terça-feira, abril 10, 2012

Os portugueses estão à espera do quê?

Ximunando uma frase do Jornalista, e meu velho amigo, Hernâni Von Doellinger, também pergunto: “De que é que nós estamos à espera?”

O presidente da República do Burkina Faso, perdão, de Portugal, disse hoje que "nunca mais" irá falar sobre os parcos, rudimentares, ínfimos, subsídios da pensão que recebe e que, como ele disse, "quase de certeza que não vai chegar para pagar" as despesas.

Não fala ele mas, é claro, falam outros. Aqui no Alto Hama, mesmo de barriga vazia, a verdade continua a ser dita. Não alimenta, pelo contrário, o corpo mas dignifica a alma.

Cavaco Silva não fala porque, em termos vitalícios, tem direito a 4.152 euros do Banco de Portugal, a 2.328 euros da Universidade Nova de Lisboa e a 2.876 euros de primeiro-ministro.

Ele gosta é de falar de outras coisas. Gosta de dizer que a dívida externa existe, mas que ele nada tem a ver com o assunto. Como todos sabem, até mesmo ele, as sucessivas políticas de desmantelamento do aparelho produtivo, na indústria, na agricultura e nas pescas; as negociatas com as parcerias público-privadas; os negócios como o BPN, as derrapagens orçamentais em obras públicas; a fraude, a evasão fiscal, a corrupção etc. são culpa exclusiva dos outros.

O facto de ele ter sido primeiro-ministro de 6 de Novembro de 1985 a 28 de Outubro de 1995, de ter vencido as eleições presidenciais de 22 de Janeiro de 2006 e ter sido reeleito a 23 de Janeiro de 2011 não o liga a rigorosamente a nada do que se passou, e passa, em Portugal.

Em vez de taxar a Banca e a Finança, os bens de luxo e as empresas e negócios offshore, o Governo agrava os impostos – o IRS, as taxas moderadoras e o IVA –, penalizando os que menos ganham e a própria classe média. Apesar disso tudo, Cavaco só se queixa da sua parca reforma…

O Governo rouba (toma posse) os subsídios de férias e de Natal dos trabalhadores e pensionistas. Já cortou nos salários dos trabalhadores da Função Pública e do Sector Empresarial do Estado em 2011 e vai cortar nos subsídios de férias e Natal de 2012,  2013, 2014  por aí fora. Apesar disso tudo, Cavaco só se queixa da sua parca reforma…

Os trabalhadores já pagam uma factura pesada: em 3,8 milhões de empregados por conta de outrem, 2,3 milhões ganham menos de 900 euros por mês; o salário mínimo é o mais baixo da Zona Euro; trabalham mais horas do que os trabalhadores na União Europeia a 15; a precariedade atinge mais de um milhão de trabalhadores. Apesar disso tudo, Cavaco só se queixa da sua parca reforma…

Apesar da enorme desregulação que campeia nas empresas, o Governo agrava-a através de um banco de horas, fulminando o direito ao descanso e entregando às empresas a gestão do tempo de trabalho e prejudicando a vida familiar. Apesar disso tudo, Cavaco só se queixa da sua parca reforma…

Com um desemprego galopante e cada vez mais prolongado, o Governo desprotege ainda mais os trabalhadores, fazendo aprovar leis que tornam os despedimentos ainda mais fáceis e mais baratos e reduzindo o valor e a duração dos subsídios de desemprego. Apesar disso tudo, Cavaco só se queixa da sua parca reforma…

As alterações ao Código do Trabalho já concretizadas e outras anunciadas já estão a permitir intensificar a exploração dos trabalhadores, aumentando a precariedade e agravando as condições de trabalho e de vida, ao mesmo tempo que servem já de chantagem para forçar inúmeros trabalhadores a aceitar rescisões ditas “amigáveis”. Apesar disso tudo, Cavaco só se queixa da sua parca reforma…

Com a situação social a agravar-se, o Governo piora as condições dos idosos, cortando 1.880 milhões de euros no Orçamento de Estado para as pensões e reformas; e corta mais de dois mil milhões de euros para prestações sociais como pensões mínimas do regime geral, subsídio social de desemprego e abono de família, que será eliminado para muitas famílias. Apesar disso tudo, Cavaco só se queixa da sua parca reforma…

Com medidas de austeridade socialmente gravosas e diminuindo drasticamente o poder de compra dos salários, das pensões e de outras prestações sociais, a retracção e a recessão afundarão ainda mais a economia, empobrecendo os portugueses e empurrando o país para o desastre. Apesar disso tudo, Cavaco só se queixa da sua parca reforma…

Com a obsessiva cruzada pela “ideologia do Estado mínimo”, como bem a caracterizou a organização Comissão Justiça e Paz, o Governo impõe cortes brutais nas funções sociais do Estado, nas áreas da Saúde e da Educação, quer privatizar ainda mais empresas e sectores estratégicos, dos transportes à comunicação social, das águas à energia. Apesar disso tudo, Cavaco só se queixa da sua parca reforma…

É necessário – é urgente – combater as injustiças, a exploração e o empobrecimento dos trabalhadores e do país; dinamizar a produção nacional na agricultura, nas pescas e na indústria; promover o crescimento económico e distribuir a riqueza de forma mais justa e sustentada, criando mais e melhor emprego, combatendo o desemprego e a precariedade; defender a negociação colectiva, aumentar os salários e as pensões. Apesar disso tudo, Cavaco só se queixa da sua parca reforma…

É também urgente barrar a agiotagem da Banca, renegociar a dívida com condições justas quanto aos montantes, juros e prazos, no respeito pela soberania nacional, no interesse do povo e pelas gerações futuras. Apesar disso tudo, Cavaco só se queixa da sua parca reforma…

2 comentários:

voz a 0 db disse...

De que esperam? Provavelmente estão esperando pela ajuda externa para iniciar a revolução... visto que sozinhos já nem para reclamar têm capacidade e habilidade!

voz a 0 db disse...

Aquela imagem no topo da mensagem... vez-me logo emergir na memória a bandeira que fiz há uns tempos e que deixo aqui a ligação... Apropriada sem dúvida!