O bastonário da Ordem dos Escravos de Portugal afirma que não é só na política que as coisas vão mal, observando que ao longo dos anos a corrupção alastrou a todos os níveis do aparelho de Estado.
Tirando a questão da corrupção, que não existe em Portugal, tal como não existe – por exemplo – em Angola, concordo que não é só na política que as coisas vão mal. Aliás, no reino de Passos Coelho e companhia o que é difícil de descobrir é o que vai bem. Se é que alguma coisa vai bem.
Falando na abertura do ano da fome, Zé Povinho frisou que "pessoas houve que acumularam fortunas gigantescas no exercício exclusivo das mais altas funções públicas, durante anos" e que "bancos foram saqueados em milhares de milhões de euros e os principais beneficiários continuam impunes".
Bem que o bastonário da Ordem dos Escravos poderia aproveitar a ocasião para dizer alguma coisa, por pequena que fosse, que os portugueses não soubessem. Como se diz para as bandas do Futungo de Belas (Angola), é normal que o dono do país e os seus acólitos tenham comparticipação nos negócios. Portanto...
Assim, com ou sem robalos, já se sabe que numa democracia como a portuguesa, criminosos só são os pilha-galinhas. Todos os outros, os que roubam o aviário, são gestores que merecem ainda mais do que aquilo que roubam.
No discurso, o bastonário criticou o roubo por parte do Estado cidadãos que trabalham, trabalharem ou querem trabalhar, e acusou o Governo de estar mais preocupado em "pacificar os milionários eu financiaram as campanhas eleitorais" do que com os escravos que estão todos os dias a aprender a viver sem comer.
De facto, segundo o bastonário, são tudo tretas. Todo o sistema e todos aqueles que fazem política estão bem e recomendam-se. É verdade que entre fazer política e ser político vai uma abissal distância, mas esse é claramente um problema dos escravos (os tais pilha-galinhas) e não dos peritos dos peritos que geram a coisa pública.
Neste último capítulo, Zé Povinho insurgiu-se por em Portugal se deixar que sejam sempre os mesmos a pagar a crise, que as dívidas sejam nacionalizadas e os lucros privatizados.
E porque carga de chuva não deveria ser assim? O que conta é a vontade de quem manda e a submissão de quem é mandado. E se já há gerações que nascem sem coluna vertebral, o melhor é deixar o tempo passar e tudo ficará na santa paz do sumo pontífice do reino esclavagista de Portugal.
A actual crise "financeira e moral", cuja única responsabilidade é dos plebeus, foi também escalpelizada pelo bastonário que acusou o Estado de "asfixiar o povo com impostos", parte dos quais para pagar "os défices de empresas cujos gestores auferem principescas remunerações".
É verdade que os portugueses estão a ficar asfixiados. Mas a culpa não é do Estado que está a ser feito à medida de Passos Coelho e por medida de Miguel Relvas. A culpa é exclusivamente dos portugueses que teimam em não querer viver sem comer. Se o fizessem, como recomenda o Governo, já não seria necessário asfixiá-los.
"O país e o povo empobrecem, enquanto outros enriquecem escandalosamente", enfatizou o bastonário. Terá razão? Não. Não tem. Como em qualquer reino que se preze, as castas superiores têm todo o direito a viver escandalosamente melhor do que a plebe.
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