Por razões
mais ou menos pessoais (que a razão conhece mas que, por agora, omite) o Alto
Hama é obrigado a suspender a sua publicação. Tão rápido quanto possível, e se
for possível, voltará à ingénua luta de pôr o poder das ideias acima das ideias
de poder. Obrigado.
segunda-feira, setembro 03, 2012
domingo, setembro 02, 2012
Fraude monumental com apoio russo
Quem decidiu
as eleições em Angola, nomeadamente a percentagem de votos que cada partido ou
coligação teria, foi a Casa Militar do Presidente da República em estreita
colaboração com Moscovo. O Povo e os observadores foram meras figuras
decorativas.
Os milhares
de observadores internacionais às eleições em Angola confirmaram a
democraticidade do acto. Bem, não foram milhares, foram centenas. Centenas
também será um exagero. Fiquemos pelas dezenas. Ou, melhor, foram meia dúzia.
Para além de
ficarem nos melhores hotéis (ninguém lhes pagou para ir ao país profundo ou para indagarem sobre o que se passou do lado de lá da cortina... de ferro) e
comerem do bom e do melhor (se não fosse para isso o que é que iriam lá
fazer?), estiveram sempre – honra lhes seja feita – na primeira fila.
E estiveram
na primeira fila para, dizem, ver tudo o que se passava. Além disso a sua
localização estratégica permitiu que todos os vissem.
Foram
espertos. Pelo contrário, os competentes na arte de ganhar eleições ficaram lá atrás.
Não foram vistos, mas viram tudo o que se passava. E, mais do que isso, viram
bem antes das eleições. Muito antes.
De facto, e
como era esperado pelo regime angolano, na primeira fila de observação está
sempre a subserviência, colectiva ou individual.
Os que sabem
tudo, esses estão na primeira fila. Cá atrás não estiveram os observadores. E
não estiveram porque se o fizessem poderiam, mesmo que involuntariamente, ver o
que se passava de facto. E se vissem seria uma chatice não relatar. Além disso,
o grosso da fraude não se passou mas mesas de voto. Passou-se no centro (nevrálgico)
do controlo informático, sob as ordens de especialistas russos.
É por isto
que os observadores eleitorais estiveram sempre na primeira fila. Todos sabiam
quem eles eram e ao que iam. Se calhar poderiam passar despercebidos e, dessa
forma, ver melhor a realidade. Mas não era para isso que eles lá estavam.
E para um observador
que se preze, o silêncio é uma regra de ouro. E se a isso conseguir juntar a
cegueira, então é o diamante no cimo dos dólares.
Como lhe
competia, o MPLA só deu luz verde aos observadores que entendeu. A União
Europeia passou de 100 em 2008 para 2 (dois) em 2012. A CPLP conseguiu resolver
a questão com 10 (dez). Apesar da redução numérica, o regime colocou como
condição sine qua non serem invertebrados, corruptos e cegos.
Quem melhor,
por exemplo, do que Pedro Pires para chefiar a Missão de Observadores da União
Africana? Não foi ele quem em 2001 ganhou as eleições presidenciais cabo-verdianas
à custa de uma fraude?
No entanto, a fraude não se limitou ao acto do colocar o voto na urna. Começou
antes, bem antes. Tão antes que ninguém da oposição conseguiu a tempo e horas
(como, aliás, estava previsto na lei) saber o que se passava com os cadernos
eleitorais.
Por alguma
razão as pessoas que o regime entendeu serem as mais credenciadas para as mesas
e assembleias de voto foram membros da JMPLA e do SINFO, aparecendo alguns
destes como sendo indicados pelos partidos da oposição.
Aliás, quem
decidiu as eleições, nomeadamente a percentagem de votos que cada partido ou
coligação teria foi a Casa Militar do Presidente da República, com destaque
para Hélder Vieira Dias, Kopelika, mas
com o contributo dos generais Fernando Alberto Araújo e Rogério Saraiva.
Pela via
informática/electrónica, montada há meses por técnicos russos, os resultados
recebidos foram convertidos na linguagem já estabelecida, razão pela qual
muitos dos resultados apurados in loco nas assembleias de apuramento não coincidem
com os divulgados pela CNE.
E, em muitos
casos, a culpa nem é da CNE que, de facto, divulga os dados que recebe e que
julga terem origem nos centros de escrutínio. Mas não. Os enviados desses
centro vão parar ao comando russo que os converte e reenvia para a CNE.
Seja como
for, nada disto e do muito que continua no segredo dos deuses do MPLA, com
assessoria russa, importa à comunidade internacional que, tal como os angolanos,
foi comida de cebolada.
sábado, setembro 01, 2012
Observadores à e por medida
Como todos
já sabiam há muito tempo, as eleições de ontem em Angola foram novamente um
exemplo de democraticidade, eficiência e transparência. Aliás, nem outra coisa
era de esperar do partido, o MPLA, que está no poder desde 1975.
Essa era uma
certeza adquirida nos areópagos políticos dos parceiros e sócios do regime
angolano a ponto, ao contrário de 2008, a União Europeia ter reduzido o número
dos seus observadores eleitorais de 100 (então chefiados pela italiana Luísa
Morgantini que foi considerada pelo regime como persona non grata) para… 2 (dois).
Tal como em
2008, a missão da CPLP voltou a ser chefiada pelo moçambicano Leonardo Simão. E o que viu agora
o líder da missão de observadores da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa?
O que viu
não se sabe porque ele, como político inteligente que é, não conta. Mas sabe-se
o que já disse. Desde logo a "enorme evolução" na organização das
eleições… apesar de "algumas falhas". Falhas pequenas, muito pequenas,
acrescento eu.
"O
processo eleitoral decorreu num ambiente de tranquilidade, serenidade, com um
grau de organização bastante elevado", embora com algumas falhas aqui e
acolá", afirmou o chefe da missão dos observadores da CPLP, que –
certamente perante a pequenez do país - deslocou um importante contingente de 10
(dez) técnicos para testemunhar o processo eleitoral.
