domingo, janeiro 31, 2010

Nem o general Jack Raul conseguiu tirar
a espinha entalada na garganta do regime

A Procuradoria Geral da República de Angola apresentou uma queixa, em Julho de 2008, ao Conselho Nacional da Comunicação Social contra o semanário “Folha 8” porque não gostou de um texto que este jornal repescou aqui do Alto Hama («Espinha na garganta de Angola e que dá pelo nome de Cabinda»).

Nesse texto dizia-se que o Governo colonial de Angola continua sem conseguir calar a força da razão que floresce no território ocupado de Cabinda.

Dizia-se e continua a dizer-se. Ou seja, temendo novas e provavelmente mortíferas acções da FLEC, Luanda entregou nessa altura o comando da região ao General Jack Raul que chegara da Rússia onde recebera formação específica para tentar derrotar as forças que em Cabinda lutam por um dos seus mais elementares direitos: a independência.

Pois é. O General Jack Raul não aguentou dois anos no lugar e acaba de ser suspenso por não ter conseguido pôr na ordem e em ordem os homens da FLEC.

O mesmo se passou com o comandante da polícia Pedro "Kandela".

Nesta altura em que se teme e prevê que as Forças Armadas de Angola vão tentar, mais uma vez, arrasar a resistência (civil e militar) em Cabinda, a estratégia operacional está a cargo do do Chefe dos serviços militares.

Ou seja, de “sua excelência o General Zé Maria” , como prefere e exige ser tratado no seu Gabinete.

Macau, Cabinda, a História e Cavaco Silva

«No dia 20 de Dezembro de 1999, Portugal punha termo, de forma digna, em paz consigo e com a sua História, ao ciclo imperial que perdurara por mais de metade da sua vida de Nação multissecular» afirmou o presidente da República de Portugal, Cavaco Silva, na Sessão Solene Evocativa do 10º Aniversário da Transferência da Administração Portuguesa de Macau.

Bem vistas as coisas, digo eu, sempre que convém alguém com responsabilidades políticas recorre à História para explicar algumas teorias. Pena é que haja em Portugal uma História de primeira (a relativa a Macau, por exemplo) e uma de segunda (a que respeita a Cabinda, por exemplo).

«A Administração Portuguesa deixava o Território justificadamente orgulhosa de um legado notável, assente numa organização administrativa capaz e respeitada e num corpo legislativo sólido e abrangente, em harmonia com as garantias que haviam sido dadas aos habitantes de Macau e com as expectativas que lhes haviam sido criadas», afirmou Cavaco Silva.

No entanto, Cavaco Silva esquece-se de outras “garantias que haviam sido dadas aos habitantes” de Cabinda, embora – como em Macau - “as expectativas que lhes haviam sido criadas” fossem igualmente importantes, diria mesmo vitais.

«A tudo presidira, segundo Cavaco Silva, uma visão estratégica que soube reconhecer o potencial de Macau como plataforma privilegiada no quadro da política de abertura ao mundo que a China havia iniciado e como factor de aproximação entre Portugal e a China”.

É verdade. Mas também é verdade que se não fosse a cobardia dos subscritores dos Acordos de Alvor e, também, a não menor cobardia dos que se lhes seguiram, Cabinda poderia ser igualmente uma “plataforma privilegiada no quadro da política de abertura ao mundo” de uma outra Lusofonia, esta assente nos valores humanos e não apenas no potencial petrolífero.

“E assim, caso raríssimo e exemplar, dois países, Portugal e a China, chamados a resolver uma questão bilateral complexa e delicada, de grande sensibilidade para ambos, concluíram-na muito mais próximos um do outro do que quando lhe haviam dado início”, reflectiu Cavaco Silva.

Subentendo que, com razão, Cavaco Silva considera que foi mais fácil negociar com a China do que seria, e ainda terá de ser, com Angola. E isso acontece porque Portugal esteve de pé nas negociações com a China. Já com Angola esteve e está de joelhos.

“Quiseram as circunstâncias que tivesse cabido a um Governo a que presidi dar início às negociações que culminaram na Declaração Conjunta sobre Macau. Tal como me coube subscrevê-la, em nome do meu país, em 13 de Abril de 1987, em Pequim, por ocasião daquela que foi a primeira Visita Oficial de um Chefe de Governo de Portugal à República Popular da China”, recordou, orgulhoso, Cavaco Silva.

Pena é que, quanto a Cabinda, seja como líder do PSD, primeiro-ministro, presidente da República, Cavaco Silva tenha permitido que o lixo escondido em 1974 e 1975 pelas autoridades portuguesas continue, impávido e sereno, debaixo do tapete.

“Foram tempos que não esqueço. Recordo-me bem de ter sublinhado, no discurso que pronunciei nessa ocasião, que há momentos em que temos a consciência de estar a ser escrita uma página da História. Foi precisamente isso que sucedeu”, afirmou Cavaco Silva a propósito de Macau.

E se assim foi em relação a Macau, porque será que agora falta “a consciência de estar a ser escrita uma página da História” sobre dois povos (angolanos e cabindas) que estiveram, em moldes diferentes, sob a égide de Portugal?

Cavaco Silva disse também que “continuo a pensar, no entanto, que a melhor forma de estarmos à altura do que soubemos construir no passado é projectando-o no futuro”.

É isso aí. Mas, no caso de Cabinda, Portugal não está à altura do que construiu no passado quando conseguiu dar luz ao mundo, limitando-se agora a gerir a mediocridade dos seus agentes políticos que cada vez mais longe estão de ser estadistas.

O circo provinciano da discriminação
(Prémio José Rodrigues Migueis 2010)

Fiquei estupefacto ao ler no Alto Hama, as regras de um concurso público, promovido pela Fundação Luso-Americana, o Prémio José Rodrigues Migueis 2010.

Por José Filipe Rodrigues

O evento destina-se a “produtores portugueses de conteúdos de linha branca que devem obedecer aos seguintes requisitos: ter idade até 40 anos, carteira profissional e, no mínimo, cinco anos de experiência profissional, bem como um bom domínio das línguas portuguesa e inglesa.”

Os felizes contemplados vão estagiar nos Estados Unidos da América do Norte entre 21 de Junho a 7 de Julho, no Committee of Concerned Journalists, em Washington DC, com alguns dias de contactos com o sistema político, social e económico norte-americano.

A selecção dos candidatos vai ser feita por um júri de iluminados que aceitaram demonstrar o seus poderes mágicos no Circo Provinciano da Descriminação: António José Teixeira (SIC Notícias), Cesário Borga (RTP), Carla Baptista (Universidade Nova de Lisboa), Ricardo Rodrigues (Notícias Magazine) e Sara Pina (Universidade Lusófona), coordenadora e representante da FLAD.

A parte tristemente cómica deste estágio destinado a Jornalistas é de que ele vai decorrer num país onde os candidatos não podem ser excluídos por terem uma idade superior aos “ 40 anos.”

Nos USA, este seria um motivo para meter o Programa José Rodrigues Miguéis em Tribunal e ganhar o caso facilmente: DiSCRIMINAÇÃO PELA IDADE...

É triste, muito triste, que Portugal, um país com uma cultura tão rica, tenha como timoneiros e gestores de mentalidades tantos atrasados no desenvolvimento mental, social, e empresarial, querendo transformar a Pátria, não em mãe, em prostituta. Tudo em nome de uma igualdade sem dignidade.

Ao mesmo tempo, acho muito estranho de que a população de profissionais da comunicação social aceite ser discriminada por regras atentatórias da dignidade humana e civilizacional.

O mais triste é que para as muitas das situações parasitárias, na República e na Democracia, não haja limite de idade. Os actores do status quo oligárquico, quando perdem eleições ou são despedidos de cargos governamentais, têm sempre a possibilidade de serem reciclados para posições de chefia em Fundações, como Governadores Civis, nos Parlamentos Europeu ou Nacional, como gestores de empresas públicas ou privadas, ou reconduzidos em posições de Estado, com competência dúbia.

Como dizia o Pessoa, “ó Portugal, hoje és nevoeiro...”

Quando trabalhei em psiquiatria, em Providence, beneficiando do facto de não poder ser descriminado pela idade, nem na formação profissional, nem no emprego, conheci o Carlos. Ele era um dos meus colegas envolvido no tratamento de clientes, um italo-luso-americano recentemente regressado aos Estados Unidos, descontente com a cultura laboral portuguesa. O Carlos relembrou-me de que em Portugal ainda é possível colocar nos jornais um anuncio do tipo:

- “Os candidatos, com idade não superior a 30 anos, devem enviar o curriculum vitae e uma fotografia tipo passe, recente.”

Eu já me tinha esquecido de que no meu país, governado por digerentes, a fotografia e a idade (e talvez o género sexual e o estado civil) são muito importantes para avaliar a competência. Perdoem-me o meu esquecimento acerca da minha minha cultura de origem.

Aqui na América, com menos Novas Oportunidades do que vulgarizadas pelo governo português, não se pergunta a idade nem se pede fotografia nos processos de candidatura. Essa curiosidade dos empregadores é punível, em Tribunal, com excelentes indemnizações para os lesados.

