Ao que
parece o regime de Muammar Kadhafi aceitou em 2006 financiar com 50 milhões de euros a campanha de Nicolas
Sarkozy às presidenciais de 2007.
No dia 29 de
Novembro de 2011 escrevi aqui (onde mai poderia ser?) que a morte de Muammar
Kadhafi, bem como dos seus principais colaboradores, seria uma bênção para os
donos do mundo.
Isto porque,
explicava, com tais mortes ninguém iria saber os negócios do líder líbio com
alguns dos seus grandes amigos que, como José Sócrates, o consideravam um
“líder carismático”.
Também não
deixava de ter piada que a família de Muammar Kadhafi, a que restar, apresentasse, como disse que o faria, uma
queixa no Tribunal Penal Internacional
contra a NATO por "crimes de guerra".
Independentemente
do facto de Kadhafi ter merecido, na
minha opinião, morrer não uma mas uma dúzia de vezes, o que a NATO fez na Líbia
(mas que não fará noutros países com ditadores bem mais facínoras) foi o
exemplo acabado de que os donos do mundo conhecem a razão da força mas nunca
ouviram falar da força da razão.
O antigo
líder líbio, de 69 anos, que fugira de Tripoli em finais de Agosto do ano
passado, foi capturado vivo (bem vivo, aliás) perto de Sirte (a 360 quilómetros
da capital) e assassinado a tiro.
Que se
saiba, embora não se tenha a certeza, não foi a NATO a dar o tiro de
misericórdia a Kadhafi, embora todos tenham ficado a lucrar com o silêncio
definitivo do líder líbio.
Certo foi
que foram os aviões da NATO que dispararam contra a coluna de veículos em que
seguia Kadhaf.
Embora o
homicídio voluntário seja um crime de guerra previsto pelo artigo 8 do Estatuto
de Roma do Tribunal Penal Internacional, a NATO sempre dirá que naquele
situação Kadhafi continuava a constituir
uma ameaça para a Líbia, se calhar até para África ou, quem sabe, para o mundo
inteiro.
Inicialmente
dizia-se que a NATO estaria na região para, além de atirar a pedra e esconder a
mão, proteger a população, excluindo sempre o objectivo de derrubar regime.
Como logo se
viu, era uma treta como qualquer outra. Alguns países da NATO inundaram os
rebeldes com todo o tipo de armas, deram-lhes instrução, planearam os ataques e
coordenaram as acções com a Força Aérea da Aliança Atlântica. Tudo, é claro,
para defender as populações e nunca para derrubar o regime.
Do lado da
NATO estão, como sempre acontece com os vencedores, uma série de países, nem
todos de forma sincera. Não será o caso dos europeus mas é, com certeza, o caso
de muitos estados árabes que, com medo do cão raivoso, aceitaram (mesmo que
contrariados) a ajuda do leão.
Quando se
aperceberem (alguns já se aperceberam), o leão terá derrotado o cão e
preparar-se-á para os comer a eles. O leão, como mais uma vez se confirma, não
terá necessariamente de ter nacionalidade norte-americana.
Aliás, os
homens do tio Sam são especialistas em criar leões onde mais lhes convém. Em
certa medida Osama bin Laden, tal como Saddam Hussein, como Muammar Kadhafi, foram leões “made in USA”. Ao contrário do que pensam os ilustres
operacionais da NATO, do FBI da CIA ou de qualquer coisa desse tipo, ninguém
tem neste planeta (pelo menos neste) autoridade e poder ilimitados.
Os maus da
fita, segundo os realizadores da NATO,
poderão não ter a mesma capacidade bélica do que os EUA e seus aliados.
Vão ser, continuam a ser, humilhados, sobretudo pelo número dos mortos que o
único erro que cometeram foi terem nascido.
São as leis
da razão? Não. São as leis dos instintos. Instintos que vão muito além das leis
da sobrevivência. Entram claramente (tal como entrou Bin Laden ou Muammar
Kadhafi) na lei da selva em que o mais forte é, durante algum tempo, mas nunca
durante todo o tempo, o grande vencedor.
Seja como
for, o Mundo Árabe só está do lado dos países da NATO por questões
estratégicas, por opções instintivas. Bem ou mal, em matéria de razão, os
árabes estão com os seus... e esses não são os nossos...
Pelo menos
desde a Guerra dos Seis Dias, a aprendizagem dos árabes tem sido notável.
Aceitam o que os donos do mundo definem como inimigos, enforcam até os seus
pares com a corda fornecida pelo Ocidente, mas, na melhor oportunidade, vão
enforcar americanos e europeus com a corda enviada de Nova Iorque, Paris ou
Londres.
Sem comentários:
Enviar um comentário