Segundo
Leonardo Simão, ex-ministro dos Negócios Estrangeiros de Moçambique e actual
diretor da Fundação Joaquim Chissano (e, portanto, por dentro das necessidades
do regime do MPLA e da sua capacidade política, económica e militar), a missão
da CPLP detectou as excepções que acabam por confirmar a democraticidade,
transparência e eficácia das eleições.
A provar a
atenção dos 10 (dez) técnicos da CPLP, Leonardo Simão vai ao pormenor de contar
que numa situação em Viana, nos arredores de Luanda, os membros de algumas
mesas não apareceram, devido a uma avaria numa autocarro.
É claro que não
detectaram muitas outras irregularidades, como sejam a dos mortos votarem e a
de muitos vivos não constarem dos cadernos eleitorais.
Leonardo
Simão cometeu, apesar de não querer – legitimamente - cuspir no prato de quem lhe deu comida,
alguns lapsos. Falou da ausência de delegados de lista em algumas mesas de
voto, disse que os partidos não receberam financiamento atempado para recrutar
e formar pessoas e afectá-las a mais de 25 mil postos de votação em todo o
país.
Leonardo
Simão referiu-se também à aprovação tardia da lei eleitoral, em Dezembro, e à
impugnação, entretanto, da presidente da Comissão Nacional Eleitoral (CNE).
"O tempo material para a preparação das eleições foi bastante curto",
considerou, lembrando que uma votação como esta "leva dois anos a
preparar". Deveria levar…
Apesar das
acusações de irregularidades do principal partido da oposição, e da dura
resposta do MPLA, no poder desde 1975, Leonardo Simão disse ter testemunhado
"um ambiente mais distendido" em relação a 2008, quando "havia
uma certa tensão no ar e uma certa incerteza sobre o que ia acontecer".
E se em 2008
havia alguma incerteza, em 2012 tudo ficou claro. O regime continua igual ao
que sempre foi, a maioria dos angolanos continuará a passar fome, os ricos continuarão
cada vez mais ricos, Portugal continuará o seu processo de bajulação e o MPLA
retribuirá com a defesa e apoio ao seu protectorado (luso, lusitano, lusófono) do
sul da Europa.
Uma nota
final para enaltecer a opinião de dois sipaios, perdão, observadores
portugueses que – como convém – deitaram faladura na RTP para elogiar o
processo eleitoral: Elísio de Oliveira e
Azeredo Lopes (foto).
Talvez por
terem os dois pertencido a um elefante branco que, em Portugal, dá pelo nome de
Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC), a unanimidade foi total.
Em abono, obviamente, do regime. Na minha ingenuidade, sempre esperava mais de
Elísio de Oliveira, sobretudo porque iniciou a sua actividade profissional no Rádio
Clube de Angola, na ex-Emissora Oficial de Angola e na revista “Noite e Dia”
editada pela “Noticia”. Enganei-me.
Parabéns ao dono de Angola!
O MPLA está
no poder desde 1975 e por lá vai ficar. Com o poder absoluto que tem nas mãos
(é também o presidente do MPLA e chefe do Governo), José Eduardo dos Santos é um
dos ditadores ou, na melhor das hipóteses, um presidente autocrático, há mais
tempo em exercício.
O facto de
não ser caso único, nomeadamente em África, em nada abona do ponto de vista
democrático e civilizacional a seu favor. Sabe todo o mundo, mas sobretudo e
mais uma vez África, que se o poder corrompe, o poder absoluto corrompe
absolutamente. É o caso em Angola.
Só em
ditadura, mesmo que legitimada pelos votos comprados a um povo que quase sempre
pensa com a barriga (vazia) e não com a cabeça, é possível estar tantos anos no
poder. Em qualquer estado de direito democrático tal não seria possível.
Aliás, e
Angola não foge infelizmente à regra, África é um alfobre constante e habitual
de conflitos armados porque a falta de democraticidade obriga a que a
alternância política seja conquistada pela linguagem das armas. Há obviamente
outras razões, mas quando se julga que eleições são só por si sinónimo de
democracia está-se a caminhar para a ditadura.
Com Eduardo
dos Santos passa-se exactamente isso. A guerra legitimou tudo o que se consegue
imaginar de mau. Permitiu ao actual presidente perpetuar-se no poder, tal como
como permitiu que a UNITA dissesse que essa era (e pelo que se vai vendo até
parece que teve razão) a única via para mudar de dono do país.
É claro que,
é sempre assim nas ditaduras, o povo foi sempre e continua a ser (as eleições
não alteraram a génese da ditadura, apenas a maquilharam) carne para canhão.
Por outro
lado, a típica hipocrisia das grandes potências ocidentais, nomeadamente EUA e
União Europeia, ajudou a dotar José Eduardo dos Santos com o rótulo de grande
estadista. Rótulo que não corresponde ao produto. Essa opção estratégica de
norte-americanos e europeus tem, reconheça-se, razão de ser sobretudo no âmbito
económico.
É muito mais
fácil negociar com um regime ditatorial do que com um que seja democrático. É
muito mais fácil negociar com alguém que, à partida, se sabe que irá estar na
cadeira do poder durante toda a vida, do que com alguém que pode ao fim de um
par de anos ser substituído pela livre escolha popular.
É, como
acontece com José Eduardo dos Santos, muito mais fácil negociar com o líder de
um clã que representa quase 100 por cento do Produto Interno Bruto, do que com
alguém que não seja dono do país mas apenas, como acontece nas democracias,
representante temporário do povo soberano.
Bem visível
na caso angolano é o facto de, como em qualquer outra ditadura, quanto mais se
tem mais se quer ter, seja no país ou noutro qualquer sítio. Por muito pequeno
que seja o ditador, o que não é o caso de José Eduardo dos Santo, a História
mostra-nos que tem sempre apreciável fortuna espalhada pelo mundo, seja em bens
imobiliários (como era tradição) ou mais modernamente nos paraísos fiscais.
Reconheça-se,
entretanto, a estatura política de José Eduardo dos Santos, visível sobretudo a
partir do momento em que deixou de poder contar com Jonas Savimbi como o bode
expiatório para tudo o que de mal se passava em Angola.
