quarta-feira, agosto 31, 2011
Kalunga abençoe José Eduardo dos Santos
Passados oito anos, José Eduardo dos Santos voltou ao Huambo para cortar algumas fitas e fazer discursos já eleitorais e com algumas perigosas pitadas de demagogia.
“Hoje é um grande dia para esta província, é um dia de festa e nós não podíamos deixar de estar aqui neste dia para comemorar convosco a chegada do comboio, que muita gente não acreditava que apitaria tão cedo na cidade do Huambo”, afirmou o Chefe de Estado com toda a legitimidade democrática de quem está no cargo há 32 anos sem ter sido eleito.
Eduardo dos Santos não perdeu a oportunidade para, mesmo nove anos depois de alcançada a paz, atacar os antigos e, pelos vistos actuais, inimigos.
Ainda com uma espinha chamada UNITA entalada na garganta, referiu-se aos que quando destruíram a via-férrea partiram todos os carris, estações, colocaram minas anti-pessoal e anti-tanque e pensaram que “nós levaríamos dezenas de anos para restabelecer a via e circulação, entre o Huambo, Benguela e Lobito”.
“Mas os que pensaram assim enganaram-se, porque afinal nós construímos tudo de novo o que havia antigamente do tempo colonial e que era bom para aquele tempo, mas nós reconstruimos, diria que construímos de novo a linha férrea e as estações e temos hoje, uma linha férrea mais moderna, mais capaz de suportar cargas e transportar mercadorias e passageiros e assim é que deve ser”, considerou Eduardo dos Santos.
Aliás, como todo o mundo sabe, tudo o que de mal se passou, passa ou passará em Angola é culpa da UNITA. Desde logo porque as balas das FALA (Galo Negro) matavam apenas civis e as das FAPLA/FAA (MPLA) só acertavam nos militares inimigos.
Além disso, como também é sabido, as bombas lançadas pela Força Aérea do MPLA só atingiam alvos inimigos e nunca estruturas civis.
Mas há mais factos que dão razão às teses do MPLA. Todos sabem que a UNITA é que foi responsável pelos mais de 40.000 angolanos torturados e assassinados em todo o país depois dos acontecimentos de 27 de Maio de 1977, acusados de serem apoiantes de Nito Alves ou opositores ao regime.
E só por ter um espírito reconciliador, democrático e benemérito é que Eduardo dos Santos não referiu que a UNITA foi também responsável pelo massacre de Luanda que visou o seu próprio aniquilamento e de cidadãos Ovimbundus e Bakongos, onde morreram 50 mil angolanos, entre os quais o vice-presidente da UNITA, Jeremias Kalandula Chitunda, o secretário-geral, Adolosi Paulo Mango Alicerces, o representante na CCPM, Elias Salupeto Pena, e o chefe dos Serviços Administrativos em Luanda, Eliseu Sapitango Chimbili.
E foi esse mesmo filantrópico espírito do presidente que evitou que ele dissesse os nomes de alguns angolanos que, esses sim, representam o povo angolano. A saber, entre muitos outros: Lúcio Lara, Iko Carreira, Costa Andrade (Ndunduma), Henriques Santos (Onanbwe), Luís dos Passos da Silva Cardoso, Ludy Kissassunda, Luís Neto (Xietu), Manuel Pacavira, Beto Van-Dunem, Beto Caputo, Carlos Jorge, Tito Peliganga, Eduardo Veloso, Tony Marta, Agostinho Neto.
Como evitou que falasse dos que não são angolanos, mas apenas oportunistas. A saber, entre outros: Alda Sachiango, Isaías Samakuva, Alcides Sakala, Jeremias Chitunda, Adolosi Paulo Mango Alicerces, Elias Salupeto Pena, Jonas Savimbi, António Dembo ou Arlindo Pena "Ben Ben".
Mas, apesar desta postura, Eduardo dos Santos tem na manga muitas outras provas. Um dia destes, talvez no Munhango ou no Lucusse, vai provar que o massacre do Pica-Pau em que, no dia 4 de Junho de 1975, perto de 300 crianças e jovens, na maioria órfãos, foram assassinados e os seus corpos mutilados no Comité de Paz da UNITA em Luanda… foram obra da UNITA.
Como irá provar que o massacre da Ponte do rio Kwanza, em que no dia 12 de Julho de 1975, 700 militantes da UNITA foram barbaramente assassinados, perto do Dondo (Província do Kwanza Norte), perante a passividade das forças militares portuguesas que garantiam a sua protecção, foi obra da UNITA.
Mas a lista é interminável. Entre 1978 e 1986, centenas de angolanos foram fuzilados publicamente, nas praças e estádios das cidades de Angola, uma prática iniciada no dia 3 de Dezembro de 1978 na Praça da Revolução no Lobito, com o fuzilamento de 5 patriotas e que teve o seu auge a 25 de Agosto de 1980, com o fuzilamento de 15 angolanos no Campo da Revolução em Luanda. Responsável? A UNITA.
Foi, aliás, a aviação da UNITA que, em Junho de 1994, bombardeou e destruiu Escola de Waku Kungo (Província do Kwanza Sul), tendo morto mais de 150 crianças e professores, que, entre Janeiro de 1993 e Novembro de 1994, bombardeou indiscriminadamente a cidade do Huambo, a Missão Evangélica do Kaluquembe e a Missão Católica do Kuvango, tendo morto mais de 3.000 civis.
Rebeldes ajudam a NATO a derrotar Kadhafi
O controlo total da cidade de Sirte pela NATO, com a ajuda dos rebeldes, marcará o fim do regime de Muammar Kadhafi, que dirigiu a Líbia nos últimos 42 anos.
