segunda-feira, março 31, 2008

Cem oficiais superiores da Polícia timorense
mandaram às malvas a língua… portuguesa

A Indonésia vai treinar os cem oficiais superiores da Polícia Nacional de Timor-Leste (PNTL), afirmou o secretário de Estado da Segurança timorense, Francisco Guterres. Porquê a Indonésia?

A explicação é simples, eficaz e directa: "Queriam mandar os líderes da PNTL para Portugal mas eles não falam a língua portuguesa. Falam mais o indonésio e por isso discutimos com a Indonésia para organizar o curso", explicou, presumo que em português, embora a Lusa não o diga, o secretário de Estado da Segurança timorense.

"Será um curso de liderança para tomarem decisões efectivas em situações difíceis", explicou Francisco Guterres, acrescentando que "se os comandantes da Polícia não tiverem essa capacidade de tomada de decisões, estragamos toda a instituição".

Entretanto, também hoje, a GNR iniciou a formação, presumo que em português, do primeiro curso de 31 elementos da PNTL e fará a formação directa de um segundo grupo.

Os 62 instrutores timorenses, que certamente ficarão subordinados aos 100 oficiais superiores que não falam português, serão responsáveis pela instrução de todos os elementos da Polícia, afirmou o secretário de Estado da Segurança.

"É uma instrução de instrutores, um curso de três meses em que o objectivo é incutir o espírito de corpo e disciplina nos elementos e prepará-los para dar instrução futura na PNTL", afirmou o tenente Luís Fernandes da GNR sem, contudo, se saber se a instrução é dada em português ou bahasa.

Calculo que, feitas as contas, Portugal em particular e essa coisa que dá pelo nome de CPLP (Comunidade de Países que às vezes são de Língua Portuguesa) em geral, devem estar satisfeitos.

E não é para menos. Até porque, creio eu, esses cem oficiais superiores da Polícia timorense sabem dizer algumas importantes palavras em português, como é o caso de “pastéis de Belém” e “vinho do Porto”.

Não adianta dar dignidade aos mortos
que em vida foram tratados como cães

O Comando Geral da Polícia Nacional de Angola vai propor aos familiares das vítimas do desmoronamento do edifício da DNIC, em Luanda, que o funeral das 29 vítimas mortais seja realizado em conjunto e com dignidade. Não está mal. Enquanto vivos foram tratados quem nem cães de pobre («Para o ministro Paihama os cães são mais importantes do que os angolanos»), depois de mortos fala-se de dignidade.

Com esse objectivo, segundo o porta-voz da Polícia Nacional, Carmo Neto, elementos da corporação vão reunir-se com as famílias das vítimas mortais do desastre, garantindo à partida todos os custos do processo. Só à partida porque, bem vistas as coisas, o Estado do MPLA parece ter falta de dólares. Francamente.

Entretanto, o Ministério do Interior criou um centro nas proximidades da Cidadela Desportiva onde estão vários psicólogos para prestar apoio e acompanhar os familiares das vítimas. Não acompanharem as vítimas enquanto estavam vivas. Mas, para o mundo ver, vão acompanhar – à partida – as famílias… até à próxima queda.

domingo, março 30, 2008

Jaime Gama elogiou João Jardim
e “estuprou” a "virgindade" socialista

José Sócrates está farto de dizer que os socialistas têm toda a liberdade para estarem de acordo com ele. Também tem dito que no PS há total liberdade para estar de acordo com o secretário-geral. Tem ainda acrescentado que no Governo todos têm liberdade para estarem de acordo com o primeiro-ministro.

A prova da liberdade socialista está no facto, por exemplo, de a Comissão Regional do PS/Madeira ter aprovado hoje um voto de protesto contra os elogios do "camarada Jaime Gama", na qualidade de presidente da Assembleia da República, ao presidente do Governo Regional, Alberto João Jardim.

Querem melhor exemplo de liberdade de opinião (refiro-me ao voto de protesto)?

A comissão considera que o socialista “ofendeu todos os cidadãos deste país, particularmente aqueles que, na Região Autónoma da Madeira, têm sido severamente prejudicados, no seu corpo e na sua alma, pelo exercício autocrático do poder regional vigente, já lá vão trinta anos".

Ora aí está. Quanto aos outros que, no continente, “têm sido severamente prejudicados, no seu corpo e na sua alma, pelo exercício autocrático do poder vigente”… que se lixem.

