terça-feira, janeiro 31, 2012

A rapaziada é escolhida a dedo!

O secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação de Portugal afirmou hoje, em Berlim, que os países de língua portuguesa "terão muito a ganhar" com uma lusofonia global aberta a outros Estados das respectivas regiões.

Luís Brites Pereira, que falava num encontro de diplomatas de Estados da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) acreditados na capital alemã, na Embaixada do Brasil, advogou assim um melhor aproveitamento das potencialidades dos respectivos países.

A visão e a estratégia para as relações ente países de língua oficial portuguesa e para o espaço lusófono como um todo "tem-se pautado por um olhar e uma gestão ainda relativamente fechados em si mesmos", observou.

O rapaz, apesar dos dotes escolares e das suas raízes africanas, ou não percebe nada da poda ou está a gozar com a chipala dos matumbos que, certamente, pensa serem a maioria dos cidadãos lusófonos.

Ao que parece, Luís Brites Pereira entende que todos podem pertencer à CPLP, a começar no Burkina Faso (que ainda por cima já se chamou Alto Volta), terminando na Ucrânia e passando pela Guiné-Equatorial.

Mas o secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros não é único. Também o Presidente da República e o primeiro-ministro do reino lusitano afirmam que esse elefante branco, a que deram o pomposo nome de CPLP, vai acompanhar – por exemplo - a evolução da Guiné-Equatorial no sentido do cumprimento dos estatutos desta comunidade para decidir sobre o seu pedido de adesão.

Muito gostam, repita-se, os amigos portugueses de Teodoro Obiang de gozar com a chipala dos que, ingenuamente, ainda pensam que a dita Comunidade de Países de Língua Portuguesa é algo para levar a sério.

Se a CPLP não consegue (nem está para aí virada, é verdade) acompanhar o que se passa no seio dos seus membros efectivos, em que a Guiné-Bissau é o mais clamoroso exemplo, porque carga de chuva nos querem passar um atestado de menoridade dizendo que o vão fazer em relação ao reino de Teodoro Obiang?

Numa conferência de imprensa conjunta no final da VIII Cimeira da CPLP, em Luanda, Cavaco Silva congratulou-se pelo “consenso relativamente ao pedido de adesão da Guiné-Equatorial”.

Consenso, explicou do alto da sabedoria própria de quem nunca tem dúvidas e raramente se engana, que “deixa muito claro que a adesão fica condicionada aos requisitos previstos nos estatutos da CPLP”.

Isso quer dizer, segundo a sabedoria lusitana, que “a Guiné-Equatorial terá de demonstrar que cumpre integralmente os estatutos da nossa comunidade, a começar, como é obvio, pela língua portuguesa que une esta comunidade”.

Língua que une a comunidade? Em abstracto até talvez seja. Em concreto basta, por exemplo, ver que o Chefe do Estado Maior das Forças Armadas da Guiné-Bissau, António Indjai, quando estiver presente numa reunião com os seus congéneres lusófonos terá de levar tradutor.

Cavaco Silva lembrou que “há uma declaração que diz de forma clara que haverá um acompanhamento da parte do conselho de ministros das reformas que irão ser realizadas na Guiné-Equatorial, tendo em vista cumprir os requisitos dos estatutos” da CPLP. “Penso que isso é suficientemente claro”, acrescentou.

Claro que é claro, mesmo quando se fala em relação ao ouro... negro.

No entanto, e isso nem Cavaco Silva,  nem Luís Brites Pereira e muito menos Pedro Miguel Passos Relvas Coelho dizem que no âmbito dos países membros e fundadores da CPLP há poucos a cumprir esses estatutos.

Apesar de não ser para levar a sério, os Estatutos da CPLP também estabelecem a democracia como condição sine qua non. Ora, no país que agora preside à CPLP, com a aprovação da nova “Constituição”, a democracia morreu em Angola, e ninguém se preocupou em dizer que a organização vai acompanhar a situação.

É que, para existir democracia, não basta haver partidos de oposição (Salazar também os admitiu a certa altura), não basta haver comunicação social independente (Salazar também a suportava), em particular se esta está tão condicionada pelo poder que não pode ser ouvida ou lida pelo Povo.

Para haver Democracia é preciso que o poder não seja exercido por uma só pessoa. A isso chama-se ditadura. Para haver Democracia é preciso que o poder legislativo seja eleito. Para haver Democracia é preciso que o poder executivo seja eleito, ou que emane do poder legislativo eleito.

Para haver Democracia é preciso que o poder judicial seja independente. Para haver Democracia é preciso que o Povo saiba quem elege ou quem não elege. E nada disso é possível em Angola.

Pela nova “Constituição” de Angola, o Presidente da República é o “cabeça de lista” (ou seja o deputado colocado no primeiro lugar da lista), eleito pelo circulo nacional nas eleições para a Assembleia Nacional. Não é uma eleição indirecta, feita pelo parlamento (como acontece por exemplo na República da África do Sul).

Não. É o primeiro deputado da lista do partido mais votado. Mesmo que esse partido só tenho, por exemplo, 25% dos votos expressos. Por outras palavras, José Eduardo dos Santos, com medo de perder as eleições presidenciais, acaba com elas.

E por via das dúvidas, na hipótese de o partido a que preside não conseguir mais do que uma maioria relativa (por exemplo se não conseguirem fazer uma nova fraude eleitoral), ele será sempre o Presidente do País.

Pela nova “Constituição” o Presidente de Angola nomeia o Vice-Presidente, todos os juízes do Tribunal Constitucional, todos os juízes do Supremo Tribunal, todos os juízes do Tribunal de Contas, o Procurador-Geral da Republica, o Chefe de Estado Maior das Forças Armadas, os Chefes do Estado Maior dos diversos ramos destas.

