Os partidos da oposição (seja lá o que isso for no actual contexto) na Guiné-Bissau decidiram criar um Conselho Nacional de Transição, que irá – registe-se - escolher um Presidente e um primeiro-ministro de transição, até à realização de eleições.
O porta-voz dos partidos, Fernando Vaz, disse que amanhã será discutida e aprovada uma Carta de Transição, na qual se define o número de pessoas que esse Conselho terá, o tempo de duração da transição e quem será o Presidente e o primeiro-ministro.
"A criação do Conselho Nacional de Transição implica a dissolução do Parlamento", disse Fernando Vaz, admitindo que tudo será concluído já amanhã.
Fernando Vaz criticou a ameaça de sanções contra militares e políticos, vinda nomeadamente dos países da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), afirmando que quando foi morto um Presidente eleito "esses países condenaram e não fizeram nada".
O porta-voz também comentou o envio de forças de Portugal para resgatar, caso necessário, os cidadãos portugueses, afirmando que a Guiné-Bissau é um país soberano, que manda nas suas águas e que os portugueses só entram "se forem autorizados".
Creio, contudo, que daqui a uns dias tudo estará normalizado. Depois seguir-se-á mais um período de transição até novo golpe.
Tudo isto porque ninguém está interessado em resolver o problema. Num relatório apresentado no dia 24 de Junho de 2009, em Washington, António Maria Costa, director executivo do Escritório das Nações Unidas sobre a Droga e o Crime (UNODC), era bem claro ao dizer que o narcotráfico era uma das causas da violência e da instabilidade políticas na Guiné-Bissau.
"Enquanto persistir a procura de droga, os países fracos serão sempre alvo dos traficantes. Se a Europa pretende na verdade ajudar África, deveria refrear o seu apetite pela cocaína", destacou António Maria Costa, de nacionalidade italiana.
O relatório destacava que em vários países africanos, os traficantes utilizaram "elevadas somas de dinheiro para corromper importantes agentes políticos e militares, bem como funcionários de organismos de combate à droga".
No caso da Guiné-Bissau, o documento recorda os casos do desaparecimento de elevadas apreensões de droga e a fuga, sem qualquer explicação, de narcotraficantes.
"Na Guiné-Bissau houve falta de comunicação entre a polícia e os militares acerca da busca de um avião, que se viria depois a relacionar com o tráfico de cocaína", lê-se no documento.
Ao longo das 314 páginas do relatório, surgiam também referências a Cabo Verde, considerado a par da Guiné-Bissau, e em conjunto com a República da Guiné, Mali, Gana, Benim, Togo, Gambia e Nigéria, como um dos países mais importantes que serviram de placa giratória para o tráfico de cocaína, em 2007.
A este respeito, o relatório salienta que entre as detenções efectuadas em Portugal, em 2007, relacionadas com o narcotráfico, a maior parte dos detidos são de nacionalidade cabo-verdiana (52 por cento) e guineense (12 por cento).
Outras nacionalidades referenciadas são a venezuelana (10 por cento), espanhola e brasileira (oito por cento cada), angolana (cinco por cento), holandesa (três por cento) e britânica (dois por cento).
O documento, intitulado "Relatório Mundial sobre a Droga 2009", evidenciava os laços existentes entre o narcotráfico e o crime, e acentua que os mercados de opiáceos, cocaína e "cannabis" têm vindo a perder importância, cedendo lugar às drogas sintéticas.
Antes, no dia 25 de Outubro de 2008, o presidente do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), principal força política da Guiné-Bissau, Carlos Gomes Júnior, afirmou que "há dinheiro do narcotráfico na campanha eleitoral" para as legislativas de 16 de Novembro. E?
"Só não vê quem não quer. Há dinheiro do narcotráfico nesta campanha eleitoral", acusou Carlos Gomes Júnior, no seu discurso de abertura da campanha do PAIGC em Bissau. E?
"Nós não somos tolos, sabemos que há dinheiro da droga na campanha eleitoral. Se formos governo, vamos acabar com o banditismo e o crime organizado neste país, podem ter a certeza disso", prometeu o presidente do PAIGC. E?
Carlos Gomes Júnior afirmou que se fosse eleito primeiro-ministro iria promover uma ampla reforma no país, dotando as forças de defesa e segurança de meios para combater "todos os crimes" na Guiné-Bissau. E?
Recorde-se que o antigo primeiro-ministro guineense, Carlos Gomes Junior, chegou a dizer que “era impossível coabitar com “Nino” Vieira que não passava de um bandido e de um mercenário que traiu o povo".
E? E é a Guiné-Bissau ao seu melhor estilo, perante a indiferença da comunidade internacional, seja via ONU, União Europeia, CPLP ou qualquer outra coisa.
Como se isso não fosse bastante, a CPLP, por exemplo, esquece-se que não basta pedir aos pobres dos países ricos para dar aos ricos dos países pobres ou, ainda, que haver eleições em que os guineenses votam com a barriga significa apenas a legitimação de uma ditadura pelos votos e não uma democracia.
Já em Março de 2009, Eugénio Costa Almeida dizia que “dado que os militares que estão na Guiné-Bissau, nomeadamente os seus quadros superiores, ainda enfermam de resquícios da guerrilha em detrimento dos modernos valores castrenses de se limitarem à defesa da integridade territorial e política do Pais e deixar o Poder aos políticos, seria conveniente que a CPLP, temporariamente, assumisse o controlo militar e recriasse umas forças armadas modernas e claramente dependentes do poder político”.
Será que ninguém se lembra que Nino Vieira esteve metido até ao pescoço em crimes de sangue e de corrupção mais do que activa? Que Nino Vieira usou todo o género de truques, de golpes, para se perpetuar no poder, afastando política ou fisicamente quem lhe fez sombra, seja ele Kumba Ialá ou Carlos Gomes Júnior, líder do PAIGC e agora primeiro-ministro que em tempos disse que Nino teria sido o mentor do assassinato do Comodoro Lamine Sanha?
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