sexta-feira, abril 13, 2012

Portugal está com quem estiver no poder

Como sempre acontece, a Assembleia da República de Portugal aprovou hoje por unanimidade um voto de condenação de “um novo golpe militar” na Guiné-Bissau. Os deputados já podem dormir descansados.

O Presidente da mesma República condenou também hoje "veementemente o golpe de Estado na Guiné-Bissau na noite passada" e apelou a uma posição "firme e determinada" da comunidade internacional. Cavaco Silva já pode dormir descansado e continuar a fazer as contas para saber se a sua reforma dá para pagar as despesas.

O discurso de Cavaco Silva para felicitar Carlos Gomes Júnior como novo presidente da Guiné-Bissau já estava escrito. Se calhar vai ter de apenas alterar o nome. Aliás o texto é sempre o mesmo. Primeiro foi o de “Nino” Vieira, depois o de Malam Bacai Sanhá.

Apesar da condenação “veemente” do golpe, se calhar o  Presidente português vai ter de felicitar António Indjai.

"Tendo tomado conhecimento das suas novas funções como presidente da República da Guiné-Bissau, é com satisfação que endereço a Vossa Excelência, em nome do Povo português e em meu próprio, as mais sinceras felicitações e votos de sucesso no desempenho das altas funções que, de forma tão expressiva, foi chamado a desempenhar, pelo Povo irmão da Guiné-Bissau", dirá certamente a mensagem enviada de Belém a quem vier a ser o dono da Guiné-Bissau.

Neste parágrafo até não foi necessário acrescentar nada. O Vossa Excelência que serviu para "Nino" dá para qualquer um, seja Carlos Gomes Júnior, Kumba Ialá ou António Indjai.

Cavaco Silva sabe (ou não fosse ele um pobre reformado) que civismo e democracia não se conjugam com a barriga vazia, mas esse é um problema dos outros...

"Estou seguro de que o mandato de Vossa Excelência será pautado pela defesa do processo de reforma e consolidação das instituições da Guiné-Bissau, que conta com o firme apoio de Portugal e que constitui uma condição indispensável para assegurar o futuro de paz e de desenvolvimento económico e social a que o Povo da Guiné-Bissau tem direito", escreveu, escreve e escreverá o Presidente português, seja qual for o dono do país.

O Chefe de Estado português irá de novo, sem pinta de originalidade, sublinhar a importância que atribui "aos laços históricos de profunda amizade que unem os dois países e ao reforço continuado da cooperação entre Portugal e a Guiné-Bissau, quer no plano bilateral, quer no quadro multilateral, muito em particular no âmbito da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa)".

Pois. Portugal não está (ou pelo menos não parece estar) interessado em ensinar os guineenses a pescar. Vai, no entanto, mandando para lá umas sardinhas. E mesmo estas começam a fazer falta em Portugal, país onde os cidadãos de segunda – a esmagadora maioria – já incluem o farelo na sua dieta alimentar.

"Reiterando-lhe as minhas felicitações, peço-lhe que aceite os votos que formulo pelo bem-estar pessoal de Vossa Excelência assim como pela prosperidade e progresso do Povo irmão da Guiné-Bissau", finalizará o Presidente português.

É isso aí. Votos de prosperidade e progresso de um Povo irmão que continua a ser gerado com fome, a nascer com fome e a morrer pouco depois... com fome (dois em cada três guineenses vivem na pobreza absoluta e uma em cada quatro crianças morre antes dos cinco anos de idade).

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