Ontem estive
no “II Encontro de Gerações JN” que decorreu em Coimbra sob a batuta do Jorge
Castilho.
Entre
outros, reencontrei o Álvaro Faria, Armando Miro, Artur Miranda, Aurélio Cunha,
Carlos Naia, Carlos de Sousa, César Príncipe, Costa Carvalho, Manuel Correia, Manuel Gomes de Almeida, Manuel
Luís Mendes, Manuel Neto da Silva, Maria Alice Rios, Onofre Varela e o Pereira
de Sousa.
E por falar
em “gerações JN”, nada como recordar, na íntegra, o “Manifesto pelo último
grande jornal da cidade do Porto”, publicado há pouco mais de três anos:
“Há um só
jornal de dimensão nacional sedeado fora de Lisboa, o “Jornal de Notícias”,
resistente último à razia que o tempo e as opções de gestão fizeram na Imprensa
da cidade do Porto. Todavia, nunca a precariedade dessa sobrevivência foi tão
notória como hoje, sendo
tempo de todas as forças vivas da sociedade reclamarem contra o definhamento da
identidade de uma instituição centenária que sempre as representou, passo
primeiro para a efectiva e irreversível extinção.
Desde sempre
duramente penalizado pela integração em grupos de Comunicação Social, pois
sempre foi impedido de viver à medida das audiências e dos resultados, o Jornal de
Notícias tende a ser profundamente descaracterizado pela remodelação que o
Grupo Controlinveste encetou, ao lançar um processo de despedimento colectivo que afectou, para já,
122 pessoas em quatro dos títulos de que é proprietário.
São cada vez
mais nítidos os indícios de que o referido grupo económico está a usar a crise
para levar a cabo uma reestruturação, longamente pensada, que, através da
criação de sinergias, destruirá a identidade dos dois jornais centenários de
que é proprietário: o JN e o “Diário de Notícias”. Se o processo não for travado, os dois jornais,
mesmo que mantenham cabeçalhos diferenciados, serão apenas suportes de conteúdos sem alma. A
ideia não é nova e, com a concentração dos media e com alterações legislativas
feitas à medida, está em pleno curso.
É agora
prática corrente a figura do ”enviado notícias”, jornalista de um dos dois títulos em serviço no estrangeiro, que vê a sua
reportagem (ipsis verbis) publicada em ambos, ainda ontem concorrentes, mesmo
que integrados no mesmo grupo. Foi agora criada, à custa do despedimento de
fotojornalistas, uma agência fotográfica cujos membros integrantes trabalharão,
indiscriminadamente, para os jornais “Diário de Notícias”, “24Horas” e “O Jogo” (o JN
entrará logo depois nesse esquema, a primeira grande machadada nas matrizes
identitárias das publicações).
O resto virá
a seguir. Os jornais do Grupo Controlinveste passarão a ser, não importa se sob
uma ou várias marcas, veículos de um pensamento unificado. Pensando apenas em
optimização de recursos, descaracterizam-se redacções e nada impedirá, como
acabou de suceder no JN com a informação internacional, que secções sejam
extintas, uma vez que, nesta visão redutora, um só jornalista chegará para
alimentar quantos jornais e páginas da Internet for necessário. A prática que
se adivinha está já em curso na informação desportiva, em que JN e “O Jogo” partilham
trabalho jornalístico.
Com a
solidificação deste assustador processo, será o JN o mais penalizado e, com
ele, a cidade do Porto, todo o Norte do país, vastas extensões da região Centro
e, por conseguinte, a própria qualidade da democracia portuguesa. Toda esta estratégia
está a ser desenhada à distância, integrando-se nela a recuperação, há menos de
um ano, do cargo de director-geral de publicações, entregue ao director do “Diário de Notícias”.
Não importa a qualidade boa ou má dos propósitos, apenas que a estratégia do JN vem sendo traçada por
pessoas que desconhecem por completo a história, o papel social, o estilo, os
leitores ou os agentes sociais que ao longo de décadas tiveram neste jornal a
sua voz.
Cada vez
mais, o JN deixará de ser a montra dos problemas e dos anseios de vastas zonas
do país (o fecho e o emagrecimento de filiais são paradigmáticos). Com isso,
haverá um crescente isolamento de regiões que o centralismo tem colocado cada
vez mais na periferia. Com isso, o debate sobre a regionalização será restrito
e controlado pelo espírito centralista. Com isso, questões como o peso do Porto
e do Norte no Noroeste Peninsular serão menorizadas. Problemas como o da gestão
do Aeroporto Francisco Sá Carneiro serão menos discutidos. A progressão da rede
de metro do Porto será menos reclamada. O poder local será ainda mais
invisível. O empreendedorismo será asfixiado. A vida cultural será ainda mais
silenciada. O país exterior à capital será cada vez mais paisagem.
Em sede
própria, estão os trabalhadores afectados pelos despedimentos (não apenas
jornalistas), muitos deles em situações dramáticas, a lutar pelos direitos que
lhes assistem. Aqui, é o jornal que luta pela própria existência. Dentro dos
deveres que lhes são impostos, os representantes eleitos pelos jornalistas do “Jornal de Notícias”
erguem a voz pela história que lhes cumpre honrar, pedindo que se lhes juntem
as vozes de quantos virem na preservação desta identidade uma causa justa.
A cidade do
Porto e o Norte assistiram, calados, ao desmantelamento de ícones como “O Primeiro de
Janeiro” e “O Comércio do Porto”. Quando reclamaram, era tarde. No caso do JN
vão ainda tempo de exigir responsabilidade e sensatez. Quando perceber que o
fim de tudo foi assim evitado, também o Grupo Controlinveste agradecerá, e é por isso que reclamamos a
recuperação urgente do verdadeiro JN. Nacional mas do Porto.”
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