Sem indicações da Assembleia Nacional ou sem qualquer proporcionalidade em relação aos votos dos eleitores. Portanto, entre familiares, amigalhaços e clientes ele arranjará gente para todos os cargos. Nem Salazar nomeava todos os poderes.

Na verdade, Eduardo dos Santos já fazia tudo isto, ilegalmente é verdade, como Bokassa, Idi Amin ou Mobutu, mas agora colocou-o na lei fundamental do País e vai poder fazê-lo “legalmente”.

Assim os amigos como Pedro Miguel Passos Relvas Coelho, Cavaco Silva, Teodoro Obiang ou Obama vão felicitá-lo por esta nova “Democracia”. Assim os velhos lutadores pela liberdade do seu próprio partido, poderão continuar a receber as prebendas e as gasosas e disfarçar a sua cobardia.

Mesmo assim,  Pedro Miguel Passos Relvas Coelho  e companhia lá vão continuar a bajular o regime angolano em que, importa dizê-lo, é muito mais o que o aproxima da Guiné-Equatorial do que o que o separa. Até no número de anos em que estão no poder, 32, José Eduardo dos Santos e Teodoro Obiang coincidem.

"É Fareja, Nuno, Fareja!"

"Há uma cabra à solta em Fajães, no concelho de Fafe, que está a deixar os nervos em franja aos habitantes locais. Com pompa, Bento Rodrigues começava assim, ontem, uma notícia no Primeiro Jornal da SIC. E lá vinha a reportagem, numa recôndita aldeola do Portugal profundo, onde uma cabra tem surgido na calada da noite, junto ao cemitério local, a fazer das suas. Foi na SIC, mas podia ter sido na TVI. Para o caso tanto faz. É o que dá esticar noticiários para fazer contraprogramação."

É assim, com não menos pompa do que Bento Rodrigues, que o jornalista Nuno Azinheira começa, hoje, a sua Crónica de TV, no Diário de Notícias.

De televisão, de jornalismo, do que é realmente notícia e do que deve ser contado aos leitores e aos telespectadores percebe o Nuno Azinheira, crítico televisivo consagrado e ex-director do 24horas (o director que apanhou o encerramento do jornal), e portanto não vou discutir com ele.

Tomo apenas a liberdade de, humildemente, explicar-lhe o seguinte: não é Fajães, Nuno, é Fareja! Fareja!! Fajães foi inventado por ti, que também de certeza não sabes indicar Fafe no mapa. E por isso dizes que Fareja (Fajães, na tua versão) é uma "recôndita aldeola do Portugal profundo".

Mas não é, Nuno! Fareja (Fajães, na tua versão) não é recôndita nem é uma aldeola, já passou por lá Jesus Cristo e o comboio também, e profunda é mas é a tua... ignorância.

Com a devida  vénia e com especial gosto ao:

Como é possível os jornalistas não verem que a baliza angolana tinha o dobro do tamanho?

Cerca de quinze jornalistas angolanos que se encontravam na Guiné-Equatorial a acompanhar os “Palancas Negras” foram repreendidos e ameaçados pela polícia na zona mista.

A Guiné-Equatorial não é exactamente Angola, mas anda lá perto. Como se sabe (melhor, como alguns sabem) a Guiné-Equatorial é independente desde 12 de Outubro de 1968 e tem como presidente, desde 3 de Agosto de 1979, Teodoro Obiang Nguema, certamente – como Eduardo dos Santos – um líder carismático…

A selecção angolana foi eliminada depois de perder com a Costa do Marfim por 2-0 e os responsáveis angolanos não gostaram do modo como os jornalistas noticiaram e comentaram o afastamento.

De facto, não custava nada aos jornalistas presentes dizer o contrário do que se passou, justificando até que a Costa do Marfim tinha alinhado com 22 jogadores, ou que a baliza de Angola tinha o dobro do tamanho da do adversário.

Na zona mista do Novo Estádio de Malabo, passagem obrigatória de jogadores e restante “staff” no percurso entre o balneário e o autocarro da respectiva equipa, os jornalistas faziam a habitual reportagem quando foram impedidos de trabalhar.

Um cordão policial, de polícias angolanos (Ninjas) e da Guiné-Equatorial, não só criou uma barreira entre jogadores e profissionais da comunicação social como, à boa maneira democrática, mostraram que mesmo fora de Angola os jornalistas angolanos têm de seguir a cartilha do regime.

Um dos jornalistas queixa-se mesmo ter sido ameaçado de represálias, segundo contou ao jornal britânico “Guardian”: “Eles disseram que vamos ser punidos quando voltarmos para Angola.”

Mas quem julgam os jornalistas que são para, seja onde for, pensarem pela própria cabeça? Quem os autorizou? Não sabem que só têm liberdade para pensarem com a cabeça do “querido líder”?

Tal como o seu homólogo e amigo angolano, Teodoro Obiang quando fala de princípios democráticos bate aos pontos, entre muitos outros, Jean-Bédel Bokassa, Idi Amin Dada, Mobutu Sese Seko, Robert Mugabe ou Muammar Kadafi.

Atente-se, contudo, no que diz o moçambicano Tomaz Salomão, secretário executivo da SADC (Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral): "São ditadores, mas pronto, paciência... são as pessoas que estão lá. E os critérios da liderança da organização não obrigam à realização de eleições democráticas”.

O homem precisa de ajuda!

O Alto Hama agradece ao Folha 8

Ainda há quem resista!

segunda-feira, janeiro 30, 2012

Da Sonangol para a Presidência

O Presidente angolano (não eleito e há 32 anos no poder), José Eduardo dos Santos, exonerou Manuel Vicente do cargo de presidente do Conselho de Administração da Sociedade Nacional de Combustíveis de Angola (Sonangol).