Desde 2002,
o presidente vitalício de Angola tem conseguido fingir que democratiza o país
e, mais do que isso, conseguiu (embora não por mérito seu mas, isso sim, por
demérito da UNITA) domesticar completamente todos aqueles que lhe poderiam
fazer frente.
Não creio
que, até pelo facto de o país ter estado em guerra dezenas de anos, José
Eduardo dos Santos tenha as mãos limpas de sangue. Aliás, nenhuma ditador com 33
anos de permanência seguida no poder, tem as mãos limpas.
Mas essa
também não é uma preocupação. Quando se tem milhões, pouco importa como estão
as mãos. Aliás, esses milhões servem também para branquear, para limpar, para
transplantar, para comprar (quase) tudo e (quase) todos.
Tudo isto é
possível com alguma facilidade quando se é dono de um país rico e, dessa forma,
se consegue tudo o que se quer. E quando aparecem pessoas que não estão à venda
mas incomodam e ameaçam o trono, há sempre forma de as fazer chocar com uma
bala.
Acresce, e
nisso os angolanos não são diferentes dos portugueses ou de qualquer outro
povo, que continua válida a tese de que “se não consegues vencê-los junta-te a
eles”. Não admira por isso que José Eduardo dos Santos tenha cada vez mais fiéis
seguidores, sejam militares, políticos, empresários e até supostos jornalistas.
É claro que,
enquanto isso, o Povo continua a ser gerado com fome, a nascer com fome, e a
morrer pouco depois... com fome. E a fome, a miséria, as doenças, as
assimetrias sociais são chagas imputáveis ao Poder. E quem está no poder há 33
anos, aos quais somará agora mais cinco, é sempre o mesmo, José Eduardo dos
Santos. Até um dia, como é óbvio.
sexta-feira, agosto 31, 2012
No Huambo até os mortos votam
O Aristides
é um velho amigo que vive, sempre viveu, no Huambo. Sempre foi do MPLA. Hoje
fartou-se de ganhar dinheiro com as eleições.
Explicou-me
que ganha um tanto (“mesmo muito”, segundo diz) por cada vez que vai votar.
Recebeu uma lista (“e como eu há muitos mais”, acrescenta) com os locais onde
deve votar, em nome de quem deve votar, não sendo necessário – é claro – dizer em
quem deve votar.
- Mas então
como é que resolves essa questão da tinta no dedo?, perguntei com a minha
habitual ingenuidade.
- Essa
questão, explicou-me, não se coloca aos que votam neste sistema. Nos locais
escolhidos não tenho que pôr o dedo no tinteiro. Voto e vou-me embora para nova
votação.
- Mesmo
assim, e como é que te identificas? Não podes dar sempre o teu nome porque só
votas num local. Certo?
- Certo.
Nesses locais, tal como acontece com a tinta, digo apenas o meu suposto nome,
eles dão baixa, eu voto e vou embora.
- Seja. E se
depois aparece o verdadeiro cidadão pelo qual tu votaste?
- Não. Esse
não aparece de certeza. É que eu voto em todos aqueles que já wafa (morreram).
- Boa. E
para além de votares em nome dos mortos, nesse esquema também se pode votar em
nome de outros cidadãos?
- É claro
que pode. Há muita gente que vive no Lubango e que deveria votar no Huambo.
Estás mesmo a ver esse pessoal a fazer centenas de quilómetros para votar?
É a
democracia do MPLA no seu melhor!
Ser especialista de avental é outra coisa!
O futuro do
comércio de textos de linha branca, sejam feitos ou não em Portugal, passa por
Angola. Não pelos angolanos. Aliás, o
importante é trabalhar para os poucos que têm milhões e não para os milhões que
até passam fome.
Acompanhar
os especialistas das questões angolanas,
quase todos de gestação espontânea mas que têm formação maçónica e usam avental
para encobrir a ausência de coluna
vertebral, é aliciante.
Como é
compreensível, esses textos não são jornalismo mas, apenas, meios de propaganda
que visam cativar investidores/compradores. E esses não se encontram ao nível
do Povo que continua a ser gerado com fome, a nascer com fome e a morrer pouco
depois… com fome.
Por alguma
razão as despesas dos angolanos, que visitaram Portugal entre Janeiro e Abril,
cresceram 53,23%.
Os turistas
angolanos, parte deles são o filão que mais interessa ao moderno comércio
jornalístico que se faz em Portugal, gastaram 87,2 milhões de euros, valor que
compara com os 56,9 milhões de euros gastos no mesmo período de 2011.
E se, de uma
forma geral, Portugal precisa dos donos de Angola, é natural que as empresas
lusas, sejam ou não de comércio de textos de linha branca, afinam pelo mesmo
diapasão.
Basta, aliás,
ver o perfil do cliente angolano em Portugal, que representa mais de 30% do
mercado de luxo português. Trata-se sobretudo de homens, 40 anos, empresários
do ramo da construção, ex-militares ou com ligações ao governo. Vestem Hugo
Boss ou Ermenegildo Zegna. Compram relógios de ouro Patek Phillipe e Rolex.
Do outro
lado, aquele que não interessa a esse dito moderno “jornalismo”, está o perfil
do povo angolano, que representa 70% da população, e que é pé descalço, barriga
vazia e vive nos bairros de lata.
Esses
angolanos de primeira não olham a preços. Procuram qualidade e peças com o logo
visível. É comum uma loja de luxo facturar, numa só venda, entre 50 e 100 mil
euros, pagos por transferência bancária ou cartão de crédito.
Por outro
lado, de acordo com a vida real dos angolanos (de segunda), 45% das crianças
sofrem de má nutrição crónica e uma em cada quatro (25%) morre antes de atingir
os cinco anos.
Na joalharia
de luxo, os angolanos também se destacam, tanto pelo valor dos artigos que
compram como pela facilidade com que os pagam. Um representante em Portugal da
Chaumet, Dior e H. Stern, conta o caso de "uma senhora angolana que
comprou uma pulseira por 120 mil euros, e pagou com cartão de crédito, sendo o
pagamento imediatamente autorizado pelo banco".
