelas próprias mãos. Em desespero, os escravos são capazes de puxar o gatilho. E como há cada vez mais escravos, ainda por cima esqueléticos…

Eu sei, por exemplo, que os reformados não precisam de aumentos nas pensões e que bem podem viver sem 13º e 14º mês. Aliás, não pagam não pagam a luz, o gás, as rendas, os remédios como todas as outras categorias.

Estarão, por isso, fora dos que podem pegar em armas. Pelo contrário, os deputados, os juízes, os ministros, os gestores do que é público etc.  têm de trabalhar duro para conseguir o pouco que têm. Se calhar estes vão querar fazer justiça.

O Departamento de Armas e Explosivos da PSP, que pela primeira vez faz um relatório anual da sua actividade, indica também que foram apreendidas ou entregues em 2011 uma média de 18 armas de fogo por dia, num total de 4.150 apreensões.

Os portugueses são, de facto, um povo pacato. Até entregam as armas que, salvo melhor opção, poderiam servir para ajudar o seu pobre país a produzir riqueza em vez de ricos.

No ano passado a PSP apreendeu também 233.447 quilos de explosivos nas 2.057 fiscalizações realizadas junto de locais de fabrico, depósito e consumo de explosivos. Que chatice. Ao ritmo a que os portugueses entregam as armas e com a apreensão de explosivos será difícil, creio, levar os donos do reino a perceber que quando a força da razão não resulta, a única opção é mesmo a razão da força.

As armas e os ladrões assinalados / Que na ocidental praia lusitana, / continuam a explorar os desgraçados / neles vendo uma casta insana.

quarta-feira, abril 25, 2012

Não resultou na Suíça, mas em Portugal o Governo garante a pés juntos que dará certo


Uma mulher morreu à fome na Suíça após ter seguido uma dieta que exigia que deixasse de comer ou beber, e que vivesse apenas de luz do sol.

Diz o jornal suíço "Tages-Anzeiger" que a mulher, que teria à volta de 50 anos, decidiu seguir uma dieta radical em 2010 após ver um documentário austríaco sobre um guru indiano que viveu desta forma mais de 70… anos.

Segundo o “Tages-Anzeiger”, existem casos semelhantes na Alemanha, Reino Unido e Austrália. Esqueceu-se, obviamente, de Portugal.

Acontece, contudo, que no reino lusitano de Pedro Passos Coelho os resultados são bem diferentes. É, pelo menos, o que diz o soba desse reino situado a norte, embora cada vez mais a sul, de Marrocos.

A favor da tese do actual governo português jogam, aliás, muitos outros dados, estudos, pareceres e relatórios. Os mais recentes dizem, por exemplo, que dormir às escuras pode ajudar a controlar a diabetes e que viver sem comer ajuda a diminuir o excesso de peso e as doenças correlativas.

Uma investigação levada a cabo por investigadores da Universidade de Granada (Espanha) permitiu concluir que dormir completamente às escuras pode ajudar a controlar melhor a diabetes mellitus, uma doença metabólica crónica provocada pela insuficiente produção de insulina pelo corpo.

Mesmo que a esse facto não se junte o aumento do IVA na electricidade, não é difícil concluir que o melhor mesmo é viver às escuras, sem electrodomésticos, exercitando o corpo na lavagem da roupa à mão e bebendo líquidos à temperatura ambiente.

Essa quantidade insuficiente de insulina provoca excesso de glucose no sangue, pelo que os doentes têm que controlar ao longo de toda a sua vida os níveis, injectando insulina, seguindo uma dieta alimentar saudável e praticando exercício físico.

A equipa de investigadores da Universidade de Granada demonstrou que a melatonina, uma hormona segregada de forma natural pelo corpo humano, ajuda a controlar a diabetes, já que aumenta a secreção da insulina, reduz a hiperglicemia e a hemoglobina glicada e diminui os ácidos gordos livres.

Ora, a escuridão da noite favorece a secreção desta hormona, razão pela qual os investigadores acreditam que dormir completamente às escuras, ou até mesmo viver totalmente às escuras, pode ajudar a controlar a diabetes associada à obesidade e os factores de risco associados.

Os mesmos efeitos foram verificados com a ingestão de alimentos que contém melatonina, como o leite, os cereais e as azeitonas, ou algumas plantas, como a mostarda, a curcuma, o cardamomo, a erva-doce e o coentro.

