Por razões
mais ou menos pessoais (que a razão conhece mas que, por agora, omite) o Alto
Hama é obrigado a suspender a sua publicação. Tão rápido quanto possível, e se
for possível, voltará à ingénua luta de pôr o poder das ideias acima das ideias
de poder. Obrigado.
segunda-feira, setembro 03, 2012
domingo, setembro 02, 2012
Fraude monumental com apoio russo
Quem decidiu
as eleições em Angola, nomeadamente a percentagem de votos que cada partido ou
coligação teria, foi a Casa Militar do Presidente da República em estreita
colaboração com Moscovo. O Povo e os observadores foram meras figuras
decorativas.
Os milhares
de observadores internacionais às eleições em Angola confirmaram a
democraticidade do acto. Bem, não foram milhares, foram centenas. Centenas
também será um exagero. Fiquemos pelas dezenas. Ou, melhor, foram meia dúzia.
Para além de
ficarem nos melhores hotéis (ninguém lhes pagou para ir ao país profundo ou para indagarem sobre o que se passou do lado de lá da cortina... de ferro) e
comerem do bom e do melhor (se não fosse para isso o que é que iriam lá
fazer?), estiveram sempre – honra lhes seja feita – na primeira fila.
E estiveram
na primeira fila para, dizem, ver tudo o que se passava. Além disso a sua
localização estratégica permitiu que todos os vissem.
Foram
espertos. Pelo contrário, os competentes na arte de ganhar eleições ficaram lá atrás.
Não foram vistos, mas viram tudo o que se passava. E, mais do que isso, viram
bem antes das eleições. Muito antes.
De facto, e
como era esperado pelo regime angolano, na primeira fila de observação está
sempre a subserviência, colectiva ou individual.
Os que sabem
tudo, esses estão na primeira fila. Cá atrás não estiveram os observadores. E
não estiveram porque se o fizessem poderiam, mesmo que involuntariamente, ver o
que se passava de facto. E se vissem seria uma chatice não relatar. Além disso,
o grosso da fraude não se passou mas mesas de voto. Passou-se no centro (nevrálgico)
do controlo informático, sob as ordens de especialistas russos.
É por isto
que os observadores eleitorais estiveram sempre na primeira fila. Todos sabiam
quem eles eram e ao que iam. Se calhar poderiam passar despercebidos e, dessa
forma, ver melhor a realidade. Mas não era para isso que eles lá estavam.
E para um observador
que se preze, o silêncio é uma regra de ouro. E se a isso conseguir juntar a
cegueira, então é o diamante no cimo dos dólares.
Como lhe
competia, o MPLA só deu luz verde aos observadores que entendeu. A União
Europeia passou de 100 em 2008 para 2 (dois) em 2012. A CPLP conseguiu resolver
a questão com 10 (dez). Apesar da redução numérica, o regime colocou como
condição sine qua non serem invertebrados, corruptos e cegos.
Quem melhor,
por exemplo, do que Pedro Pires para chefiar a Missão de Observadores da União
Africana? Não foi ele quem em 2001 ganhou as eleições presidenciais cabo-verdianas
à custa de uma fraude?
No entanto, a fraude não se limitou ao acto do colocar o voto na urna. Começou
antes, bem antes. Tão antes que ninguém da oposição conseguiu a tempo e horas
(como, aliás, estava previsto na lei) saber o que se passava com os cadernos
eleitorais.
Por alguma
razão as pessoas que o regime entendeu serem as mais credenciadas para as mesas
e assembleias de voto foram membros da JMPLA e do SINFO, aparecendo alguns
destes como sendo indicados pelos partidos da oposição.
Aliás, quem
decidiu as eleições, nomeadamente a percentagem de votos que cada partido ou
coligação teria foi a Casa Militar do Presidente da República, com destaque
para Hélder Vieira Dias, Kopelika, mas
com o contributo dos generais Fernando Alberto Araújo e Rogério Saraiva.
Pela via
informática/electrónica, montada há meses por técnicos russos, os resultados
recebidos foram convertidos na linguagem já estabelecida, razão pela qual
muitos dos resultados apurados in loco nas assembleias de apuramento não coincidem
com os divulgados pela CNE.
E, em muitos
casos, a culpa nem é da CNE que, de facto, divulga os dados que recebe e que
julga terem origem nos centros de escrutínio. Mas não. Os enviados desses
centro vão parar ao comando russo que os converte e reenvia para a CNE.