Pois é. Em
Angola, o acesso à boa educação, aos condomínios, ao capital accionista dos
bancos e das seguradoras, aos grandes negócios, às licitações dos blocos
petrolíferos, está limitado a um grupo muito restrito de famílias ligadas ao
regime no poder e que é o que mais interessa ao moderno “jornalismo” luso,
lusitano ou lusófono.
Atrevo-me,
aliás, a calcular a ementa dos almoços dos modernos “jornalistas” portugueses
quando, ao serviço dos superiores interesses da sua actividade comercial, vão a
Luanda.
Mais coisa
menos coisa deve andar à volta de trufas pretas, caranguejos gigantes, cordeiro
assado com cogumelos, bolbos de lírio de Inverno, supremos de galinha com
espuma de raiz de beterraba e uma selecção de queijos acompanhados de mel e
amêndoas caramelizadas, com cinco vinhos diferentes, entre os quais um
Château-Grillet 2005.
Fraude eleitoral em Angola, minuto a minuto
É claro que a Comissão Nacional Eleitoral, os observadores internacionais e a maioria dos (supostos) jornalistas estrangeiros não descobrem fraude nenhuma. Eventualmente porque a isso são obrigados pelo regime do MPLA. Sempre, é claro, a bem da nação que compra tudo e que, inclusive, deu a Portugal o estatuto de protectorado.
http://eleicoesangola2012.com/
quinta-feira, agosto 30, 2012
Gurus sebentos e sabujos
Com aquele
ar sebento e sabujo de sipaio sentado na cadeira do chefe do posto, António
Borges afirmou hoje que a resistência à mudança dos interesses estabelecidos
gera níveis de "polémica" e "gritaria" que nem sempre
coincidem com a "vontade colectiva".
O
especialista do Governo de Portugal em passar atestados de menoridade
intelectual aos portugueses, embora mais subtil do que Miguel Relvas que
entende pura e simplesmente que os tugas são os matumbos, falava naquela coisa
lusófona - tipo Mocidade Portuguesa - onde se formam os autómatos que amanhã serão donos
do reino, e que dá pelo pomposo nome de Universidade de Verão do PSD.
O homem fala
de tudo, sabe de tudo. Seja de economia, de privatizações, de RTP, de roubos,
de branqueamento. Pena é que os portugueses não percebem o raro privilégio que
têm em poder contar com António Borges. E como não percebem, até dizem que ele defendeu
a urgência de salários baixos. Ora, vamos lá ver se nos entendemos, o que ele
defende é que sejam os trabalhadores a pagar para terem trabalho.
Quanto a ele
está como quer. Aliás, ainda recentemente o Governo português disse “não existirem quaisquer
incompatibilidades ou conflitos de interesses” entre o cargo proposto a António
Borges pelo maior accionista da Jerónimo Martins e “as funções de consultoria”
na equipa que supervisiona junto da Parpública (a holding que gere as
participações empresariais do Estado) as privatizações, as renegociações das Parcerias
Público-Privadas (PPP) e a reestruturação do Sector Empresarial do Estado.
Reconheço,
contudo, que a equipa de Passos Coelho é coerente na estratégia que o leva a
(re)implantar no reino um regime esclavagista, sendo António Borges uma peça
fundamental para atingir esse desiderato.
Se o próprio
primeiro-ministro é um paradigma da mentira, certamente também vítima do
“jornalismo interpretativo” que tanto chateia Miguel Relvas, não se poderia esperar outra coisa dos seus
mais dilectos seguidores ou, melhor, dos dilectos gurus que segue.
Ainda se
recordam do que escreveu, entre Março de 2010 e Junho de 2011, Pedro Passos
Coelho para enganar os portugueses e dessa forma ganhar as eleições?
Recordemos
essas declarações numa singela, mas sentida, homenagem a, entre outros, Cavaco
Silva, Joaquim Pina Moura, Jorge Coelho, Armando Vara, Manuel Dias Loureiro,
Fernando Gomes, António Vitorino, Luís Parreirão, José Penedos, Luís Mira
Amaral, António Castro Guerra, Joaquim Ferreira do Amaral, Filipe Baptista,
Ascenso Simões, António Mexia, Faria de Oliveira, António Borges e Eduardo
Catroga.
“Estas
medidas põem o país a pão e água. Não se põe um país a pão e água por
precaução. Estamos disponíveis para soluções positivas, não para penhorar
futuro tapando com impostos o que não se corta na despesa.
“Aceitarei
reduções nas deduções no dia em que o Governo anunciar que vai reduzir a carga
fiscal às famílias. Sabemos hoje que o Governo fez de conta. Disse que ia cortar
e não cortou. Nas despesas correntes do Estado, há 10% a 15% de despesas que
podem ser reduzidas.
“O pior que
pode acontecer a Portugal neste momento é que todas as situações financeiras
não venham para cima da mesa. Aqueles que são responsáveis pelo resvalar da
despesa têm de ser civil e criminalmente responsáveis pelos seus actos.
“Vamos ter de cortar em gorduras e de poupar.
O Estado vai ter de fazer austeridade, basta de aplicá-la só aos cidadãos.
Ninguém nos verá impor sacrifícios aos que mais precisam. Os que têm mais terão
que ajudar os que têm menos.
“Queremos
transferir parte dos sacrifícios que se exigem às famílias e às empresas para o
Estado. Já estamos fartos de um Governo que nunca sabe o que diz e nunca sabe o
que assina em nome de Portugal. O Governo está-se a refugiar em desculpas para
não dizer como é que tenciona concretizar a baixa da TSU com que se comprometeu
no memorando.
“Para
salvaguardar a coesão social prefiro onerar escalões mais elevados de IRS de
modo a desonerar a classe média e baixa. Se vier a ser necessário algum
ajustamento fiscal, será canalizado para o consumo e não para o rendimento das
pessoas.
“Se formos
Governo, posso garantir que não será necessário despedir pessoas nem cortar
mais salários para sanear o sistema português. A ideia que se foi gerando de
que o PSD vai aumentar o IVA não tem fundamento. A pior coisa é ter um Governo
fraco. Um Governo mais forte imporá menos sacrifícios aos contribuintes e aos
cidadãos.
