Foram ouvidos esta noite disparos de armas automáticas e rebentamentos de morteiros na capital da Guiné-Bissau. É apenas a reedição do que já é habitual.
De acordo com fontes locais, o pânico instalou-se com armas e bagagens e, entre outros, não se sabe do paradeiro de Carlos Gomes Júnior. Em Bissau voltou a ouvir-se a língua internacionalmente conhecida e tão do agrado dos militares, o kalashnikovês.
Os primeiros disparos foram ouvidos cerca das 20 horas, momentos após a chegada de dezenas de militares às imediações da residência de Carlos Gomes Júnior, ex-primeiro-ministro e candidato do PAIGC vencedor da primeira volta das presidenciais guineenses. A sede do PAIGC também foi ocupada por soldados.
Talvez agora, entre outras conclusões, se possa perceber a razão que levou José Eduardo dos Santos, presidente de Angola, a pôr fim à missão militar que tinha na Guiné-Bissau, a Missang.
Ainda no passado dia 4, como resultado do Conselho de Ministros da véspera, o Governo da Guiné-Bissau manifestara a vontade de manter a Missão Angolana de Apoio à Reforma nos Sectores de Defesa e Segurança no país, pedindo até que fosse reforçada de modo a cobrir outros sectores abrangidos pelo projecto “Roteiro CPLP/CEDEAO”.
Ao que tudo indica, o governo de Bissau terá sido obrigado pelos seus militares a desrespeitar o Protocolo para Implementação do Programa de Cooperação Técnico-Militar e de Segurança entre a Guiné-Bissau e a Republica de Angola, levando a que Luanda desse este murro na mesa.
Os militares, sejam os de António Indjai ou de qualquer outro Indjai da praça, entendiam que os efectivos militares da Missang deveriam estar… desarmados. Deveriam ser uma espécie de civis fardados.
Politicamente, o governo guineense dizia: “Louvamos o papel desempenhado pela Missang no nosso país, considerando que ela vem cumprindo de forma significativa na formação de militares e agentes de segurança, na reabilitação de infraestruturas militares e policiais, assim como ainda apetrechamento das Forças Aramadas da Guiné-Bissau com o objetivo de modernizar e transformá-la em Forças Armadas Republicanas”.
Certo é que, não dando muito crédito à teoria de que o poder militar se submete ao político, o chefe do Estado-maior General das Forças Armadas da Guiné-Bissau, António Indjai, defendia a saída da Missang do país. Sem ela o kalashnikovês usado no narcotráfico e outras manigâncias dos militares ficava com caminho aberto.
Mas tudo isto tem uma razão. Entre os países classificados como sendo regimes autoritários, a Guiné-Bissau está na posição 157. Para termo de comparação registe-se que Angola figura no 133º lugar.
Em matéria de corrupção, a Guiné-Bissau foi incluída no grupo dos 30 países mais corruptos à luz do Índice de Percepção da Transparência Internacional, estando no 154º lugar.
Portugal, já que a CPLP é uma miragem flutuante nos luxuosos areópagos da política de língua portuguesa, deveria dar força à única tese viável e que há muito foi defendida (pelo menos desde Junho de 2009) por Francisco Fadul e que apontava, enquanto era tempo, para “o envio de uma força multinacional, de intervenção que garantisse aquilo que é protegido pela Carta da ONU, que é a democracia e os Direitos Humanos".
"É necessária a intervenção de uma força multinacional militar, policial e administrativa na Guiné-Bissau para a manutenção da ordem, a pacificação social e a vigilância sobre o funcionamento dos órgãos do Estado", disse Francisco Fadul.
Na altura, Junho de 2009, tinha surgido mais onde de violência onde as forças de segurança mataram os ex-ministros Hélder Proença e Baciro Dabó, este último então candidato à Presidência, por alegado envolvimento numa tentativa de golpe de Estado.
Para Francisco Fadul, "mais uma vez foi reconfirmado que o Estado se tornou um fiasco, falhou, não existe na prática porque não é capaz de zelar pelos interesses dos cidadãos, pela preservação da ordem mínima".
"Nem sequer tem eficácia para conter os usurpadores do poder ou os bandos armados que estão a actuar no país", disse Francisco Fadul, acrescentando que estes grupos são "autênticos esquadrões a soldo de chefes militares".
"Não se trata de bandos indefinidos, desconhecidos", reiterou, frisando não acreditar "na teoria da tentativa de golpe de Estado".
"É a falta de cultura histórica e política que os faz falar assim e tentar convencer as pessoas, pensando que os outros são um grupo de patetas. É clássico o que eles fizeram, em todos os totalitarismos aparecem sempre denúncias de golpe de Estado para permitir o abuso da autoridade, o excesso de poder em relação aos adversários políticos", declarou.
"Apresentam, como é tradicional, uma lista de suspeitos, de supostos implicados, e uma lista de objectivos a atingir pelos alegados golpistas", referiu, considerando que tudo não passa de "balelas, de armação política para justificar uma acção destruidora, completamente totalitária sobre os adversários políticos".
"O Estado não pode transformar-se em criminoso, se assim procede é porque está nas mãos de criminosos", afirmou.
Segundo Francisco Fadul, "como sempre acontece em África, quando acontecem estas barbaridades os possíveis responsáveis morais nunca estão no país".
"Como se o facto de estarem ausentes os ilibasse de responsabilidades", lamentou.
E enquanto os militares da CPLP brincam aos... militares, na Guiné-Bissau os militares, ou similares, vão-se exercitando com as AK-47 e por falta de alvos convencionais… matam os que se atravessam na frente.
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