A próxima meta para Manuel Vicente é ser o super-ministro de Estado da Coordenação  Económica e depois a presidência da República.

Manuel Vicente é o homem de confiança de Eduardo dos Santos e, por isso, de todos os que (como Portugal) bajulam o regime angolano. Além disso tem obra feita (de acordo com a cartilha do MPLA).

A Global Witness revela, no caso de Angola, uma realidade que já dura desde 1975, altura em que depois da oferta em bandeja de sangue por parte dos portugueses, o MPLA solidificou o poder com a ajuda de russos, cubanos, portugueses, brasileiros etc..

A Global Witness diz que accionistas de uma empresa autorizada a concorrer à exploração de petróleo em Angola têm o mesmo nome de altos responsáveis do Estado angolano, incluindo o de Manuel Vicente, presidente da Sonangol, a petrolífera estatal.

E então onde está a novidade? Sempre assim foi e, sempre com a conivência internacional, assim continuará a ser e bem da economia dos poucos que têm milhões e, é claro, para mal dos milhões que têm pouco, ou nada.

De acordo com a Global Witness, os registos da Sociedade de Hidrocarbonetos de Angola (SHA), publicados no Diário da República, nomeiam Manuel Domingos Vicente, nome do presidente da Sonangol, como um dos accionistas da SHA em Agosto de 2008, bem como Manuel Vieira Hélder Dias Júnior "Kopelipa", chefe da Casa Militar do Presidente José Eduardo dos Santos.

A Sonangol é a companhia criada pelas autoridades angolanas que atribui as licenças de exploração de petróleo, pelo que, a confirmar-se a presença do seu presidente na estrutura accionista da SHA, pode significar "abuso de poder", afirmou Diarmid O'Sullivan, um dos activistas da Global Witness.

Afirmou, mas mal. É que falar de “abuso de poder” só faz sentido nos países que são verdadeiros estados de direito democrático. Não é, manifestamente, ainda e durante muitos mais anos o caso de Angola.

"Não podemos provar mas seria uma coincidência muito improvável ter dois grupos de pessoas com os mesmos nomes, ambos envolvidos no sector do petróleo, um de dirigentes governamentais e outro de investidores privados, sem qualquer ligação", vincou O'Sullivan.

"Se anda como um pato e fala como um pato, então provavelmente é mesmo um pato", ilustrou, usando uma expressão popular inglesa.

Recorde-se que o Departamento de Estado norte-americano referiu, no seu relatório de 2008, que é comum dirigentes angolanos possuírem participações em empresas que realizam negócios com os seus ministérios, lembra a Global Witness. Pois é. E onde está o mal?

Também a Human Rights Watch (HRW) exigiu (atente-se na desfaçatez!) ao Governo de Angola que explique onde estão os 25 mil milhões de euros em falta nos cofres do Estado, relacionados com a petrolífera do regime, a Sonangol.

A organização de defesa dos direitos humanos escreve, em comunicado publicado na sua página online, que, apesar de o Governo de Luanda se ter comprometido a "aumentar a transparência das receitas do petróleo" e a "fazer uma auditoria à companhia petrolífera estatal", o "desaparecimento de 25 mil milhões de euros levanta questões sérias sobre os seus esforços e sublinha a necessidade de responsabilizar o poder público".

Vamos por partes. A  Sonangol não é uma empresa do Estado, nem de Angola e muito menos dos angolanos. É uma empresa do clã do “querido líder”. Querer que um regime totalmente opaco seja transparente é mais ou menos como querer que um bagre vire jacaré. Falar de responsabilizar o poder político é, no caso, o mesmo que pretender que as águas do rio kwanza caibam num pilão.

Adiante. Segundo a Human Rights Watch, a soma em questão equivale a um quarto do Produto Interno Bruto (PIB) do reino. Pois é. Mas que significado tem isso? Se Angola é o MPLA e o MPLA é Angola, o PIB é apenas e só aquilo que o regime quiser.

A HRW recorda o relatório da quinta inspecção do Fundo Monetário Internacional (FMI) a Angola que indica que existem fundos estatais gastos ou transferidos entre 2007 e 2010 que não foram inscritos no orçamento.

Não foram nem tinham que ser. Desde quando é que os donos do reino têm de prestar contas, seja a quem for? Esse dinheiro vai para onde o “querido líder” quiser, nomeadamente para dar suporte financeiro à compra de um outro reino, no caso ao das ocidentais praias lusitanas.

O FMI conclui que as recentes acções do Ministério das Finanças angolano para monitorizar mais de perto a Sonangol, após a reforma legal de 2010, resultaram na descoberta de fluxos financeiros para contas estrangeiras acima dos valores que podem ser justificados pelas autoridades, no volume global de 7,1 mil milhões de dólares (5,5 mil milhões de euros).

O FMI bem pode fazer as contas que entender. Mas todas elas resvalam na capacidade financeira do regime angolano que, um dia destes, ainda se chateia com todas estas histórias e põe a boca no trombone, mostrando ao mundo onde, como e para ajudar quem, foi utilizado todo esse dinheiro. E, bem vistas as coisas, ninguém está interessado nisso.

Uma das explicações que o FMI aponta para tal disparidade é a possibilidade de a Sonangol estar a "ocultar os fundos que recebe". Chamar ocultação ao uso desses fundos para os fins que o regime acha mais convenientes é, desde logo, uma forma de se imiscuir num reino que não tem explicações a dar a ninguém. Nem as dá aos angolanos, muito menos aos organismos internacionais.

