Se não for possível deixar às gerações vindouras algum património, ao menos lutemos, nós os Jornalistas, para lhes deixar algo mais do que a expressão exacta da nossa incompetência e cobardia, visível quando a subserviência substitui a competência.
Porque não há (digo eu na minha santa ingenuidade) comparação entre o que se perde por fracassar e o que se perde por não tentar, cá estou mais uma vez (já lhes perdi a conta) a tentar o impossível já que - reconheçamos - o possível fazemos nós todos os dias.
Há já muitos anos dizia-se que na profissão de Jornalista a única tarefa humilhante é a que se realiza com mentira, deslealdade, ódio pessoal, ambição mesquinha, inveja e incompetência.
Não será este texto um (mais um) exercício de mero suicídio?
Talvez. Mesmo assim...
Se o Jornalista não procura saber o que se passa no cerne dos problemas que o rodeiam, desde logo os da sua empresa, é, com certeza, um imbecil. Se o Jornalista consegue saber o que se passa mas, eventualmente, se cala é um criminoso. Ou não será assim?
Durante anos ouvi as pessoas dizerem: "isto é verdade" porque vinha no Jornal X.
Será que actualmente, sobretudo nos últimos anos, os jornais em particular e os media em geral continuam a ter credibilidade suficiente para que os leitores assumam como verdadeira qualquer coisa que nele seja divulgada?
Embora ainda verdade (mais verdade ontem do que hoje), esta constatação tende (na minha opinião) a diluir-se pela perda de credibilidade do nosso produto jornalístico que, cada vez mais, deixou de ser uma referência e passou a ser uma outra coisa qualquer.
E deixou porquê?
Quem hoje compra os jornais para entender o que se passa, recebe apenas uma informação generalizadamente massificada, despersonalizada em que o rótulo vale mais (ou até tudo) do que o produto.
Quem analisar (com olhos de ver, se faz favor) os jornais encontram, na maioria dos casos, pouca informação, rara formação e quase nula investigação.
Por outras palavras, os jornais deixaram de ter a sua própria personalidade jornalística, travestindo-se de acordo com a verdade absoluta que, tanto quanto parece, é genética em alguns.
Aliás, não deve haver na história de Imprensa mundial melhores jornalistas especializados no que os outros (sobretudo os outros do lado de dentro a mando dos do lado de fora) querem que eles digam, do que os portugueses (salvam-se algumas honrosas excepções).
Acresce, para mal dos nossos pecados (digo eu), que a precariedade profissional de muitos os obriga a aceitar fazer tudo o que o «chefe» manda (mesmo sabendo que este para contar até 12 tem de se descalçar).