O primeiro-ministro do reino lusitano
disse hoje que se está nas tintas para a ausência de Mário Soares e Manuel
Alegre nas comemorações oficiais do 25 de Abril.
Passos Coelho continua a sua senda. Se
ele não quer saber dos portugueses, porque carga de chuva haveria de querer
saber de Mário Soares e Manuel Alegre.
Passos Coelho terá dito que está
"habituado a que ao longo dos anos algumas figuras queiram assumir protagonismo
em datas especiais".
Tem razão. Quando se olha ao espelho,
o primeiro-ministro não vê que é um pigmeu. E como se julga líder de uma casta
superior, eventualmente divina, lá vai continuando a borrifar-se para todos
aqueles que se atrevem a pensar de forma diferente da sua.
O primeiro-ministro frisou que esta
data "não pertence ao Governo, pertence ao país". Bem dito. Mas,
falta acrescentar, como o país lhe pertence, quem não estiver de acordo que vá
pregar para outra freguesia, se possível para outro país.
Em abono das teses do sumo pontífice
do reino lusitano recordo as palavras de Miguel Relvas, também ele um dos donos
da verdade e do país: "Nós não culpamos mas também não esquecemos, a
realidade é visível. Todos nós somos obrigados a ter memória, ela é muitas
vezes intencionalmente apagada por
aqueles que têm responsabilidades".
Tenhamos então, até para não defraudar
o repto dos donos do reino, memória.
“Não acredito que quando começarem a
morrer pessoas à fome, quando começar tudo numa barafunda, se continue a achar
que vale a pena puxar a manta”, afirmou o bispo das Forças Armadas a propósito
das medidas tomadas pelo governo esclavagista de Portugal, explicando que “as
medidas da troika são duras mas não me deixam surpreso, mas depois descubro que
os nossos governantes vão além dos sacrifícios impostos pela troika e fico
atónito”.
D. Januário Torgal Ferreira nota, como
acontece com os mais de 1.200 mil
desempregados, 20 por cento de pobres e outros tantos que já nem pratos têm,
“uma grande insensibilidade social, apesar de haver muita gente no governo com
boas intenções”.
Se calhar até há gente em Portugal com
boas intenções. Não creio, ao contrário do bispo, que estejam no Governo ou
perto dele. Quando muito andarão as escarafunchar nos caixotes do lixo que
circundam o Palácio de S. Bento.
D. Januário Torgal Ferreira entende,
ao contrário dos donos do reino, que “não são os trabalhadores por conta de
outrem os assassinos do país”, acrescentando que esta ideia é “uma calúnia e um
aproveitamento, porque na crise revelam-se oportunidades para explorar os
explorados”.
Por outro lado, Pedro Passos Coelho –
importa não o esquecer, importa recordá-lo, importa ter memória – pergunta: “A
quem serve este regime, que supostamente é extremamente avançado de direitos
sociais? Que regime avançado é este que só gera desemprego, precariedade,
recibos verdes ou contratos a termo? Temos medo das pressões, ou da contestação
ou das greves que possam surgir?” e responde “eu não tenho!"
Isto foi dito, repare-se, numa sessão
evocativa em memória de Francisco Sá Carneiro, no Porto, o que só por si revela
a lata, o nanismo intelectual e a falta de vergonha do primeiro-ministro e
líder do PSD.
Os
devaneios de um anão que se julga gigante ,relembram-me mais algumas das
afirmações de D. Januário Torgal Ferreira,
para quem se Francisco Sá Carneiro fosse vivo caía para o lado. No
entanto, como já morreu, deve estar – segundo o bispo das Forças Armadas - a dar voltas no túmulo já que, acrescenta, a
austeridade (entre outros dislates deste governo) é uma espécie de
"terrorismo".
Recordemos um pouco mais o que diz
este bispo que teima em pôr os portugueses a pensar pela própria cabeça, e a
rejeitar qualquer intervenção cirúrgica que vise a substituição da coluna
vertebral.
"A mim, também me dava jeito um
desvio colossal. Depois em Março alguém pagava", disse, desconfiado das
razões que levaram à decisão pelas novas medidas de austeridade. "Nada é
explicado. Fico com uma grave suspeita sobre a verdade de tudo isto",
acrescentou D. Januário Torgal Ferreira, em declarações à RTP.
"A Igreja tem de respeitar a
justiça e lutar pelos direitos humanos. Não pode acatar qualquer acto
terrorista", disse o bispo das Forças Armadas, quando confrontado com uma
pergunta sobre a posição da Igreja face às novas medidas de austeridade.
"Há vários tipos de terrorismo, o intelectual, o do medo", disse o
bispo.
"Agora é assim? Em Fevereiro os
reformados não vão receber. E em Março são os funcionários que ficam sem
receber?", questionou. Mas o primeiro-ministro disse que lamentava ter de
aplicar estas medidas, argumentou a jornalista da RTP. A resposta foi lapidar:
"Já vi muita gente a lamentar e depois ir assaltar um banco. Ou a
abandonar a mulher e os filhos e a dizer:
lamento".
“É preciso ter muito cuidado. Porque é
nestas horas que se fazem grandes fortunas. E, sobretudo, é nestas horas em que
os mais pobres ficam mais pobres e alguns ricos ficam muitíssimo mais ricos”,
disse o mesmo prelado no Funchal, à margem da comemoração dos 58 anos da Força
Aérea Portuguesa.
“Nós temos de lutar e dizer em voz
alta, com respeito, respeitando a liberdade, respeitando as pessoas, mas
respeitando antes de mais a verdade”, apontou D. Januário Torgal Ferreira.
É claro que ao bispo das Forças
Armadas é mais fácil dizer estas verdades. Desde logo porque, ao que julgo, o
actual (como o anterior) ministro da Defesa não o despediu ou – como fez o
governo anterior e o fará o actual - deu cobertura a despedimentos colectivos
nas Forças Armadas.
Passos Coelho esclareceu que, com a
actual legislação, existem "cada vez menos trabalhadores, porque aqueles
que podem oferecer emprego têm medo de o fazer, anão ser em regime de recibo
verde". Sim. Deixam, contudo, de ter medo quando o trabalhador é militante
do PSD.
Pois é. Tal como os sacos vazios não
se aguentam de pé, também os portugueses, e pela mesma razão, estão de cócoras
e de mão estendida.
A verdade é que sempre que o Governo
de Passos Coelho abre a boca saem novos impostos, novos cortes, novas taxas,
novas regras para que todos os escravos aprendam a viver sem comer.
A procissão ainda vai no adro, mas é
já possível dizer que o primeiro-ministro transformou José Sócrates num ingénuo
pilha-galinhas.
Como se já não bastasse entrar
descarada e criminosamente nos bolsos,
na saúde, na vida dos portugueses, o Governo resolve todos os dias pô-los de pernas para o ar, numa voraz sofreguidão para ver se não há nenhum cêntimo escondido
nas dobras das calças rotas.
Se eles, Passos Coelho e companhia,
entendem que devem roubar aos milhões que têm pouco, ou nada, para dar aos
poucos que têm milhões, os portugueses têm de sair à rua e usar o seu legítimo
direito à indignação, mesmo que para isso seja necessário pagar na mesma moeda
do Governo: olho por olho, dente por dente.
Vão acabar cegos e desdentados?
Talvez. Mas para quem só vê os outros a comer tudo e a não deixar nada, pouco
diferença fará ter olhos e dentes…
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