No dia em que escrevo esta crónica, recebi um convite para ir trabalhar no Japão. A empresa que me contactou exige competência profissional e não me perguntou a idade nem as minhas características fisionómicas.

Eu não aceitei porque a minha família e as crianças de quem estou encarregado para o desenvolvimento de capacidades, com diferentes atrasos, são muito mais importantes, para mim, do que ir trabalhar no Japão.

Até prova em contrário, os Cabindas
serão sempre, mas sempre, culpados

O Presidente da República de Portugal, Aníbal Cavaco Silva, subscreveu em tempos afirmações das “gentes do mundo do futebol” de que se ultrapassaram os “limites razoáveis” na transferência de Cristiano Ronaldo para o Real Madrid.

Pois é! Estava, como está, no seu direito. Pena é que não mostre igual, pelo menos, preocupação em relação ao povo de Cabinda sobre o qual, queira ou não, Portugal tem responsabilidades.

Eu sei que, sobretudo nos Acordos de Alvor, foram outros que varreram o lixo para debaixo do tapete. Mesmo assim, o lixo pode estar escondido... mas não deixa de lá estar, queira ou não o Presidente da República a que pertencem tanto os subscritores lusos desses acordos como os que, antes de Abril de 1974, também assinaram outros acordos.

Eu sei que a comunicação social não é coisa que preocupe a Presidência da República, sobretudo porque uma parte dela vai fazendo os favores necessários e passando os recados encomendados.

Mesmo assim, será que Cavaco Silva reparou nas parangonas que a comunicação social do reino lusitano, entre outras, deu ao caso do ataque em Cabinda sem que, ao menos, tivesse o cuidado de analisar a fundo as razões que levaram a tal?

Não. Não reparou. Para a comunicação social portuguesa, e não só, os Cabindas são culpados até prova em contrário. Mandam as regras de um estado de direito (que Portugal tende a deixar de ser e Angola nunca foi) que até prova em contrário os Cabindas sejam inocentes. Ou não é assim?

Em Portugal, com a conivência interessada dos poderes instituídos e os tachos inerentes, continuamos a ver que o mais remtável é, continua a ser mesmo que com algumas operações cosméticas, Fátima, Fado e Futebol.

“Acompanho aquilo que foi dito sobre esta matéria. Pagar quase 100 milhões de euros pela transferência de um jogador, nunca me passou pela cabeça”, afirmou, em Junho de 2009, Cavaco Silva em Nápoles, Itália, à margem do encontro dos Chefes de Estado.

Tão preocupado estava Cavaco Silva com o assunto que, agora, se esquece de ter igual veemência em relação aos 20% de portugueses que olham para os pratos vazios e aos 700 mil desempregado. Mas, pelo contrário, não se esquece de dizer que Angola vai de Cabinda ao Cunene, e quer fazer crer que por ter a chancela da Presidência da República uma mentira passa a ser verdade. Mas não conseguirá!

“Gostaria que Portugal fosse mais conhecido pela inovação, pela modernização, pela sua competitividade (...)”, acrescentou Cavaco Silva na altura da sua incursão pelo submundo do futebol. Cá por mim, gostava que Portugal fosse conhecido por honrar os compromissos, mesmo quando de um lado está o petróleo e do outro indefesos ciadadãos.

Mas como não é isso que acontece, um dias destes os portugueses poderão resolver não mudar de país mas, isso sim, mudar de políticos... nem que para tal tenham de ressuscitar, ou apoiar, um qualquer António de Oliveira Salazar.

Ela (ainda bem para alguns) come tudo

A empresária angolana Isabel dos Santos comprou 10% da Zon Multimédia, tornando-se assim accionista de referência da empresa. Gastou a módica quantia de 163,8 milhões de euros. Creio que o clã Eduardo dos Santos, para evitar negócios a retalho, lançará em breve uma Oferta Pública de Aquisição sobre Portugal.

Esta transacção reforça a parceria já existente entre a operadora portuguesa e o universo empresarial da filha daquele que é presidente, não eleito, de Angola há 31 anos, José Eduardo dos Santos.

Os investimentos angolanos no mercado de capitais português, que se restringem aos da Sonangol e de Isabel dos Santos, valiam 1813 milhões de euros no início de Setembro, o que representa três por cento do total da capitalização bolsista do principal índice, o PSI 20.

Enquanto isso, 68% (68 em cada 100) dos angolanos são gerados com fome, nascem com fome e morrem pouco depois com fome. 45% das crianças angolanas sofrem de má nutrição crónica, uma em cada quatro (25%) morre antes de atingir os cinco anos. No “ranking” que analisa a corrupção em 180 países, Angola está na posição 158.

Em Angola, a dependência sócio-económica a favores, privilégios e bens, ou seja, o cabritismo, é o método utilizado pelo MPLA para amordaçar os angolanos, o silêncio de muitos, ou omissão, deve-se à coação e às ameaças do partido que está no poder desde 1975.

Angola disponibiliza apenas 3 a 6% do seu orçamento para a saúde dos seus cidadãos. Este dinheiro não chega sequer para atender 20% da população, o que torna o Serviço Nacional de Saúde inoperante e presa fácil de interesses particulares.

Em Angola, 76% da população vive em 27% do território. Mais de 80% do Produto Interno Bruto é produzido por estrangeiros; mais de 90% da riqueza nacional privada foi subtraída do erário público e está concentrada em menos de 0,5% de uma população de cerca de 18 milhões de angolanos.

Em Angola, o acesso à boa educação, aos condomínios, ao capital accionista dos bancos e das seguradoras, aos grandes negócios, às licitações dos blocos petrolíferos, está limitado a um grupo muito restrito de famílias ligadas ao regime no poder.

Segundo um estudo do insuspeito Ministério angolano da Família e Promoção da Mulher (MINFAMU) há muitas famílias angolanas a (sobre)viver de “restos de alimentos” que adquirem nos mercados de Luanda.

Mas tudo isto pouco importa. O relevante é a filha do presidente da República e do MPLA (partido que desgoverna Angola há 35 anos), ter gasto só nesta operação 163,8 milhões de euros.

Quantas pessoas poderiam ser alimentadas dignamente com, é apenas um dos muitos exemplos, os 163,8 milhões de euros? Mas o que é que isso interessa?

Eu sei que a maioria dos angolanos continua a passar fome, mas se José Eduardo dos Santos está mais preocupado em comprar, ou colonizar, Portugal do que em dar de comer ao povo, quem sou eu para contestar?

Tomo até a liberdade de sugerir a ementa para o repasto em que Portugal entregue as chaves do país ao clã Eduardo dos Santos:

Trufas pretas, caranguejos gigantes, cordeiro assado com cogumelos, bolbos de lírio de Inverno, supremos de galinha com espuma de raiz de beterraba e uma selecção de queijos acompanhados de mel e amêndoas caramelizadas, com cinco vinhos diferentes, entre os quais um Château-Grillet 2005.

sábado, janeiro 30, 2010

Uma nova oportunidade aos stradivarius portugueses feitos com latas de sardinha!

A propósito do texto aqui publicado sob o título «Deveriam ter convidado Cavaco Silva, Luís Amado e João Gomes Cravinho...», em que escrevi sobre a presença do padre Jorge Congo em Bruxelas, a convite da socialista Ana Gomes, para falar da situação em Cabinda, urge uma rectificação ou, melhor, um acrescento.

Recorde-se que, no Paralento Europeu como em qualquer lugar, dizendo o que aprendeu com o falecido bispo do Porto, D. António (“diante de Deus, de joelhos; diante dos homens, de pé”), o padre Jorge Casimiro Congo lamentou a posição do Governo português de condenar apenas o que classificou como um ataque terrorista durante a Taça das nações Africanas (CAN), afirmando que “Portugal é o último a falar, não deve ser o primeiro a falar” sobre o enclave.

Jorge Congo acrescentou que “Portugal é que é o culpado do que acontece em Cabinda. Não nos aceitou, traiu-nos”, referindo-se ao processo de descolonização de Angola que deu de mão beijada e de cócoras o poder ao MPLA e, como se isso não fosse suficiente, rasgou os acordos que tinha asumido com o povo de Cabinda.

Vamos então agora ao acrescento. Para além da falha gravíssima de não ter convidado Cavaco Silva, Luís Amado e João Gomes Cravinho para que estes (mais vale tarde do que nunca) ficassem a seber alguma coisa sobre Cabinda, Ana Gomes deveria ter feito o mesmo a muitos outros políticos no activo.

Entre outros, deveria ter convidado José Sócrates, Manuela Ferreira Leite, Paulo Portas, bem como: Pedro Silva Pereira, Jorge Lacão, Teixeira dos Santos, Augusto Santos Silva, Rui Pereira, Alberto Martins, Vieira da Silva, António Mendonça, António Serrano, Dulce Pássaro, Helena André, Ana Jorge, Isabel Alçada, Mariano Gago e Gabriela Canavilhas. Bom seria se, igualmente, tivesse convidado: José Manuel Nunes Liberato, Carlos Alberto de Carvalho dos Reis.


