Devagar, devagarinho, o Governo português continua a comer – com ou sem vaselina – os cidadãos. Hoje deu mais uma prova da sua malfeitoria.
Como mandam as regras dos cobardes, o Governo suspendeu as reformas antecipadas aos beneficiários do regime geral da Segurança Social até 2014, consumando o facto sem que os visados tenham tempo para reagir. Não foi um murro no estômago, foi um tiro na cabeça.
A decisão, saída do Conselho de Ministros de 29 de Março mas blindada na couraça de que é feita a cobardia, foi mantida no segredo dos deuses e promulgada pelo Presidente e República de modo a que só hoje, com a publicação em Diário da República, os escravos dela tomassem conhecimento.
A medida, que proíbe a antecipação da reforma para trabalhadores com menos de 65 anos, aplica-se aos funcionários dos sectores público (quem ingressou na função pública desde 2005 entra já directamente para o regime da Segurança Social) e privado. Excepção feita para os desempregados de longa duração.
O decreto-lei indica que esta suspensão se aplicará enquanto vigorar o programa de assistência financeira, ou seja, 2014, e visa “minorar o impacto do aumento da esperança média de vida na sustentabilidade financeira do sistema de Segurança Social”.
As novas regras entram em vigor já amanhã, sexta-feira, pelo que os requerimentos que sejam apresentados na Segurança Social até amanhã (coisa pouco provável com as tolerâncias de ponto e os festejos da Páscoa) ainda serão apreciados de acordo com as regras actuais.
Embora me pareça que os donos de Portugal lêem o Alto Hama, reforço a receita aqui várias vezes apresentada. Se já aproveitaram a minha tese de que deveriam pura e simplesmente acabar com as reformas, talvez possam adoptar outras que irão favorecer toda a gente… menos os portugueses. Mas esses não contam.
Cá para mim a troika deveria ainda ir mais longe. E basta um ténue sinal que Passos Coelho alinha logo. Os donos dos donos de Portugal aventam a possibilidade de tornar permanentes os cortes nos subsídios de férias e de Natal no sector público.
O ideal seria pagar esses dois subsídios e retirar, tanto à função pública como aos restantes trabalhadores, os doze meses de ordenado que por regra (embora isso comece a ser uma excepção) são pagos.
Eles, os tais que comem tudo e não deixam nada, também querem reduzir para 18 meses o subsídio de desemprego. Nada de mais errado. Por mim, decretava o fim do subsídio de desemprego, tal como o de doença e até das reformas.
Aliás, faria acompanhar estas medidas pela obrigatoriedade de serem os trabalhadores a pagarem à entidade patronal para terem emprego.
A validade desta minha teoria é fácil de entender. Se os portugueses aceitarem ter apenas uma refeição por dia, o problema do país estará resolvido ao fim de um ano. Ora, como o problema tem de ser resolvido em meio ano...
De uma coisa os portugueses podem estar certos. O governo de Passos Coelho quer resolver alguns dos mais sérios problemas do reino. Pelo que está a fazer pode ter-se a certeza de que Portugal vai mesmo ser um país diferente.
A esperança média de vida vai diminuir porque os velhotes vão morrer bem mais cedo, porque os de meia idade não vão chegar a velhos e porque os mais novos não poderão ter filhos.
Além disso, a esmagadora maioria dos portugueses vai deixar de consumir definitivamente antibióticos e outros medicamentos, contribuindo assim para pôr em ordem as contas do Serviço Nacional de Saúde. Isto porque, para além do preço (que não podem pagar), esses fármacos devem ser tomados depois de uma coisa que hoje é uma miragem: refeições.
Como é óbvio, nenhuma destas medidas seria aplicada aos cidadãos de primeira do tipo Cavaco Silva, Joaquim Pina Moura, Jorge Coelho, Armando Vara, Manuel Dias Loureiro, Fernando Gomes, António Vitorino, Luís Parreirão, José Penedos, Luís Mira Amaral, António Mexia, António Castro Guerra, Joaquim Ferreira do Amaral, Filipe Baptista, Ascenso Simões, Faria de Oliveira ou Eduardo Catroga.
É que, de facto, é um tremenda chatice gerir um reino onde existem 1.200 mil desempregados, 20% de miseráveis e outros tantos cujo grande objectivo de vida é pôr alguma coisa nos pratos.
Não deixa, contudo, de ser verdade que o Governo continua a ter muita gente à sua volta. Muitos apoiantes, muitos justificadores. Não faltam energúmenos para quem chafurdar na merda é uma questão de sobrevivência e, por regra, muito bem paga.
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