Aqui a coisa já não tem tanta piada. É que o leite, os cereais etc. são, cada vez mais, bens de luxo. E a situação do país não se compadece com esses gastos. Pão e laranja é quanto basta. E mesmo assim é só para os que ainda podem.

Tudo leva a crer, apesar da notícia da Suíça, que Passos Coelho deve “importar” o indiano Prahlad Jani que, diz ele, não come nem bebe há mais de 70 anos.

Recorde-se que o governo indiano, certamente atento ao que ao impacto do assunto, resolveu descobrir, ou tentar – pelo menos, se o que ele diz é verdade ou se Jani é apenas um farsante. Aos 83 anos, ficou 14 dias a ser observado e filmado por uma equipa de 30 médicos escolhida pelo Ministério da Defesa indiano. Segundo os testemunhos, ele não ingeriu (nem expeliu...) nada durante esse tempo.

E é baseado neste caso que, até prova em contrário, está a animar a comunidade social-democrata de Portugal, que Passos Coelho (certamente com a colaboração institucional de Cavaco Silva e Paulo Portas e o incondicional apoio da troika) pretende  - - e vai conseguir - ensinar os portugueses a, pelo menos, viver sem comer.

E, convenhamos, se for possível garantir à dona da Europa, Angela Dorothea Merkel, que os portugueses conseguem estar uns anos sem comer, Portugal não tardará muito a ter o défice em ordem e a beneficiar do pleno emprego.

Além disso, serão o FMI e a senhora Angela Dorothea Merkel a pedir a ajuda do novo “líder carismático” do reino lusitano…

Até agora, sobretudo porque os portugueses (claramente sedentos de protagonismo) são uns desmancha-prazeres, os resultados não são animadores. Todos os que tentaram seguir (embora voluntariamente obrigados) o método  de Prahlad Jani estiveram muito perto mas, quando estavam quase lá... morreram.

Já em 2006 o Discovery Channel fez um documentário sobre Prahlad Jani que, na altura, concordou em ser filmado durante dez dias e também foi analisado por médicos e cientistas, que não chegaram a uma conclusão nem presenciaram nenhuma impostura.

Os médicos apenas atestaram que Prahlad Jani estava com a saúde perfeita após o jejum. Depois da nova experiência, Jani deu uma conferência de Imprensa no hospital Ahmedabad. “Eu estou forte e saudável porque é assim que Deus quer que eu esteja”, disse ele.

Jani tem preparado o mesmo discurso para a altura em que virá a Portugal. Sabe-se que dirá: “Eu estou forte e saudável porque era assim que o representante directo de Deus, Pedro Passos Coelho, quer que eu esteja”.

O factor medo condiciona!


Em crónica publicada no Jornal de Notícias, Manuel António Pina diz, a propósito de Miguel Portas, que “morreu um homem justo”. Tem toda a razão.

“(…) Num momento em que o país mais precisa de homens lúcidos e livres, um desaparecimento que justificaria que se dissesse que ficámos, se possível, ainda mais pobres, não se tivesse tornado tal expressão um cliché fruste sem réstia de literalidade”, escreve Manuel António Pina.

Quando fala de “um homem justo”, estaria Manuel António Pina a pensar no que Miguel Portas disse ao Correio da Manhã em Fevereiro de 2009? E o que ele disse foi: "Estou preocupado com este despedimento colectivo (Jornal de Notícias) porque é um dos principais jornais do País e que dá importância à pequena informação local, sobretudo a norte"?

Quando fala de “um homem justo”, estaria Manuel António Pina a pensar que foi Miguel Portas quem disse que os despedimentos na comunicação social "põem em causa a pluralidade da informação e fomentam a precariedade"?

Quando fala de “um homem justo”, estaria Manuel António Pina a pensar que foi Miguel Portas quem disse que "quando um grande grupo de comunicação social, como é a Controlinveste, despede centenas de trabalhadores, gera o factor medo nos outros que ficam condicionados, com receio de serem também despedidos"?

Fica a dúvida e a certeza de que há dúvidas que não se escrevem, sobretudo quando envolvem os que põem lagosta em pratos que outrora só tinham sardinhas…

terça-feira, abril 24, 2012

Obrigado Miguel Portas


Miguel Portas morreu hoje aos 53 anos. Dele terei falado aqui no Alto Hama uma meia dúzia de vezes. Num texto de 15 de Fevereiro de 2009, a última frase dizia: Para memória futura!