Mas como não vão faltar oportunidades para esclarecer muita de ignorância que por aí pulula sobre Cabinda, acredito com um dia destes, com ou sem recurso às Novas Oportunidades, os políticos portugueses acabarão por aprende alguma coisa.

Relembre-se que, segundo a versão oficial do Governo português, “a Iniciativa Novas Oportunidades, que procura dar resposta aos baixos índices de escolarização dos portugueses através da aposta na qualificação da população, concretiza-se em duas ideias-chave: uma Oportunidade Nova para os jovens e uma Nova Oportunidade para os adultos”...

Por manifesta ignorância histórica e política, bem como por subordinação aos interesses económicos de Angola, os governantes portugueses fingem, ao contrário do que dizem pensar do Kosovo, que Cabinda sempre foi parte integrante de Angola. Mas se estudarem alguma coisa sobre o assunto, verão que nunca foi assim, mau grado o branqueamento dado à situação pelos subscritores portugueses dos Acordos do Alvor.

Bolsas para produtores de conteúdos

Até 10 de Fevereiro, os produtores portugueses de conteúdos de linha branca (há, ainda, quem lhes chame jornalistas), ou com cidadania da União Europeia e residentes em Portugal, podem candidatar-se a uma das 10 bolsas de curta duração nos EUA, incluídas no Programa José Rodrigues Miguéis 2010, da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD).

As bolsas visam a participação num programa de aperfeiçoamento profissional (presumo baseado na institucionalização de colunas nvertebrais amovíveis) a ter lugar de 21 de Junho a 7 de Julho deste ano no Committee of Concerned Journalists, em Washington DC, seguidos de alguns dias de contactos com o sistema político, social e económico norte-americano. Estão incluídas as despesas de viagem, alojamento e propinas.

Para se candidatarem ao Programa José Rodrigues Miguéis 2010 os produtores portugueses de conteúdos de linha branca devem obedecer aos seguintes requisitos: ter idade até 40 anos, carteira profissional e, no mínimo, cinco anos de experiência profissional, bem como um bom domínio das línguas portuguesa e inglesa.

Tudo requisitos que sobram nos produtores de conteúdos de linha branca, já bem testados em ampliar a voz dos que já se fazem ouvir em todos os cantos e esquinas e, igualmente, vacinados contra a tentação (qual peste) de querer dar voz aos que a não têm.

São critérios de preferência a ligação por contrato/vínculo a um órgão de comunicação social (imprensa, rádio, televisão ou jornalismo online) e habilitações ao nível do ensino superior, devendo os candidatos inscrever-se através de http://flad.multiweb.pt em língua portuguesa e inglesa.

Este é, aliás, um bom critério. Ter um contrato com um órgão de comunicação social é cada vez mais uma coisa rara. Para alguma coisa servem os recibos verdes. Além disso, ao colocarem a barreira limite nos 40 anos de idade ficam com a certeza de que só concorrem os assumidos produtores de conteúdos de linha branca.

Posteriormente, em data a indicar, todos os candidatos prestarão provas de inglês e apenas aqueles que ultrapassarem com êxito os testes de língua inglesa verão a sua candidatura analisada pelo júri composto por António José Teixeira (SIC Notícias), Cesário Borga (RTP), Carla Baptista (Universidade Nova de Lisboa), Ricardo Rodrigues (Notícias Magazine) e Sara Pina (Universidade Lusófona), coordenadora e representante da FLAD.

O júri designará os dez candidatos mais pontuados e dois suplentes. Os candidatos seleccionados terão de proceder ao pagamento de uma taxa de inscrição de 250 euros.

E assim a nossa alma descansará, mais uma vez pelas esquinas e cantos da vida.

sexta-feira, janeiro 29, 2010

Deveriam ter convidado Cavaco Silva,
Luís Amado e João Gomes Cravinho...

«Por iniciativa dos eurodeputados Ana Gomes e Richard Howitt, que estiveram em Cabinda como membros da Missão de Observação Eleitoral do Parlamento Europeu nas eleições angolanas de Setembro de 2008, teve lugar no passado dia 26 de Janeiro, no PE, uma Mesa-Redonda sobre 'Direitos Humanos em Cabinda', sendo convidado especial o Padre Jorge Casimiro Congo, que teve um papel-chave na decisão dos cabindas de participar nas eleições angolanas de 2008.

Igualmente interveio o Dr. Reed Brody, em representação da ONG "Human Rights Watch", que tem publicado relatórios sobre violações dos direitos humanos em Cabinda.

O Padre Congo contou a origem histórica dos problemas de Cabinda e explicou como se agravavam, à medida que os cabindas iam vendo frustrados todos os seus esforços para, através de diálogo político com as autoridades angolanas, ver reconhecida a identidade própria e um estatuto de autonomia para Cabinda, porventura semelhante ao dos Açores ou da Madeira.

Igualmente relatou o clima de intimidação e de perseguição contra os defensores de direitos humanos em Cabinda e a vaga de prisões arbitrárias de que estão a ser alvo vários activistas cabindenses nas últimas semanas, na sequência do ataque reinvindicado pelo movimento independentista FLEC contra a equipa de futebol do Togo, no início do mês.

O Padre Congo, que sublinhou estar a voltar dentro de dias a Cabinda apesar dos rumores de que também seria detido, indicou que os presos não foram especificamente incriminados por qualquer ligação àquele ataque, apenas lhes estavam a ser imputadas acusações genéricas de "atentados contra a segurança do Estado".

Acusações que, para Ana Gomes, "lembram as do regime salazarista contra activistas portugueses e angolanos. Em vez de procurar trazer à justiça os autores do crime contra a selecção togolesa, Luanda parece estar a usar o ataque como desculpa para prender arbitrariamente padres, jornalistas e intelectuais de Cabinda.

Esta tentativa de silenciar as vozes pacifistas da sociedade civil de Cabinda só pode levar a um agravamento da tensão política já existente - e isso não serve, claramente, o interesse de Angola".


In:

Angola prepara acção militar para arrasar a resistência, seja civil ou militar, em Cabinda

Luanda, melhor dizendo, o MPLA prepara-se para varrer pela força todos aqueles que em Cabinda (e mesmo em Angola) ousam falar (ou até pensar) em auto-determinação ou independência.

A purga, limpeza ou seja lá o que for que o regime angolano lhe chama, acontecerá dentro de dias. As autoridades da força ocupante, Angola, só estão à espera que acabe a Taça Africana de Futebol e que os jornalistas estrangeiros abandonem o país para lançar o operação que, segundo fontes em Luanda, “vai acabar de vez com o que resta quer de FLEC quer dos civis que defendem a causa independentista”.


O Governo do MPLA terá já obtido a anuência dos países da região, nomeadamente da República Democrática do Congo, para esquecer as fronteiras e levar a operação de limpeza até onde for necssário.

“Vamos pôr os independentistas de joelhos perante quem manda, acabando de vez com a ideia que eles têm de estar de pé e contestarem a autoridade”, diz um general angolano, acrescentando “que para grandes males, grandes remédios”.

O general em questão diz que, ao contrário do que “afirmou em Bruxelas o padre Jorge Casimiro Congo (“diante de Deus, de joelhos; diante dos homens, de pé”), os cabindas vão pôr-se de joelhos perante o governo de José Eduardo dos Santos”.

Acresce que Luanda tem igualmente a garantia de Lisboa de que Portugal não vai imiscuir-se na questão de Cabinda, “até porque o próprio presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, afirma que Angola vai de Cabinda ao Cunene”.

Parecendo não temer consequências, o regime angolano mostra que nem sequer a questão dos direitos humanos preocupa o MPLA.

“Vamos pôr a casa (leia-se Cabinda) em ordem, custe o que custar, e depois não será difícil esclarecer que agimos em legítima defesa contra os autores materiais e morais do terrorismo que alguns bandidos praticam na província de Cabinda”, afirma o general das Forças Armadas de Angola (FAA).

Tanto quanto é possível conhecer, a estratégia das FAA passa por criar focos de confusão, utilizando para isso agitadores angolanos, e até mesmo criando grupos armados que vão justificar a acção militar de Luanda.

Ao mesmo tempo que surgem rumores de que, do ponto de vista político, parece existir alguma resistência a esta acção armada que deverá ter, no comando operacional, alguns dos oficiais das FAA que outrora pertenceram à UNITA, algumas das principais embaixadas em Luanda terão já enviado relatórios para os seus governos a alertar para o que se passa.

Desemprego em Portugal acelera
- Urge pôr nos carris lusos o TGV

A taxa de desemprego em Portugal subiu para 10,4%, em Dezembro, de acordo com os dados hoje, sexta-feira, divulgados pelo Eurostat. Na Europa a 27, só a Letónia está pior do que a Espanha.

E assim, à boa maneira lusitana dos brandos costumes, lá vamos todos cantando e rindo, levados, levados sim pelas promessas de que um dia o país volte a estar na ordem.