"Elogiar alguém que tem perseguido madeirenses, ofendido sistematicamente os seus adversários políticos, atentado constantemente contra a unidade da Pátria e atacado sucessivamente, muitas vezes de forma boçal, os titulares de órgãos de soberania e os mais altos detentores de cargos políticos deste país é no mínimo uma falta de respeito para com os princípios indeléveis que enformam o socialismo democrático, como sejam a Liberdade e a Democracia, a que todos estão vinculados quando aderem ao Partido Socialista, quanto mais um dos seus fundadores", acusa o PS no voto de protesto dos socialistas madeirenses, aprovado por unanimidade na Comissão Regional.

Convenhamos que Sócrates não diria melhor.

Em conferência de imprensa, o presidente da Comissão Regional do PS/M, António Rosa, acrescentou que o partido "tornou este protesto público porque os madeirenses já aprenderam que os erros políticos não devem ser repetidos. Já basta que na altura de António Guterres tenham vindo à Região inúmeros ministros para fazerem a propaganda de Alberto João Jardim".

Aí está. Ninguém do Governo da República, nem mesmo o presidente do Parlamento, tem nada que ir em visita oficial à Madeira. E, se for, deve esquecer todas as regras de civilidade e lembrar-se apenas que é socialista.

Serão os Jornalistas imbecis e criminosos?
- Se não querem ser lobos não vistam a pele

Quando faltam critérios editoriais de carácter jornalístico, vigoram nos media portugueses os critérios editoriais do estilo “self service” ao qual, por regra, têm acesso privilegiado todos aqueles que estão no poleiro, seja político, empresarial, cultural etc.. O que é notícia, o que é do interesse público, o que é válido é perfeitamente irrelevante numa sociedade de aparências, de favores, de corrupção, de compadrios, de manipulações.

Se o Jornalista não procura saber o que se passa é, foi assim que aprendi com os mestres, um imbecil. Se o Jornalista consegue saber o que se passa mas, eventualmente, se cala é um criminoso.

Será por tudo isto que são cada vez mais os portugueses que não conseguem, ou não querem, comer gato por lebre e dizem que no jornalismo há cada vez mais imbecis e criminosos?

Também aprendi com os mestres que o “produto” jornalístico tinha obrigatoriamente de ser uma referência de credibilidade e não, como agora acontece, uma correia de transmissão de interesses cada vez menos claros.

Quem analisar hoje os media das ocidentais praias lusitanas encontra, na maioria dos casos, pouca informação, rara formação e quase nula investigação. Isto acontece ainda porque, dada a precariedade profissional, a grande maioria aceita fazer tudo o que o «chefe» manda (mesmo sabendo que este para contar até 12 tem de se descalçar), este aceita fazer tudo o que o director manda, este aceita fazer tudo o que a Administração manda, e esta aceita fazer tudo o que dê lucro.

Será por tudo isto que são cada vez mais osportugueses que não conseguem, ou não querem, comer gato por lebre e dizem que no jornalismo há cada vez mais imbecis e criminosos?

Não deixa, contudo, de ser curioso que – nesta matéria e neste contexto – quanto mais imbecis e criminosos forem os jornalistas, mais hipóteses têm de subir na carreira, seja esta nos media propriamente ditos ou nas assessorias políticas.

Deixe-me rir senhor ministro
Roberto Leal Monteiro “Ngongo”

O ministro do Interior de Angola, Roberto Leal Monteiro "Ngongo" acusou hoje uma "certa imprensa religiosa", sem especificar como é timbre dos ditadores ou dos seus aprendizes, de estar a espalhar notícias falsas sobre o principal interesse das equipas de resgate do edifício da DNIC, em Luanda.

O governante explicou ao jornalistas, no final de uma visita inesperada ao que resta do edifício da DNIC do Presidente da República, José Eduardo dos Santos, que a tal "imprensa religiosa" está a divulgar informação errada dizendo que as equipas de salvamento estão "mais interessadas" em procurar "diamantes e dinheiro" do que em salvar as pessoas dos escombros.

Como é que isso seria possível? Se calhar até é essa imprensa a responsável pela queda do edifício. Aliás, de tanto alertar que o edifício estava para cair, de tanto dizer que fazer obras de fachada era tapar o sol com a peneira, terá sido essa imprensa a principal responsável pela derrocada. É isso, não é senhor ministro Roberto Leal Monteiro?

