A sociedade portuguesa, certamente como algumas outras, é o que é e sempre que julgo que está a mudar concluo (erro meu, é óbvio) que o faz para pior. Ou seja, vive de aparências, de rótulos, de embalagens, de coisas acessórias. O essencial fica adiado. Alguém há-de pagar a factura.
Um dia destes enviei um mail a um reputado sociólogo português. A resposta foi simples: “Lamento mas é impossível”. Nada mais incisivo ou, como por vezes se diz, curto e grosso.
Apesar de a resposta ser curta, o mail era longo. E porquê? Porque lá vinha Dr. fulano de tal, Senior Research Coordinator, Chairman of the Academic Board, Institute of Social Sciences, University of Lisbon etc. etc..
Recordo-me de há muitos anos, talvez uns 35, o meu pai ter recebido uma carta de um dos mais poderosos homens da Angola de então, que terminava assim, só assim: “Receba um abraço do Manuel Vinhas”.
Como são diferentes os tempos e as modas. Permitam-me relembrar uma outra história, mais ou menos da mesma altura. Um familiar meu chegou a Nova Lisboa (Huambo) ido de Portugal e, poucos dias depois, foi ter connosco ao Himalaia, um dos muitos bares (ou cafés, como por cá se diz) da cidade. Na mesa estavam cinco pessoas. Sentou-se, bebeu umas Cucas, conversou.
Ao outro dia quis saber mais exactamente quem estava na mesa. “Não é possível”, comentou num misto de espanto e receio. “Mas não se notava nenhuma diferença”, confessou.
Pois não. Não havia diferenças. E quem estava na mesa? Para além de mim, o meu pai (marceneiro), o David (pintor de construção civil), o Marques (engenheiro) e o Figueiredo (engenheiro e director da Cuca, de Nova Lisboa).
Por cá a sociedade é bem diferente. Uma asneira de todo o tamanho dita por Herman José é uma excentricidade, mas se dita por um merceeiro é uma má educação. Um péssimo texto escrito por Margarida Rebelo Pinto é uma obra-prima, um brilhante texto redigido pelo Zé dos Anzóis é um atentado.
E, se assim é, assim seja (até um dia).
Um dia destes enviei um mail a um reputado sociólogo português. A resposta foi simples: “Lamento mas é impossível”. Nada mais incisivo ou, como por vezes se diz, curto e grosso.
Apesar de a resposta ser curta, o mail era longo. E porquê? Porque lá vinha Dr. fulano de tal, Senior Research Coordinator, Chairman of the Academic Board, Institute of Social Sciences, University of Lisbon etc. etc..
Recordo-me de há muitos anos, talvez uns 35, o meu pai ter recebido uma carta de um dos mais poderosos homens da Angola de então, que terminava assim, só assim: “Receba um abraço do Manuel Vinhas”.
Como são diferentes os tempos e as modas. Permitam-me relembrar uma outra história, mais ou menos da mesma altura. Um familiar meu chegou a Nova Lisboa (Huambo) ido de Portugal e, poucos dias depois, foi ter connosco ao Himalaia, um dos muitos bares (ou cafés, como por cá se diz) da cidade. Na mesa estavam cinco pessoas. Sentou-se, bebeu umas Cucas, conversou.
Ao outro dia quis saber mais exactamente quem estava na mesa. “Não é possível”, comentou num misto de espanto e receio. “Mas não se notava nenhuma diferença”, confessou.
Pois não. Não havia diferenças. E quem estava na mesa? Para além de mim, o meu pai (marceneiro), o David (pintor de construção civil), o Marques (engenheiro) e o Figueiredo (engenheiro e director da Cuca, de Nova Lisboa).
Por cá a sociedade é bem diferente. Uma asneira de todo o tamanho dita por Herman José é uma excentricidade, mas se dita por um merceeiro é uma má educação. Um péssimo texto escrito por Margarida Rebelo Pinto é uma obra-prima, um brilhante texto redigido pelo Zé dos Anzóis é um atentado.
E, se assim é, assim seja (até um dia).
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