“Não
aceitaremos chantagens de estabilidade, não aceitamos o clima emocional de que
quem não está caladinho não é patriota. O PSD chumbou o PEC 4 porque tem de se
dizer basta: a austeridade não pode incidir sempre no aumento de impostos e no
corte de rendimento.
“Já ouvi o
primeiro-ministro dizer que o PSD quer acabar com o 13.º mês, mas nós nunca
falámos disso e é um disparate. Como é possível manter um governo em que um
primeiro-ministro mente?”
Comandante assume que, afinal, a Polícia Nacional não é de Angola mas sim do MPLA
Se dúvidas
existissem sobre a democracia que não existe em Angola, ou sobre o Estado de
Direito que Angola não é, basta ver o que diz o comandante da suposta Polícia
Nacional de Angola.
O comandante
da Polícia Nacional de Angola criticou hoje o “pronunciamento leviano” do líder
UNITA a pedir o adiamento das eleições gerais e disse que a sua força está
pronta para responder a essa “ameaça” e garantir a votação.
Ou seja,
aquilo a que se chama erradamente Polícia Nacional de Angola é, de facto, a
Polícia Nacional do MPLA. Mas, como é óbvio, nada disso incomoda a CNE, muito
menos os observadores eleitorais e ainda menos a comunidade internacional.
Em
conferência de imprensa em Luanda, Ambrósio de Lemos afirmou que a Polícia
Nacional “não vai permitir que haja perturbações em função dessa ameaça” às
eleições gerais na sexta-feira, garantindo a defesa até às “últimas
consequências” do Governo e do seu líder.
Dúvidas? O
comandante da dita Polícia Nacional de Angola garante, sem papas na língua e
perante a passividade da comunidade internacional, que vai defender até às
“últimas consequências” o Governo e o seu líder, José Eduardo dos Santos,
candidato do MPLA.
“Somos uma
instituição do Governo e a polícia vai defender este Governo até às últimas
consequências e muito especialmente o seu líder, porque é um Presidente que
está aqui, e não podemos permitir que qualquer pessoa de forma leviana desafie
e insulte a mais alta entidade deste país”, declarou o comandante nacional da
Polícia.
Ora tomem! A
Polícia Nacional de Angola não é uma instituição do país mas, isso sim, “uma
instituição do Governo”.
Bem que a
CPLP, tal como os países que a integram e ainda a União Europeia, na pessoa do
sipaio Durão Barroso, poderiam limpar a cara à merda que tanto lhes agrada no
regime angolano.
Isaías
Samakuva, líder da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA),
anunciou o desejo de um encontro com o presidente do partido no poder, José
Eduardo dos Santos, para discutir o adiamento das eleições, em resultado de
alegadas irregularidades, não se responsabilizado pelas consequências caso o
diálogo seja recusado.
Para
Ambrósio de Lemos, assumido funcionário do MPLA nas funções de comandante da
Polícia, o pronunciamento do líder do maior partido de oposição foi “leviano” e
levou-o a questionar o motivo pelo qual a UNITA aceitou anteriormente a data da
realização das eleições e a participação na campanha eleitoral.
“Porque
fizeram a campanha eleitoral? É uma pergunta que se pode fazer. A campanha
eleitoral teve lugar em todo o país e esse senhor terminou-a com esse
pronunciamento”, disse o comandante da Polícia Nacional (do MPLA), acrescentando
que, “naturalmente, quem de direito irá dar resposta a isso”.
A Polícia
Nacional, garantiu, “está pronta e prestará serviços específicos nesta quadra
para dar resposta a todos os desafios que atentem contra a estabilidade e a
materialização das eleições” e apela “a todas as formações políticas para que
os seus militantes e simpatizantes observem as leis, normas e regulamentos
estabelecidos”.
“Os
pronunciamentos de incitamento à desordem devem ser banidos de qualquer um dos
políticos envolvidos neste processo eleitoral”, disse Ambrósio de Lemos,
insistindo que, em caso da perturbação da ordem, a sua força não irá esperar
para dar “uma resposta para o imediato restabelecimento da segurança pública”.
O comandante
nacional da Polícia do MPLA informou que o pronunciamento da UNITA não alterou
o plano de segurança previsto para sexta-feira, que envolve um total de 70 mil
efectivos em todo o país, e confia que “o povo está maduro, consciente, quer
paz” e não vê necessidade de se entrar “numa violência ou numa contenda”.
Vivam as eleições, diz o Povo faminto!
5.660 antigos
combatentes e veteranos da Pátria (Angola) estão a receber, no Huambo, as
respectivas pensões em atraso, referentes aos meses de Dezembro de 2009 e 2010,
incluindo o 13º mês.
A informação
foi dada pelo director provincial dos Antigos Combatentes e Veteranos da
Pátria, Moreira Janeiro Mário Lopes, segundo o qual o montante a ser pago está
avaliado em – cito ipsis verbis a Angop - “180 milhões, 492 mil, 554 kwanzas e 87
cêntimos.”
Moreira
Janeiro Mário Lopes esclarece que os pensionistas que não têm contas bancárias
estão a receber o seu dinheiro nas administrações dos municípios onde vivem, ao
passo que os utentes de contas bancárias recebem directamente nas suas contas.
O director
provincial dos Antigos Combatentes e Veteranos da Pátria deu a conhecer,
entretanto, que pelo facto de o número de pensionista ter diminuído
ligeiramente, por razões desconhecidas, houve necessidade de aumentar dez por cento
ao salário de cada beneficiário.
Em Dezembro de 2009 eram 6.437 e um ano depois
este número baixou para 6.121.
Recorde-se
que tudo isto se deve, pois claro!, aos inefáveis esforços do ministro dos
Antigos Combatentes e Veteranos da Pátria, general Kundi Paihama.
Sim. É esse
mesmo que, no início deste mês, disse no Estádio Nacional de Ombaka (Benguela)que
os que lutarem contra o MPLA e contra José Eduardo dos Santos “vão ser
varridos”.
E se Kundi
Paihama o diz é porque vai mesmo fazer isso. Só falta esperar por amanhã para
medir a amplitude da varredura.