Seja como
for, nada disto e do muito que continua no segredo dos deuses do MPLA, com
assessoria russa, importa à comunidade internacional que, tal como os angolanos,
foi comida de cebolada.
sábado, setembro 01, 2012
Observadores à e por medida
Como todos
já sabiam há muito tempo, as eleições de ontem em Angola foram novamente um
exemplo de democraticidade, eficiência e transparência. Aliás, nem outra coisa
era de esperar do partido, o MPLA, que está no poder desde 1975.
Essa era uma
certeza adquirida nos areópagos políticos dos parceiros e sócios do regime
angolano a ponto, ao contrário de 2008, a União Europeia ter reduzido o número
dos seus observadores eleitorais de 100 (então chefiados pela italiana Luísa
Morgantini que foi considerada pelo regime como persona non grata) para… 2 (dois).
Tal como em
2008, a missão da CPLP voltou a ser chefiada pelo moçambicano Leonardo Simão. E o que viu agora
o líder da missão de observadores da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa?
O que viu
não se sabe porque ele, como político inteligente que é, não conta. Mas sabe-se
o que já disse. Desde logo a "enorme evolução" na organização das
eleições… apesar de "algumas falhas". Falhas pequenas, muito pequenas,
acrescento eu.
"O
processo eleitoral decorreu num ambiente de tranquilidade, serenidade, com um
grau de organização bastante elevado", embora com algumas falhas aqui e
acolá", afirmou o chefe da missão dos observadores da CPLP, que –
certamente perante a pequenez do país - deslocou um importante contingente de 10
(dez) técnicos para testemunhar o processo eleitoral.
Segundo
Leonardo Simão, ex-ministro dos Negócios Estrangeiros de Moçambique e actual
diretor da Fundação Joaquim Chissano (e, portanto, por dentro das necessidades
do regime do MPLA e da sua capacidade política, económica e militar), a missão
da CPLP detectou as excepções que acabam por confirmar a democraticidade,
transparência e eficácia das eleições.
A provar a
atenção dos 10 (dez) técnicos da CPLP, Leonardo Simão vai ao pormenor de contar
que numa situação em Viana, nos arredores de Luanda, os membros de algumas
mesas não apareceram, devido a uma avaria numa autocarro.
É claro que não
detectaram muitas outras irregularidades, como sejam a dos mortos votarem e a
de muitos vivos não constarem dos cadernos eleitorais.
Leonardo
Simão cometeu, apesar de não querer – legitimamente - cuspir no prato de quem lhe deu comida,
alguns lapsos. Falou da ausência de delegados de lista em algumas mesas de
voto, disse que os partidos não receberam financiamento atempado para recrutar
e formar pessoas e afectá-las a mais de 25 mil postos de votação em todo o
país.
Leonardo
Simão referiu-se também à aprovação tardia da lei eleitoral, em Dezembro, e à
impugnação, entretanto, da presidente da Comissão Nacional Eleitoral (CNE).
"O tempo material para a preparação das eleições foi bastante curto",
considerou, lembrando que uma votação como esta "leva dois anos a
preparar". Deveria levar…
Apesar das
acusações de irregularidades do principal partido da oposição, e da dura
resposta do MPLA, no poder desde 1975, Leonardo Simão disse ter testemunhado
"um ambiente mais distendido" em relação a 2008, quando "havia
uma certa tensão no ar e uma certa incerteza sobre o que ia acontecer".
E se em 2008
havia alguma incerteza, em 2012 tudo ficou claro. O regime continua igual ao
que sempre foi, a maioria dos angolanos continuará a passar fome, os ricos continuarão
cada vez mais ricos, Portugal continuará o seu processo de bajulação e o MPLA
retribuirá com a defesa e apoio ao seu protectorado (luso, lusitano, lusófono) do
sul da Europa.
Uma nota
final para enaltecer a opinião de dois sipaios, perdão, observadores
portugueses que – como convém – deitaram faladura na RTP para elogiar o
processo eleitoral: Elísio de Oliveira e
Azeredo Lopes (foto).
Talvez por
terem os dois pertencido a um elefante branco que, em Portugal, dá pelo nome de
Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC), a unanimidade foi total.
Em abono, obviamente, do regime. Na minha ingenuidade, sempre esperava mais de
Elísio de Oliveira, sobretudo porque iniciou a sua actividade profissional no Rádio
Clube de Angola, na ex-Emissora Oficial de Angola e na revista “Noite e Dia”
editada pela “Noticia”. Enganei-me.
Parabéns ao dono de Angola!
O MPLA está
no poder desde 1975 e por lá vai ficar. Com o poder absoluto que tem nas mãos
(é também o presidente do MPLA e chefe do Governo), José Eduardo dos Santos é um
dos ditadores ou, na melhor das hipóteses, um presidente autocrático, há mais
tempo em exercício.