Os 10,4% de taxa de desemprego apurados pelo Eurostat consubstanciam uma subida de 0,1% relativamente aos 10,3% registados em Novembro de 2009 e colocam Portugal com uma taxa média de desemprego superior à média da Zona Euro e a média da União Europeia.


Nada mau. Pode avançar, sem problemas, o TGV, novos aeroportos e por aí adiante. Todos temos a certeza de que haverá sempre alguém capaz de fechar a porta e apagar a luz.

Na Zona Euro a taxa subiu para 10% e na União a 27 a taxa de desemprego aumentou 9,6%. Na União Europeia, a Holanda (4,0%) e a Áustria (5,4%) são os países com as taxas mais baixas de desemprego.

Mas, de facto, é caso para perguntar: quem são os holandeses e os austríacos para darem lições aos portugueses? Sim, quem são? Os lusitanos querem lá saber de 4 ou 5% de desempregados. Querem é comboios de alta velocidade.

Em Portugal (para quem não sabe, é aquele país a norte – embora cda vez mais a sul – de Marrocos), a taxa de desemprego aumentou pouco mais de 2% entre Dezembro de 2008 e o mesmo mês de 2009, ao subir de 8,1% para os 10,4% agora apurados pelo Eurostat.

As subidas mais acentuadas foram registadas nos países bálticos: Letónia, que dobrou a taxa de desemprego (de 11,3% para 22,8%), na Estónia, que passou de 6,% em Dezembro de 2008 para 15,2% em Dezembro de 2009, e na Lituânia, a taxa do desemprego mais do que dobrou, de 6,5% para 14,6%.

Estão a ver? Ainda se queixam os portugueses. Olhem para estes exemplares casos. Portugal é um paraíso. Para alguns, é claro. Vejam lá se os poucos que têm milhões se preocupam com os milhões que têm pouco
...

quinta-feira, janeiro 28, 2010

A bem da pequenez da nação, Cabinda é
tabu (bem pago) na imprensa portuguesa

(Quase) todos os jornalistas portugueses estão proibidos, ao abrigo de critérios editoriais (forma simpática para traduzir a censura dos donos dos jornalistas e dos donos dos donos) de falar sobre Cabinda.

Esta é, aliás, uma forma eficiente de evitar chatices com o dono total de Angola (José Eduardo dos Santos) e com o dono (ainda) parcial de Portugal (José Eduardo dos Santos). Além disso, se o homem a quem Belmiro de Azevedo chama da ditador, Cavaco Silva, entende que Angola vai do Cabinda ao Cunene, quem julgam os jornalistas que são para contrariar o presidente?

Se também o governo, pela voz autorizada do seu secretário de Estado da Cooperação, João Gomes Cravinho, diz o mesmo... não há nada a fazer que não seja... comer e calar.

Por alguma razão, o que se passou em Abril de 2001 quando se deu o afastamento compulsivo das equipas de reportagem da RTP, SIC e TVI que estavam em Cabinda, nunca mais algo de semelhante se voltou a repetir.

E não voltou não porque Cabinda tenha desaparecido do mapa. Não voltou porque os tais critérios editoriais, de completa submissão acocorada ao poder do petróleo do regime angolano, fazem com que Cabinda deixe de ser notícia, obviamente ao contrário de uma qualquer bitacaia em José Eduardo dos Santos.

Por alguma razão o próprio Sindicato dos Jornalistas portugueses protestou na altura, nunca mais se interrogando (é verdade que também não é para isso que existe) sobre as razões que levam os jornalistas por imposição superior a não falarem do assunto.

Antes, não muito – é certo, havia a censura em Portugal. Hoje não há censura, há autocensura. Antes havia a censura, hoje há os critérios editoriais. Antes havia censura, hoje há audiências. Antes havia censura, hoje há lucros. Antes havia Jornalismo, hoje há comércio jornalístico.

Antes a única tarefa humilhante no Jornalismo era a que se realizava com mentira, deslealdade, ódio pessoal, ambição mesquinha, inveja e incompetência. Hoje nada é humilhante desde que dê lucro.

Antes um Jornalista nunca (nunca) vendia a sua assinatura para textos alheios, tantas vezes paridos em latrinas demasiado aviltantes. Hoje é tudo uma questão de preço.

Antes, se o Jornalista não procurava saber o que se passava no cerne dos problemas era, com certeza, um imbecil. Antes, se o Jornalista conseguia saber o que se passava mas, eventualmente, se calava era um criminoso. Hoje há cada vez mais imbecis e criminosos.

Antes os Jornalistas erravam muitas vezes. Hoje não erram. E não erram porque há cada vez menos Jornalistas. Assim sendo, as linhas de montagem (em Angola como em Portugal) não precisam de jornalistas.

Tudo o resto são cantigas, tenha o país um governo eleito ou não, seja ou não uma democracia, chame-se Portugal, Burkina Faso ou Angola.

E quando alguns dos fazedores desse produto comercial a que se chama comunicação social, reivindicam o papel de jornalistas, entram logo um funcionamento os chamados critérios editoriais de carácter jornalístico.

E o que é que isso é? É um patamar de decisão ao qual têm acesso privilegiado todos aqueles mercenários que estão no poleiro, seja político, empresarial, cultural etc. e que visa dar cobertura, a troco de apoios financeiros, aos dono de uma sociedade de aparências, de favores, de corrupção, de compadrios, de manipulações.

Hoje, em Angola como em Portugal (por exemplo), a grande maioria aceita fazer tudo o que o «chefe» manda (mesmo sabendo que este para contar até 12 tem de se descalçar, e mesmo assim...), este aceita fazer tudo o que o director manda, este aceita fazer tudo o que a Administração manda, e esta aceita fazer tudo o que dê lucro.

Não deixa, contudo, de ser curioso que – nesta matéria e neste contexto – quanto mais imbecis e criminosos forem os jornalistas, mais hipóteses têm de subir na carreira, seja esta nos media propriamente ditos ou nas assessorias políticas.

Bissau pede ajuda para coisas simples
(400 mil estudantes só têm fotocópias)

O Governo da Guiné-Bissau está à procura de parceiros interessados em ajudar a financiar a produção de manuais escolares para os quase 400 mil alunos do país, que estudam através de fotocópias.

É caso para perguntar: onde anda a Comunidade de Países de Língua Portuguesa? Onde estacionou o secretário de Estado da Cooperação de Portugal? Onde mora essa coisa de que de vez en quando se fala e que dá pelo nome de Lusofonia?

"O Ministério da Educação está a fazer esforços no sentido de contactar diversos parceiros que actuam na área da educação com o objectivo de solucionar os problemas dos manuais escolares", afirmou o secretário de Estado do Ensino, Besna Na Fonta.

É claro que um país que necessita de parceiros para editar manuais escolares não é propriamente, digamos, um país. Desde logo porque tem dinheiro para comprar armas, embora também não tenha para matar a fome à grande maioria da população.

População que, talvez ao contrário do que pensam alguns dos protagonistas que conversam em redor de faustosas mesas nos areópagos da política lusófona, é constituída por pessoas, por gente que ama e sente.

Segundo o secretário de Estado guineense, a Guiné-Bissau precisa de um parceiro interessado em "reequipar a editora escolar para que os manuais possam passar a ser produzidos" naquele departamento do Ministério da Educação.

Não creio que haja quem esteja disponível para tão megalómano esforço financeiro. Ainda se fosse para comprar umas tantas Kalashnikov. Agora livros?

"Se tivéssemos oportunidade de encontrar esse parceiro agradecíamos muito", salientou Besna Na Fonta, com a humildade de quem quer que o seu povo mais do que ter peixe saiba pescar.

Além do problema de funcionamento da editora escolar, a produção de manuais implica um "custo enorme que o Ministério da Educação sozinho tem dificuldades em suportar", disse, acrescentando que é por essa razão que procuram "financiamentos".

Questionado sobre a forma como os alunos estudam, o secretário de Estado explicou que os estudantes "aproveitam o que existe e tiram fotocópias".

E ainda estão com sorte. É que as fotocópias dos livros têm utilidade. Já as fotocópias da comida... não servem para comer.

Portugal não brinca em serviço

Uma lancha da Armada (portuguesa, com certeza) abriu fogo de metralhadora sobre uma embarcação descaracterizada da Polícia Marítima (portuguesa, com certeza), que estava a realizar uma operação de vigilância costeira perto de Portimão.

A coisa está linda. O Simplex das comunicações e da articulação de acções parece ter encravado num qualquer “Magalhães” cujo prazo de validade já há muito deve ter passado. E se fosse só o “Magalhães”...

A cerca de quatro milhas da costa, ao largo da praia da Salema, a lancha «Pegaso» da Marinha Portuguesa aproximou-se de um barco, que levantou suspeitas para a Armada, tendo disparado quatro rajadas de metralhadora mas afinal tratava-se de uma embarcação descaracterizada onde seguiam três elementos da Polícia Marítima.

Voltou o tempo de disparar primeiro e perguntar depois. Mas voltou não para dar caça aos criminosos mas, isso sim, para pôr na ordem o que também andam à procura desses mesmos criminosos. Portugal não brinca em serviço.