Embora os donos do mundo digam que são os rebeldes que contam com a ajuda da NATO, a verdade é que o petróleo fez com que tudo se processasse ao contrário, como aliás era previsível.
"Se acontecer aquilo que espero, Sirte vai cair após uma rendição pacífica no sábado. É o último bastião e vai marcar a queda do regime", afirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros italiano, Franco Frattini, numa entrevista à Rádio 24.
A missão da NATO "só estará concluída quando a Líbia estiver livre", referiu ainda Frattini, mencionando que o mandato da actual missão, exorbitado em todos os sentidos, termina no final de Setembro.
Para Frattini, as operações da Aliança Atlântica "devem acompanhar a queda do regime para evitar qualquer reacção".
É, claro, o inofensivo reconhecimento de que também no terreno estiveram militares não líbios a comandar os rebeldes.
Mas, mais uma vez, o importante é estar do lado dos vencedores de hoje. Amanha se verá. Foi assim com Muammar Kadhafi, será assim com qualquer outro.
De facto, a acção da NATO foi uma ingerência numa guerra que, no fundo, era interna, civil, e que não foi sancionada pela resolução do Conselho de Segurança da ONU que previa, isso sim, o recurso à força para proteger os civis contra a repressão do regime do coronel Muammar Kadhafi.
A missão seria, supostamente, para proteger civis e não para derrotar militarmente, com a ajuda de civis, o ditador. É claro que, todos sabem, civis com armas ao lado de Kadhafi são hoje terroristas, civis com armas ao serviço da NATO são hoje heróis.
E se todos estarão de acordo em defender a população civil, são poucos os que se atrevem a dizer que há uma diferença sensível entre ataques aéreos contra os meios de defesa anti-aéreos líbios e contra colunas de tropas fiéis ao dirigente da Líbia.
Ao que parece, salvaguarda-se qualquer eventual falha da tradução ao abrigo do acordo ortográfico, a resolução 1973 não estabelecia que deveria ser a NATO a depor Kadhafi, como de facto aconteceu, mesmo que a coligação atire a pedra e esconda a mão.
terça-feira, agosto 30, 2011
Maria, a mulher da limpeza, está lixada
Estarão os jornalistas a escutar as “secretas” portuguesas? Será o contrário? Serão ambos? Ou é mais um caso de comadres zangadas?
Diz o Público que o presidente do Conselho de Fiscalização dos serviços de informação quer investigar a origem das notícias que têm vindo a ser publicadas, nomeadamente no Expresso, sobre questões internas das “secretas”.
Se, como diz o jornal, o objectivo é identificar quem está a transmitir dados internos para a comunicação social, o melhor mesmo é fazer escutas aos jornalistas. E se, mesmo assim, não resultar, terá de haver uma solução radical do tipo… matar o mensageiro conhecido.
Em declarações à TSF, Marques Júnior, que preside ao Conselho de Fiscalização do Sistema de Informações da República Portuguesa (SIRP), manifestou preocupação com as fugas de informação das “secretas” para os media.
Não importa se o que os media dizem é verdade. Relevante é que não deveriam saber o que se passa. É tão simples quanto isso.
Aliás, o SIRP e similares espalhados pelos quatro cantos das ocidentais praias lusitanas, sabem que se o jornalista não procura saber o que se passa é um imbecil. Também sabem que, se o jornalista consegue saber o que se passa e se cala é um criminoso.
Também sabem que há no jornalismo luso cada vez mais imbecis e criminosos, embora bem pagos. Tirando, aliás, dois ou três casos, quase todos os media portugueses só dizem o que os donos dos jornalistas e o donos dos donos querem que eles digam. Não seria, por isso, necessário tanto alarido.
Marques Júnior adiantou que têm vindo a ser realizadas “actividades intensas” para saber se as informações transmitidas, ilegalmente, para os jornais têm origem no interior dos serviços ou se “é algo que sai de fora do sistema”.
Pois. Se calhar não saem foram do sistema porque é o próprio sistema que está fora. Como em muitos famosos casos portugueses, ainda vão concluir que a culpa de tudo isto é afinal da mulher da limpeza.
Marques Júnior avança com a hipótese de “alguém, inclusivamente um funcionário dos serviços de informação”, estar a agir “à margem do funcionamento” do sistema, fornecendo “notícias ou informações a troco não sei de quê”.
Cá para mim não será preciso procurar muito. O funcionário em questão, a troco de um prato de lentilhas, chama-se Maria é mesmo a mulher da limpeza.
E o camacovo voltou ao Huambo
A linha do Caminho-de-Ferro de Benguela (CFB), reabilitada e modernizada, entre o Porto do Lobito e o Planalto Central está em condições de garantir o transporte de passageiros e mercadorias, após 27 anos de paralisação.
Na ocasião, o Chefe do Estado (não eleito e há 32 anos no poder), percorreu de comboio um pequeno troço, até à estação central do Huambo, onde cortou a respectiva fita.
A ligação ferroviária entre as duas cidades é assim retomada após 27 anos de paralisação, devido o conflito armado.
E por falar no Huambo, recordo o que, em 1975, me disse nesta minha bela cidade, Jonas Savimbi: «Há coisas que não se definem - sentem-se. Angola não se define - sente-se».
E por falar no Huambo, recordo que na minha terra, na terra dos meus meninos, 45% das crianças sofrem de má nutrição crónica, sendo que uma em cada quatro (25%) morre antes de atingir os cinco anos. Continuam a ser geradas com fome, a nascer com fome, e a morrer pouco depois... com fome.
