Os jornais britânicos, que nada percebem da democracia do regime angolano, são unânimes em descrever a Sonangol como “uma empresa controversa”, na origem de “um inquérito do FMI sobre discrepâncias contabilísticas” de dezenas de milhares de milhões de dólares.
Isso não impede, contudo, o primeiro-ministro britânico, David Cameron, de utilizar um avião angolano da Sonair, da Sonangol, na sua digressão pela Ásia.
Alguma, cada vez menos – é certo, imprensa portuguesa acusa o regime angolano, liderado por Eduardo dos Santos (há 32 anos no poder sem ter sido eleito), de ser corrupto até dizer chega.
Isso também não impede o primeiro-ministro português, Pedro Passos Coelho, de andar por Angola com uma mão à frente e outra atrás, com frascos de vaselina no bolso, a pedir de cócoras que o regime compre o que puder em Portugal.
O “Daily Telegraph” escreve que, segundo o governo, a Sonangol fizera pagamentos em nome do Estado, que não foram contabilizados de maneira apropriada. Mas cita a organização Human Rights Watch a dizer que essa justificação é insuficiente.
O jornal “The Guardian” assinala que a Sonair é propriedade da “Sonangol, cuja contabilidade foi em tempos questionada pelo FMI”.
Já o “The Sun” titula que “Primeiro-ministro voa direito a uma tempestade”, perspectivando que Cameron se arrisca a um “embaraço”, por voar um Boeing 747 de uma empresa petrolífera “controversa”.
Por sua vez o “Daily Mail” escreve que o primeiro-ministro “está sob fogo cruzado” devido ao uso do avião angolano, salientando, mais do que questões éticas, que, numa visita oficial, o chefe do governo britânico deve viajar num avião britânico.
Não sei, sinceramente, a razão de tanto escarcéu. A Sonangol não é uma empresa do Estado, nem de Angola e muito menos dos angolanos. É uma empresa do clã do “querido líder”.
A Human Rights Watch exigiu (atente-se na desfaçatez!) ao Governo de Angola que explique onde estão os 25 mil milhões de euros em falta nos cofres do Estado, relacionados com a petrolífera do regime, a Sonangol.
A organização de defesa dos direitos humanos escreve, em comunicado publicado na sua página online, que, apesar de o Governo de Luanda se ter comprometido a "aumentar a transparência das receitas do petróleo" e a "fazer uma auditoria à companhia petrolífera estatal", o "desaparecimento de 25 mil milhões de euros levanta questões sérias sobre os seus esforços e sublinha a necessidade de responsabilizar o poder público".
Segundo a Human Rights Watch, a soma em questão equivale a um quarto do Produto Interno Bruto (PIB) do reino. Pois é. Mas que significado tem isso? Se Angola é o MPLA e o MPLA é Angola, o PIB é apenas e só aquilo que o regime quiser.
A HRW recorda o relatório da quinta inspecção do Fundo Monetário Internacional (FMI) a Angola que indica que existem fundos estatais gastos ou transferidos entre 2007 e 2010 que não foram inscritos no orçamento.
Não foram nem tinham que ser. Desde quando é que os donos do reino têm de prestar contas, seja a quem for? Esse dinheiro vai para onde o “querido líder” quiser, nomeadamente para dar suporte financeiro à compra de um outro reino, no caso ao das ocidentais praias lusitanas.
O FMI conclui que as recentes acções do Ministério das Finanças angolano para monitorizar mais de perto a Sonangol, após a reforma legal de 2010, resultaram na descoberta de fluxos financeiros para contas estrangeiras acima dos valores que podem ser justificados pelas autoridades, no volume global de 7,1 mil milhões de dólares (5,5 mil milhões de euros).
O FMI bem pode fazer as contas que entender. Mas todas elas resvalam na capacidade financeira do regime angolano que, um dia destes, ainda se chateia com todas estas histórias e põe a boca no trombone, mostrando ao mundo onde, como e para ajudar quem, foi utilizado todo esse dinheiro. E, bem vistas as coisas, ninguém está interessado nisso.
Uma das explicações que o FMI aponta para tal disparidade é a possibilidade de a Sonangol estar a "ocultar os fundos que recebe". Chamar ocultação ao uso desses fundos para os fins que o regime acha mais convenientes é, desde logo, uma forma de se imiscuir num reino que não tem explicações a dar a ninguém. Nem as dá aos angolanos, muito menos aos organismos internacionais.
A Human Rights Watch já tinha identificado uma discrepância anterior semelhante nos fundos angolanos - quatro mil milhões de dólares (três mil milhões de euros) de receitas petrolíferas que "desapareceram" entre 1997 e 2002 -, levantando suspeitas de "má gestão e corrupção".
Corrupção em Angola? Nesta matéria, entre 183 países, o reino do “querido líder” está na posição 168. Isso não significa, contudo, que seja corrupto. Basta ver as intermináveis filas de políticos e similares que se dirigem a Luanda para negociar com o regime, começando pelo Vaticano e terminando nos EUA, sem esquecer a China, a Alemanha e Portugal...
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