Sem responder ao fogo, a embarcação da Polícia Marítima acelerou para uma distância segura, «ligando posteriormente os pirilampos rotativos» que a identificam enquanto lancha policial. Foi, calculo, a melhor forma de comunicação entre forças que, supostamente, actuam na mesma zona e com os mesmos objectivos. Supostamente, é claro!

O incidente entre as duas forças da Armada sucedeu numa área referenciada pelas autoridades como uma zona de tráfico de estupefacientes do Norte de África para o Sul do Europa.

Como se trata de uma questão de natureza operacional, não sei se isso se aplica aos criminosos ou aos que procuram apanhar os criminosos, o gabinete do chefe de Estado-maior da Armada não quis comentar.

Trata-se pois de um, mais um, bom exemplo de como os portugueses podem estar descansados. Enquanto, neste caso, os traficantes de droga bebem umas cervejas numa esplanada, as forças policiais andam aos tiros entre elas.

quarta-feira, janeiro 27, 2010

Angola não é um Estado de Direito e Portugal
para lá caminha cantando e rindo no convés

Como referiram alguns, poucos, muito poucos, quase nenhuns, meios de comunicação social de Portugal, o padre Jorge Casimiro Congo foi ao Parlamento Europeu (Bruxelas), a convite da eurodeputada socialista Ana Gomes, partir a loiça sobre Cabinda.

Dizendo o que aprendeu com o falecido bispo do Porto, D. António (“diante de Deus, de joelhos; diante dos homens, de pé”) o padre Jorge Casimiro Congo lamentou a posição do Governo português de condenar apenas o que classificou como um ataque terrorista durante a Taça das nações Africanas (CAN), afirmando que “Portugal é o último a falar, não deve ser o primeiro a falar” sobre o enclave.

Se as verdades ajudassem a reduzir o défice português, as que foram ditas pelo padre Congo, não só por serem históricas mas sobretudo actuais, o ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, estaria bem da vida.

Mas não ajudam. Desde logo porque, da Presidência de República portuguesa ao governo, passando pelo Parlamento e pelos partidos, ninguém sabe o que é, da facto e de jure, Cabinda. Para quase todos, a história de Portugal só começou a ser escrita em Abril de 1974, ou até mais tarde, pelo que – como diz Cavaco Silva – Angola vai de Cabinda ao Cunene.

“Portugal é que é o culpado do que acontece em Cabinda. Não nos aceitou, traiu-nos”, disse o padre Congo, referindo-se ao processo de descolonização de Angola que deu de mão beijada e de cócoras o poder ao MPLA e, como se isso não fosse suficiente, rasgou os acordos que tinha asumido com o povo de Cabinda.

Optimista quanto ao futuro, sobretudo porque sabe que o seu povo nunca será derrotado porque nunca deixará de lutar, o padre Congo disse ainda ter esperança de que no futuro haja “governos portugueses com mais calma para ver este problema”, porque acredita “que há partidos que começam a levantar a cabeça” e surgirão figuras que fiquem “acima de quaisquer negociatas, de petróleo, ou de mão-de-obra que tem de ir para Angola”.

É claro que não houve nenhuma reacção oficial de Portugal às acusações do padre Congo. Uns porque entendem (e talvez bem) que quem manda no país é cada vez mais o clã Eduardo dos Santos; outros porque entendem que se o MPLA virar a rota e passar a investir noutro lado lá vão ao charco alguns grande negócios; outros ainda porque se estão nas tintas para a honorabilidade de um Estado de Direito. Estado de Direito que Angola não é e que Portugal é cada vez menos.

Obrigado Câmara Municipal do Porto

A eficiência, competência e outras “iências” de Portugal é algo que me comove e que, apesar de tudo, me faz acreditar que este país está cada vez próximo dos países do norte... de África.

Dois meses e meio depois de ter enviado, como candidatura espontânea, o meu curriculum para diversas entidades, entre as quais a Câmara Municipal do Porto, recebo desta a mensagem aqui apresentada.

Ou seja, faço a candidatura como jornalista e a resposta diz-me “que neste momento não está aberto qualquer processo de selecção compatível com a sua área de habilitações (Licenciatura em História)”.

Ainda bem que os doutos técnicos camarários não leram todo o curriculum. Se o tivessem feito estariam agora a dizer-me a mesma coisa, mas em relação a qualquer outra referência que lá venha, do tipo ter o curso de taxidermia.

Cabindas substituem talibãs

O Conselho de Segurança das Nações Unidas, no que será certamente seguido por outras instituições e países, anunciou que retirou cinco talibãs da lista de pessoas sujeitas a sanções por relações passadas com a Al-Qaida, até agora terrorista.

Estas vagas, até porque convém ter a lista de trrroristas sempre cheia, poderão dar lugar – como é desejo não só do regime angolano como do português – à entrada de genta afecta à causa de Cabinda.

Os cinco talibãs são o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros Abdul Wakil Mutawakil, os antigos ministros-adjuntos do Comércio Assuntos Fronteiriços e do Plano, respectivamente Fazl Mohammad, Abdul Hakim e Mahammad Musa, e ainda um antigo membro do serviço de imprensa do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Shams Us-Safa.

Cá por mim, sugiro que sejam substituídos – numa primeira fase - pelos cabindas Francisco Luemba, Raul Tati e Belchoir Lanso Tati.

Além da ficar nas boas graças (o que é sempre aconselhável) do regime petrolífero do MPLA, o Conselho de Segurança da ONU iria com certeza merecer os elogios de políticos impolutos como Aníbal Cavaco Silva e João Gomes Cravinho...

terça-feira, janeiro 26, 2010

«Portugal é o culpado do que acontece
em Cabinda. Não nos aceitou, traiu-nos»

O padre Casimiro Congo, defensor da auto-determinação daquilo a que o regime angolano do MPLA chama de província, Cabinda, disse hoje em Bruxelas que vai regressar a Angola, mesmo correndo o risco de ser preso (tal como todos aqueles que contestam as teses do MPLA, porque não aceita “exílios forçados” e quer prosseguir a luta “lá dentro”.

O padre Jorge Casimiro Congo, que tem previsto regressar em breve a Luanda após uma passagem pela Europa, falava à margem de uma mesa-redonda sobre direitos humanos em Cabinda, organizada pela eurodeputada Ana Gomes, que deu conta de rumores em Angola segundo os quais o clérigo poderá ser preso, na sequência da recente série de detenções de figuras da sociedade civil do enclave.

“Eu espero tudo, mas eu já disse que eu não aceito, não aceito mesmo - e é isso que eu digo aqui neste lugar onde se dignifica o Homem (Parlamento Europeu) -, não aceito o exílio forçado. Já chegam os exílios. Eu vou fazer a minha luta lá dentro”, declarou o padre Congo.

'Há uma coisa que eu aprendi na minha vida, e quem me ensinou isso foi o falecido Bispo D. António, do Porto: diante de Deus, de joelhos; diante dos homens, de pé. Eu aprendi a estar de pé e vou estar de pé diante de qualquer homem, jamais me ajoelharei. Mesmo que tenha de apodrecer na prisão, eu não vou aceitar ser escravo de um homem igual. Não, esse tempo já passou', reforçou.

De acordo com o clérigo, a recente série de detenções de figuras ligadas à auto-determinação de Cabinda não está relacionada com o ataque contra a selecção de futebol do Togo, sendo esse episódio, que admitiu ser 'infeliz', apenas um pretexto para concretizar planos antigos.

“Foi talvez o que deu azo a muitos projectos antigos. Há muito tempo que estão sobre nós. Não há espaço de cidadania em Cabinda (…) Eu creio que se não se tomar uma medida que esteja um bocado fora da lógica do petróleo, nós estamos mesmo para desaparecer', disse.

Por fim, o padre Jorge Casimiro Congo lamentou também a posição do Governo português, de condenar apenas o que classificou como um ataque terrorista durante a Taça das nações Africanas (CAN), afirmando que “Portugal é o ultimo a falar, não deve ser o primeiro a falar” sobre o enclave.

“Portugal é que é o culpado do que acontece em Cabinda. Não nos aceitou, traiu-nos”, disse, referindo-se ao processo de descolonização de Angola.

O clérigo afirmou, no entanto, ter esperança de que no futuro haja “governos portugueses com mais calma para ver este problema”, porque acredita “que há partidos que começam a levantar a cabeça” e surgirão figuras que fiquem “acima de quaisquer negociatas, de petróleo, ou de mão-de-obra que tem de ir para Angola”.

Enquanto Cavaco Silva faz questão de dizer que Angola se estende de Cabinda ao Cunene, quase dando a entender que a História de Portugal só começou a ser escrita em Abril de 1974, o secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação, João Gomes Cravinho, diz que "Portugal não tem nada a ver com a questão de Cabinda que é um assunto de soberania angolana".


Não admira, por isso, que muita da Imprensa lusa seja apenas correia de transmissão da verdade oficial que, ainda por cima, revela um consenso entre os principais donos políticos do país.