E por falar no Huambo, embora seja irrelevante, recordo-me de ter lido na imprensa portuguesa que a Zâmbia tem costa, que a terceira causa de morte em Moçambique era a queda de cocos, ou que o Caminho de Ferro de Benguela “liga esta cidade à Luanda Norte, centro de prospecção de diamantes...“
"A bem da Nação”, dirá o epitáfio
previsto para a RTP e para a Lusa
O Governo português vai pagar em antecipação cerca de 225 milhões de euros da dívida da RTP em 2012. Muito bem. Tudo na santa paz de… qualquer coisa.
De acordo com o ministro dos Assuntos Parlamentares, Miguel Relvas, a RTP Internacional deve ser a "grande aposta" da empresa. Quanto aos Açores e à Madeira, custam custam ao Estado 24 milhões de euros por ano.
Miguel Relvas declarou na Comissão de Ética, Cidadania e Comunicação que se reuniu ontem com os presidentes da RTP e da Lusa, a quem pediu um "plano de potenciação de sinergias" entre as empresas, nomeadamente por via da "partilha de instalações e meios" no estrangeiro, como já sucede nalgumas delegações.
A privatização de canais de rádio e televisão da RTP e a alienação da participação do Estado na agência de notícias Lusa são medidas previstas no programa do actual Governo. A concretizarem-se será o fim mas, é claro, terão direito a um epitáfio do tipo: “A bem da Nação”.
"Devemos ou não ter a responsabilidade de iniciar a reestruturação da empresa? Eu não tenho dúvidas nenhumas", declarou o ministro aos deputados, frisando que não se deve estar "agarrado a visões do passado".
Nem mais. Do passado só se vão ter as visões, essas sempre repetidas, de mais despedimentos, de mais empregos para a rapaziada do partido.
"Queremos que a RTP Internacional seja a TV Portugal", disse o ministro. E disse muito bem.
Se calhar, embora me pareça que – como no passado recente – é chover no molhado, importa recordar que o então presidente brasileiro lançou no dia 24 de Maio de 2010 a TV Brasil Internacional, que chegará a 49 países africanos, entre eles todos os PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa): Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe.
Pois é. E Portugal (como sempre e apesar de ter mudado de governo) fica a vê-los passar na esperança, vã, de apanhar uma boleia.
"Nós queremos provar que é possível fazer uma televisão pública de qualidade, republicana, que não seja chapa branca, mas que também não seja oposição à priori, que tenha discernimento de fazer análises políticas correctas, de contar os factos como eles são. Nós queremos uma televisão pública que possa mostrar o Brasil lá fora como ele é", afirmou o presidente brasileiro, Lula da Silva durante a cerimónia no Palácio do Itamaraty.
Como se isso não bastasse (e quem tiver dúvidas olhe para o que Portugal faz), Lula da Silva garantiu que quando os africanos assistirem a parte da programação da TV Brasil Internacional, vão pensar que é televisão africana, tal é a similaridade de comportamentos entre os povos.
Depois de ter dado luz ao mundo, Portugal ficou às escuras e nem os fósforos encontra. Escuras em todos os domínios, menos no da propaganda estéril.
Para o então presidente brasileiro, a chegada a África da TV brasileira, que tem "exímia qualidade", resgata um pouco a dívida histórica com os africanos, "que não pode ser mensurada em dinheiro, mas deve ser quitada com solidariedade e parcerias".
Que bela lição. Enquanto os donos de Portugal dizem “olhai para o que dizemos e não para o que fazemos” (ou seja, nada), o Brasil pura e simplesmente limita-se a dizer olhem e vejam não o que prometemos mas, isso sim, o que fazemos.
O início das emissões da TV Brasil Internacional foi aliás marcado por uma declaração do presidente de Moçambique, Armando Guebuza, que considera o novo canal uma forma de enriquecer a comunicação social em África.
Nesta, como em quase todas as matérias, o Brasil está sempre na liderança e tem apostado sempre nos cavalos certos. Quanto a Portugal não consegue ver que aposta não nos cavalos mas em burros que, ainda por cima, são coxos. Têm, contudo, a vantagem de terem cartão do partido.
segunda-feira, agosto 29, 2011
Nobre povo, nação valente?
O secretário-geral do PSD, Matos Rosa, considerou hoje que o trabalho que os portugueses têm pela frente para superar a crise é um "trabalho colossal", acreditando que o país vai "conseguir" superar esta dificuldade.
E se ao "trabalho colossal" para superar a crise juntarem o "trabalho colossal" para aturar os políticos, tanto os que estão no poder como os que já lá estiveram, para além dos que lá querem estar, bem podem ser considerados um nobre povo numa eventual nação valente.
"Os desafios que nos colocam não têm precedentes na democracia portuguesa. Sim, o trabalho que temos pela frente é um trabalho colossal, sim, absolutamente colossal", afirmou Matos Rosa em Castelo de Vide, Portalegre, durante a sessão de abertura da Universidade de Verão do PSD que decorrerá naquela vila alentejana até domingo.
E se é um "trabalho colossal" para muitos, o que dirão os mais de 800 mil desempregados, os 20% que já vivem sem comer e os outros 20% que vivem (isto é como quem diz) com o espectro da fome a bater à porta?
Na mesma sessão, o 'reitor' e director da Universidade de Verão, Carlos Coelho, sublinhou que os 100 'alunos' que compõem a edição deste ano daquela iniciativa do PSD são uma "verdadeira selecção nacional", sublinhando ainda que os escolhidos "são os melhores".
Pois. São os melhores, os mais capazes para um partido, para um sistema, em que os "jobs" são para os "boys", em que os génios são menos importantes do que os néscios desde que estes tenham cartão do partido.
E nessa selecção nacional não estão os licenciados que para sobreviver estão a guiar táxis, a fazer embrulhos em lojas de roupa ou a servir às mesas nos cafés do país.