A Human Rights Watch já tinha identificado uma discrepância anterior semelhante nos fundos angolanos - quatro mil milhões de dólares (três mil milhões de euros) de receitas petrolíferas que "desapareceram" entre 1997 e 2002 -,  levantando suspeitas de "má gestão e corrupção".

Corrupção em Angola? Nesta matéria, entre 183 países, o reino do “querido líder” está na posição 168. Isso não significa, contudo, que seja corrupto. Basta ver as intermináveis filas de políticos e similares que se dirigem a Luanda para negociar com o regime, começando pelo Vaticano e terminando nos EUA, sem esquecer a China, a Alemanha e Portugal...

Afinal está tudo óptimo no reino de Cavaco Silva e de Pedro Miguel Passos Relvas Coelho

No intervalo das contas que faz para saber se a sua reforma chega para pagar as despesas, Cavaco Silva mandou hoje o chefe da Casa Civil dizer que o presidente rejeita as "interpretações especulativas" sobre o seu relacionamento com o Governo.

"Na sequência de notícias veiculadas nos últimos dias em órgãos de comunicação e que tentam envolver o Presidente da República na origem de meras interpretações especulativas sobre o relacionamento entre órgãos de soberania, esclarece-se que essas notícias não têm fundamento", refere Nunes Liberato, numa declaração escrita enviada à Agência Lusa.

Na nota, Nunes Liberato recorda ainda que o Presidente da República é "um órgão unipessoal" e que "as únicas pessoas habilitadas para falar em nome" de Cavaco Silva são os Chefes da Casa Civil e da Casa Militar.

No sábado, o semanário Expresso noticiou a existência de uma "divisão profunda" entre o Presidente da República e o Governo, com o chefe de Estado a discordar de alguns cortes na despesa e a temer "sangrias" na função pública e na Saúde.

No domingo, o "Público" referia que "é absoluta a discordância de algumas das mais proeminentes personalidades do cavaquismo e do próprio Presidente da República sobre a condução da política orçamental e as prioridades para a organização das finanças públicas, que têm sido adoptadas pelo Governo".

Afinal está tudo bem. Também estranhei que Cavaco Silva estivesse contra um governo que só funciona a impor a austeridade, que conseguiu brilhantemente reimplantar o regime esclavagista, que continua em velocidade de ponta para aumentar a fasquia dos 800 mil desempregados, dos 20 por cento de pobres e de outros tantos que só sonham com miragens do tipo… comida, dos 1,2 milhões de portugueses que deixam na farmácia alguns dos medicamentos necessários por falta de dinheiro.

Os portugueses não têm, aliás, razões de queixa. Basta perguntar, entre outros, a Eduardo Catroga, Joaquim Pina Moura, Jorge Coelho, Armando Vara, Manuel Dias Loureiro, Fernando Faria de Oliveira, Fernando Gomes, António Vitorino, Luís Parreirão, José Penedos, Luís Mira Amaral, António Mexia, António Castro Guerra, Joaquim Ferreira do Amaral, Filipe Baptista, Ascenso Simões ou Duarte Lima.

É portanto chegada a altura de Cavaco Silva dizer o mesmo que Pedro Miguel Passos Relvas Coelho, ou seja, que os portugueses são uns mal agradecidos quando exigem mais do que um prato de farelo.

Os portugueses reais (escravos, a bem dizer) são muito ingratos. Ponham os olhos em Cavaco Silva. O homem só tem direito, mensalmente, a 4.152 euros do Banco de Portugal, a 2.328 euros da Universidade Nova de Lisboa e a 2.876 euros de primeiro-ministro…

Cunha a Paulo Portas… a bem da nação!

A propósito da lei orgânica do Camões - Instituto da Cooperação e da Língua (hoje publicada no Diário da República), que irá juntar na mesma tutela as políticas da língua e cooperação, aglutinando o Instituto Camões e o Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento (IPAD), deixem-me meter uma cunha ao ministro Paulo Portas.

A Paulo Portas porque o novo organismo ficará sob a tutela do Ministério dos Negócios Estrangeiros.

Embora a história date de inícios de 2007,  foi, é e será sempre um bom exemplo da moderna sociedade do reino lusitano que certamente Paulo Portas levará em linha de conta.

Na altura acabara de tomar posse a Direcção IPAD, criado em Janeiro de 2003, e que por sua vez resultara da fusão entre o Instituto da Cooperação Portuguesa (ICP) e a Agência Portuguesa de Apoio ao Desenvolvimento (APAD).

O exemplo de um dos seus três vice-presidentes, no caso Vera Maria Caldeira Ribeiro Vasconcelos Abreu Marques de Almeida, fez história e, como exemplo paradigmático, merece continuar a ser recordado e aplaudido.

Recorde-se antes que a política de Cooperação Portuguesa e de Ajuda Pública ao Desenvolvimento era coordenada, supervisionada e dirigida, desde Janeiro de 2003, pelo IPAD. No seu diploma constitutivo (decreto-lei nº 5/2003 de 13 de Janeiro de 2003), o IPAD era o instrumento central da política oficial de Cooperação para o Desenvolvimento, tendo como principais atribuições, melhorar a intervenção portuguesa e assegurar-lhe um maior relevo no âmbito da Cooperação, no cumprimento dos compromissos internacionais assumidos pelo Estado Português.

Até aqui tudo bem. Vejamos então a genialidade curricular de Vera Maria Caldeira Ribeiro Vasconcelos Abreu Marques de Almeida.

Nasceu em Setembro de 1969 e com 15 (quinze) anos de idade (ou seja em 1984) iniciou – de acordo com os dados então apresentados no site do IPAD – a “Licenciatura em Relações Internacionais pela Universidade Lusíada de Lisboa», que terminou em 1987.