Visivelmente irritado (o que só prova que não há fumo sem fogo), Roberto Leal Monteiro, disse ainda que este tipo de atitude da "imprensa religiosa" não está a facilitar os trabalhos, desmentindo a informação e garantindo o "total empenho" das equipas de salvamento que procuram os sobreviventes das ruínas.

Sabendo-se que de facto no edifico não faltavam (pelo menos até à derrocada) diamantes e milhões e dólares, vamos agora ver se eles aparecem ou se, por obra e graça da”imprensa religiosa”, desapareceram misteriosamente.

Os alegados diamantes e dinheiro presentes do edifício que se desmoronou na madrugada de sábado justificam-se enquanto provas dos processos investigados pela Direcção Nacional de Investigação Criminal a funcionar no ex-edifício há largos anos.

E, ao que tudo indica (não é senhor ministro Roberto Leal Monteiro?) essas provas vão esfumar-se no meio dos escombros, perdendo-se o seu rasto.

sábado, março 29, 2008

Entre a fome e a miséria para a maioria
Timor-Leste estende a mão aos doadores

O primeiro-ministro do Timor Leste, Xanana Gusmão, defendeu hoje perante os doadores internacionais, uma estratégia para alterar "a situação de povo pobre em país rico". A definição do ex-presidente da República não anda longe da verdade. O que ele deveria dizer é que o povo é pobre (e assim vai continuar se não mudar de políticos), que o país é rico e que alguns dos seus dirigentes são muito ricos.

"Creio que todos os parceiros de desenvolvimento de Timor Leste consideraram que a mudança de estratégia que este governo apresentou pode mudar esta situação de povo pobre em um país rico", afirmou o primeiro-ministro no encerramento de um encontro de doadores internacionais.

Este governo senhor Xanana Gusmão? Este governo fez o quê? Mudança de estratégia? Sim, para pior.

"As decisões não vão ser fáceis e fomos também alertados de que o programa é ambicioso. Sabemos disso", disse Xanana Gusmão, no final dos dois dias de reunião em que mais uma vez os pobres dos países ricos vão ajudar os ricos dos países pobres.

Para a reunião de doadores, o governo timorense preparou um documento em que expôs as seis prioridades de desenvolvimento para 2008, sob o título "Trabalhando em Conjunto para Construir os Alicerces da Paz e Estabilidade e Melhorar as Condições de Vida dos Cidadãos Timorenses".

Só o título diz tudo. Ou seja, que tudo vai ficar na mesma, tanto para os poucos que têm milhões, como para os milhares que têm pouco, ou nada.

Segurança pública, segurança social e solidariedade, política de juventude, emprego e criação de rendimento, aumento da eficácia dos serviços sociais e, por último, gestão limpa e eficaz constituem as prioridades apresentadas pelo Executivo.

Até dá a impressão que Xanana Gusmão e José Ramos Horta só agora chegaram ao país e que, por isso, nada têm a ver com o que foi, ou não, feito nos últimos anos.

No discurso de encerramento, Xanana Gusmão deu alguns exemplos do que o governo do país fez e pretende fazer para concretizar essas prioridades.
"O governo está a providenciar segurança jurídica sobre os direitos de propriedade, que vão, ainda este ano, fechar parte da lacuna existente" nessa área, anunciou o primeiro-ministro. Brilhante. Nada mais importante para um país em que o povo parece condenado a ser gerado com fome, a nascer com fome e a morrer com fome.

"Para melhorar o sector público de prestação de serviços, estamos também a estudar formas mais eficientes de investimento do Fundo de Petróleo. Este está a aumentar gradualmente, havendo potencial para um maior aumento no retorno dos investimentos", afirmou Xanana Gusmão, como se este feito fosse da sua única responsabilidade.

"Como contrapartida da generosidade, mas também, e não menos importante, do apoio moral" dos doadores, Xanana Gusmão prometeu "garantir a transparência dos processos e dos financiamentos e a obtenção de resultados concretos e quantificáveis, como prova de bom desempenho".

A frase foi tirado dos manuais que têm uso generalizado, seja no Burkina Faso, em Angola ou, é claro, em Timor-Leste.

Mas seja. Com a habitual cobertura da comunidade internacional, Timor-Leste irá continuar à deriva, cantando e rindo, lavado, levado sim, pela mão dos donos… australianos.