Mais uma vez, e só lá está há dois meses, o Governo simula que quer alterar o (mau) estado das coisas mas de facto é mais a parra do que a uva. Mais o acessório do que o essencial. Mais o oportunismo do que o realismo. Mais a embalagem do que o produto.
Seguindo “ipsis vervis” a metodologia que tanto criticou no PS, o PSD está a estacionar, com algumas raras excepções, as suas peças em sectores relevantes.
Na comunicação social, por exemplo, ainda não se notou mas está a chegar lá. Continua a valer a regra socialista de que mais vale ser um propagandista de barriga (bem) cheia do que um ilustre Jornalista com ela vazia.
Tal como John Kennedy, também Passos Coelho diz que: "É a altura, não de perguntar aquilo que o Governo pode fazer por nós, mas aquilo que todos podemos fazer pelo Governo".
(A tradução da frase de Kennedy para português é : "quem pode manda")
É claro (para mim - entenda-se) que este Governo (ao contrário dos leves e iniciais indícios e de alguns – embora poucos – competentes que o integram) está-se nas tintas para os portugueses que não têm coluna vertebral amovível.
Porquê? Porque, cada vez mais, os portugueses sabem que é sempre possível ter um cartão do partido no meio de tantos outros, mesmo que a validade seja curta.
Sabem que, sendo do partido, haverá sempre um lugar como assessor, como especialista ou como super qualquer coisa.
Como diz Inês Pedrosa, "temos cada vez mais jornalistas que saltam das redacções para se tornarem criados de luxo do poder vigente". E a regra não é exclusiva dos jornalistas.
E, é claro, depois dessa rodagem há sempre a possibilidade de ver criados saltarem do poder para serem sobas nas empresas, fundações, institutos e similares com especialização em estar sempre de acordo com os seus donos.
Tal como conheço pessoas de alto nível cultural que são motoristas de táxi, repositores de produtos em supermercado, fazedores de embrulhos em lojas e, é claro, desempregados, também conheço políticos e similares (deputados, autarcas, administradores de empresas públicas, institutos etc.) que deveriam ser motoristas de táxi, repositores de produtos em supermercado, fazedores de embrulhos em lojas e, é claro, desempregados.
A diferença entre eles não está na origem do “dr.” (quem diz doutor, diz engenheiro) mas nas ligações partidárias que, a par ou não da competência, são muito mais do que meio caminho andado para se ter um bom tacho.
Viva a liberdade de Imprensa. Viva o quê?
É confrangedor o culto ao chefe por parte dos invertebrados portugueses. Mas há uma vantagem. Quando o chefe passa de bestial a besta… eles mudam logo de barricada.
No caso português, sempre me custou a entender como é que socialistas inteligentes se mantiveram tantos anos de cócoras. Nos tempos mais recentes, também há muitos sociais-democratas na mesmo posição. Para já só estão de cócoras há dois meses…
Também me custa a aceitar (cada vez menos, é verdade) que Portugal seja uma espécie de país onde os que dizem sempre que sim são bestiais e, é claro, onde os que só dizem que sim quando devem dizer que sim, são umas bestas.
Bastou esperar que Sócrates deixasse o poleiro para se ver que, afinal, havia muitos socialistas que até achavam que o então primeiro-ministro era uma besta.
Agora é só esperar que o mesmo se passe com Passos Coelho. Embora só com dois meses de liderança do governo já é possível ver que, afinal, também ele prefere ser assassinado pelo elogio do que salvo pela crítica.
Embora não vá à missa de Pacheco Pereira, creio que ele tinha razão quando disse (20 de Maio de 2010) que os sociais-democratas não tinham dúvidas, perante os elementos recebidos pela Comissão de Inquérito à compra da TVI, “da existência no ano de 2009 de uma operação política de carácter conspirativo de controlo de órgãos da comunicação social, desenvolvida com conhecimento do primeiro-ministro por quadros do PS nas empresas em que o Estado tem participação”.
Aliás, a forma como os elementos do PS que integram a respectiva Comissão de Inquérito expeliam ódio quando alguém criticava o sumo pontífice do partido era reveladora, entre outras coisas, de que quem deve... teme.
Embora seja uma prática corrente nas ocidentais praias lusitanas, alguém com alguma sanidade mental duvida que os governos de José Sócrates, tal como agora o de Pedro Passos Coelho, foram os que mais trabalharam para que os jornalistas fossem formatados, com ou sem chip, consoante os interesses (económicos, políticos e similares) dos donos do Poder?
Se calhar, como me diziam alguns ex-jornalistas que eram no tempo do PS assessores, directores, administradores, deputados etc., e como me dizem hoje ex-jornalistas ligados ao PSD e que são assessores, directores, administradores, deputados etc. o melhor era aceitar a derrota e na impossibilidade de o vencer, juntar-me a eles.
Para mim seria com certeza uma boa opção ter-me juntado na altura ao PS e hoje ao PSD. Não estaria certamente no desemprego. O mal está, digo eu, que só é derrotado quem deixa de lutar. E, pelo menos para já, a luta continua… embora de barriga vazia.
E continua porque, ao contrário dos donos do poder e dos lacaios ao seu serviço, continuo a lutar para que a imprensa não seja o tapete do poder, tenha ele as cores ou a denominação social que tiver.
Recordam-se, por acaso, de quem disse que "Sócrates reduz a política à sua pessoa"? Não. A frase não é minha, embora reflicta a minha opinião. Aliás, de há muito que aqui digo (aqui e onde posso, sendo que não posso em todos os sítios que gostaria) que o então primeiro-ministro tinha todas as características de um ditador.
Mas , tal como agora acontece, essa característica só foi conhecida quando chegou ao poder. E também nesta matéria Passos Coelho é diferente de José Sócrates. Sobretudo porque o líder do PSD quer fazer tudo como se não houvesse amanhã.