Ao que
parece, e ao contrário do que aconteceu em 2008, o regime tinha indicações
fidedignas de que, desta vez, para além dos mortos também os veteranos se recusavam
a votar no MPLA. Embora isso não fosse impeditivo de uma solução alternativa,
testada com êxito nas anteriores eleições, em que em alguns círculos eleitorais
apareceram mais votos do que votantes, poderá acontecer que com uns tantos kwanzas
os votos apareçam de forma voluntária.
Se se
estivesse a falar de um Estado de Direito e de uma comunidade internacional
honesta, seria criticável que o partido que governa Angola desde 11 de Novembro
de 1975, que tem como seu líder carismático e presidente da República alguém
que está no poder há 33 anos, sem ter sido eleito, sentisse necessidade de usar
a intimidação violenta para ganhar eleições.
Mas como
nada disso se passa, tudo vai continuar a ser feito por medida e à medida do
MPLA. É para isso que o petróleo existe, é para isso que serve aquela escrita
internacional que dá pelo nomes de dólares.
E porque o
regime só reconhece a existências de um único deus, Eduardo dos Santos, não
admite que existam dúvidas, não aceita que a sua liberdade termine onde começa
a do Povo. Vai daí, intimida, ameaça, espanca, rapta e mata quem tiver a
veleidade de contrariar o “querido líder”.
Sempre que
no horizonte se vislumbra, mesmo que seja uma hipótese remota, a possibilidade
de alguma mudança, o regime dá logo
sinais preocupantes quanto ao medo de perder as eleições.
Para além do
domínio quase total dos meios mediáticos, tanto nacionais como estrangeiros (em
Portugal nem se fala), o MPLA apostou forte numa estratégia que tem dado bons
resultados. Isto é, no clima de terror e de intimidação.
Tal como
mandam os manuais, o MPLA subiu o dramatismo para, paralelamente às enxurradas
de propaganda, prevenindo os angolanos de que ou ganha ou será o fim do mundo.
quarta-feira, agosto 29, 2012
Pedro Pires lidera observadores que já sabem que as eleições em Angola são... livres e justas
Assim se vê
a força dos dólares de sangue do regime angolano do MPLA. Até os observadores
eleitorais são escolhidos a dedo. A escolha varia entre invertebrados,
corruptos, cegos e similares.
Quem melhor
do que Pedro Pires para chefiar a Missão de Observadores da União Africana?
Estando à vista, por muito benevolentes e ingénuos que sejam os que se interessam
por Angola, a possibilidade de fraudes na votação de sexta-feira, nada melhor do que escolher um
observador amigo e que, em 2001, ganhou as eleições presidenciais
cabo-verdianas à custa de uma fraude.
No dia 16 de
Junho de 2010, quando recebeu o seu homólogo da Guiné Equatorial, ficou a
saber-se que o então presidente de Cabo Verde era cada vez mais apologista da
entrada do reino de Teodoro Obiang Nguema Mbasogo na Comunidade de Países de
Língua(?) Portuguesa.
Na altura, os
mais ingénuos estranharam que Pedro Pires tenha barrado os jornalistas quando
estes, numa coisa a que se chama liberdade de imprensa, se aproximaram para
chegar à fala com Teodoro Obiang Nguema Mbasogo.
Pedro Pires
impediu as câmaras da televisão de filmarem a entrada para o veículo oficial
que levou Obiang Nguema para a Assembleia Nacional, o que gerou manifestações
de repúdio dos jornalistas, tal o ineditismo do gesto, que foi mostrado e
comentado de forma crítica pela televisão local.
Segundo a
Repórteres Sem Fronteiras, em 2009 Cabo Verde tinha caído do 36º para 44º lugar
em matéria de liberdade de imprensa. Se calhar, na altura enquanto presidente e
agora como chefe da Missão de Observadores às eleições de Angola, proteger um ditador é até uma qualidade,
sobretudo petrolífera, que pode render muitos pontos.
Obiang, que
a revista norte-americana “Forbes” já apresentou como o oitavo governante mais
rico do mundo, e que depositou centenas de milhões de dólares no Riggs Bank,
dos EUA, tem sido acusado de manipular as eleições e de ser altamente corrupto.
“Mas o que é
que isso importa”, perguntará certamente Pedro Pires, tal como fazem José
Eduardo dos Santos, Armando Guebuza ou Pedro Passos Coelho.
Obiang, também
ele amigo do “querido líder” do MPLA, que chegou ao poder em 1979, derrubando o
tio, Francisco Macias, foi reeleito com 95 por cento dos votos oficialmente
expressos (também contou, como é hábito, com os votos dos mortos), mantendo-se
no poder graças a um forte aparelho repressivo, do qual fazem parte os seus
guarda-costas marroquinos.
“Mas o que é
que isso importa”, perguntará certamente Pedro Pires, tal como fazem José
Eduardo dos Santos, Armando Guebuza ou Cavaco Silva.
Recorde-se
que gozando, como todos os ditadores que estejam no poder, de um estatuto acima
da lei, Obiang riu-se à grande e à francesa quando em 2009 um tribunal...
francês rejeitou um processo que lhe fora intentado por recorrer a fundos
públicos para adquirir residências de luxo em solo gaulês, com a justificação
de que – lá como em qualquer parte do mundo - os chefes de Estado estrangeiros,
sejam ou não ditadores, gozam de imunidade.
Os vastos
proventos que a Guiné Equatorial recebe da exploração do petróleo e do gás
natural poderiam dar uma vida melhor aos 600 mil habitantes dessa antiga
colónia espanhola, mas a verdade é que a maior parte deles vive abaixo da linha
de pobreza.
Mas se, por
exemplo, em Angola há 70% os pobres, porque carga de chuva não podem também
existir, democraticamente, na Guiné Equatorial?, perguntará certamente Pedro
Pires, tal como fazem José Eduardo dos Santos, Armando Guebuza ou Paulo Portas.
Reconheça-se,
contudo, que tomando como exemplo Angola, a Guiné Equatorial preenche todas as
regras para entrar de pleno e total direito na CPLP. Não sabe o que é
democracia mas, por outro lado, tem fartura de petróleo, o que é condição “sine
qua non” para comprar o que bem entender… incluindo observadores do tipo Pedro
Pires.