Para além de se enaltecer o facto de ter começado a Licenciatura com 15 (quinze) anos, importa dizer que a Universidade Lusíada informou que a Licenciatura em Relações Internacionais só começou a ser ministrada em 1986, ou seja dois anos depois da data referida pela vice-presidente do IPAD.

Acresce que a mesma era de cinco anos e não de quatro como diz o curriculum de Vera Maria Caldeira Ribeiro Vasconcelos Abreu Marques de Almeida.

Ainda no campo da genialidade da vice-presidente do IPAD registe-se que ainda em 1984, portanto com 15 (quinze) anos de idade, Vera Maria Caldeira Ribeiro Vasconcelos Abreu Marques de Almeida iniciou dois outros cursos, o de língua inglesa pelo American Institut e o de língua francesa pela Alliance Francaise.

Registe-se, continuando no campo de uma paradigmática genialidade que deve ser reconhecida por todos, que Vera Maria Caldeira Ribeiro Vasconcelos Abreu Marques de Almeida concluiu quer a licenciatura quer os dois cursos de línguas no mesmo ano, 1987.

Sendo a cooperação para o desenvolvimento uma prioridade da política externa portuguesa, onde pontuam os valores da solidariedade e do respeito pelos direitos humanos, nada melhor do que, na altura, ter nos quadros do IPAD um génio como Vera Maria Caldeira Ribeiro Vasconcelos Abreu Marques de Almeida.

Sendo a coordenação da ajuda pública ao desenvolvimento realizada por um único organismo, o IPAD, que assegura também a supervisão e a direcção da política de cooperação, nada melhor do que, na altura, ter nos quadros do IPAD um génio como Vera Maria Caldeira Ribeiro Vasconcelos Abreu Marques de Almeida.

Sendo o IPAD um instrumento central da política de cooperação para o desenvolvimento, tendo por finalidade, num quadro de unidade da representação do Estado, melhorar a intervenção portuguesa e assegurar-lhe maior relevo na política de cooperação e cumprimento dos compromissos internacionais assumidos pelo Estado Português, nada melhor do que, na altura, ter nos quadros do IPAD um génio como Vera Maria Caldeira Ribeiro Vasconcelos Abreu Marques de Almeida.

Tendo a acção do IPAD em vista a promoção do desenvolvimento económico, social e cultural dos países de língua oficial portuguesa, bem como a melhoria das condições de vida das suas populações, nada melhor do que, na altura, ter nos quadros do IPAD um génio como Vera Maria Caldeira Ribeiro Vasconcelos Abreu Marques de Almeida.

Espero por isso que o actual governo não se esqueça de procurar, embora sejam raros, casos como este que só dignificam a capacidade dos portugueses.

Estranho, muito estranho!

A Ponte Salazar,  Ponte 25 de Abril ou Ponte sobre o Tejo recorda algo de estranho, de cada vez mais estranho.  Foi construída dentro do prazo e do orçamento. Ou, melhor dizendo, não custou três vezes mais do que o previsto e não demorou o dobro do tempo. Com a sua construção ninguém enriqueceu, nem subitamente foram constituídos depósitos nas Bahamas. Quando saiu do Governo, o ministro das Obras Públicas da altura  não foi para presidente do Conselho de Administração da empresa que construiu a ponte.

domingo, janeiro 29, 2012

Nova foleira anomalia técnica de José Lello

José Lello omitiu, durante 14 anos, uma conta num fundo, partilhada com a mulher, com mais de 658 mil euros.

A conta foi aberta em 1988, mas o deputado do PS, apesar de estar obrigado a declará-la ao Tribunal Constitucional desde 1995, apenas o fez quando entregou a declaração de rendimentos relativa ao início de funções de deputado em 2009. José Lello justifica a omissão da conta com o desconhecimento da lei.

Não por desconhecimento da lei mas, como disse, por uma anomalia técnica, José Lello classificou de foleiro o comportamento do Presidente da República. O socialista utilizou a sua página no Facebook para criticar, nestes termos, o facto de Cavaco Silva não ter convidado os deputados para a cerimónia do 25 de Abril de 2011.

Aproveitando a boleia, a administração aqui do Alto Hama decretou que tudo quanto seja escrito e que não agrade aos donos do poder, seja em Portugal ou em Angola, se deve, obviamente, a anomalias técnicas. Estamos entendidos?

Em declarações à Rádio Renascença, José Lello justificou-se dizendo que tudo não passou de uma anomalia técnica.

Vejamos, pelas palavras do próprio e sem, presumo, anomalias técnicas, o que se passou.

“Estava a enviar mensagens a um colega meu de bancada e, naturalmente, a utilizar uma linguagem que entre amigos é corrente. Se estivesse a exprimir-me publicamente utilizaria o politiquês e diria que o Presidente da República não foi suficientemente abrangente e, portanto, aquilo que eu disse senti”, explicou.

E assim de repente, são várias as anomalias técnicas do deputado socialista que, por exemplo, entendia que apesar de ser deputado, estar num local público (Parlamento) e usar nesse espaço computadores que não são pessoais, tinha o direito de fazer o que quer com eles.

Ou seja, podia muito bem estar a ver imagens pedagógicas da sua colega italiana Ilona Staller (mais conhecida por Cicciolina), consultar contas pessoais, comentar blogues, escrever coisas foleiras, jogar zuma etc.

O que de facto o chateia, tanto a ele como a muitos outros, é estar sujeito a que os repórteres fotográficos apanhem imagens que nada tenham a ver com os trabalhos no Parlamento. Coisa, certamente, improvável...

Segundo José Lello, é preciso meter na linha (ele chamou-lhe – sem anomalias técnicas - “necessidade de definir a mobilidade”) os repórteres fotográficos na Assembleia da República, afirmando que os deputados “não podem estar sujeitos ao ‘voyeurismo’”.