Num artigo de opinião do jornal Público há para aí três anos, intitulado "Contra o medo", Manuel Alegre criticava "a confusão entre lealdade e subserviência" que, segundo o socialista, se verificam no Governo de José Sócrates. A crítica assenta hoje que nem uma luva a Pedro Passos Coelho. A diferença está que, até agora, ainda ninguém no PSD se atreveu o dizer isso, a dizer o que muitos já pensam.
Não creio que por enquanto (eu sei que sou optimista) Pedro Passos Coelho seja dos que pegam na pistola quando ouvem falar de jornalistas. E não pega por duas razões: Por um lado, se tal for necessário tem os seus lacaios (alguns transitaram do PS) que se prestam a tal serviço, por outro, os países mais civilizados da Europa (e não só) usam meios mais sofisticados para calar as vozes incómodas.
De facto, não é preciso dar um, ou quantos forem precisos, tiro no Jornalista. Basta oferecer-lhe uma pistola e depois fazer-se uma reestruturação empresarial (sinónimo óbvio de despedimentos). Quando o Jornalista descobrir que não tem dinheiro para pagar o empréstimo da casa ou os estudos dos filhos... dá um tiro na cabeça.
Tal como Sócrates, Passos Coelho lá terá também as suas razões. Convenhamos que a verdade às vezes incomoda, seja em Portugal (Nuno Simas), na Rússia (Anna Politkovskaia) ou em Moçambique (Carlos Cardoso).
Aliás, é comovedor ver todos aqueles que estão de pistola em punho saírem à rua para dizer que a liberdade de Imprensa é um valor sagrado. Sagrado sim, desde que não toque nos interesses instalados, desde que só diga a verdade oficial.
E o bailinho lá vai embalando os cubanos
Pelos vistos só agora é que o PS chegou à política portuguesa. E se só agora chegou, só agora pode – como fez hoje o seu cabeça de lista às eleições legislativas – pedir uma auditoria externa à dívida da Região Autónoma da Madeira.
Para o candidato socialista, "a situação das contas da região só se conhecerá em toda a extensão no dia em que seja feita uma auditoria às contas públicas", sublinhando que "a dívida pública madeirense é de tal forma elevada que só é possível encarar a solução do problema quando, de uma vez por todas, se conhecer a real extensão".
Na mesma linha, ontem o secretário-geral do PS, António José Seguro, desafiou o primeiro-ministro a esclarecer quem vai pagar a "irresponsabilidade" do Governo Regional na gestão dos dinheiros públicos, quando a Madeira está na bancarrota.
Importa recordar que o ex-ministro das Finanças, Fernando Teixeira dos Santos, disse em 10 de Fevereiro do ano passado que as propostas da Oposição para as Finanças Regionais teriam "implicações nas contas públicas" e retiravam a "credibilidade externa" do país.
Quem disse que teriam graves "implicações nas contas públicas" foi Teixeira dos Santos, o político. Já quem afirmou que retiravan a "credibilidade externa" do país foi Teixeira dos Santos o simples cidadão que se licenciou em Economia na Universidade do Porto.
Segundo o então ministro, a última versão das alterações propostas à Lei das Finanças Regionais implicava um aumento da despesa pública em transferências para as regiões, especialmente para a Madeira, de quase 50 milhões de euros em 2010, um valor que aumentaria anualmente até chegar aos 86 milhões de euros em 2013. Ou seja, essas alterações permitiriam o aumento do endividamento regional em 100 milhões de euros já este ano.
Teixeira dos Santos lembrou ainda as diferenças nas taxas de IVA aplicadas em Portugal continental (20%) e na Madeira (14%), dizendo que, com esta lei, Alberto João Jardim "pretendia obter do Estado uma receita como se na Madeira se pagasse IVA à taxa de 20%".
"Isso não é justo porque implicaria que fossem os restantes portugueses a pagar a diferença e o custo dessa baixa de impostos na região", concluiu Teixeira dos Santos mostrando que, como simples cidadão, não gosta que no seu país existam portugueses de primeira e de segunda (ou até talvez de terceira).
Certo, bem certo, é que Alberto João Jardim não olha a meios para atingir os seus fins. E tem-no feito com total êxito que tanto agrada aos madeirenses como a todos aqueles que, por ganharem um pouco mais do que o salário mínimo..., vão passar férias ao jardim (privado) do Jardim.
E a verdade é que ninguém lhe pega. O homem diz o que entende, quando entende, insulta meio mundo – sobretudo os cubanos do continente – e continua impávido e sereno a gozar com a chipala dos portugueses.
Teixeira dos Santos bem quis acabar, ou pelo menos diminuir, o regabofe madeirense. Mas não foi lá. E não foi porque, para além de o PSD ser o que Alberto João quer, também o PS tem responsabilidade no actual (mau) estado das coisas.
Por algumas razão em 2007, o PS, a segunda força política mais votada, obteve nas eleições regionais da Madeira 15,42% dos votos e sete lugares no Parlamento Regional. O PSD, com 64,24% de votação, conquistou 33 dos 47 deputados.
domingo, agosto 28, 2011
Coragem e cobardia no (im)poluto reino
Ao apoiarem o memorando da troika, os socialistas portugueses também “salivaram” ou apenas tiveram de engolir em seco uma série de sapos?
Recordo-me de ouvir o dirigente socialista e educador das massas operárias, Augusto Santos Silva, acusar (10 de Janeiro deste ano) as forças de direita de "salivarem" perante a hipótese de o Fundo Monetário Internacional (FMI) entrar em Portugal e de colocarem os interesses partidários acima dos nacionais.