Igreja não vai à missa de Sócrates
Sócrates não vai à missa da Igreja

O porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) reclamou hoje uma “ética política exigente” que não esteja à “à mercê dos interesses imediatos”, como sucede algumas vezes em Portugal. Algumas vezes? Viva a moderação.

Em declarações à Agência Lusa, a poucos dias de uma Assembleia Plenária em que poderá deixar o cargo de porta-voz da CEP, D. Carlos Azevedo disse o que cada vez mais portugueses pensam. Criticou o Governo socialista, considerando que “numa ou noutra medida houve firmeza contra interesses instalados mas em muitos outros sectores demonstrou insegurança nas razões das medidas tomadas”.

Questões como as capelanias hospitalares, o apoio às instituições de solidariedade, o aborto (a favor do qual só estão os que já nasceram) ou a nova proposta de alteração da legislação do divórcio são alguns dos temas que suscitaram e suscitam críticas em vários sectores da Igreja.

Para D. Carlos Azevedo, o executivo “fica um pouco à mercê de algumas influências num ou noutro ministério”, que opta por “medidas erráticas”, prejudicando os objectivos políticos iniciais.

Exemplo disso foi a promessa de apoio às mulheres grávidas na discussão sobre o aborto, nota o porta-voz da CEP, recordando que o PS prometera que a interrupção voluntária da gravidez seria autorizada num quadro de acompanhamento global que nunca existiu.

“Foi mentira, engano e ludibrio dos portugueses aquilo que se dizia num discurso meramente de marketing para captação de votos”, considerou D. Carlos Azevedo, salientando que são agora as estruturas católicas que têm mostrado a sua “efectiva presença nos dramas que as pessoas vivem, não tentando absolver as pessoas mas compreendendo as sua decisões e colmatando os erros”.

Na sua opinião, que também é a minha, o país e os responsáveis políticos vivem uma “ausência de orientação por verdadeiras causas civilizacionais”, preferindo o “imediatismo pragmático de soluções sem uma visão de futuro das consequências dessas medidas”.

Faço minhas as tuas doridas palavras
meu caro irmão e amigo Uabalumuka

«A hora é de dor, de luto, mas também de raiva. Um edifício de sete andares, situado no município do Rangel, ruiu. Desabou. O edifício, ocupado pela DNIC (Direcção Nacional de Investigação Criminal), servia de prisão para as pessoas que esperavam investigações diversas. Por outras palavras pessoas ainda inocentes (o que para o caso não é muito importante).

Segundo as informações o edifício começou a ruir pela uma hora da manhã, e desabou às 4:30 horas. Durante 3 horas e meia, NINGUÉM evacuou as pessoas, nem detidos, nem funcionários.

O edifício tinha tido obras meses atrás. De fachada obviamente. Para jornalista e estrangeiro ver. Um dos responsáveis no local deu como primeira causa do desabamento a idade... A idade???

Para além da dor, das lágrimas com que os meus olhos teimam em encher-se, não consigo deixar de sentir raiva, raiva pela incúria, pelo desmazelo, pelo desprezo pelas pessoas com que o MPLA governa Angola.

Enquanto o Presidente faz obras sumptuosas (cortando até ruas) e constrói palácios para viver, enquanto que dirigentes do MPLA, gastam fortunas comprando mansões no Alvalade ou em Luanda Sul, enquanto que as empresas estrangeiras e até nacionais gastam centenas de milhões de dólares em prédios de dezenas de andares um pouco por toda a Luanda (que esperam alugar por fortunas mensais), enquanto um grupo de imitadores patéticos gastam biliões de dólares ao estado angolano para construir duas penínsulas privadas em plena baía de Luanda, assoreando esta e fazendo com que num futuro próximo a Ilha de Luanda vá desaparecer, os edifícios governamentais seguem sem reabilitação, sem cuidados, sem elevadores, sem água, muitas das vezes sem portas e sem janelas decentes, sem pinturas, sem cuidados de alguma espécie, esperando apenas o desabamento.

Quem assumirá a culpa de toda esta desgraça?

Ninguém, porque o MPLA nunca se considera culpado de ter desgraçado o País, porque o senhor Engenheiro nunca se considera culpado de ter desgraçado o País.

Os angolanos em geral, e os familiares das vitimas, vão mais uma vez gritar a sua dor, mas ninguém os vai consolar, ninguém os vai indemnizar.

Até quando, até quando vamos aguentar estes corruptos? Até quando vamos sofrer estas humilhações diárias?»