Por alguma razão D. Januário Torgal Ferreira, bispo das Forças Armadas portuguesas, lamenta que a comunicação social portuguesa e internacional continue sem dar a devida atenção ao que se passa em Cabinda.

Recorde-se que Francisco Luemba, um proeminente advogado e antigo membro da extinta organização dos Direitos Humanos Mpalabanda, foi detido no dia 17 de Janeiro e acusado de crimes contra o Estado, em conexão com a publicação de um livro em Portugal («O Problema de Cabinda Exposto e Assumido à Luz do Direito e da Justiça»), em 2008, que as autoridades alegam agora incitar à violência e rebeldia.

Também o Padre Raul Tati, foi detido no dia 16 de Janeiro e acusado dos mesmos crimes, enquanto Belchoir Lanso Tati, outro antigo membro da Mpalabanda, foi detido a 13 de Janeiro, também acusado de crimes contra o Estado.

Prostíbulos das ocidentais praias lusitanas

O Parlamento Europeu (PE) acolhe, a 2 de Fevereiro, a conferência “Pagar o preço pelo jornalismo e a democracia”, organizada pela Federação Europeia de Jornalistas (FEJ) e que visa discutir o futuro do jornalismo e das políticas de média na União Europeia.

Acho que faz sentido esta discussão em alguns países dos quais, na minha opinião, não deve constar Portugal que nesta matéria, como em muitas outras, está cada vez mais perto do Burkina Faso. Desde logo porque o jornalismo português é uma miragem e a democracia para lá caminha.

No que ao jornalismo lusitano respeita, basta ver que um qualquer badameco a quem sai o euromilhões, ou a quem a banca o dá, pode ser dono de um ou mais meios de comunicação social, mesmo que a sua experiência e formação empresarial tenha sido feita em prostíbulos.

Basta ver que para “ser” jornalista é suficiente abrir as pernas ao patrão ou ao director ou, também, ter estagiado em algum dos prostíbulos mais ou menos conhecidos.

Entre as questões a abordar nesta conferência contam-se: Onde é que a crise dos média e do jornalismo figura na agenda da UE?; Além das comunicações simples e relações públicas, que visão tem a UE para uma indústria da informação em crise?; O que é necessário para proteger e melhorar o pluralismo informativo na Europa à medida que os média e os cidadãos vêem o seu acesso a fontes fiáveis reduzido? E, tão importante quanto isso, quem pagará por tal?

Não creio, tal como acontece em Portugal, que a União Europeia esteja muito preocupada com estas questões. Cada vez mais o jornalismo é apenas uma forma de comércio pelo que, penso, essas peregrinas ideias de “dar voz a quem a não tem”, de “entender que a verdade é a melhor qualidade dos jornalistas” já foi chão que, há muito, muito tempo, deu uvas.

Esta iniciativa, moderada pelo secretário-geral da FEJ, Aidan White, surge na esteira da criação do Intergrupo parlamentar para os Média, no qual eurodeputados de todas as bancadas debatem sobre as tendências e os desafios do sector.

Tendências e desafios? Simples. Tendência para a extinção do jornalismo que está a dar lugar à produção em série de conteúdos comerciais de linha branca. Desafios que se põem aos idealistas que não deixam de lutar, nem que seja para que o Jornalismo passe a ser uma profissão artesanal.

Entre os oradores estão o jornalista belga Jean-Paul Marthoz (Enjeux Internationaux), os britânicos Jeremy Dear (secretário-geral do NUJ) e Chris Elliot (editor-executivo do Guardian News & Media), a alemã Verena Wiedemann (secretária-geral da ARD), o romeno Cristian Unteanu (Realitate TV), e ainda Adam Watson-Brown, da Media Task Force da Comissão Europeia.

Pelo que sei nenhum dos craques portugueses lá estará para dissertar sobre o êxito da aplicação à comunicação social dos métodos de gestão e de produção que tanto sucesso tiveram, e continuam a ter, nos prostíbulos das ocidentais praias lusitanas...

Imagens de Luanda dos anos 60 e 70

«Estamos a preparar um documentário, da autoria da Margarida Cardoso, para o qual precisamos de imagens de Luanda dos anos 60/70. Pede-se a colaboração a quem tenha material deste tempo, de preferência filmes, que entre em contacto connosco para filmetempo@gmail.com ou 916790659.

Um documentário que reflecte sobre a história de Portugal e Angola desde os tempos da luta anti-fascista até ao pós-Independência, passando pelos, movimentos de libertação nacional, através do retrato da geração de 60 que, de um lado e de outro, viveu intensamente este período.

O filme pretende acima de tudo ser uma reflexão emocional e pessoal sobre um tempo de grandes e importantes mudanças históricas e de como essas marcaram para sempre o rumo dos percursos individuais.

Seguindo os traços de algumas pessoas dessa geração, através de uma narrativa fragmentada construída de testemunhos, imagens do passado, da revisitação de lugares que hoje, tal como os homens, estão transformados pelo tempo. »

segunda-feira, janeiro 25, 2010

Ana Gomes leva Cabinda a Bruxelas

A eurodeputada Ana Gomes (PS) organiza amanhã, em Bruxelas, um debate sobre os direitos humanos em Cabinda, frisando que Angola é um "parceiro importante" da União Europeia, que tem acompanhado o seu percurso de perto.

"Angola é um parceiro importante da União Europeia, além de um parceiro obviamente importante de Portugal por todas as razões. É um parceiro que o Parlamento Europeu tem seguido, tanto que houve missões de acompanhamento eleitoral em 2008", disse a eurodeputada socialista à agência Lusa.

Ana Gomes fez parte - juntamente com o eurodeputado socialista britânico Richard Howitt, que também estará presente no debate desta terça-feira - da missão que acompanhou o sufrágio angolano de 2008, tendo então sido desenvolvida "uma série de contactos com elementos da sociedade civil" de Cabinda, "vários" dos quais "presos nas últimas semanas sem acusações específicas".

Recorde-se que Francisco Luemba, um proeminente advogado e antigo membro da extinta organização dos Direitos Humanos Mpalabanda, foi detido no dia 17 de Janeiro e acusado de crimes contra o Estado, em conexão com a publicação de um livro em Portugal («O Problema de Cabinda Exposto e Assumido à Luz do Direito e da Justiça»), em 2008, que as autoridades alegam agora incitar à violência e rebeldia.

Também o Padre Raul Tati, foi detido no dia 16 de Janeiro e acusado dos mesmos crimes, enquanto Belchoir Lanso Tati, outro antigo membro da Mpalabanda, foi detido a 13 de Janeiro, também acusado de crimes contra o Estado.

Tanto o Padre Tati como Belchoir foram porta-vozes das tensões políticas de Cabinda, onde a Frente de Libertação do Enclave de Cabinda (FLEC) tem liderado uma campanha armada pela independência do território, desde a independência de Angola, em 1975.

Para a eurodeputada do PS, é "normal" que o Parlamento Europeu tenha "liberdade" para "inquirir" países sobre "matérias de direitos humanos", particularmente quando há governos que, "por razões diversas, são tolhidos na sua intervenção".

Tudo leva a crer que um desses países seja Portugal que, pela voz do seu presidente da República, Cavaco Silva, referiu recentemente numa mensagem enviada ao seu homólogo angolano que Angola se estende “de Cabinda ao Cunene”.

A situação em Cabinda será debatida também com o padre Jorge Casimiro Congo, defensor dos direitos humanos no enclave e que, por mero acaso, está fora da região desde Dezembro do ano passado.

"O padre Congo foi umas das pessoas com quem falámos em Cabinda. Apreciámos muito o papel que teve no debate interno entre forças cabindenses para a participação nas eleições angolanas", frisou a eurodeputada.

Recorde-se igualmente o que disse Ana Gomes a propósito das eleições em Angola:

“São legítimas as dúvidas que foram levantadas por partidos políticos e organizações da sociedade civil sobre a votação em Luanda”;

“Posso apenas dizer que a desorganização foi bem organizada”;

“À última da hora, foram credenciados 500 observadores por organizações que se sabe serem muito próximas do MPLA”;

“Parece que alguém não quis que as eleições fossem observadas por pessoas independentes”;

“As eleições em Luanda decorreram sem a presença de cadernos eleitorais nas assembleias de voto e isso não pode ser apenas desorganização..."

Purga à vista no reino do MPLA?

Faustino Muteka, governador do Huambo, diz citando o presidente da República de Portugal, Cavaco Silva, que as crianças de Angola devem completar o legado do MPLA “De Cabinda ao Cunene um só Povo uma só Nação”, de modo a consolidar a unidade e a paz.

Oito anos depois de a UNITA ter decido entregar o ouro ao “bandido”, a troco de uns pratos de lagosta para uns tantos e de fuba para a maioria, o MPLA ainda fala da manutenção da paz.

As mulheres do MPLA, os pioneiros do MPLA, os veteranos do MPLA, os chefes militares do MPLA, os políticos do MPLA, os governadores do MPLA... todos falam insistentemente na manutenção da paz.