Falando de barriga cheia (estava num almoço de apoio a Manuel Alegre), Santos Silva começou então por justificar o voto em Alegre (o mesmo, recorde-se, que disse cobras e lagartos de José Sócrates) pela sua visão "progressista" e pela sua concepção de "democracia" com "pleno respeito pelas assembleias legislativas" do país.
Reconheço que na altura, tal como hoje, já estava com saudades (isto é como quem diz...) de ler algumas das pérolas a que Augusto Santos Silva nos habituara desde o tempo em que tinha a pasta, entre outras, de dono da comunicação social portuguesa.
Talvez por saber disso, de vez em quando ele aparecia – mesmo quando era ministro da Defesa - para malhar em todos aqueles que têm a ousadia de pensar de forma diferente da dele que, aliás, era sempre igual (neste caso) à do então sumo pontífice do PS, José Sócrates.
Recordam-se de Augusto Santos Silva ter considerado ainda não há muito tempo (21 de Julho do ano passado) que o ante-projecto de revisão constitucional do PSD era “um manifesto extremista contra a Constituição”, que revelava “irresponsabilidade” e colocava “radicalmente em causa um equilíbrio de poderes que a democracia portuguesa laboriosamente construiu”?
Nesses tempos áureos, o Governo de José Sócrates, seguindo a metodologia de Augusto Santos Silva, continuava a malhar forte e feio nos enteados a quem acusava de "inacção" e de "cegueira ideológica". Só escapavam os que gravitam em volta do PS e que, hoje, se calhar transferiram o eixo da sua acção para o PS…D.
Se calhar o PS até tinha razão. Cada povo tem os políticos que merece. Dizia Augusto Santos Silva, certamente escorado na cartilha do perito dos peritos, José Sócrates, que a oposição "sucumbia à demagogia".
Demagogia que, como todos sabem, é uma característica atávica de todos os portugueses de segunda, ou seja, de todos aqueles que não eram do PS.
"A direita falha em critérios essenciais na resposta à actual crise, começando logo por falhar no requisito da iniciativa", sustentava o maior (a seguir a José Sócrates) perito dos peritos portugueses, considerando que a oposição não assumia uma defesa do princípio da "equidade social".
Seria com certeza por isso que os poucos que têm milhões mais milhões continuam a ter, e que os milhões que têm pouco ou nada... ainda têm menos, se é que isso é possível.
Quando se virava para a esquerda, o PS também batia forte e feio, ou não fosse o único dono da verdade. Em relação ao PCP atirava a matar, tal como fizera quanto ao Bloco de Esquerda, isto antes de terem selado uma união de facto a três, via Manuel Alegre.
Por agora, Santos Silva evitava dizer que o BE pertencem "à esquerda extremista" que "propõe o regresso ao paradigma colectivista".
"Estão cegos por preconceitos ideológicos que os impediram de perceber o quanto foi essencial estabilizar o sistema financeiro para responder à crise", disse em tempos, entre outras sábias alusões, Augusto Santos Silva.
Ora aí está. Bons só mesmo os socialistas. Nem todos, mas sobretudo os que, por terem coluna vertebral amovível, veneram qualquer líder, desde que esteja no poder. Por alguma razão, estando o poder agora nas mãos do PS…D, há muitos socialistas a virarem o bico ao prego.
"O PS é portador de uma liderança e de uma plataforma política para mobilizar o conjunto da sociedade", sustentava o PS, mostrando sempre que, na Terra, só Sócrates podia representar Deus como único detentor da verdade. Hoje se calhar é mais seguro falar de Seguro.
Embora os tais portugueses de segunda já soubessem há muito que o PS não era uma solução para o problema, mas, isso sim, um problema para a solução, vêem-se agora confrontados com similar problema depois de terem trocado de histrião.
Tal como nunca condenei todos aqueles que estavam a optar por ser portugueses de primeira, colando-se ao PS, não condeno os que agora se grudam ao PS…D.
É tudo uma questão de coragem. Se é certo que a coragem não vive para sempre, não é menos certo que a cobardia nem sequer chega a viver. Entre ambas é só escolher.
sábado, agosto 27, 2011
Serão os portugueses assim tão matumbos?
O presidente da República de Portugal, Cavaco Silva, admitiu hoje que os limites aos sacrifícios pedidos aos portugueses não devem "estar muito longe", defendendo que "não podem nunca faltar recursos para as situações de emergência social".
Sempre que fala ao país, directa ou indirectamente, Cavaco Silva sacode a água do capote e continua (como se, para além de presidente da República, não andasse há um monte de anos na política portuguesa) a esquecer-se de que quem não vive para servir não serve para viver.
"Não devemos estar, de facto, muito longe. Eu disse que se devia ter em conta o limite que se pode exigir ao cidadão comum" e é relativamente a esses "que nós temos que pensar como, neste tempo de dificuldades, assegurar uma vida digna".
O presidente da República defendeu, também, um "debate aprofundado" e "com muito bom senso" na Assembleia da República (AR) em matéria fiscal e de justiça fiscal, para evitar "erros" prejudiciais ao país.
"A competência exclusiva em matéria fiscal cabe à AR e o que eu aconselharia é que, nesse domínio, se faça um debate aprofundado, com muito bom senso, tendo presente todas as consequências para o desenvolvimento futuro do nosso país", disse.
O chefe de Estado lembrou que, "às vezes" se cometem "erros", como "já aconteceu noutros países no domínio fiscal", os quais "têm consequências muito negativas para o futuro do país, prejudicando as possibilidades de aproximação aos níveis de desenvolvimento da União Europeia".
Será que os portugueses se recordam que o mesmo Cavaco Silva afirmou que o mal da economia portuguesa estava nas finanças públicas, mas que o "medo" dos políticos dificulta a sua correcção, malgrado defender um quase poder de veto para o ministro das Finanças?