Ver também
http://umdiateremos.blogspot.com/

sexta-feira, março 28, 2008

RTP, Governo, Oposição e similares
(quase tudo farinha do mesmo saco)

O director de Informação da RTP refutou hoje as acusações do deputado social-democrata Agostinho Branquinho de favorecimento do Governo no Telejornal de quarta-feira, sustentando que a entrevista ao ministro das Finanças foi "trabalho jornalístico e não propaganda".

Numa carta dirigida ao director de Informação da RTP, José Alberto Carvalho, o deputado Agostinho Branquinho afirma, reportando-se ao Telejornal de quarta-feira da RTP1, cujo tema de abertura foi a anunciada descida do IVA, que o tempo utilizado por "um membro do Governo foi largamente superior" ao dos partidos da oposição, nomeadamente o PSD.

"Entendeu a RTP convidar para uma entrevista em directo e no estúdio do Telejornal o Senhor ministro das Finanças e ouvir vários agentes políticos e o Senhor governador do Banco de Portugal", escreve Agostinho Branquinho, acrescentando que "o espaço temporal ocupado pelo Governo foi largamente superior ao da oposição e ao do seu principal partido - o PSD".

Reagindo, em declarações à Agência Lusa, às afirmações do deputado com a pasta da Comunicação Social, o director de Informação da RTP, José Alberto Carvalho, sustentou que "quem assiste à entrevista vê trabalho jornalístico, não vê propaganda".

Bom. Cada um vê o que (mais) lhe interessa. Além disso, os critérios editoriais quando bem seguidos e preparados por bons profissionais conseguem, sem dificuldade, transformar uma peça de propaganda num comestível trabalho jornalístico.

Não é pelo tempo dado aos protagonistas, não é por ouvir a outra parte, não é por cruzar informação, não é por permitir o contraditório que um anúncio vira peça jornalística.

José Alberto Carvalho justificou a entrevista a Teixeira dos Santos com o facto de ter sido o Governo a anunciar a descida do Imposto de Valor Acrescentado (IVA) de 21 para 20 por cento.

"Quem toma as decisões é o Governo e são as reacções do partido que vamos ouvir?", questionou, considerando "preocupante" a "tendência para confundir tempo" de emissão "com propaganda".

Há, de facto, essa tendência. Tal como há, infelizmente cada vez mais, a tendência pala amplificar a voz dos que já têm voz, emudecendo a daqueles que a não têm. É, aceito, um tipo de jornalismo. Não é, contudo, o Jornalismo. Este trabalha para os milhões que têm pouco e não para os poucos que têm milhões.

O director da Informação da estação pública (o que quer dizer que também é paga por mim) entende que é "estranho" que o registo editorial da RTP tenha sido criticado, quando a SIC, propriedade do social-democrata Pinto Balsemão, "fez a mesma opção".

Aqui se vê como é fácil confundir a estrada da Beira com a beira da estrada. Não se contesta a opção nem a oportunidade. Estranha-se é a forma como se pretende vender gato por lebre... deixando o rabo de fora.

José Alberto Carvalho adiantou ter manifestado ao deputado Agostinho Branquinho "disponibilidade para uma reunião", embora "não lhe pareça razoável discutir o alinhamento de telejornais com políticos".

É claro que não se deve discutir o alinhamento editorial com políticos, sejam eles do Governo ou da Oposição. Numa estação pública o Governo, seja ele qual for, não precisa de discutir seja o que for já que, convenhamos, lá tem as suas pessoas de confiança e que nunca irão cuspir no prato que lhes dá comida.

Quanto às acusações de "comportamento reiterado da RTP face ao PSD", o director de Informação da televisão pública indicou que as mesmas "foram desmentidas pelos factos" em pareceres da Entidade Reguladora para a Comunicação Social.

Essa não. A Entidade Reguladora para a Comunicação Social dá os pareceres que entender mas, creio, não é dona da verdade e nem sempre conhece a realidade editorial dos media.

Não me recordo (mas certamente o presidente da Entidade Reguladora para a Comunicação Social, Azeredo Lopes, fará o favor de mandar alguém informar-me caso esteja errado) de ver esta entidade, ou qualquer outra, deliberar, emitir pareceres ou opinar sobre os jornalistas que viram assessores dos políticos para depois, mudando o titular do tacho, voltarem a ser jornalistas.