Nesse texto, eu perguntava:

Quem terá sido o político que afirmou ao Correio da Manhã que: "Estou preocupado com este despedimento colectivo (Jornal de Notícias) porque é um dos principais jornais do País e que dá importância à pequena informação local, sobretudo a norte"?

Quem terá sido o político que afirmou que os despedimentos na comunicação social "põem em causa a pluralidade da informação e fomentam a precariedade"?

"Quando um grande grupo de comunicação social, como é a Controlinveste, despede centenas de trabalhadores, gera o factor medo nos outros que ficam condicionados, com receio de serem também despedidos".

Quem terá sido que disse isto?

"Quais foram os critérios para a escolha das pessoas. Parece que nem os próprios sabem nem ninguém os esclareceu ainda".

Esta verdade, tal como as anteriores, terá sido dita por Manuela Ferreira Leite, Paulo Portas, Rui Rio ou Álvaro Castello-Branco?

"Os trabalhadores do ‘JN’ e dos outros jornais do mesmo grupo podem contar comigo”. Quem disse?

O seu a seu dono. Ao contrário dos exemplos citados (e a lista seria interminável) não foi nenhum deles que se preocupou em estender a mão e, inclusive, até penso que alguns deles terão ajudado à festa.

Quem disse tudo isto foi Miguel Portas, do Bloco de Esquerda.

Este texto ficou registado, como disse, para memória futura! E essa mesma memória legitima que hoje diga: Obrigado Miguel Portas.

Ele comemora, pois claro!, o 24 de Abril

O primeiro-ministro do reino lusitano disse hoje que se está nas tintas para a ausência de Mário Soares e Manuel Alegre nas comemorações oficiais do 25 de Abril.