Recordam-se que o também ex-líder do PSD e ex-primeiro-ministro considerava, em Março… de 2002, que Portugal tinha no máximo um ano e meio para inverter a tendência de degradação da situação económica?
Para o também economista, professor universitário e presidente da República, seria, contudo, "muito complicado" para o Governo resolver "o problema mais grave" que afecta a economia portuguesa: a crise nas finanças públicas. Recordam-se?
Será que também se recordam de ele ter dito que “os políticos, como pessoas normais que são, têm medo, e será precisa muita coragem política para adoptar políticas necessárias, mas cuja viabilidade política é duvidosa"?
Ou que Cavaco Silva dizia que a solução passava, necessariamente, por "reforçar os poderes do ministro das Finanças", que devia contar com o apoio incondicional do primeiro-ministro e dispor "de um poder quase de veto sobre os restantes ministérios"?
Recordam-se que também foi ele quem afirmou que o objectivo era assegurar a concretização de medidas que se antevêem impopulares, como as reformas da saúde - apostando na gestão privada dos hospitais públicos - e educação, a extinção de alguns serviços públicos, a contenção nas transferências para as autarquias, o equilíbrio das contas externas e o assegurar de "disciplina" nas empresas públicas?
Ou que era necessário acompanhar "quase à semana o endividamento de determinadas empresas públicas, nomeadamente no sector dos transportes e do audiovisual”?
Recordam-se ainda que Cavaco Silva defendia, quanto à evasão e fraude fiscais, como única solução viável "um claro levantamento do sigilo bancário" sustentando que, mesmo face ao risco de fuga de capitais, "em situação de crise" esta medida se impõe?
E então, se Cavaco Silva afirmava tudo isto há mais de 9 anos, é caso para perguntar, para voltar a perguntar, para nunca deixar de perguntar, o que tem andado Cavaco Silva a fazer pelo menos desde Março de 2002?
O socialismo do regime angolano
O MPLA (partido que governa Angola desde 1975) diz que a sua aposta é no “socialismo democrático”. A tradução significa, como em todo o mundo, tirar aos pobres para dar aos ricos.
O vice-presidente do MPLA, Roberto Victor de Almeida, explica que “o socialismo democrático defende a justiça social, o humanismo, a liberdade, a igualdade e a solidariedade”. Apenas se esqueceu de acrescentar: “olhai para o que dizemos e não para o que fazemos”.
Numa sessão de reeducação do povo, realizada no início deste ano no Centro de Conferências de Belas, em Luanda, disse que o socialismo democrático “tem como fundamento a garantia da harmonia entre o desenvolvimento individual e o colectivo, a preservação dos valores nacionais e a defesa dos direitos, liberdades e interesses de todos os cidadãos”, e “visa obter a igualdade de direitos para as raças, grupos étnicos, tribos, nações e confissões”.
Ou seja, visa obter tudo aquilo que é negado pelo mesmo MPLA ao povo angolano. Aliás, em Angola todos são livres de pensar... como pensa o regime, todos são iguais desde que aceitem as regras de quem está no poder e que, cada vez mais, se assume não só como dono do país como, igualmente, proprietário dos escravos que devem obediência cega, canina e divina ao líder supremo, no caso José Eduardo dos Santos.
Roberto de Almeida falou da necessidade de se consolidar os ideais do partido, resgatando muitos dos valores morais e éticos perdidos, sublinhando que a perda valores não elimina apenas a solidariedade, como também deforma o futuro da pessoa humana.
Nesta tentativa de vender gato por onça, o MPLA esquece-se que só se pode perder o que se tem ou se teve. Ora os valores referidos nunca foram uma característica de um partido cuja única divisa é: quero, posso e mando.
Numa outra dissertação sobre "socialismo democrático e a acção económica e social", o secretário do Bureau Político para a Esfera Económica, Manuel Nunes Júnior, declarou que o socialismo democrático é a via para o alcance da verdadeira independência económica de Angola e a elevação do bem-estar e da qualidade de vida do povo angolano, de Cabinda ao Cunene.
Com cada vez mais angolanos de barriga vazia, falar do bem-estar e da qualidade de vida do povo angolano, ou do povo amordaçado da colónia de Cabinda, é não só gozar com a chipala de quem é gerado com fome, de quem nasce com fome e de quem morre pouco depois com... fome, como aviltar a inteligência dos que sabem que o regime angolano é, mesmo sendo benevolente, autocrático.
"Alcançado o programa mínimo com a proclamação, a 11 de Novembro de 1975, da independência nacional, a grande tarefa é a satisfação dos anseios do povo angolano, quanto ao bem-estar e a qualidade de vida, mediante um sistema em que o Estado assume o papel de agente regulador e coordenador de toda actividade económica e social", declarou Manuel Nunes Júnior, recitando a teoria política da sua família, a Internacional Socialista.
Se dúvidas existissem sobre o socialismo democrático do MPLA, basta ver – por exemplo - o perfil do cliente angolano em Portugal, que representa 30% do mercado de luxo português. Trata-se sobretudo de homens, 40 anos, empresários do ramo da construção, ex-militares ou com ligações ao governo. Vestem Hugo Boss ou Ermenegildo Zegna. Compram relógios de ouro Patek Phillipe e Rolex.
Basta ver – por exemplo - o perfil do povo angolano, que representa 70% da população, é pé descalço, barriga vazia, vive nos bairros de lata, é gerado com fome, nasce com fome e morre pouco depois com... fome.
Basta ver – por exemplo – que esses angolanos de primeira (todos adeptos certamente do socialismo democrático) não olham a preços, procuram qualidade e peças com o logo visível, sendo comum uma loja de luxo facturar, numa só venda, entre 50 e 100 mil euros, pagos por transferência bancária ou cartão de crédito.
