domingo, abril 29, 2012

Kadhafi, Sarkozy e outros que tais!


Ao que parece o regime de Muammar Kadhafi aceitou em 2006 financiar  com 50 milhões de euros a campanha de Nicolas Sarkozy às presidenciais de  2007.

No dia 29 de Novembro de 2011 escrevi aqui (onde mai poderia ser?) que a morte de Muammar Kadhafi, bem como dos seus principais colaboradores, seria uma bênção para os donos do mundo.

Isto porque, explicava, com tais mortes ninguém iria saber os negócios do líder líbio com alguns dos seus grandes amigos que, como José Sócrates, o consideravam um “líder carismático”.

Também não deixava de ter piada que a família de Muammar Kadhafi, a que restar,  apresentasse, como disse que o faria, uma queixa  no Tribunal Penal Internacional contra a NATO por "crimes de guerra".

Independentemente do facto de Kadhafi  ter merecido, na minha opinião, morrer não uma mas uma dúzia de vezes, o que a NATO fez na Líbia (mas que não fará noutros países com ditadores bem mais facínoras) foi o exemplo acabado de que os donos do mundo conhecem a razão da força mas nunca ouviram falar da força da razão.

O antigo líder líbio, de 69 anos, que fugira de Tripoli em finais de Agosto do ano passado, foi capturado vivo (bem vivo, aliás) perto de Sirte (a 360 quilómetros da capital) e assassinado a tiro.

Que se saiba, embora não se tenha a certeza, não foi a NATO a dar o tiro de misericórdia a Kadhafi, embora todos tenham ficado a lucrar com o silêncio definitivo do líder líbio.

Certo foi que foram os aviões da NATO que dispararam contra a coluna de veículos em que seguia Kadhaf.

Embora o homicídio voluntário seja um crime de guerra previsto pelo artigo 8 do Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, a NATO sempre dirá que naquele situação Kadhafi  continuava a constituir uma ameaça para a Líbia, se calhar até para África ou, quem sabe, para o mundo inteiro.

Inicialmente dizia-se que a NATO estaria na região para, além de atirar a pedra e esconder a mão, proteger a população, excluindo sempre o objectivo de derrubar regime.

Como logo se viu, era uma treta como qualquer outra. Alguns países da NATO inundaram os rebeldes com todo o tipo de armas, deram-lhes instrução, planearam os ataques e coordenaram as acções com a Força Aérea da Aliança Atlântica. Tudo, é claro, para defender as populações e nunca para derrubar o regime.

Do lado da NATO estão, como sempre acontece com os vencedores, uma série de países, nem todos de forma sincera. Não será o caso dos europeus mas é, com certeza, o caso de muitos estados árabes que, com medo do cão raivoso, aceitaram (mesmo que contrariados) a ajuda do leão.

Quando se aperceberem (alguns já se aperceberam), o leão terá derrotado o cão e preparar-se-á para os comer a eles. O leão, como mais uma vez se confirma, não terá necessariamente de ter nacionalidade norte-americana.

Aliás, os homens do tio Sam são especialistas em criar leões onde mais lhes convém. Em certa medida Osama bin Laden, tal como Saddam Hussein, como Muammar Kadhafi,  foram leões “made in USA”.  Ao contrário do que pensam os ilustres operacionais da NATO, do FBI da CIA ou de qualquer coisa desse tipo, ninguém tem neste planeta (pelo menos neste) autoridade e poder ilimitados.

Os maus da fita, segundo os realizadores da NATO,  poderão não ter a mesma capacidade bélica do que os EUA e seus aliados. Vão ser, continuam a ser, humilhados, sobretudo pelo número dos mortos que o único erro que cometeram foi terem nascido.

São as leis da razão? Não. São as leis dos instintos. Instintos que vão muito além das leis da sobrevivência. Entram claramente (tal como entrou Bin Laden ou Muammar Kadhafi) na lei da selva em que o mais forte é, durante algum tempo, mas nunca durante todo o tempo, o grande vencedor.

Seja como for, o Mundo Árabe só está do lado dos países da NATO por questões estratégicas, por opções instintivas. Bem ou mal, em matéria de razão, os árabes estão com os seus... e esses não são os nossos...

Pelo menos desde a Guerra dos Seis Dias, a aprendizagem dos árabes tem sido notável. Aceitam o que os donos do mundo definem como inimigos, enforcam até os seus pares com a corda fornecida pelo Ocidente, mas, na melhor oportunidade, vão enforcar americanos e europeus com a corda enviada de Nova Iorque, Paris ou Londres.

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