Passos Coelho continua a sua senda. Se ele não quer saber dos portugueses, porque carga de chuva haveria de querer saber de Mário Soares e Manuel Alegre.
Passos Coelho terá dito que está "habituado a que ao longo dos anos algumas figuras queiram assumir protagonismo em datas especiais".
Tem razão. Quando se olha ao espelho, o primeiro-ministro não vê que é um pigmeu. E como se julga líder de uma casta superior, eventualmente divina, lá vai continuando a borrifar-se para todos aqueles que se atrevem a pensar de forma diferente da sua.
O primeiro-ministro frisou que esta data "não pertence ao Governo, pertence ao país". Bem dito. Mas, falta acrescentar, como o país lhe pertence, quem não estiver de acordo que vá pregar para outra freguesia, se possível para outro país.
Em abono das teses do sumo pontífice do reino lusitano recordo as palavras de Miguel Relvas, também ele um dos donos da verdade e do país: "Nós não culpamos mas também não esquecemos, a realidade é visível. Todos nós somos obrigados a ter memória, ela é muitas vezes intencionalmente  apagada por aqueles que têm responsabilidades".
Tenhamos então, até para não defraudar o repto dos donos do reino, memória.
“Não acredito que quando começarem a morrer pessoas à fome, quando começar tudo numa barafunda, se continue a achar que vale a pena puxar a manta”, afirmou o bispo das Forças Armadas a propósito das medidas tomadas pelo governo esclavagista de Portugal, explicando que “as medidas da troika são duras mas não me deixam surpreso, mas depois descubro que os nossos governantes vão além dos sacrifícios impostos pela troika e fico atónito”.
D. Januário Torgal Ferreira nota, como acontece com os mais de  1.200 mil desempregados, 20 por cento de pobres e outros tantos que já nem pratos têm, “uma grande insensibilidade social, apesar de haver muita gente no governo com boas intenções”.
Se calhar até há gente em Portugal com boas intenções. Não creio, ao contrário do bispo, que estejam no Governo ou perto dele. Quando muito andarão as escarafunchar nos caixotes do lixo que circundam o Palácio de S. Bento.
D. Januário Torgal Ferreira entende, ao contrário dos donos do reino, que “não são os trabalhadores por conta de outrem os assassinos do país”, acrescentando que esta ideia é “uma calúnia e um aproveitamento, porque na crise revelam-se oportunidades para explorar os explorados”.
Por outro lado, Pedro Passos Coelho – importa não o esquecer, importa recordá-lo, importa ter memória – pergunta: “A quem serve este regime, que supostamente é extremamente avançado de direitos sociais? Que regime avançado é este que só gera desemprego, precariedade, recibos verdes ou contratos a termo? Temos medo das pressões, ou da contestação ou das greves que possam surgir?” e responde “eu não tenho!"
Isto foi dito, repare-se, numa sessão evocativa em memória de Francisco Sá Carneiro, no Porto, o que só por si revela a lata, o nanismo intelectual e a falta de vergonha do primeiro-ministro e líder do PSD.
Os  devaneios de um anão que se julga gigante ,relembram-me mais algumas das afirmações de D. Januário Torgal Ferreira,  para quem se Francisco Sá Carneiro fosse vivo caía para o lado. No entanto, como já morreu, deve estar – segundo o bispo das Forças Armadas -  a dar voltas no túmulo já que, acrescenta, a austeridade (entre outros dislates deste governo) é uma espécie de "terrorismo".
Recordemos um pouco mais o que diz este bispo que teima em pôr os portugueses a pensar pela própria cabeça, e a rejeitar qualquer intervenção cirúrgica que vise a substituição da coluna vertebral.
"A mim, também me dava jeito um desvio colossal. Depois em Março alguém pagava", disse, desconfiado das razões que levaram à decisão pelas novas medidas de austeridade. "Nada é explicado. Fico com uma grave suspeita sobre a verdade de tudo isto", acrescentou D. Januário Torgal Ferreira, em declarações à RTP.
"A Igreja tem de respeitar a justiça e lutar pelos direitos humanos. Não pode acatar qualquer acto terrorista", disse o bispo das Forças Armadas, quando confrontado com uma pergunta sobre a posição da Igreja face às novas medidas de austeridade. "Há vários tipos de terrorismo, o intelectual, o do medo", disse o bispo.
"Agora é assim? Em Fevereiro os reformados não vão receber. E em Março são os funcionários que ficam sem receber?", questionou. Mas o primeiro-ministro disse que lamentava ter de aplicar estas medidas, argumentou a jornalista da RTP. A resposta foi lapidar: "Já vi muita gente a lamentar e depois ir assaltar um banco. Ou a abandonar a mulher e os filhos e a dizer:  lamento".
“É preciso ter muito cuidado. Porque é nestas horas que se fazem grandes fortunas. E, sobretudo, é nestas horas em que os mais pobres ficam mais pobres e alguns ricos ficam muitíssimo mais ricos”, disse o mesmo prelado no Funchal, à margem da comemoração dos 58 anos da Força Aérea Portuguesa.
“Nós temos de lutar e dizer em voz alta, com respeito, respeitando a liberdade, respeitando as pessoas, mas respeitando antes de mais a verdade”, apontou D. Januário Torgal Ferreira.
É claro que ao bispo das Forças Armadas é mais fácil dizer estas verdades. Desde logo porque, ao que julgo, o actual (como o anterior) ministro da Defesa não o despediu ou – como fez o governo anterior e o fará o actual - deu cobertura a despedimentos colectivos nas Forças Armadas.
Passos Coelho esclareceu que, com a actual legislação, existem "cada vez menos trabalhadores, porque aqueles que podem oferecer emprego têm medo de o fazer, anão ser em regime de recibo verde". Sim. Deixam, contudo, de ter medo quando o trabalhador é militante do PSD.
Pois é. Tal como os sacos vazios não se aguentam de pé, também os portugueses, e pela mesma razão, estão de cócoras e de mão estendida.
A verdade é que sempre que o Governo de Passos Coelho abre a boca saem novos impostos, novos cortes, novas taxas, novas regras para que todos os escravos aprendam a viver sem comer.
A procissão ainda vai no adro, mas é já possível dizer que o primeiro-ministro transformou José Sócrates num ingénuo pilha-galinhas.
Como se já não bastasse entrar descarada e criminosamente nos  bolsos, na saúde, na vida dos portugueses, o Governo resolve todos os dias pô-los  de pernas para o ar, numa voraz sofreguidão  para ver se não há nenhum cêntimo escondido nas dobras das calças rotas.
Se eles, Passos Coelho e companhia, entendem que devem roubar aos milhões que têm pouco, ou nada, para dar aos poucos que têm milhões, os portugueses têm de sair à rua e usar o seu legítimo direito à indignação, mesmo que para isso seja necessário pagar na mesma moeda do Governo: olho por olho, dente por dente.
Vão acabar cegos e desdentados? Talvez. Mas para quem só vê os outros a comer tudo e a não deixar nada, pouco diferença fará ter olhos e dentes…