Das duas uma: Ou temem que existam ainda alguns canhangulos operacionais e capazes de fazer estragos, ou prepara-se para pela força (como faz em Cabinda) criar manobras de diversão para justificar uma qualquer purga, até mesmo – como aconteceu a 27 de Maio de 1977 – dentro do próprio MPLA onde, apesar do medo, começam a aparecer algumas importantes vozes a discordar o dono do país.

E se os acontecimentos de 27 de Maio de 1977, que provocaram milhares de mortos, foram o resultado de uma provocação, longa e pacientemente planeada, tendo como responsável máximo Agostinho Neto, que temia perder o poder, será que Eduardo dos Santos está, ou teme vir a estar, na mesma posição?

Será que, como há 33 anos, Angola tem algum Nito Alves, ministro ou não, político ou não, chefe militar ou não, disposto a protestar contra o rumo despótico do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA)?

E se tem, voltaremos a ter, tal como em 12 de Julho de 1977, uma declaração oficial do Bureau Político do MPLA a falar de uma "tentativa de golpe de Estado" por parte de "fraccionistas" do movimento, cujos principais "cérebros" serão, já não Nito Alves e José Van-Dunem, mas uns novos Mialas?

Portugal só falará de Cabinda se falhar a OPA lançada pelo MPLA sobre... Portugal

A autonomia para a “província” de Cabinda é, foi, uma das propostas do anteprojecto de Constituição da UNITA, apresentado em Maio do ano passado em Luanda pelo seu líder, Isaías Samakuva.

Seria meio caminho andado... se os donos do poder da potência ocupante, Angola, a isso estivessem receptivos. Mas não estiveram nem estarão, tal é a ambição desmedida pelo poder.

A UNITA no seu anteprojecto de Constituição elegeu a descentralização político-administrativa de Cabinda, por entender que é, era, seria, a via para a resolução da "complexidade dos problemas históricos" do que chama enclave.

A proposta referia que só essa "descentralização" permite "maior agilidade, participação democrática e eficiência" na administração territorial e "consolidação da paz política e social" em Cabinda.

Talvez por ter sido escrita em português, a proposta da UNITA não conseguiu ser digerida pelos donos do poder que, diga-se, só falam uma língua: o mplaês.

E eu penso, desde há muito tempo, que Cabinda não faz parte de Angola e que, por isso, deve ser um país independente. Dir-me-ão alguns, sobretudo os que se julgam donos de uma verdade adquirida nos areópagos da baixa política angolana ou portuguesa, que isso é uma utopia.

Mais coisa menos coisa, são os mesmos que há umas dezenas de anos diziam o mesmo a propósito da independência de Angola, de Moçambique, da Guiné-Bissau, de Cabo Verde, de Timor-Leste. São os mesmos que há pouco tempo diziam algo semelhante a propósito do Kosovo. São os mesmos que nesta altura dizem o mesmo quanto ao País Basco.

Mas, tal como se disse em relação a Angola e ao Kosovo, um dia destes estará por aqui alguém a falar da efectiva independência de Cabinda.

Até que esse dia chegue continuará a indiferença (comprada com o petróleo de Cabinda), seja de Portugal, da Comunidade de Países de Língua Portuguesa ou até mesmo da comunidade internacional.

Portugal continua, como vem sendo hábito recente, de cócoras porque – com razão – teme que qualquer hostilidade em relação ao soba de Luanda (cidade que hoje comemora 434 anos) possa fazer com que Angola retire a Oferta Pública de Aquisição (OPA) sobre Portugal. E se isso acontecer será uma chatice.

É por isso que Cabinda nunca consta oficialmente da agenda de encontros oficiais entre o consórcio que lidera a OPA e as entidades que gerem Portugal, caso do Governo e do presidente da República.

Eu sei que, no contexto africano, Portugal é do ponto de vista prático uma carta fora do baralho. Cada vez mais o poder do MPLA entende que as autoridades portuguesas fazem tudo o que ele quiser. Até agora tem sido assim. Até conseguem que Anibal Cavaco Silva, enquanto presidente da República, quando fala de Angola sinta necessidade de esclarecer que o país vai de Cabinda ao Cunene...

domingo, janeiro 24, 2010

A bem da Nação venham as chibatadas

Uma rapariga foi condenada a 90 chicotadas e dois meses de prisão depois de ter agredido um professor. O caso aconteceu na Arábia Saudita e foi revelado por um juiz. Ora aí está. Cá para mim Portugal deveria adoptar o sistema, mas adaptando-o a outras actividades, tal como é, aliás, feito pelos sauditas.

De acordo com a Amnistia Internacional, citada pela agência AP, a agressão da aluna aconteceu depois da adolescente ter sido apanhada com um telemóvel com câmara.

«O veredicto foi-lhe lido no tribunal e ela não objectou», disse o juiz Riyadh al-Meihdib, numa entrevista publicada pelo jornal saudita «Al-Watan». O magistrado disse ainda que o professor recusou perdoar a rapariga.

Por outro lado, uma mulher de 75 anos foi condenada a 40 chicotadas e a quatro meses de prisão na Arábia Saudita, por se ter encontrado com homens que não eram da sua família.

Segundo um comunicado da Amnistia Internacional, o Ministério do Interior saudita ordenou a execução imediata da condenação de Khamisa Mohammed Sawadi, de 75 anos, e de dois sauditas identificados apenas como sendo Fahad e Hadyan.

Ainda na Arábia Saudita, um tribunal condenou uma jornalista a 60 chicotadas por ter feito uma entrevista para um programa de TV com um homem que admitiu ter mantido relações sexuais fora do casamento, noticiou a «CNN».


O tribunal de Jidá aplicou ainda a Rosanna Al-Yami uma pena de prisão de cinco anos e uma suspensão de dois anos que a impede de viajar para fora da Arábia Saudita.

Num episódio do programa «A Obscura Linha Vermelha», Mazen Abdul Jawad, que falava abertamente sobre as suas experiências sexuais, foi levado a julgamento e condenado a cinco anos de prisão e a mil chicotadas.

Suleiman Al-Jumeli, o advogado que representa Abdul Jawad, também confirmou a sentença contra Al-Yami, destacando que ela é a primeira jornalista saudita a ser condenada dado a natureza da sua profissão.

Abdul Jawad, de 32 anos, divorciado e pai de quatro filhos, falou abertamente sobre suas aventuras sexuais, o seu amor pelo sexo e de ter perdido a sua virgindade aos 14 anos.

O episódio causou um alvoroço na Arábia Saudita, onde a Sharia, ou a lei islâmica, é praticada e onde o sexo antes do casamento é ilegal.

Como se vê, Portugal poderia adoptar estas regras de forma a conseguir que alunos e jornalistas, entre outros cidadãos de segunda, aprendessem a saber quem manda, aprendessem a comer e calar... a bem da Nação.

Chafurdar na merda é para muita gentalha
uma importante questão de sobrevivência!

Portugal cimenta todos os dias a sua imagem de um país “feio, porco e mau”. Será que os portugueses acreditam que vai haver justiça em casos como a Casa Pia, Free Port, BPN, BPP etc. etc. etc. onde são cada vez mais notórias as certezas de que os protagonistas são todos farinha do mesmo saco?

Não. Não acreditam. E não acreitam porque cada vez mais se comprova que os protagonistas são uma corja de gente feia, suína e má. E isso aplica-se quer aos que em tempo útil se calaram, quer aos que, hoje, se deixaram comprar.

Serem feios, porcos e maus parece algo que está no sangue, salvo algumas (muito poucas) excepções. Tão poucas que até os Jornalistas que agora falam vão, como o foram os que no início da década de 80 avançaram no caso Casa Pia, ficar calados.

E esse silêncio será recompensado. É só uma questão de tempo. Não tardará muito e estarão como directores ou administradores de um qualquer órgão da comunicação social... Os Jornalistas mais teimosos (que também os há, é verdade) poderão, a todo o momento, entrar - ou já entrarar - para novas listas de dispensáveis...

Seja qual for o caso, tenha acontecido há um ano ou há dez, ninguém se lembra de ter ouvido falar em indícios, em avisos, em alertas. Governador do Banco de Portugal, Presidentes da República, ministros, secretários de Estado, deputados, procuradores gerais da República, magistrados, polícias etc. ninguém dá fé.

E, se calhar, não ter dado fé, continuar a não dar fé, é tão conveniente que, creio, até poderá um dia destes dar direito a uma comenda pelos altos serviços prestados à Nação...

Convenhamos, contudo, que os silêncios continuam a ser comprados. Tal como foram outros, tal como serão outros. Portugal começa a deixar de ser um país (Nação há muito que o deixou de ser) para passar a ser, apenas e tão só, um lugar muito mal (muito mal, mesmo) frequentado.

Na minha opinião todos os casos mediáticos vão ficar, salvo uma ou outra punição cosmética, em águas de bacalhau. Pelo cheiro, a água já está a ficar putrefacta. Mas, apesar disso, há sempre alguns (ao que parece são muitos) para quem chafurdar na merda é uma questão de vida.

