O Sindicato dos Jornalistas de Portugal procura respostas: “Em cenários de conflito ou acontecimentos em que podem ocorrer incidentes, devem os jornalistas identificar-se de forma permanente?
“Apenas através da Carteira Profissional pendurada, ou de dispositivos como braçadeiras e coletes especiais? Sempre ou em circunstâncias especiais? Que procedimentos de segurança devem ser observados?”
Para ouvir os jornalistas, o Sindicato vai promover diversas sessões, sendo que a primeira tem lugar já na próxima semana, com realização de reuniões na sede nacional, em Lisboa, na terça-feira, dia 10 de Abril, e na Delegação Norte, na quarta-feira, dia 11, ambas pelas 21 horas.
Estas acções resultam das agressões aos jornalistas José Sena Goulão e Patrícia Melo, no dia 22 de Março, em Lisboa, dia em que faziam a cobertura dos protestos populares.
Divaguemos, devagar, sobre esta temática. Atitudes como a do governo nepalês de querer usar jornalistas como informadores ou das forças de segurança de Israel que se disfarçam de fotojornalistas para melhor identificar manifestantes são prejudiciais para a imagem de independência dos média e aumentam o risco de ataques contra jornalistas.
Quem o disse? Várias organizações afectas à International Freedom of Expression eXchange (IFEX).
Nessa matéria, Portugal (sobretudo nos reinados de José Sócrates e Passos Coelho) é um paraíso. O máximo que se consegue é assessores disfarçados de jornalistas, directores fingindo ser jornalistas e, de vez em quando, jornalistas disfarçados de jornalistas.
De acordo com a Article 19 e a Federação de Jornalistas Nepaleses (FNJ), o uso de jornalistas como informadores é contrário ao código de conduta emitido pelo Conselho de Imprensa Nepalês, motivo pelo qual as duas entidades e a organização local Freedom Forum apelaram ao governo do país para que abdique de usar jornalistas como espiões, para garantir a segurança da classe.
De facto... Lá que se usem os jornalistas para assinarem textos feitos por assessores, para darem um ar de notícia à propaganda, para fazerem fretes aos donos do poder, ainda vá que não vá. Agora serem informadores, essa não!
Por seu turno, o Centro Palestiniano para as Liberdades de Média e Desenvolvimento (MADA) relatou que agentes de segurança israelitas se disfarçaram de fotojornalistas para identificar e deter manifestantes, uma prática também denunciada pelos Jornalistas Canadianos pela Liberdade de Expressão (CJFE), que em 2008 documentou o caso de um polícia que se fez passar por repórter com o mesmo fito.
Pois é. São mundos e realidades diferentes. Serão? Pelo reino luso o que se encontra é bem diferente. São ministros, assessores, assessores dos assessores, chefes de gabinete, empresários, autarcas, dirigentes desportivos disfarçados de jornalistas. Tão bem disfarçados que, se calhar, alguns até têm carteira profissional.
Para o MADA, esta é “uma violação das leis e cartas internacionais e coloca em risco as vidas dos jornalistas”, enquanto o CJFE afirma que “quando polícias se fazem passar por jornalistas, cria-se um ambiente em que os cidadãos não podem confiar que quem se identifica como jornalista é realmente jornalista”, o que prejudica o relacionamento com potenciais fontes de informação.
Por Portugal, os cidadãos também confiam cada vez menos nos jornalistas. Não porque temam que lhes apareça a amante do dono do jornal a dizer que é jornalista, mas porque nem mesmo os jornalistas dizem que são jornalistas.
1 comentário:
Eis um dos temas que muito importaria debater com moderação e ponderação, sem militâncias de qualquer género, sem outra obediência que não fosse a devida à consciência. Ainda não sei se bem ou mal, os jornalistas somos, talvez, a única classe autofágica e necrofágica, nos excessos de uma acrimónia cometida ao abrigo da sempre invocada sacrossanta liberdade de expressão. As "reservas humanas" que a classe poderá ter, essas, nem o próprio Sindicato as valida; jornalista reformado é jornalista sepultado. Quem tem medo da "gente do outro mundo"?
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