Não podem mesmo. Por isso, parafraseando o ministro Augusto Santos Silva, é urgente “malhar” (a expressão é esta, mas fica a dúvida se não terá sido dita por qualquer anomalia técnica) em todos aqueles que resolvam chatear os donos do poder, neste caso os deputados.
Ou, neste caso parafraseando Fernando Lima, conselheiro de Cavaco Silva, é preciso domesticar os jornalistas.

Penso, aliás,  que o Parlamento português deveria pura e simplesmente barrar, impedir, bloquear, a entrada no recinto de jornalistas e repórteres fotográficos.

A privacidade dos deputados estaria garantida. O país até agradecia. Para os portugueses é indiferente o que se passa no Parlamento. Além disso, os "Press officers e Media consultants" fariam chegar à Imprensa o que interessasse, com a vantagem de que se não repetiriam os casos de Manuel Pinho e outros similares.

E quanto maior for a ausência dos jornalistas menor risco haverá de anomalias técnicas. Vejam-se, por exemplo, os casos em que um primeiro-ministro (José Sócrates) se vira para um deputado e diz: "Manso é a tua tia, pá!"; de um deputado (Ricardo Rodrigues) que rouba – ele chama-lhe “tomar posse” – os gravadores aos jornalistas que o entrevistavam, ou o registo de frases como “espionagem política”, “sujeira”, “coscuvilhice” , “política de fechadura”.

Só duas universidades não têm dificuldade em arranjar empregos para os seus alunos

A classe média em Portugal, seja lá o que isso ainda for,  pode desaparecer como consequência da crise económica que o país atravessa. Quem o diz é  o sociólogo Elísio Estanque, que lança esta semana um livro sobre este tema.

A classe média "está em risco de um empobrecimento muito rápido" que pode levar a um "descontentamento mais amplo na sociedade portuguesa" e ao "enfraquecimento do sistema socioeconómico e do sistema democrático", explicou o autor do livro "Classe Média: Ascensão e Declínio".

Pois é. Também a classe média está a ver os pratos sem comida e, por isso, é levada a concluir que – como pretende o governo – viver sem comer é algo que até agora só fez aumentar o número de óbitos.

Para o sociólogo, a classe média em Portugal tem "dificuldades acrescidas" em relação a outros países ocidentais, que resultam de processos tardios quer de industrialização quer de adopção de um regime democrático.

Por isso, "a classe média que Portugal conseguiu edificar" foi criada num "processo muito rápido, pouco consistente, que resultou sobretudo da expansão do Estado social e que, na sequência dos anos 80 do século passado, sujeita a um discurso mais ou menos eufórico orientado para o consumo e para um certo individualismo, criou um conjunto de expectativas relativamente às oportunidades do sistema".

Dir-se-ia que, bem vistas as coisas, a culpa acaba mesmo por ser de Salazar que ensinou o seu povo a viver com dificuldades mas que, de facto, não o preparou para a sociedade de consumo. E assim sendo, toda a fartura acabou agora por se transformar em farelo.

A crise económica que Portugal enfrenta está a defraudar  expectativas de que haverá, ou haveria, mais vida para além do défice. E como, pelos vistos, tudo termina com o défice, a sociedade portuguesa começa a raciocinar com barriga… vazia.

Muitos jovens, que fazem parte da classe média mas que têm formação superior, vivem uma "condição de precariedade e insatisfação relativamente às instituições e à classe política", sendo esta faixa da sociedade que "alimenta os movimentos de protesto", explica Elísio Estanque.

Não creio, contudo, que sejam só os jovens a alimentar os movimentos de protesto. Também os mais velhos, aqueles que são demasiado jovens para se reformarem e demasiado velhos para conseguir trabalho, parecem estar dispostos a pegar os bois pelos cornos.

Já não têm, é certo, a vitalidade física de outros tempos, mas têm a experiência de vida que lhes dá uma pontaria mais certeira e que evitará gastar demasiadas munições.  Pontaria intelectual, entenda-se.

Diz Elísio Estanque que são os jovens que  "incutem um novo discurso, uma nova leitura relativamente ao funcionamento da sociedade e recorrem a outro tipo de meios e de leituras da realidade. Se esses sinais conseguirem ser capitalizados e absorvidos pelos agentes da nossa vida política - partidos políticos, sindicatos, instituições em geral - pode ser que as instituições se renovem a tempo de evitar o pior".

Evitar o pior já não é possível. Os jovens sabem que só há duas universidades em Portugal que lhes podem garantir um futuro promissor. É um número, convenhamos, muito curto. Além disso os cursos ministrados são cópias de qualidade duvidosa.

De facto, tanto faz tirar uma licenciatura na Universidade do PS como na do PSD. Alternadamente são elas que garantem emprego, seja nos partidos, nas empresas públicas, ex-públicas ou semi-públicas, na Assembleia da República e em outros organismos correlativos ao maçonismo.

"Estamos num momento de encruzilhada de viragem. Não é só Portugal. Estamos num mundo conturbado, estamos num momento de transição. Para o bem ou para o mal. A História está em aberto", refere Elísio Estanque.

E, embora admita que os portugueses não costumam "embarcar em excessos como aconteceu na Grécia", o sociólogo acredita que a ideia de que Portugal é um país de brandos costumes é um mito.

"Em vários momentos da sua história, os portugueses mostraram uma grande irreverência, capacidade de acção e até algum radicalismo", conclui Elísio Estanque.

Não creio, contudo, que os portugueses tenham deixado de ser um povo de brandos, muito brandos, costumes. Isto porque, ao longo das últimas décadas, os português aprender a nascer com coluna vertebral amovível e formatados para entenderem que o esclavagismo é a solução.