É claro que, num país de brandos costumes, fica sempre bem tapar o sol com uma peneira e reagir em vez de agir. Fica bem, é fácil, é barato e dá milhões.

Jornalismo(?) à medida e por medida

A União Empresarial do Vale do Minho (Portugal) vai a votos na próxima segunda-feira. Todos os media portugueses sabem disso. Nenhuma notícia foi dada até hoje e, certamente, até ao dia da votação serão dadas uma ou duas, na melhor das hipóteses. Porquê? Porque não é notícia? Não. Exactamente por o ser é que deixa de o ser.

Explico. À Direcção existente e que concorre à reeleição opõe-se uma outra que promete mexer com as coisas. À existente não interessa fazer ondas e o anúncio da existência da uma lista concorrente iria baralhar o jogo. Os média, ao contrário do que lhes cabe, preferem dar voz a quem já a tem, e estar de bem com quem está no poder.

Eis mais um exemplo de que o homem pode morder o cão e não ser notícia, e de que o cão pode morder o homem e ser notícia. Tudo depende do típico “desde que”.

«Desde que» significa ligações, conhecimentos, interesses etc.. Se o dono do cão que mordeu conhecer um jornalista, de preferência chefe, passa a ser notícia. Se o dono do cão que foi mordido pelo homem não conhecer um jornalista, de preferência chefe, não é notícia.

É claro que nada disto preocupa o Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas, os Conselhos de Redacção, a Comissão da Carteira Profissional dos Jornalistas, a Entidade Reguladora para a Comunicação Social ou seja quem for.

Preocupa-me a mim e a mais meia dúzia de malucos que, ingénua e infantilmente, ainda acreditam que no Jornalismo é mais importante a força da razão do que a razão da força.

Aumentar o IRC para a banca?
-Isso é que era bom. Era, era.

O secretário-geral do PCP desafiou hoje o primeiro-ministro de Portugal a baixar o IVA para 19 por cento e a aumentar a taxa de IRC para a banca para 20 por cento, reptos que ficaram sem resposta. É claro. Alguém se atreve a beliscar os coitados dos bancos?

No debate quinzenal na Assembleia da República com José Sócrates, Jerónimo de Sousa recordou que o PCP já tinha proposto a redução do IVA de 21 para 20 por cento - anunciada quarta-feira pelo Governo - em Novembro do ano passado, durante a discussão do Orçamento de Estado para 2008.

"Sejamos sérios: as condições que o Governo agora diz existirem, já existiam em Novembro", defendeu o secretário-geral do PCP, deixando um desafio a José Sócrates: "Que aceite baixar o IVA para 19 por cento já em Julho ou, no máximo, no início de 2009".

Na resposta, o primeiro-ministro não se pronunciou sobre este repto (aliás, só se pronuncia sobre o que lhe é conveniente) mas contestou que o Governo tivesse condições para baixar o IVA antes de conhecer os dados orçamentais relativos a 2007, o que aconteceu quarta-feira, quando o Instituto Nacional de Estatística anunciou que o défice público se situou no ano passado nos 2,6 por cento.

O líder do PCP recordou, numa autêntica e histórica pregação no deserto, que o sector da banca aumentou os lucros em relação a 2006 (mais 202 milhões de euros) mas pagou menos impostos (menos 156 milhões de euros).

"Diz que tem coragem, mas em relação à banca tem uma coragem de lama", acusou Jerónimo de Sousa, desafiando o Governo a fixar em 20 por cento a taxa mínima de IRC a pagar pela banca, ainda assim abaixo dos 25 por cento pagos pela maioria das empresas.

Ao seu estilo, José Sócrates não respondeu. Espera-se que nas próximas eleições os portugueses respondam à letra, se para tal os tiverem no sítio.

quinta-feira, março 27, 2008

Quando será que Lisboa deixa
de brincar com os timorenses?

O Governo português aprovou hoje um protocolo de cooperação entre Portugal e a Republica Democrática de Timor-Leste, com incidência nos domínios da educação e cultura, que visa a criação da Escola Portuguesa de Díli.

A maioria dirá: mais vale tarde do que nunca. Contudo, eu prefiro dizer que Portugal está não só a dormir na forma como a tentar tapar o sol com uma peneira.

No comunicado do Conselho de Ministros refere-se que o acordo visa "intensificar a cooperação bilateral" entre Portugal e Timor-Leste "com especial incidência nos domínios do ensino, cultura e língua, bem como do intercâmbio cultural e da valorização da língua portuguesa".

