quarta-feira, novembro 29, 2006

Países lusófonos são parentes pobres

Alguma comunicação social portuguesa continua a pensar que o horizonte da Lusofonia é algo opaco, aqui e acolá translúcido. Transparente só o é – em termos de notícia – quando se torna tenebrosamente negro. Vai daí, o Tadjiquistão é mais importante que a Guiné-Bissau, o Quirguistão mais relevante do que São Tomé e o Uzbequistão mais interessante do que Cabo Verde. Ou seja, que se lixem os que falam português. Na moda estão os que falam, por exemplo, tadjique. Tão simples quanto isso.

Aliás, não deve ser difícil de provar (digo eu) que a comunidade oriunda do Tadjiquistão é, em Portugal, muito mais importante do que a guineense. Tal como todos sabem quem é Emomali Rahmonov e não fazem ideia de quem é Nino Vieira. Tão simples quanto isso.

Só os estúpidos (onde, naturalmente, me incluo) é que podem pensar de maneira diferente, é que podem pensar (se é que pensam) que falar dos países lusófonos deveria ser um imperativo nacional. Tão simples quanto isso.

De facto, bem vistas as coisas, que interessa aos portugueses saber que o crescimento económico de Angola deve este ano atingir os 25%, contra os 14% de 2005? Ou que a produção petrolífera deve subir para mais de dois milhões de barris por dia em 2007?

De facto, bem vistas as coisas, que interessa aos portugueses saber que o mercado angolano cresce 30 vezes mais depressa do que o português, que tem 1,2467 milhões de quilómetros quadrados e que é o 22.º país do mundo em extensão territorial?

De facto, bem vistas as coisas, que interessa aos portugueses saber que entre 2000 e 2004 as exportações portuguesas para Angola cresceram 16%, que em 2005 o volume de negócios foi de 622 milhões de euros e que nesse ano Lisboa comprou a Luanda produtos no valor de 24 milhões de euros, quando em 2001 tinham sido 127 milhões?

De facto, bem vistas as coisas, que interessa aos portugueses saber que o seu país vende para Angola 28 milhões de euros de cerveja, 25 milhões de euros de vinhos, 20,6 milhões de euros de aparelhos eléctricos e electrónicos e 20,1 milhões de euros de enchidos?

Bem vistas as coisas (o que não é o meu caso) é muito mais fino e intelectualmente assertivo escrever sobre Islam Karimov (neste caso o presidente do Uzbequistão) do que sobre Eduardo dos Santos. Tão simples quanto isso.

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