Kundi Paihama, ministro dos Veteranos (do MPLA) de Guerra de Angola, resolveu acertar as horas e, para não haver falhas, comprou na Suíça em relógio de pulso que lhe custou 50 mil dólares.
Com ele, certamente Kundi Paihama vai dizer com mais precisão que: “Durmo bem, como bem e o que restar no meu prato dou aos meus cães e não aos pobres”.
Em Angola, para além dos milhões que legitimamente só se preocupam em encontrar alguma coisa para matar a fome, nem que seja nos restos deixados pelos cães de Kundi Paihama, uma minoria privilegiada só se preocupa em ter mais e mais, custe o que custar.
Quando alguém diz isto, e são cada vez menos a dizê-lo mais cada vez mais a pensá-lo, corre o sério risco de que os donos do poder o mandem calar, se possível definitivamente, mesmo que viva no estrangeiro.
Mas. como dizia Frei João Domingos, "não nos podemos calar mesmo que nos custe a vida".
E são muitos os que já morreram por isso. Se os que não vivem no reino de José Eduardo dos Santos estão na linha de fogo, o que dizer dos que lá sobrevivem?
O presidente que há 32 anos domina, sem nunca ter sido eleito, Angola, continua, mesmo fora do seu país, a dar ordens para calar os que teimam em dizer a verdade ou, pelo menos, o que pensam ser a verdade.
Citando de novo, e tantas vezes quantas forem preciso, Frei João Domingos, em Angola "muitos governantes têm grandes carros, numerosas amantes, muita riqueza roubada ao povo, são aparentemente reluzentes mas estão podres por dentro".
Mas esses, apesar de podres por dentro, continuam a viver à grande e à MPLA, enquanto o Povo morre de fome. O tempo, como dizia Agostinho Neto, de “o mais importante é resolver os problemas do povo” já lá vai, já há muito foi enterrado.
Convém por isso não esquecer que o mesmo Kundi Paihama do relógio de 50 mil dólares, afirmou em tempos recentes: “Durmo bem, como bem e o que restar no meu prato dou aos meus cães e não aos pobres”.
Esta é, aliás, a filosofia basilar do MPLA, partido que continua a pensar que Angola é o MPLA e que o MPLA é Angola. O que sobra não vai para os pobres, vai para os coitados dos cães.
E por que não vai para os pobres?, perguntam vocês, eu também, tal como os milhões que todos os dias passam fome. Não vai porque não há pobres em Angola. E se não há pobres, mas há cães…
Continuemos com a tese de Kundi Paihama: “Eu semanalmente mando um avião para as minhas fazendas buscar duas cabeças de gado; uma para mim e filhos e outra para os cães”.
Quanto aos angolanos, aos outros angolanos, citando de novo Kundi Paihama, que comam farelo porque “os porcos também comem e não morrem”.
Embora seja um exercício suicida, importa aos vivos não se calarem, continuando a denunciar as injustiças, para que Angola possa um dia ser diferente, ser de todos os angolanos.
“O Povo sofre e passa fome. Os países valem pelas pessoas e não pelos diamantes, petróleo e outras riquezas”, disse Frei João Domingos.
Mas, como diria o camarada Eduardo dos Santos, a luta continua. Tem de continuar. Até porque, mais cedo ou mais tarde, a Primavera também vai iluminar as ruas de Luanda e chegar ao resto do país.
Se dúvidas existissem sobre o socialismo democrático do MPLA, basta ver – por exemplo - o perfil do cliente angolano em Portugal, que representa 30% do mercado de luxo português. São sobretudo de homens, 40 anos, empresários do ramo da construção, ex-militares ou com ligações ao governo. Vestem Hugo Boss ou Ermenegildo Zegna. Compram relógios de ouro Patek Phillipe e Rolex.
Basta ver – por exemplo - o perfil da esmagadora maioria do povo angolano. É pé descalço, barriga vazia, vive nos bairros de lata, é gerado com fome, nasce com fome e morre pouco depois com... fome.
Basta ver – por exemplo – que esses angolanos de primeira (todos adeptos certamente do socialismo democrático) não olham a preços, procuram qualidade e peças com o logo visível, sendo comum uma loja de luxo facturar, numa só venda, entre 50 e 100 mil euros, pagos por transferência bancária ou cartão de crédito.
Por outro lado, de acordo com a vida real dos angolanos (de segunda), 45% das crianças sofrem de má nutrição crónica e uma em cada quatro (25%) morre antes de atingir os cinco anos.
É assim o socialismo democrático de que fala o regime de Eduardo dos Santos, Kundi Paihama e similares.
E, é claro, quando não se lembra dos seus cães, Kundi Paihama escolhe ementas do tipo Trufas pretas, caranguejos gigantes, cordeiro assado com cogumelos, bolbos de lírio de Inverno, supremos de galinha com espuma de raiz de beterraba e uma selecção de queijos acompanhados de mel e amêndoas caramelizadas, com cinco vinhos diferentes, entre os quais um Château-Grillet 2005.
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