O general e antigo chefe das Forças Armadas de Timor-Leste, Taur Matan Ruak, foi eleito novo presidente da República timorense, derrotando por quase 100 mil votos o seu adversário Francisco Guterres Lu Olo.
Recordo-me da altura, Fevereiro de 2008, em que o então brigadeiro-general Taur Matan Ruak, já chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, tentava assumir - com alguma dose de ridículo assumir - protagonismo.
Na altura, Ruak pôs os eus homens a dar corpo à Operação Limpeza para caçar os autores dos ataques a Ramos-Horta e a Xanana Gusmão. "Foi a primeira vez que o Estado timorense autorizou uma operação autónoma das F-FDTL", explicou orgulhoso o brigadeiro-general, hoje presidente da República eleito.
Segundo Taur Matan Ruak, as F-FDTL lançaram a operação de busca na área de Meti-hau e Becora mas não conseguiram capturar ninguém, explicando que a operação não resultou porque as suas forças não tinham mandados de busca que permitissem aos militares entrar dentro das casas.
Na altura perguntei aqui no Alto Hama (sim, onde mais poderia ser?) o que é que andavam a fazer os militares de Ruak, questionando-me se estariam à espera de encontrar Gastão Salsinha a tomar uma cerveja numa esquina e a fazer sinal do tipo “estou aqui”?
"Vamos pedir mandados para entrar dentro e em redor das casas", afirmou depois o brigadeiro-general Ruak numa conferência de imprensa realizada na Base Naval de Hera, a leste de Díli.
A coisa até teve piada. Ruak idealizou uma operação, deu-lhe um nome, pôs os operacionais no terreno, avançou e só depois, dias depois, é que se lembrou que eram precisos mandados…
"Alguma coisa não está bem", acrescentou o brigadeiro-general Ruak sobre o apoio da população ao grupo que na altura era chefiado pelo líder dos peticionários das Forças Armadas, o ex-tenente Gastão Salsinha.
Perguntei também nessa época, 16 de Fevereiro de 2008: Não será que as forças internacionais, comandadas, dirigidas, enquadradas, hierarquizadas, subordinadas aos australianos deveriam procurar saber a razão do apoio a Salsinha, tal como tinha Alfredo Reinado?
Certamente por deficiência minha, nunca cheguei a saber se Alfredo Reinado foi um herói ou um criminoso. Há, como em tudo na vida, teses que sustentam qualquer um dos veredictos. Mais do que saber qual o epíteto que lhe deve ser dado, seria importante saber o que de facto se passou. O major Reinado liderou uma emboscada a Ramos Horta e a Xanana Gusmão ou, pelo contrário, foi atraído a uma emboscada?
As versões oficiais e politicamente correctas indicam que Alfredo Reinado quis decapitar Timor-Leste, matando o presidente da República e o primeiro-ministro. Perante a constatação de que o major fora morto uma hora antes de Ramos Horta ser alvejado, as versões foram retocadas e aventada a hipótese de a ideia ser raptar Horta e Xanana.
Chamados, como sempre acontece, a descobrir o que se passara num país a quem chamam o seu quintal, os australianos sustentaram a tese de tentativa de rapto por ser, reconheço, a mais verosímil com os dados conhecidos e mais fácil de digerir por comunidade internacional que alinha na “diabolização” de Alfredo Reinado.
Há, contudo, outras possibilidades de leitura para o que se passou, goste-se ou não de Alfredo Reinado. Fontes timorenses acreditam que o major não queria nem matar nem raptar Horta e Xanana .
Reinado, embora armado e protegido pelos seus homens, ter-se-á dirigido à casa do presidente para, com o seu conhecimento, falar com ele e tentar resolver a questão da sua eventual entrega à Justiça timorense. Lá chegado, a segurança de Ramos Horta terá atirado primeiro para perguntar depois ao que vinha o major. Matou-o.
Considerando que tinham sido traídos, os homens de Reinado viram o seu líder assassinado e esqueceram ao que iam. Responderam na mesma moeda, avisaram o grupo de Gastão Salsinha, e começaram a caça a Ramos Horta que foi atingido, recorde-se, uma hora depois de Reinado estar morto.
Salsinha ao saber que Reinado fora morto mandou homens à casa do primeiro-ministro e, dada a sua ausência, tentaram bloquear a caravana em que Xanana Gusmão seguia.
Colherá esta tese? Provavelmente não. É a mais incómoda quer para o poder instituído em Timor-Leste quer, ainda, para as forças australianas que não dizem o que sabem.
A tese oficial, seja a de assassinato ou rapto, tem de facto muitas pontas soltas. Reinado lideraria um golpe para matar Horta dirigindo-se à casa sem saber que, como o presidente fazia todos os dias, aquela hora ele se exercitava nos terrenos limítrofes? Mandaria os seus homens à casa de Xanana sem cuidar de saber se ele lá estaria?
Não vale a pena, contudo, aguardar pelos próximos episódios. Reinado foi morto e enterrado e às instituições internacionais falta coragem para ir a fundo nas investigações...
… e Taur Matan Ruak é o novo presidente
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