Forças Armadas de Angola, supostamente apartidárias, apoiam o candidato do MPLA
O regime
angolano do MPLA é, de facto e de jure, um exemplo de tudo quanto contraria a
democracia. Não deixa, contudo, de satisfazer as verdadeiras democracias para
quem é melhor, muito melhor, negociar com ditaduras.
Em alguma
democracia séria, em algum Estado de Direito, se vê o Chefe do Estado Maior das Forças
Armadas dizer, em plena campanha eleitoral, que um dos candidatos – mesmo que
seja o actual presidente da República - marcou
a sua postura “por momentos de sacrifício e glória”, permitindo “a Angola
preservar a independência e soberania nacionais, a consolidação da paz, o
aprofundamento da democracia, a unidade e reconciliação entre os angolanos, a
reconstrução do país, bem como a estabilidade em África e em particular nas
regiões Austral e Central do continente"?
Não. Nas
democracias seria impossível o Chefe do Estado
Maior das Forças Armadas ter manifestações públicas deste género, tomando
partido por um dos candidatos. Em democracia, os militares são apartidários.
Mas como
Angola não é uma democracia, muito menos um Estado de Direito, o Chefe Estado
Maior das Forças Armadas, general Geraldo Sachipengo Nunda, resolveu fazer
campanha em prol de um dos candidatos, no caso – obviamente – José Eduardo dos
Santos.
E o que
disse a Comissão Nacional Eleitoral? E o que disseram os observadores
eleitorais? E o que disse a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP)?
Nada. Ou seja, corroboraram pelo silêncio a partidarização das Forças Armadas
de Angola em favor de um dos candidatos.
Recorde-se
que Geraldo Sachipengo Nunda foi um dos militares que comandaram a caça, e
posterior morte em combate, a Jonas Savimbi. Nunda foi, aliás, um dos generais
das FALA (Forças Armadas de Libertação de Angola) a quem Savimbi ensinou tudo e
que, por um prato de lagostas, o traíram.
Geraldo
Nunda já no final do ano passado disse que com a promulgação e entrada em vigor
da Constituição da República de Angola "o país entrou numa nova etapa
histórica do seu desenvolvimento". Referia-se, recorde-se, à Constituição
que aboliu a eleição presidencial.
É, aliás,
admirável a forma como os militares angolanos estão sempre a falar da
necessidade da preservação da paz (já cimentada há dez anos), da Constituição e
do culto a José Eduardo dos Santos. Nunca pensei ver Geraldo Sachipengo Nunda a
embarcar numa fantochada deste tipo em que, creio, nem ele próprio acredita.
Mas…
"A reconstrução
nacional tem permitido a normalização da vida em todo o território
nacional", diz Geraldo Sachipengo Nunda, acrescentando que existem sinais
visíveis de um país que renasce após longos anos de guerra.
Que a guerra
em Angola, como qualquer outra, deu cabo do país é uma verdade incontestável.
Também é verdade que o país está a crescer, embora esse crescimento só esteja a
ser feito para um dos lados (para aquele que está com o regime).
Mas será que
Geraldo Sachipengo Nunda se esqueceu da Angola profunda, daquela onde o povo, o
seu povo, é gerado com fome, nasce com fome e morre pouco depois com fome?
Será que
Geraldo Sachipengo Nunda se esqueceu que o seu actual presidente (Eduardo dos
Santos), a sua Constituição, o seu regime, considera um crime contra o Estado
ter opiniões diferentes das oficiais? Será por isso que teve de lamber as botas
ao candidato José Eduardo dos Santos?
Não será
altura de Geraldo Sachipengo Nunda se
interrogar das razões que levam a que em Angola uns poucos tenham muitos
milhões, e muitos milhões não tenham nada?
Não deixa de
ser curioso, pelo menos para mim, ver Geraldo Sachipengo Nunda a dizer que são
prioridades das FAA a preparação
operativa, combativa e de educação patriótica, transmitindo a vontade e a
determinação do Exército de vencer os obstáculos e constrangimentos para que os
efectivos disponham de melhores condições e o processo da sua gradual
renovação.
Segundo
Geraldo Sachipengo Nunda, em declarações ao Semanário Angolense a propósito da
morte de Jonas Savimbi, outros dois antigos coronéis das FALA, Kivo e Calado,
também comprados pelo MPLA a troco da traição não só a Savimbi como a uma
grande parte do povo angolano, estiveram na última linha de combate em
perseguição de Savimbi, e viram-no a sucumbir aos disparos.
Uma hora
depois do líder rebelde ter sido morto, já o general Geraldo Sachipengo Nunda
(certamente com mais uma estrela nos ombros), que estava em permanência no posto
de comando dessa operação no Luena, chegava ao local na companhia de outros
altos responsáveis militares governamentais, entre os quais os generais Hélder
Vieira Dias "Kopelipa" e Hanga, bem como o sub-comissário Panda.
Não se sabe
ao certo, mas é curial pensar-se que Geraldo Sachipengo Nunda tenha manifestado
a sua satisfação pela morte de Savimbi, não fosse o MPLA arrepender-se das
mordomias que lhe dera.
Seja como
for, Geraldo Sachipengo Nunda está muito bem onde está e terá sempre consigo os
louros de ter traído Jonas Savimbi, a UNITA e o povo que ela representava.
E cesteiro
que faz um cesto...
terça-feira, agosto 28, 2012
Eles já disparam em todas as direcções
O jornal do
MPLA, conhecido também como Jornal de Angola, resolveu agora, cumprindo ordens
do democrata presidente que está no poder há 33 anos sem ter sido eleito, abrir
fogo sobre a colónia angolana de Cabinda, juntando-lhe mais alguns dislates.
O pasquim
juntou todo o seu arsenal propagandístico para agradar ao “querido líder” e,
dessa forma, continuar a garantir o salário ao fim do mês.
Segundo o
órgão oficial do regime, activistas da CASA-CE andam em Cabinda a “vender” um
referendo que consiste em saber se a população da província quer a
independência.
Acrescentam
que “o padre Congo é o primeiro
propagandista deste crime grave contra a soberania nacional”. De facto, para o
órgão oficial do MPLA, bem como para os dirigentes do partido que governa
angola desde 1975, Cabinda continua a ser aquela espinha que entope a garganta putrefacta
dos colonizadores.