Solução para o défice, solução para a crise, solução para que o país tenha uma casta superior e uma plebe disposta a todos os sacrifícios para bem dos seus amos.

A importância da Lusofonia

A PASC,  Plataforma Activa da Sociedade Civil, irá promover no dia 24 de Fevereiro, na Sociedade de Geografia (Lisboa), mais um Encontro Público, desta vez sobre “A Importância da Lusofonia”.

“Estamos num momento de viragem. Após décadas de aposta exclusiva na Integração Europeia, Portugal vira-se também para o Espaço Lusófono, compreendendo enfim o potencial, ainda por cumprir, dessa viragem estratégica”, justifica a organização.

Neste Fórum, será feita uma reflexão sobre esse caminho de convergência com os restantes países e regiões do espaço lusófono – no plano cultural, mas também social, económico e político.

Caminho que não será apenas benéfico para Portugal, como também para os restantes países e regiões do espaço lusófono. Daí, de resto, os dois momentos deste encontro público: “a Importância da Lusofonia para Portugal” e “para toda a Comunidade Lusófona”.

A finalizar a sessão, será entregue o “Prémio Personalidade Lusófona” ao professor Adriano Moreira – iniciativa do MIL: Movimento Internacional Lusófono, entidade integrante da PASC e organizadora deste evento.

Simpatizar ou não com o PSD!

Uma professora de uma recôndita aldeia de Portugal, legitimamente adepta do PSD e do seu líder, Pedro Passos Coelho, explicava aos seus alunos  o que era ser não só social-democrata como, sobretudo, ser do PSD.

A professora pediu que levantassem a mão todos aqueles que fossem simpatizantes do PSD e de Pedro Passos Coelho. Todos os alunos, uns por temerem represálias e outros porque não faziam ideia do que se passava, levantaram a mão, excepto um menino que estava sentado no fundo da sala.

A professora olhou para o menino com surpresa e perguntou-lhe:

- Joãozinho, por que não levantaste a mão?

- Por que não sou do PSD nem simpatizo com Pedro Passos Coelho, respondeu o puto.

A professora perguntou de novo:

- Se não és do PSD e nem gostas de Pedro Passos Coelho, então com quem é que simpatizas?

- Com ninguém, respondeu com orgulho o Joãozinho.

A professora cujos ouvidos fanáticos não podiam dar crédito a algo assim, exclamou:

- Joãozinho, diz-me: porque não simpatizas com nenhum partido?

O menino muito tranquilo respondeu:

- A minha mãe não simpatiza, o meu pai também não, o meu irmão também não, por isso eu também não simpatizo!

- Bem, replicou a professora - mas isso não é um bom motivo.

Tu não tens que ser como os teus pais. Por exemplo, se a tua mãe fosse mentirosa, o teu irmão um ladrão e o teu pai um corrupto, com quem é que tu simpatizarias? Perguntou a professora.

- Nesse caso, respondeu o Joãozinho, aí eu seria simpatizante do PSD e de Pedro Passos Coelho.

sábado, janeiro 28, 2012

Quando a mangueira dá loengos...

A UNITA, através de Adalberto da Costa Júnior, afirmou ao Folha 8 não haver nenhum pacto secreto com o MPLA. Creio que apenas se registou um fenómeno africano: a mangueira deu loengos.

As dúvidas estão patentes no processo de devolução do património da UNITA, confiscado pelo governo durante o conflito armado e que constam, entre outras cláusulas, da rendição do Galo Negro, também chamada de  Acordos de paz entre as partes.

O calibre dos negociadores de um pacote de 95 milhões de dólares não deixam dúvidas: general Manuel Hélder Vieira Dias Júnior, “Kopelipa”, chefe da Casa Militar, general Leopoldino Fragoso, “Dino”, assessor do chefe da Casa Militar e Dr. Daniel Mingas, da Inteligência da Casa Militar por parte do MPLA e Adalberto da Costa Júnior, secretário do património, Cláudio Silva, secretário para os Assuntos Constitucionais e Demonsthenes Amós Chilingutila, membro da comissão Permanente, por parte da UNITA.

Só na cidade de Luanda, mais de 80 edifícios, pertença da UNITA, foram usurpados pelos homens do poder. Quando se rendeu, a UNITA julgou que o regime angolano era uma entidade séria e que o país era um Estado de Direito. Foi, mais uma vez, enganada. E o mais grave é que alguns dos seus dirigentes da altura sabiam que estavam a ser enganados.

Esses dirigentes preferiram trocar a mandioca do seu país real pela lagosta do país do MPLA.

Repetindo o que há muito é sabido, os dirigentes do Partido do Galo Negro, em Luanda, acusaram o governo angolano de agir com má fé no processo de devolução do património pertença da UNITA.

Adalberto Costa Júnior chegou a dizerà Voz de América que o seu partido iria recorrer às instâncias judiciais nacionais e internacionais para reaver o seu património que se encontra injustamente nas mãos de altas individualidades do poder político e de alguns generais.

"O que ocorreu é, infelizmente, fruto do período de guerra, o património da UNITA foi sendo ocupado pelas instituições e uma boa parte também por dirigentes ligados ao poder político e por militares, facto este que foi igualmente bastante analisado durante os acordos de paz. O governo angolano, até aqui, não cumpriu com os pressupostos", disse Costa Júnior.

Pois. Não cumpriu, e tenho dúvidas que venha a cumprir de facto, a não ser – como parece ter agora acontecido – que seja a troco de qualquer coisa menos ortodoxa. Acresce que também o povo angolano sabe muito bem como é gerido o seu país. E tanto sabe que, ao ser traído pela UNITA, resolveu votar no inimigo. Se os supostos amigos fizeram o que fizeram, era natural que tivessem de pagar a factura.

