segunda-feira, abril 02, 2012

Pioneiros nos despedimentos colectivos

"Foi um processo iníquo de despedimento apoiado numa avaliação falsa e vigarista que na realidade não existiu".

Faz depois de amanhã três anos. Mais de centena e meia de pessoas (sim, ao contrário do que pensavam e pensam os donos dos jornalistas e os donos dos donos, eram mesmo pessoas), a maioria pertencente aos quatro jornais da Controlinveste, se manifestaram em frente ao edifício do Jornal de Notícias, no Porto, em protesto contra os 119 despedimentos então anunciados pelo grupo.

Tratou-se do primeiro despedimento colectivo da história da Imprensa em Portugal.

Entre os manifestantes encontravam-se boa parte dos despedidos, mas também muitos trabalhadores não abrangidos pela medida - jornalistas e não jornalistas - pertencentes aos quadros dos quatro jornais do grupo, que incluía o Jornal de Notícias, o Diário de Notícias, o 24 Horas e o diário desportivo O Jogo.

Alfredo Mendes, jornalista da redacção do Porto do Diário de Notícias, na altura com 53 anos e 30 de casa, disse à Lusa que, depois de todos esses anos de dedicação foi despedido "em menos de dois minutos".

Com a mulher então desempregada e dois filhos a cargo - uma com 17 anos, a ponto de entrar para a Universidade e um rapaz de 13 anos - Alfredo Mendes via “o futuro da família com desespero”.

A indemnização que a empresa lhe propôs - 44.666 euros - foi calculada tendo em conta apenas o seu ordenado base e não todos os complementos de ordenado que auferia.

"Foi um processo iníquo de despedimento apoiado numa avaliação falsa e vigarista que na realidade não existiu", afirmou.

César Príncipe, reformado do Jornal de Notícias - no qual trabalhou durante quatro décadas - compareceu em solidariedade com os seus companheiros de trabalho.

Este veterano do jornalismo portuense esteve na base do Manifesto dos 119, documento que acusava a Controlinveste de pretender que sejam os trabalhadores a pagar “um conjunto de más decisões” tomadas pela Direcção do JN, cobertas pelas administrações do jornal e do grupo.

"O que aqui estamos a assistir é a uma verdadeira matança dos inocentes", afirmou.

César Príncipe frisou então que "se o JN perdeu a liderança do mercado, de que desfrutou durante tantos anos, para o Correio da Manhã, a culpa é da actual Direcção que descaracterizou o jornal, ao retirar-lhe o seu cunho regionalista", defendeu.

"Há oito anos, quando me reformei, escrevi à Direcção do jornal a avisar que isso seria fatal para o JN, não me quiseram ouvir. Infelizmente tinha razão", afirmou.

Considerou ainda que "com a descaracterização do JN, o Porto perde o último dos três grandes diários que teve desde o século XIX e ao longo de todo o século XX".

À porta das instalações do Diário de Notícias, Jornal de Notícias, 24 Horas e O Jogo, em Lisboa e no Porto, foi distribuído um panfleto que apelava à solidariedade popular com aquela acção de luta.

Entretanto, a eurodeputada Ilda Figueiredo (PCP) anunciou nesse dia (4 de Março de 2009), em comunicado que fez chegar aos manifestantes, que ia apresentar no Parlamento Europeu uma pergunta parlamentar em que solicitaria "medidas para apoiar e defender os direitos dos trabalhadores da Controlinveste, tendo em conta também a necessidade de garantir o pluralismo na comunicação social".

A eurodeputada sublinhou que os 119 trabalhadores que a Controlinveste ia despedir representam cerca de 12 por cento dos efectivos do grupo.

Ilda Figueiredo pretendia também que os órgãos da União Europeia informassem sobre quais os apoios comunitários concedidos a este grupo e em que condições foram atribuídos.

Foto: Paulo Pimenta/Público

1 comentário:

Anónimo disse...

Essa do JN ter sido pioneiro nos despedimentos colectivos... pfff!

Infelizmente não foi. Antes desse despedimento, que mais não foi que uma machadada na memória e competência da redacção, e também nos salários altos, houve outros como os do Comércio do Porto e no Primeiro de Janeiro. E outros houve em Lisboa, como o do Tal & Qual, da Capital e ainda nos títulos do grupo do Balsemão e do Paulo Fernandes, para não falar também nos títulos e marcas do Azevedo.

Não, o JN não foi pioneiro nos despedimentos colectivos. Mas mostrou uma evidência: eles acreditam que sem jornalistas conseguem fazer melhores jornais!