Pedro Passos Coelho e sua vasta corte
de lacaios continua a sua luta, com visível êxito, para colocar Portugal, já
sem habitantes, cada vez mais perto do norte… de África.
Embora continue todos os dias a pôr os
portugueses mais pobres (ficam todos os meses 273 euros mais pobres), mais
famintos, mais esqueléticos, mais perto da morte, Passos Coelho continua a
dormir bem, a comer bem e a dar o que resta dos seus lautos repastos aos seus
cães e não aos pobres dos portugueses.
Em Portugal, para além dos milhões que
legitimamente só se preocupam em encontrar alguma coisa para matar a fome, nem
que seja nos restos deixados pelos cães de Passos Coelho, uma minoria
privilegiada só se preocupa em ter – com a preciosa ajuda do Governo - mais e
mais, custe o que custar.
Quando alguém diz isto, e são cada vez
menos a dizê-lo mas cada vez mais a pensá-lo, corre o sério risco de que os
donos do poder o mandem calar, se possível definitivamente.
Mas, como dizia a outro propósito Frei
João Domingos, "não nos podemos calar mesmo que nos custe a vida". Eu
acrescentaria que, apesar de tudo, Passos Coelho estabeleceu outras etapas
antes da pena capital. O desemprego, os impostos, as reformas fechadas, o roubo
dos subsídios são alguns exemplos. Todos
eles podem, contudo, resumir-se na grande meta do governo, que é a de pôr os
portugueses a viver sem comer.
O primeiro-ministro foi eleito. Mentiu
à grande e conseguiu comer de cebolada os portugueses. Manda o bom senso que se
pergunte: Como é possível aos cidadãos acreditar num governo em que o
primeiro-ministro mente? Mas como o bom senso não enche barriga…
Adaptando de novo, e tantas vezes
quantas forem preciso, Frei João Domingos, em Portugal "muitos
governantes, gestores, administradores, políticos e similares têm grandes
carros, numerosas amantes, muita riqueza roubada ao povo, são aparentemente
reluzentes mas estão podres por dentro".
Mas esses, apesar de podres por
dentro, continuam a viver à grande e à PSD, enquanto o Povo se prepara para
morrer de fome ou de falta de assistência médica. O tempo em que o mais
importante era resolver os problemas do povo,
já lá vai. Os políticos anteriores preparam o cemitério e Passos Coelho deu-lhe o golpe de
misericórdia.
Tal como muitos dos políticos que
passaram pelo reino lusitano, Passos Coelho continua a pensar que Portugal é o
PSD (de vez em quando com a muleta do CDS) e que o PSD é Portugal.
E como pensa assim, o que sobra dos
abundantes regabofes do Governo não vai para os escravos, mas sim para os
rafeiros que gravitam sempre junto à manjedoura do poder.
E por que não vai para os pobres?,
perguntam vocês, eu também, tal como os milhões que todos os dias passam fome.
Não vai porque, tanto nas teses de Passos Coelho como nas de Cavaco Silva, ou
nas de António Mexia, não há pobres em Portugal.
Aliás, como é que poderia haver fome
se (ainda) existe fartura de farelo? Se os porcos comem farelo e não morrem,
também o Povo português pode comer.
Embora seja um exercício suicida,
importa aos vivos não se calarem, continuando a denunciar as injustiças, para
que Portugal possa novamente abolir o esclavagismo e, dessa forma, ser um dia
um país diferente, eventualmente uma nação e quiçá até uma pátria.
O Povo sofre e passa fome. Os países
valem, deveriam valer, pelas pessoas e
não pelos mercados, pelas finanças, pela corrupção, pelo compadrio, pelas
negociatas.
É por tudo isto que a luta continua.
Tem de continuar. Até porque, mais cedo ou mais tarde, a Primavera também vai
iluminar (mesmo contra a vontade de António Mexia e da sua EDP) as ruas de
Lisboa e chegar ao resto do país.
Enquanto os escravos não se
revoltarem, de pistola na mão se for preciso, os donos do país e os donos dos
donos vão continuar a implementar o esclavagismo.
Enquanto os escravos já nem sabem se
têm barriga, Passos Coelho, Migue Relvas, Cavaco Silva e restante corja vão
continuar a ter à mesa trufas pretas, caranguejos gigantes, cordeiro assado com
cogumelos, bolbos de lírio de Inverno, supremos de galinha com espuma de raiz
de beterraba e queijos acompanhados de mel e amêndoas caramelizadas, e várias
garrafas de Château-Grillet 2005.
Passos Coelho sabe que os portugueses
são – citando Guerra Junqueiro – “um povo imbecilizado e resignado, humilde e
macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando
pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar
de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de
sacudir as moscas”.
Passos Coelho sabe que os portugueses
são – citando Guerra Junqueiro – “um povo em catalepsia ambulante, não se
lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que
eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência
como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio
escuro de lagoa morta”.
Passos Coelho sabe que em Portugal
existe – citando Guerra Junqueiro – “uma burguesia, cívica e politicamente
corrupta até à medula, não discriminando já o bem do mal, sem palavras, sem
vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam
na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda
a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que
na política sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos”.
Passos Coelho sabe que em Portugal
existe – citando Guerra Junqueiro – “um poder legislativo, esfregão de cozinha
do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado
absoluto pela abdicação unânime do País”.
Entretanto, alguns portugueses (não
tantos quanto o necessário) sabem que – citando Guerra Junqueiro – Portugal tem
“partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo do mesmo
utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos,
iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e
fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem
todos duma vez na mesma sala de jantar”.
E é por tudo isto que são cada vez
mais os cidadãos que não conseguem, ou não querem, comer gato por lebre e dizem
que na política portuguesa há cada vez mais criminosos a viver à custa dos
imbecis dos portugueses.
No entanto, mesmo esqueléticos,
famintos e doentes sempre podem ter força para fazer o que é necessário, nem
que seja a última coisa feita em vida. Isto é, puxar o gatilho e enfiar um
balázio nos cornos de todos aqueles parasitas que se julgam donos do reino.
Nota: Título ximunado do Tarrenego do
meu amigo Hernâni Von Doellinger. Foto: Página Global
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