Das boas intenções portuguesas estão os timorenses cheios e, aliás, não faltam países que em vez de promessas executam obra. Veja-se, por exemplo, no campo do ensino e da saúde a forma como os cubanos comem os lusos de cebolada.

Com o decreto, o executivo de Lisboa diz que se visa "a criação da Escola Portuguesa de Díli como estabelecimento não integrado na rede pública do ensino timorense". Sim. Bem visto. Uma escola de elite para as elites que em Timor têm direitos e poderes que são uma miragem para os timorenses.

O objectivo, segundo o Governo de LIsboa, é "contribuir para qualificar crianças e jovens timorenses, promover o ensino do português e a difusão da língua e cultura portuguesas".

Que gozem com a minha chipala, ainda vá que não vá. Agora que teimem em brincar com os timorenses, ao quererem vender-lhes a prima do mestre de obras como se fosse a obra-prima do mestre, essa não aceito.

"Educação e formação ao longo da vida" são outras metas associadas à criação da Escola Portuguesa de Díli. Só mesmo este Governo das ocidentais praias lusitanas para querer dar a imagem de quem promete usar caçadeiras para caçar elefantes no… Alentejo.

Afinal vale a pena lutar pelos angolanos

Conversei hoje e durante duas horas com António Alberto Neto, presidente do Partido Democrático Angolano (PDA). Numa altura em que cada vez mais angolanos na diáspora (entre os quais eu) se interrogam se vale a pena continuar a luta, se vale a pena acreditar em Angola, encontrei um Homem que, só por si, prova que continua a valer a pena acreditar e – é claro – lutar.

Angola vive uma situação conhecida mas nem sempre reconhecida pelos mais importantes areópagos da política internacional, casos da ONU, União Europeia e – já agora – CPLP. Ou seja, que 80% da população vive (se é que se pode chamar viver) com menos de um dólar por dia.

Também não se sabe se vai haver eleições porque, como recorda Alberto Neto, o que existe é uma mera declaração de intenções do presidente José Eduardo dos Santos. Além disso, contrariando quer os exemplos de outros países lusófonos quer a própria Constituição, os angolanos de segunda – os da diáspora – continuam impedidos de votar.

Na diáspora são com certeza mais de um milhão mas, porque isso convém ao regime ditatorial de Luanda, são considerados angolanos de segunda. Eduardo dos Santos alega falta de meios para efectuar o recenseamento por esse mundo fora, mas não faltam meios para que esses angolanos sejam obrigados a fazerem o recenseamento militar.

Habituado à luta, em parte moldada por várias passagens pelas prisões do regime, Alberto Neto (terceiro candidato mais votado na primeira volta das eleições presidenciais) continua a pensar que não há comparação entre o que se perde por fracassar e o que se perde por não tentar. Daí que, contra ventos e ditadores, vá tentando dar voz a quem a não tem, vá lutando pelos milhões que têm pouco ou nada, mesmo quando tem pela frente adversários que, embora poucos, têm milhões. Muitos milhões.

Numa curiosa definição da política angolana, Alberto Neto diz que o PDA está na oposição e não na posição. Posição, digo eu, em que estão muitos dos que deveriam ser oposição mas que, em vez de lutarem para serem os primeiros, aceitam passivamente ser os primeiros… dos últimos.

Depois não digam que Mugabe não avisou

O Presidente do Zimbabué acusou os rivais de mentirem em relação a eventuais fraudes preparadas para as eleições gerais de sábado e alertou contra qualquer recurso à violência no caso de a oposição ser derrota.
"Vocês não param de mentir sobre as eleições, sobre o facto de estarem viciadas", afirmou Robert Mugabe, dirigindo-se aos rivais, num comício eleitoral, na região de Nyanga (leste), de acordo com o jornal estatal The Herald.

"Sabemos que vão buscar essas mentiras aos vossos mestres, porque esses mestres dizem agora que as eleições não serão livres e justas. São uns mentirosos, diabólicos mentirosos. Nunca dizem a verdade sobre nós, no Número 10 de Downing Street, nem em Washington", afirmou Mugabe.

Aos 84 anos, Robert Mugabe concorre a um sexto mandato presidencial, apoiado pela União Nacional Africana do Zimbabué - Frente patriótica (Zanu-PF).


Os candidatos da oposição são Morgan Tsvangirai, ex-sindicalista e presidente do Movimento para a Mudança Democrática (MDC), e o antigo ministro das Finanças (expulso da Zanu-PF), Simba Makoni.