Há cada vez mais portugueses que já
nem sabem se continuam a ter barriga

Que a economia portuguesa entrou, entra e entrará, mais uma vez e sempre para o lado dos mais fracos, em derrapagem e que, a todo o momento, pode fazer mais um buraco no fundo, já todos sabemos, incluindo (espero, embora sem ter a certeza) os líderes políticos do país.

Se calhar o país ainda está a tempo de evitar que o povo saia à rua para, ao estilo recente da Grécia, dizer que não podem ser sempre os mesmos a pagar a crise.

Numa coisa, reconheço, José Sócrates tem razão. Agora não são exactamente os mesmos a pagar a crise. Ou seja, são os mesmos de sempre e mais uns milhares que até agora tinham escapado (700 mil desempregados, 20% da população na pobreza, desemprego a atingir os 11% este ano). Do outro lado, aí sim, continuam sempre os mesmos (políticos, banqueiros, administradores, gestores e empresários).

Chegados a esta fase negra, já não adianta mudar de ministros, mudar de políticas, mudar de governo. Como não é possível mudar de país, o melhor mesmo é mudar de políticos.

Mas mesmo assim a coisa está feia. É que a esmagadora maioria dos políticos portugueses é farinha do mesmo saco. Às segundas, quartas e sextas viram à direita, às terças, quintas sábados à esquerda e ao domindo vagueiam pelo centro.

Portanto, se calhar o melhor mesmo é mudar de sistema. É que, convenhamos, entre um sistema em que poucos roubam e um em que muitos roubam, não me parece difícil escolher.

E para a economia voltar a funcionar é urgente dar oportunidade ao primado da competência e não, como o fazem os últimos governos das ocidentais praias lusitanas, ao da filiação partidária, do compadrio, da corrupção e de outras virtudes horizontais.

Como diz o meu amigo Gil Gonçalves, e a pensar como ele há cada vez mais gente, é preciso que haja outro 25 de Abril daqueles a sério: “Não para tirar uns e pôr outros e continuar tudo pior... para roubarem”.

Isto porque, diz ele e cada vez mais boa gente, nem no tempo do Salazar faziam essas coisas. “Agora rouba-se democraticamente. Aliás, cada vez mais me convenço, que a democracia inventou-se para se poder roubar à vontade”.

E a vida tem destas coisas. Depois admirem-se que entre uma ditadura de barriga cheia e uma democracia com ela vazia, os portugueses não tenham dúvidas em escolher. E, note-se, já há muita gente que nem sabe se tem barriga...

sábado, janeiro 23, 2010

Cabinda segundo Fernando Nobre

“(...) e se pugnarem verdadeiramente pela tolerância e concórdia nacional (estou a pensar especificamente em Cabinda, atropelada pela História da descolonização e sempre sofredora) e implementarem a Democracia e uma Boa Governação que, como é óbvio, não se coaduna de modo nenhum com a tentacular corrupção que foi e é, quanto a mim, a maior responsável do estado em que Angola e África estão, com nefastos e devastadores efeitos equiparados, ou até superiores, aos da guerra. É tempo de se assumir esta verdade!”

“Não posso terminar sem fazer um último apelo: que o povo português nunca esqueça, apoiando-os, os povos irmãos angolano e cabinda com o qual partilha tantos laços de sangue e de História. Eles merecem.”

In:

As memórias do José Filipe Rodrigues

«Antes de me despedir, eu gostaria de ter ido à festa da Queima da Raposa, dos finalistas do Colégio Alexandre Herculano, incinerar algumas memórias das negas que abandonei, vivas e tristes, a pairarem, como espíritos malignos, no ar do Cambiote, na anhara junto à casa do Tio Franklin, e que por vezes me visitam:

Os amores adolescentes com a Helena, a loira do liceu, que de tão perfeita e desejada até parecia oxigenada, a que foi com os pais para o Brasil;

As lágrimas do Julio, o filho do André, quando soube que os meninos iam para o Puto,a quem a minha mãe ensinou o abecedário e as regras mais perfeitas da caligrafia;

O medo dos xinganges que dançavam junto ao cemitério, perto da loja do Leonel Açoriano;

As derrotas do Mambroa nos jogos decisivos para o campeonato de futebol de Angola, com o Independente de Porto Alexandre ou com o ASA de Luanda;

A palmatória de madeira do Padre Costa, que teimava em ensinar matemática, não com regras simples, com reguadas, até ao momento em que o Kartaus lhe retirou a palmatória das mãos e disse que chegara o dia de um aluno bater no professor por ele não saber ensinar;

As conversas com o Rui Moura, amigo do Ernesto Lara Catabola, que, depois de escrever na Voz dos Mais Novos e n’ O Grito, já era um escritor a sério, e redigia crónicas e críticas para publicar n’ O Planalto;

As fotografias e os poemas do Orlando que conquistavam muitas namoradas e faziam as raparigas sonhar;

O idealismo do Pele Vermelha, o Pelinhas, o professor José Duarte, o que sabia tudo sobre os filósofos e os poetas e dava porrada aos alunos que se portavam mal, os que não prestavam atenção à lição;

A bebedeira do Reitor do Liceu no baile dos finalistas, (que mau exemplo para os estudantes,) o que queria ser deputado da Assembleia Nacional, mas nem para ditador tinha um talento especial;

O Serafim de Carvalho, o professor de ginática, com uma relação simples com quase todos os estudantes, a quem os ingratos e mal formados, escondidos, para não serem espancados, gritavam uma quadra de escárnio e depois fugiam: Ó Serafim de Carvalho/que lindo nome tens tu/tira o V de carvalho/e mete o resto no cu;

Naquele tempo eu tinha medo e não os denunciei, se fosse hoje revelaria as identidades, um a um, numa campanha para tentar acabar com o escárnio que se faz de tantas pessoas boas;

A Menina Mirita, a chefe dos continuos, a que foi amante do médico mais conhecido da cidade, depois abandonada porque o corpo enruga-se com a idade, a que perdeu a voz de vez com uma doença esquisita, aquela a quem o Ganho humilhava, pedindo-lhe, com sarcasmo, para não gritar tão alto com os alunos;

A morte prematura da minha irmã quando veio visitar a mãe ao hospital, porque os médicos condenaram-na à morte com um cancro maligno;

A minha mãe sobreviveu durante muitos anos, a minha irmã partiu para o lugar das boas memórias, de onde regressa muitas vezes para me inspirar no altruísmo, na simpatia e na afectividade.

Eu queria desembarcar em Lisboa sem memórias, para construir o meu futuro no hemisfério Norte, depois de terem queimado, com um fogo de ódio e de morte, tantas e tantas referências da minha infância e da minha adolescência e todo um passado de suor e honestidade dos meus pais.

O olhar bom e sempre positivo do meu pai, mesmo depois de ter sido roubado e vencido pela guerra fratricida de Angola e pela incoerência dos políticos regressados do exílio, não me avisou de que Lisboa tinha mais prostitutas, de todos os géneros, do que o bairro de Cacilhas, muito mais adornadas do que as da Esmeralda, do bairro de São José, onde os homens apanhavam esquentamentos tratáveis com a penicilina que o Feio comercializava na farmácia da Baixa, junto ao consultório da Doutora Elvira.

Ele não me alertou para o facto de os que respiravam aqueles ares, às pessoas chamavam de retornados, continentais e insulares, e brancos e pretos e mestiços, e indianos, e madeirenses e açorianos, e minhotos e beirões e transmontanos, e ribatejanos e alentejanos e algarvios e muitos meninos, em idade de escola, andarem pelas ruas a pedir esmola.

O meu pai viveu sempre numa espiritualidade positiva e tratava todas as pessoas com dignidade, conversando olhos nos olhos com todas as pessoas.

Ele conhecia todas as capitais dos países e o mundo, das lições dos livros, dos jornais e noticiários das estações de rádio, permitidas e proibidas, e da leitura das pessoas que eram incapazes de conversar olhos nos olhos.

Despediu-se, quase octagenário, depois de tanto sofrer e viver, muito mais jovem do que algum dia eu hei-de ser.

Por tudo isso, depois de não ter ido incinerar as minhas negas na Queima da Raposa do Colégio Alexandre Herculano, eu vivo sempre a partir, sem me despedir.

Agora, o lugar mais belo onde pretendo chegar, depois de percorrer tantos mares e trilhos, é a um paraíso de harmonia, com sorrisos no olhar dos amigos, da minha companheira e dos meus filhos.

Acendam fogueiras, toquem batuques, ergam-se taças de champanhe e rebentem bombas de carnaval, como aquelas que comprávamos na loja do Simões, no Bairro de S. João, na celebração de um novo ano e que arda a raposa das negas, do ódio e do engano.»

Nota: Neste belo poema que, com ousadia não autorizada mas certamente consentida, transformei em texto corrido, o meu amigo e velho companheiro José Filipe Rodrigues transportou-me para outros tempos. Se recordar é viver, este poema pôs-me mais vivo do que nunca. Obrigado.