Um
jornalista francês desapareceu ontem no sul da Colômbia, na sequência de um
ataque da guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) contra
o exército.
Os jornais
portugueses, e bem, deram destaque à notícia do desaparecimento de Romeo
Langlois, que acompanhava uma patrulha na região de Caquetá, no sul da Colômbia
onde ocorreu o ataque.
Residente na
Colômbia, Romeo Langlois foi referido como correspondente de guerra e
colaborador de jornais como o francês "Le Figaro".
Em Portugal,
no entanto, ninguém noticia o desaparecimento, nos últimos anos, de centenas de
jornalistas portugueses devido aos ataques de empresários criminosos, de
governos corruptos, de estratégias de silenciamento total de todos aqueles que
ousam pensar pela própria cabeça.
De facto, o
jornalismo em Portugal está em acelerado estado de putrefacção e a caminho da
extinção. É que, julgo eu, não basta trabalhar numa Redacção para se ser
jornalista. Conheço, aliás, muitos que quanto mais trabalham nas Redacções mais
se afastam do Jornalismo.
Os jornais
(é claro que também as rádios e as televisões) não são um produto feito à
medida dos jornalistas e/ou dos consumidores mas, isso sim, dos empresários.
São, cada vez mais, um negócio ou, melhor, uma forma de comércio. São apenas
mais um produto em que os seus fazedores (na circunstância catalogados de
jornalistas) são escolhidos à e por medida.
Ou seja,
basta ter dinheiro para ser dono de um jornal, basta ter um jornal para lá
mandar pôr o que muito bem entender, sejam as fotografias da sogra, do rafeiro
ou da amante.
Os
jornalistas, mais do que informar, mais do que formar, têm de vender. Vender,
vender sempre mais. E quem sabe o que fazer para melhor vender não são, na
maioria dos casos, os jornalistas.
Os
jornalistas são os montadores que, de acordo com o mercado, alinham as peças de
um crime, de um comício, de um atentado ou de um buraco na rua. Se o que vende
é dar uma ajuda ao partido do Governo, são essas as peças que têm de montar,
nada contando a teoria da isenção que é tão do nosso teórico agrado.
Se o que
vende é divulgar os produtos da empresa «X», são essas as peças que têm de
montar, passando por cima do facto de essa empresa eventualmente não pagar os
salários aos seus trabalhadores, promover criminosos despedimentos ou apostar
no trabalho infantil.
Se o que
vende é dar cobertura às ditaduras (sejam as de Bashar al-Assad ou José Eduardo
dos Santos), são essas peças que têm de montar, calibrando-as da forma a
parecerem dos melhores exemplos democráticos.
Pouco
importa tudo o resto.
Assim sendo,
as linhas de montagem não precisam de jornalistas. Tudo o resto são cantigas,
tenha a classe uma Ordem ou apenas, como agora, um Sindicato. Tenha o país um
governo eleito ou não, seja ou não uma democracia, chame-se Portugal ou Burkina
Faso.
Todos este
jornalistas, como sempre foi, é e será desejo dos diferentes poderes existentes
em Portugal, sobretudo os políticos e os económicos, estão agora (os que ainda
a têm) a pensar com a barriga.
Apesar de
serem de Maio de 2009, não me esqueço que o Carlos Narciso (um dos mais probos
jornalistas de língua portuguesa) dizia que não ia à feira do livro “porque o
subsídio de desemprego é manifestamente curto para dar de comer à família e
ainda conseguir comprar livros”.
Carlos
Narciso, considerado pelo Notícias Lusófonas (opinião que subscrevo) como “um
excelente Jornalista, dos mais conhecidos e respeitados em todo o espaço
lusófono”, dizia também que “há uma ideia romantizada do que é jornalismo e, nessa
ideia, não entram conferências de imprensa enfadonhas, passar meses e anos a
escrever pequenas notícias, a frustração de ver oportunidades passar ao lado, a
mediocridade premiada, enfim, o dia-a-dia de muitas redacções”.
Também em
Maio de 2009, Alfredo Maia – presidente do Sindicato dos Jornalistas - salientava
que ainda que a liberdade de imprensa esteja, "do ponto de vista formal,
assegurada", há "problemas graves" no jornalismo português.
Alfredo Maia
salientava então (e desde então a situação piorou que a "ameaça de
desemprego" que paira sobre alguns conjuntos de profissionais e a
"precariedade", que atinge "novos e antigos profissionais",
são os principais desafios à "autonomia" da imprensa hoje em dia.
Compreendo
que como jornalista assalariado e, portanto, igualmente sujeito à ameaça de
desemprego, o Alfredo Maia não possa dizer mais. Fica, contudo, um travo amargo
porque de um presidente de um sindicato esperava mais. Muito mais.
Já para o
então sub-director do jornal Público, a falta de liberdade de expressão passa,
no Ocidente, muito mais, por um "tipo de controlo de opinião, que é feito
de uma forma muito mais subliminar".
Segundo
Amílcar Correia, esse controlo acontecia (acontece) sob a forma de
"condicionamento económico dos órgãos de informação", pela
"pressão de fontes" e anunciantes, que "num cenário de alguma
crise nos media", podem conseguir ter "alguma influência no editorial
das respectivas publicações".
Os leitores
aqui do Alto Hama certamente que se lembram de já ter lido algo semelhante. E
de o ter lido desde há muito tempo e por várias vezes.
Sobre os
eventuais excessos derivados da "falta de sensatez e de bom senso"
dos jornalistas, Amílcar Correia entende que "a ausência da liberdade de
expressão é sempre pior", portanto, "é preferível o excesso de
liberdade de imprensa à total ausência de liberdade de expressão".
Aliás, todos
sabem que, no reino lusitano, não faltam exemplos de casos onde os jornalistas
são “voluntariamente obrigados” a pensar com a barriga.
"Só com
jornalistas usando plenamente os seus direitos e garantias existe jornalismo
verdadeiramente livre e responsável", destacava Alfredo Maia, certamente
pensando nas centenas de jornalistas que nos últimos anos foram obrigados a ir
para o desemprego. Tudo, é claro, a bem de uma nação que acaba de instituir a
escravatura como forma de, dizem eles, evitar a falência.
Sem comentários:
Enviar um comentário