Por muito
que tentem, e já utilizaram todos os meios ao seu dispor, não conseguem tirar a
espinha e pôr os cabindas de joelho. Ao contrário do que fez em Angola, na
colónia o Povo só aceita ficar de joelhos perante Deus.
Eu sei que
o Jornal de Angola considera José
Eduardo dos Santos um deus. Considera por enquanto. Quando ele, tal como
Salazar e outros ditadores, alguns bem amigos do dono de Angola, cair, vamos
ver este pasquim a dizer que, afinal, Eduardo dos Santos não era bestial mas,
isso sim, uma besta. É, aliás, o processo natural de autómatos acéfalos e
invertebrados.
Para o
jornal do MPLA, quem defender o direito de o Povo de Cabinda escolher o seu
destino está a cometer um crime. É, aliás, o mesmo crime que – à luz das leis
de então – o MPLA cometia quando lutava pela independência de Angola.
Além disso,
desde 1975 que a lei é alterada de acordo com a conveniência dos donos do
reino, nem que para isso tenham de fazer vários 27 de Maio e matar milhares de
pessoas. Se calhar agora, em vez de dizerem que é crime passível de pena de
morte seguir Nito Alves vão dizer que é crime, com a mesma moldura penal,
seguir o padre Jorge Casimiro Congo.
Escreve o
órgão oficial do regime que “Tonet, Congo e companhia assinaram um “acordo”
para o referendo. Se fosse só irresponsabilidade estávamos bem. Mas é muito
pior. Chivukuvuku imita Savimbi e grita empolgado aos seus apoiantes: “a
direcção da Comissão Nacional Eleitoral não são patriotas”.
De uma só
vez o pasquim dirigido por Eduardo dos Santos através dos fantoches José Ribeiro e Filomeno Manaças mete todos os seus inimigos
no mesmo suposto crime: William Tonet, Jorge Congo, Abel Chivukuvuku e Jonas
Savimbi. É tamanha a dor que o MPLA sente que os sipaios tiveram mesmo de
escrever o nome destes inimigos.
Em relação a
William Tonet é compreensível. José Ribeiro e Filomeno Manaças gostariam um dia
de ser como ele, Jornalistas, patriotas e
íntegros. Como não conseguem lá chegar por mérito próprio, que não têm,
tentam denegrir a sua imagem.
Em relação a
Jorge Congo, tentam beliscar a honorabilidade que tem. Não chegam lá. Aliás, se
a sua valia moral e intelectual se medisse pelo nível dos seus inimigos, José
Ribeiro e Filomeno Manaças amesquinhavam-no em todos os sentido.
Quanto a Abel
Chivukuvuku, o jornal do MPLA ainda procura saber quem foram os responsáveis do
partido que o não assassinaram, como era esperado e correspondia ao plano que,
em 1992, o MPLA pôs em marcha e que visou o genocídio politico-tribal das
gentes da UNITA.
Quanto a
Jonas Savimbi, José Ribeiro e Filomeno Manaças deveriam pôr-se em sentido (eu
sei que é uma posição impossível para quem não tem coluna vertebral) quando
falam dele. Se calhar acreditam que os documentos encontrados no bunker de
Savimbi, no Andulo, desapareceram definitivamente…
Como
eruditos escribas, os sipaios do jornal de MPLA dizem que Chivukuvuku faz
ameaças à Savimbi: “com um governo da CASA-CE enfermeiro que pede gasosa vai no
Tribunal!” Os apoiantes entram em delírio. Ele dispara: “no prazo máximo de um
ano acabamos com a gasosa”. E também promete acabar com a pobreza numa
legislatura! Quem fala assim não é gago mas também não pode ser levado a sério.
Até a demagogia tem que ter limites para fazer algum efeito.”
“Os insultos
mais rasteiros chegam de Chivukuvuku que já se julga um Savimbi apontando os
canhões da calúnia contra os “crioulos” e os “caudilhos”. No último comício
disparou: ”lá em cima roubam, os ministros roubam, as províncias roubam, os
administradores roubam”, conta o jornal do MPLA.
A resposta a
esta enciclopédia de imbecilidades do Jornal de Angola será, com certeza, dada
pelos visados que – embora não seja por vontade do MPLA – ainda estão vivos.
Também não
tenho nenhuma procuração para defender Jonas Savimbi. Mesmo assim, e não tendo
a certeza que José Ribeiro e companhia sabem ler, aqui vão algumas notas de
esclarecimento.
Jonas
Malheiro Savimbi foi o único dirigente dos movimentos de libertação nacional que
se encontrava no interior do país por ocasião do 25 de Abril de 1974.
Durante 16
anos, Savimbi dirigiu a Resistência contra o expansionismo russo-cubano e o
monopartidarismo, tendo angariado apoios e simpatias interna e externamente. Foi
classificado como estratega politico-militar de craveira internacional; combatente
pela liberdade; esperança de Angola pelos países amantes da liberdade e democracia
Foi Jonas Savimbi quem obrigou à saída dos cubanos de Angola e ao fim do
monopartidarismo.
A carreira
de Jonas Savimbi foi fundamentalmente de um cidadão sensível aos problemas do
seu Povo; de um empenho total às causas profundas e legítimas dos angolanos de
um condutor de homens cujo pensamento e acção determinaram a evolução do
processo de Libertação do Povo de Angola e de África Austral, tornando-lhe num
dos patriotas mais vibrantes e empreendedores do fim do Século XX.
Savimbi foi
o único dirigente nacionalista angolano que circunscreveu nos ideais do seu
Movimento, aquando da sua fundação em 1966, a democracia assegurada pelo voto
do Povo através de vários Partidos Políticos.
Mesmo contra
a vontade do MPLA e, neste caso, dos sipaios que tem em serviço no Jornal de
Angola, com a morte de Savimbi, África perdeu um dos seus mais insignes filhos,
cuja vida e obra o situam na senda dos
arautos da História Africana como N'Krumahn, Nasser, Amílcar Cabral, Senghor,
Boigny e Hassan II.
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