O golpe de Estado Guiné-Bissau, segundo o Jornal de Angola (o mesmo é dizer o regime), é resultado da acção de militares que são "um bando de aventureiros".
É claro que quando o chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas da Guiné-Bissau, o tenente-general António Indjai, visitou Luanda (Setembro de 2010) para solicitar o apoio do Governo angolano para a reforma do sector da defesa e da segurança, o órgão oficial do regime ainda não considerava os militares "um bando de aventureiros".
"Quando se pensava que a normalização da situação política na Guiné-Bissau era um facto com o processo eleitoral abruptamente interrompido, a comunidade internacional e, em particular o mundo que fala português, ficou chocado com a notícia de mais um golpe de Estado. Não podemos falar de surpresa, porque o papel dos militares tem-se caracterizado pela usurpação das atribuições dos políticos", lê-se no editorial do JA.
Ao que parece, apesar de António Indjai ter tido encontros com altas patentes das Forças Armadas Angolanas e com responsáveis do Ministério da Defesa, ninguém reparou que ele era um dos elementos desse “bando de aventureiros”.
Designando os militares golpistas como "bando de aventureiros", o editorial reconhece que a saída para mais esta crise "tem que ser negociada e com muita diplomacia", mas logo a seguir conclui a impossibilidade de um acordo.
"Mas negociar com golpistas que não sabem o que querem, é muito difícil, para não dizer impossível", acentua o JA, mostrando que sabe reproduzir a ordem de serviço enviada pelo MPLA.
Não deixa, contudo, de ser interessante ver que, segundo o órgão oficial do regime angolano, tudo começou com o “assassinato de Amílcar Cabral, em conluio com a PIDE e as tropas coloniais, e nunca mais acabou”.
“Quando depuseram Luís Cabral ainda lhe pouparam a vida. Mas desde então, alimentam-se do sangue das suas vítimas. Vai longa a lista de políticos e militares assassinados por sucessivas hordas de golpistas na Guiné-Bissau", destaca-se no editorial.
Certamente por falha minha, não encontrei nenhuma referência ao facto de ter sido Agostinho Neto a ajudar à libertação da Guiné-Bissau, ou da colaboração de Jonas Savimbi com esse “bando de aventureiros”. Terá ficado, julgo, para um dos próximos editoriais.
Recordo, contudo que António Indjai não se esqueceu de, em Luanda, dizer que a sua visita se realizava “no quadro das históricas relações de amizade existentes entre a Guiné-Bissau e Angola forjadas entre os presidentes Agostinho Neto e Amílcar Cabral”.
Na altura, de acordo com a Angop (agência oficial do regime) “a República de Angola e a Guiné-Bissau desenvolvem “excelentes” relações de cooperação, quer no quadro bilateral, como no âmbito da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) e do grupo de Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), sobretudo nas áreas da politica, diplomacia, defesa e segurança, educação, saúde e transportes”.
Recorde-se, por mera curiosidade, que a 14 de Novembro de 1980, num golpe de Estado denominado localmente por "Movimento Reajustador", Luís Cabral (irmão de Amílcar Cabral e que morreu em Lisboa a 30 de Maio de 2009) seria destituído do cargo num golpe de Estado protagonizado e liderado pelo seu então primeiro-ministro, João Bernardo "Nino" Vieira.
E, já agora, foi neste contexto que “Nino” Vieira (tal como, entre muitos outros, José Eduardo dos Santos e Robert Mugabe) chegou a presidente e, tal como o seu homólogo, mentor e amigo angolano, por lá queria continuar com o beneplácito da tal Comunidade de Países de Língua Portuguesa.
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