Além disso, não seria mau que a UNITA também dissesse que muitos dos seus generais que passaram para o outro lado da barricada, e que inclusive ajudaram a assassinar Jonas Savimbi, são os “legítimos” donos de parte desse património.

Ou, ainda, que explicasse como é que, entre outros, alguns dos seus generais (dos que estiveram até ao fim com o Mais Velho) são hoje dos homens mais ricos de Angola.

Adalberto da Costa Júnior tem desempenhado as suas funções o melhor que, certamente, sabe. Pena é que, para além de uma manifesta perda de memória em relação aos seus “irmãos” aposte mais, ou quase só, na reacção em vez de na acção.

Dele esperava-se (esperava eu que continuo ingénuo) mais do que andar a reboque dos acontecimentos. Acredito que, eventualmente por ordens superiores, Adalberto da Costa Júnior não possa fazer tudo o que queria ou, penso, o que sabe que deveria ser feito.

Adalberto da Costa Júnior teve uma boa escola mas, não sei se voluntariamente, deixou de regar, de adubar e de podar a árvore, convencido que ele sobreviveria só por si.

Mas se isso é grave, mais grave é ficar à espera que a mangueira dê loengos. Esperou, como é típico, sentado. Quando alguns, de boa fé, lhe disseram que assim não ia lá, resolveu não reconhecer a verdade, culpando o mensageiro e não lendo a mensagem.

Lei da probidade do regime angolano

A Assembleia Nacional angolana aprovou no dia 5 de Março de 2010,  com o devido destaque propagandístico da imprensa do regime e não só, por unanimidade, a Lei da Probidade Administrativa, que visa (de acordo com a versão oficial) moralizar a actuação dos agentes públicos angolanos.

Disseram na altura, e continuam a dizer agora, que o objectivo da lei é conferir à gestão pública uma maior transparência, respeito dos valores da democracia, da moralidade e dos valores éticos, universalmente aceites.

O presidente da República de Angola há 32 anos (sem ter sido eleito), do MPLA (partido no poder desde 1975) e chefe do Executivo angolano (para além de outros cargos), José Eduardo dos Santos, quando deu posse ao então novo Governo, entretanto remodelado, reafirmou a sua aposta na "tolerância zero" aos actos ilícitos na administração pública.

Apesar da unanimidade do Parlamento, e passado todo este tempo, o melhor é fazer, continuar a fazer, o que é aconselhável e prudente quando chegam notícias sobre a honorabilidade do regime, esperar (sentado) para ver se nos próximos dez anos (sei que estou a ser optimista) a "tolerância zero" sai do papel em relação aos donos dos aviários e não, como é habitual, no caso dos pilha-galinhas.

Essa lei “define os deveres e a responsabilidade e obrigações dos servidores públicos na sua actividade quotidiana de forma a assegurar-se a moralidade, a imparcialidade e a honestidade administrativa". É bonito. Digam lá que não parece – em teoria - um Estado de Direito?

Mas alguém acredita? Mas alguém está interessado? Acreditarão nisso os 68% (68 em cada 100) dos angolanos que são gerados com fome, nascem com fome e morrem pouco depois com fome?

Acreditarão nisso as 45% das crianças angolanas que sofrem de má nutrição crónica, sendo que uma em cada quatro (25%) morre antes de atingir os cinco anos?

Se calhar não acreditam. Têm, contudo, de estar caladinhos e nem pecar em pensamentos. Mas acredita, diz, José Eduardo dos Santos. E isso basta. Se calhar a Lei da Probidade Administrativa fará que Angola suba para aí meio lugar nos últimos lugares do “ranking” que analisa a corrupção.

Acreditarão na Lei da Probidade Administrativa todos aqueles que sabem, até mesmo os que dentro do partido batem palmas à ordem do chefe, que em Angola a dependência sócio-económica a favores, privilégios e bens, ou seja, o cabritismo, é o método utilizado pelo MPLA para amordaçar os angolanos?

Acreditarão na Lei da Probidade Administrativa os que sabem que 80% do Produto Interno Bruto é produzido por estrangeiros; que mais de 90% da riqueza nacional privada foi subtraída do erário público e está concentrada em menos de 0,5% de uma população de cerca de 18 milhões?

Acreditarão na Lei da Probidade Administrativa todos os que sabem que o acesso à boa educação, aos condomínios, ao capital accionista dos bancos e das seguradoras, aos grandes negócios, às licitações dos blocos petrolíferos, está limitado a um grupo muito restrito de famílias ligadas ao regime no poder?

Também não interessa se acreditam ou não. O importante é que o MPLA recebeu os encómios dos países acocorados perante o petróleo angolano, desde logo de Portugal.

Ó William Tonet!

Ó William Tonet.
A tua distracção
é no mínimo patética.
Então tu chamas
ao Manaças
e ao Ribeiro
Jornalistas?
Só se fosse nas antigas Repúblicas
Socialistas
da decadente União Soviética.


Eles, pela falta de inteligência e com uma coerência bastarda, são apenas cães de guarda da Presidência. Chama essas duas coisas pelos nomes, não te acanhes, não te envergonhes.

Esses dois senhores não são beija-flores, são uns reles beija-cus de vários urubus: Isabeis, Tchulés e outros comensais, os ministros, os gestores e os generais.

Andas muito cansado de observar tanta contradição e, só por isso, desculpo a tua distracção quando designas por jornalistas esses dois oportunistas escrevendo com fanatismo partidário no oficial pasquim publicitário, poluindo com uma opinião viciada de exagerado seguidismo.

Não lhes dês muita atenção, puxa-lhes só o autoclismo.

Texto de António Kaquarta