A exclusão dos mais pobres do ensino superior é, segundo a Igreja Católica portuguesa, "um atentado à democracia". Além disso, digo eu, é mais uma medalha de bons serviços que o governo pode exibir.
Medalhas são, aliás, reconhecimentos que não faltam a Pedro Passos Coelho. A que mais gosto é aquela que diz: “ainda está para nascer um primeiro-ministro que tenha mentido tanto quanto eu”.
Por alguma razão Portugal continua a ser um dos países mais desiguais do mundo desenvolvido, com um fosso acentuado na distribuição dos rendimentos, e o mais desigual entre as economias europeias.
Ao saber das críticas da Igreja Católica, Passos Coelho comentou: “Porreiro, pá!”, virado para o seu ministro das Finanças que, perante isso, riu a bandeiras despregadas e desabafou: “Não é para isso que cá estamos?”
De acordo com o estudo "Divided We Stand: Why Inequality Keeps Rising", da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), o fosso entre ricos e pobres atingiu o nível mais elevado dos últimos 30 anos.
Bem que a OCDE poderia ser mais exacta, já que o estudo não traz nenhuma novidade, dizendo que o fosso é entre os donos do reino e os escravos.
De acordo com vários indicadores, Portugal continua a ser um dos países mais desiguais do mundo desenvolvido (tão desenvolvido que está cada vez mais próximo do Burkina Faso), em que os 20 por cento mais ricos têm rendimentos seis vezes superiores (6,1) aos dos 20 por cento mais pobres.
Entre outras conclusões, o estudo destaca ainda que o rendimento de 10 por cento da população mais rica é agora nove vezes mais alto do que o das pessoas colocadas entre os 10 por cento mais pobres na generalidade dos países da região.
São pelo menos 1.200 mil os desempregados, 20 por cento os pobres e outros tantos os que já têm saudades de ver os pratos com alguma coisa dentro.
A taxa de desemprego entre os escravos continua a medrar. Mesmo assim, abona a favor das políticas de Passos Coelho o facto de não existir desemprego nos que têm emprego, nos reformados, nos estudantes, nos que já morreram…
Bem que a Igreja Católica poderia reconhecer que Portugal nunca teve um tão bom primeiro-ministro como o que tem agora. Basta recordar, em óbvio abono de Passos Coelho, que ele afirmou, na altura referindo-se ao governo de José Sócrates, que “estas medidas põem o país a pão e água. Não se põe um país a pão e água por precaução”, acrescentando que estava “disponível para soluções positivas, não para penhorar futuro tapando com impostos o que não se corta na despesa”.
O mesmo Pedro Passos Coelho também afirmou que “aceitava reduções nas deduções no dia em que o Governo anunciar que vai reduzir a carga fiscal às famílias” e que “nas despesas correntes do Estado, há 10% a 15% de despesas que podem ser reduzidas”.
Também foi o mesmo Passos Coelho quem disse que “aqueles que são responsáveis pelo resvalar da despesa têm de ser civil e criminalmente responsáveis pelos seus actos”, acrescentando que “ninguém nos verá impor sacrifícios aos que mais precisam. Os que têm mais terão que ajudar os que têm menos”.
E foi o mesmo que hoje diz que "tal como as dívidas são para se pagar, os acordos são para se cumprir", que garantiu que “para salvaguardar a coesão social prefiro onerar escalões mais elevados de IRS de modo a desonerar a classe média e baixa”, afirmando que “posso garantir que não será necessário despedir pessoas nem cortar mais salários para sanear o sistema português”.
Pedro Passos Coelho disse igualmente que “a pior coisa é ter um Governo fraco”, pois “um Governo mais forte imporá menos sacrifícios aos contribuintes e aos cidadãos”.
Hoje, de novo solidário com Passos Coelho, pergunto o que ele perguntava antes de ser primeiro-ministro: “Como é possível manter um governo em que um primeiro-ministro mente?”
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