Por outro lado, de acordo com a vida real dos angolanos (de segunda), 45% das crianças sofrem de má nutrição crónica e uma em cada quatro (25%) morre antes de atingir os cinco anos.
É assim o socialismo democrático de que fala o regime. É esse mesmo que limita a um número muito restrito de famílias ligadas ao poder o acesso à boa educação, aos condomínios, ao capital accionista dos bancos e das seguradoras, aos grandes negócios, às licitações dos blocos petrolíferos.
É assim o socialismo democrático que entre milhões que nada têm, permite a vilanagem daqueles que vestem Hugo Boss ou Ermenegildo Zegna, compram relógios de ouro Patek Phillipe e Rolex, ou que dão 120 mil euros por uma pulseira.
É assim o socialismo democrático que permite que a casta superior e divina que dirige o país desde 1975 tenha ementas do tipo: Trufas pretas, caranguejos gigantes, cordeiro assado com cogumelos, bolbos de lírio de Inverno, supremos de galinha com espuma de raiz de beterraba e uma selecção de queijos acompanhados de mel e amêndoas caramelizadas, com cinco vinhos diferentes, entre os quais um Château-Grillet 2005...
sexta-feira, agosto 26, 2011
Um milhão de casas em 2008.
- Talvez dois milhões em 2012
Nem depois dos oitenta e tal por cento conseguidos nas eleições deixam o MPLA em paz. Será preciso o quê? 110%? Se é isso bem poderiam ter avisado. É que com mais um pequeno esforço lá se chegaria...
Eu sei que o Presidente angolano, não eleito e há 32 anos no poder, José Eduardo dos Santos, disse no dia 6 de Outubro de... 2008, que o Governo ia aplicar mais de cinco mil milhões de dólares num programa de habitação que inclui a construção de um milhão de casas.
O chefe de Estado angolano discursava em Luanda na cerimónia que assinalou o Dia Mundial do Habitat, que a capital angolana acolheu, sob o lema "Construindo Cidades Harmoniosas", numa iniciativa da Organização das Nações Unidas (ONU).
A construção de um milhão de casas para as classes menos favorecidas de Angola e jovens foi, aliás, uma das promessas da então campanha eleitoral mais enfatizadas pelo Presidente da República de Angola e do MPLA, partido que governa o país desde 1975.
José Eduardo dos Santos admitia, modesto como é, que "não seria um exercício fácil", tendo em conta que o preço médio destas casas, então calculado em cerca de 50 mil dólares. Apesar de tudo, com a legitimidade eleitoral de quem só não passou os 100% de votos porque não quis, assegurou que "já se estava a trabalhar" nesse sentido.
No seu discurso de então, Eduardo dos Santos observou que a escolha de Luanda para acolher o acto central do Dia Mundial do Habitat tinha a ver com o reconhecimento pela mais alta instância internacional (ONU) da filosofia e estratégias definidas pelo Governo angolano no seu programa habitacional para o período 200/2012 e que já estava, disse, a ser aplicado.
"O objectivo dessa estratégia é proporcionar melhor habitação para todos, progressivamente, num ambiente cada vez mais saudável", disse Eduardo dos Santos. Não sei se ainda alguém se recorda disso... Mas se não se recorda, para ao ano irá ouvir a mesma história.
Nesta perspectiva considerou que o executivo de Luanda estava em "sintonia" com as preocupações e a "visão" da organização das Nações Unidas, quando coloca como questão central, como necessidade básica do ser humano, fundamental para a construção de cidades e sociedades justas e democráticas, a questão da habitação.
Ora nem mais. A habitação como barómetro de uma sociedade justa e democrática.
Segundo Eduardo dos Santos, "em Angola, como em quase todo o mundo, o fenómeno da urbanização veio acompanhado de grandes problemas ambientais, tais como a produção de resíduos domésticos e industriais, a poluição, o aumento do consumo da energia e água e o surgimento de águas residuais".
"Para evitar ou minimizar-se esses problemas impõe-se a adopção de uma política ambiental rigorosa e abrangente", apontou o presidente, garantindo que o combate ao caos urbanístico que se instalou nas cidades e no território em consequência da prolongada guerra civil, está a ser feito através de modelos integradores, geográficos, económicos e ambientais.
A atenção estava, ainda segundo o dono do país, centrada na "construção ilegal e não autorizada" e também numa política que procura "evitar assimetrias regionais e o abandono do interior".
Eduardo dos Santos frisou ainda que as "linhas de força" traçadas pelo Governo estão orientadas para uma "cooperação activa" entre a administração central e local do Estado, entre o sector público e o privado, com vista à execução de uma nova política que contribua para "a geração de empregos, para o desenvolvimento harmonioso dos centros urbanos, para a eliminação da pobreza e da insegurança, e para a eliminação também das zonas degradadas e suburbanas".
Em termos de discurso é caso para dizer que nem Ben Ali, Hosni Mubarak, Robert Mugabe, Hugo Chávez, Muammar Kadhafi ou José Sócrates diriam melhor.
O presidente anunciou igualmente na altura (2008) que será "cada vez mais acentuada" a preocupação com a urbanização das cidades angolanas e que serão "incentivadas políticas que diminuam a circulação automóvel nos centros dos grandes aglomerados urbanos.
Foi bonito, não foi? É quase poesia. Tão bem escrita e declamada quanto o facto de numa Assembleia Nacional constituída por 220 deputados, o MPLA ter 191. Ou melhor, a UNITA ter 16 deputados, o PRS oito, a FNLA três e a ND dois.
E tudo isto graças ao beneplácito e respectivo altruísmo do regime que não achou necessário ter mais de 100% dos votos, apesar de em várias assembleias de voto terem aparecido mais votos do que votantes.
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