Como todos
já sabiam há muito tempo, as eleições de ontem em Angola foram novamente um
exemplo de democraticidade, eficiência e transparência. Aliás, nem outra coisa
era de esperar do partido, o MPLA, que está no poder desde 1975.
Essa era uma
certeza adquirida nos areópagos políticos dos parceiros e sócios do regime
angolano a ponto, ao contrário de 2008, a União Europeia ter reduzido o número
dos seus observadores eleitorais de 100 (então chefiados pela italiana Luísa
Morgantini que foi considerada pelo regime como persona non grata) para… 2 (dois).
Tal como em
2008, a missão da CPLP voltou a ser chefiada pelo moçambicano Leonardo Simão. E o que viu agora
o líder da missão de observadores da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa?
O que viu
não se sabe porque ele, como político inteligente que é, não conta. Mas sabe-se
o que já disse. Desde logo a "enorme evolução" na organização das
eleições… apesar de "algumas falhas". Falhas pequenas, muito pequenas,
acrescento eu.
"O
processo eleitoral decorreu num ambiente de tranquilidade, serenidade, com um
grau de organização bastante elevado", embora com algumas falhas aqui e
acolá", afirmou o chefe da missão dos observadores da CPLP, que –
certamente perante a pequenez do país - deslocou um importante contingente de 10
(dez) técnicos para testemunhar o processo eleitoral.
Segundo
Leonardo Simão, ex-ministro dos Negócios Estrangeiros de Moçambique e actual
diretor da Fundação Joaquim Chissano (e, portanto, por dentro das necessidades
do regime do MPLA e da sua capacidade política, económica e militar), a missão
da CPLP detectou as excepções que acabam por confirmar a democraticidade,
transparência e eficácia das eleições.
A provar a
atenção dos 10 (dez) técnicos da CPLP, Leonardo Simão vai ao pormenor de contar
que numa situação em Viana, nos arredores de Luanda, os membros de algumas
mesas não apareceram, devido a uma avaria numa autocarro.
É claro que não
detectaram muitas outras irregularidades, como sejam a dos mortos votarem e a
de muitos vivos não constarem dos cadernos eleitorais.
Leonardo
Simão cometeu, apesar de não querer – legitimamente - cuspir no prato de quem lhe deu comida,
alguns lapsos. Falou da ausência de delegados de lista em algumas mesas de
voto, disse que os partidos não receberam financiamento atempado para recrutar
e formar pessoas e afectá-las a mais de 25 mil postos de votação em todo o
país.
Leonardo
Simão referiu-se também à aprovação tardia da lei eleitoral, em Dezembro, e à
impugnação, entretanto, da presidente da Comissão Nacional Eleitoral (CNE).
"O tempo material para a preparação das eleições foi bastante curto",
considerou, lembrando que uma votação como esta "leva dois anos a
preparar". Deveria levar…
Apesar das
acusações de irregularidades do principal partido da oposição, e da dura
resposta do MPLA, no poder desde 1975, Leonardo Simão disse ter testemunhado
"um ambiente mais distendido" em relação a 2008, quando "havia
uma certa tensão no ar e uma certa incerteza sobre o que ia acontecer".
E se em 2008
havia alguma incerteza, em 2012 tudo ficou claro. O regime continua igual ao
que sempre foi, a maioria dos angolanos continuará a passar fome, os ricos continuarão
cada vez mais ricos, Portugal continuará o seu processo de bajulação e o MPLA
retribuirá com a defesa e apoio ao seu protectorado (luso, lusitano, lusófono) do
sul da Europa.
Uma nota
final para enaltecer a opinião de dois sipaios, perdão, observadores
portugueses que – como convém – deitaram faladura na RTP para elogiar o
processo eleitoral: Elísio de Oliveira e
Azeredo Lopes (foto).
Talvez por
terem os dois pertencido a um elefante branco que, em Portugal, dá pelo nome de
Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC), a unanimidade foi total.
Em abono, obviamente, do regime. Na minha ingenuidade, sempre esperava mais de
Elísio de Oliveira, sobretudo porque iniciou a sua actividade profissional no Rádio
Clube de Angola, na ex-Emissora Oficial de Angola e na revista “Noite e Dia”
editada pela “Noticia”. Enganei-me.
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