No programa da TVI24, “Política Mesmo”, o secretário de Estado da Cultura de Portugal admitiu que não concorda com algumas regras presentes no novo Acordo Ortográfico.
Francisco José Viegas defendeu também o presidente do Centro Cultural de Belém, Vasco Graça Moura, que há pouco menos de um mês proibiu os seus serviços de usarem o acordo.
De facto, como lembrou Francisco José Viegas, Vasco Graça Moura foi uma das pessoas que "mais reflectiu" sobre o acordo e que "mais se empenhou" no combate ao mesmo.
"A mim parece-me que é um não-problema. Os materiais impressos e oficiais do Centro Cultural de Belém obedecem a uma norma geral, que é a mesma que vigor em todos os organismos sob a tutela do Estado. Portanto, é um assunto encerrado. Vasco Graça Moura escreverá como quiser. Como eu posso escrever", assumiu na mesma entrevista.
O secretário de Estado da Cultura lembrou que parte da imprensa não aderiu ao acordo e que não são alvo de qualquer punição por isso. Francisco José Viegas recordou que, até 2015, é possível alterar o acordo e acredita que essa possibilidade será usada.
"Temos que aperfeiçoar aquilo que há para aperfeiçoar. Temos algum tempo, temos três anos para o fazer", disse.
Considero, sobretudo dada a disparidade das forças em confronto, que a minha luta pelo português de Portugal e, por isso, contra o Acordo Ortográfico está condenada à derrota.
Apesar disso, continuo a entender que só é derrotado quem desiste de lutar. Ora desistir é algo que me recuso a fazer, mesmo sabendo que do outro lado está uma força monumentalmente maior em todos os aspectos, sobretudo no número de falantes.
Sou, portanto, contra o Acordo Ortográfico. Admito, quando muito, que se deixe que sejam o tempo e os protagonistas a transformar a língua, a dar-lhe eventualmente diferente grafia, tal como acontece com a introdução de novos termos.
É claro que existem letras que, no português de Portugal, podem ser suprimidas sem que venha grande mal ao mundo. Mesmo assim, também não viria grande mal ao mundo se o meu Bilhete de Identidade disse que eu nasci no “uambo”. Mas a verdade é que eu nasci no “Huambo”.
Se o sapato português já foi «çapato» e a farmácia foi «pharmácia», é bem possível que, de forma natural, também o facto passe a fato. Mas a forma natural é deixar a língua fazer a sua viagem ao logo dos anos, das décadas, dos séculos, sem as amarras que lhe querem pôr.
E o que defendo para Portugal, defendo para qualquer outro dos países lusófonos. É legítimo que os brasileiros, não só porque são especialistas em inventar palavras, mas, sobretudo, porque podem impor a razão da força dos seus muitos milhões de cidadãos, queiram neutralizar a força da razão daquela “meia dúzia” de tugas que estão nas ocidentais praias lusitanas.
Não cabe aos que defendem o português, contudo, abdicar e atirar a toalha ao tapete quando podemos ser poucos, mas podemos ser bons (sem querer dizer que os outros são maus). Creio, aliás, que a língua ainda é das poucas coisas que são verdadeiramente nossas. Tudo o resto é “made in” qualquer outro país.
Por isso, esta é para mim, uma questão de identidade e de honra que deve continuar a ter as suas próprias características, respeitando a dos outros e convivendo em sã harmonia com as diferenças.
Aliás, quando me falam de harmonização (seja do que for) cheira-me logo a algo hitleriano. Por isso, custe o que custar, não serei eu a render-me a um acordo ortográfico contra-natura e violador das diferenças que são, aliás, a grande força da Lusofonia.