O facto de
não ser caso único, nomeadamente em África, em nada abona do ponto de vista
democrático e civilizacional a seu favor. Sabe todo o mundo, mas sobretudo e
mais uma vez África, que se o poder corrompe, o poder absoluto corrompe
absolutamente. É o caso em Angola.
Só em
ditadura, mesmo que legitimada pelos votos comprados a um povo que quase sempre
pensa com a barriga (vazia) e não com a cabeça, é possível estar tantos anos no
poder. Em qualquer estado de direito democrático tal não seria possível.
Aliás, e
Angola não foge infelizmente à regra, África é um alfobre constante e habitual
de conflitos armados porque a falta de democraticidade obriga a que a
alternância política seja conquistada pela linguagem das armas. Há obviamente
outras razões, mas quando se julga que eleições são só por si sinónimo de
democracia está-se a caminhar para a ditadura.
Com Eduardo
dos Santos passa-se exactamente isso. A guerra legitimou tudo o que se consegue
imaginar de mau. Permitiu ao actual presidente perpetuar-se no poder, tal como
como permitiu que a UNITA dissesse que essa era (e pelo que se vai vendo até
parece que teve razão) a única via para mudar de dono do país.
É claro que,
é sempre assim nas ditaduras, o povo foi sempre e continua a ser (as eleições
não alteraram a génese da ditadura, apenas a maquilharam) carne para canhão.
Por outro
lado, a típica hipocrisia das grandes potências ocidentais, nomeadamente EUA e
União Europeia, ajudou a dotar José Eduardo dos Santos com o rótulo de grande
estadista. Rótulo que não corresponde ao produto. Essa opção estratégica de
norte-americanos e europeus tem, reconheça-se, razão de ser sobretudo no âmbito
económico.
É muito mais
fácil negociar com um regime ditatorial do que com um que seja democrático. É
muito mais fácil negociar com alguém que, à partida, se sabe que irá estar na
cadeira do poder durante toda a vida, do que com alguém que pode ao fim de um
par de anos ser substituído pela livre escolha popular.
É, como
acontece com José Eduardo dos Santos, muito mais fácil negociar com o líder de
um clã que representa quase 100 por cento do Produto Interno Bruto, do que com
alguém que não seja dono do país mas apenas, como acontece nas democracias,
representante temporário do povo soberano.
Bem visível
na caso angolano é o facto de, como em qualquer outra ditadura, quanto mais se
tem mais se quer ter, seja no país ou noutro qualquer sítio. Por muito pequeno
que seja o ditador, o que não é o caso de José Eduardo dos Santo, a História
mostra-nos que tem sempre apreciável fortuna espalhada pelo mundo, seja em bens
imobiliários (como era tradição) ou mais modernamente nos paraísos fiscais.
Reconheça-se,
entretanto, a estatura política de José Eduardo dos Santos, visível sobretudo a
partir do momento em que deixou de poder contar com Jonas Savimbi como o bode
expiatório para tudo o que de mal se passava em Angola.
Desde 2002,
o presidente vitalício de Angola tem conseguido fingir que democratiza o país
e, mais do que isso, conseguiu (embora não por mérito seu mas, isso sim, por
demérito da UNITA) domesticar completamente todos aqueles que lhe poderiam
fazer frente.
Não creio
que, até pelo facto de o país ter estado em guerra dezenas de anos, José
Eduardo dos Santos tenha as mãos limpas de sangue. Aliás, nenhuma ditador com 33
anos de permanência seguida no poder, tem as mãos limpas.
Mas essa
também não é uma preocupação. Quando se tem milhões, pouco importa como estão
as mãos. Aliás, esses milhões servem também para branquear, para limpar, para
transplantar, para comprar (quase) tudo e (quase) todos.
Tudo isto é
possível com alguma facilidade quando se é dono de um país rico e, dessa forma,
se consegue tudo o que se quer. E quando aparecem pessoas que não estão à venda
mas incomodam e ameaçam o trono, há sempre forma de as fazer chocar com uma
bala.
Acresce, e
nisso os angolanos não são diferentes dos portugueses ou de qualquer outro
povo, que continua válida a tese de que “se não consegues vencê-los junta-te a
eles”. Não admira por isso que José Eduardo dos Santos tenha cada vez mais fiéis
seguidores, sejam militares, políticos, empresários e até supostos jornalistas.
É claro que,
enquanto isso, o Povo continua a ser gerado com fome, a nascer com fome, e a
morrer pouco depois... com fome. E a fome, a miséria, as doenças, as
assimetrias sociais são chagas imputáveis ao Poder. E quem está no poder há 33
anos, aos quais somará agora mais cinco, é sempre o mesmo, José Eduardo dos
Santos. Até um dia, como é óbvio.
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