"Queremos alertar o MDC. Ouvimos dizer (...) que se a Zanu-PF vencer serão organizadas manifestações, como aconteceu no Quénia", adiantou Mugabe. "Não corram sequer o risco de tentar! (Se tentarem) verão o que vos acontece", avisou.


No Quénia, pelo menos 1.500 pessoas foram mortas em confrontos registados após a reeleição, contestada pela oposição, do Presidente Mwai Kibaki, em Dezembro.

"Queremos que as eleições decorram numa atmosfera pacífica. Não queremos disparates depois da vitória", alertou o Presidente.

"Quando participam num confronto político, na cena eleitoral, têm que estar preparados para perder. Se a Zanu-PF ganhar, têm que aceitar, se ganharem vocês (oposição), aceitaremos esse facto", disse Mugabe, contrariando declarações anteriores.

Robert Mugabe, à frente dos destinos da nação, quer como primeiro-ministro quer como presidente, desde a independência do Zimbabué do Reino Unido a 18 de Abril de 1980, afirmou durante a campanha eleitoral, referindo-se aos outros dois candidatos presidenciais, que nenhum deles governará o país enquanto ele for vivo.


Em acentuado declínio económico, financeiro, social e político desde o ano 2000, esta outrora próspera nação da África Austral enfrenta no presente desafios tremendos: uma ausência quase total de liberdades individuais e colectivas, a maior taxa de inflação do mundo (acima dos 150 mil por cento ao ano), um índice de desemprego de 80 por cento, quase total paralisia económica e êxodo em massa dos seus cidadãos para o exterior.

Portugal não tem dinheiro para apoiar
o ensino do português na Venezuela

Portugal não tem dinheiro disponível para apoiar iniciativa das autoridades venezuelanas de inclusão, a partir de Outubro, da língua portuguesa no currículo oficial de ensino. Nem mais. Preto no branco, a língua… portuguesa que espere por melhores noites.

Não. Não sou eu que o digo. É o próprio secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e Cooperação.

João Gomes Cravinho salientou que Portugal "vive uma conjuntura de enormes oportunidades no que toca ao ensino da língua portuguesa e à promoção da língua portuguesa no estrangeiro conjugada com exiguidade de recursos".

De facto é um bocado complicado ter enormes oportunidades quando não se tem, ou se diz que não se tem, ou se gere mal o que se tem em matéria de recursos.

O governo venezuelano decidiu incluir a língua portuguesa como disciplina opcional no currículo oficial do próximo ano lectivo, para o que vai avançar com um programa piloto em 14 escolas do Estado de Carabobo, uma importante localidade situada 250 quilómetros a oeste de Caracas.

Contudo, a falta de professores poderá condicionar o desenvolvimento da iniciativa. Penso que não faltarão professores dispostos a fugir do reino luso para dar aulas na Venezuela, mau grado a turbulência que o país vive graças à demagogia ditatorial do democrata socialista Hugo Chávez.

"Não podemos deixar fugir estas oportunidades. É evidente que se falharmos nesta fase dos projectos piloto, se a língua portuguesa falhar, não por qualquer desinteresse por parte dos venezuelanos na língua portuguesa, mas por incapacidade do Estado português, não estaremos a responder à altura das nossas necessidades", frisou João Gomes Cravinho, dando uma no cravo e outra na ferradura.

Instado a precisar se as soluções referidas sairiam do Ministério da Educação ou do Instituto Camões, João Gomes Cravinho defendeu que cabe ao Estado português no seu todo resolver a situação.

"Será ao nível do Estado português. Neste momento, não existem novas verbas que se possam inventar nas instituições referidas. Portanto, temos que encontrar novos mecanismos de financiamento, novos mecanismos de apoio a algo que é imprescindível para a projecção externa de Portugal", realçou.

Esperemos, portanto, para ver o que vai desencantar o Governo Português. Acredito, contudo, que o dinheiro vai aparecer, como aparece sempre que uma época eleitoral se aproxima.

quarta-feira, março 26, 2008

O que é isso de «Os Lusíadas»?

Creio que é benéfico para as novas gerações socialista (e similares) atirar «Os Lusíadas» para canto e, é claro, pôr no seu lugar os ilustres saramagos que das armas e dos barões assinalados nem querem ouvir falar. Se Saramago ganhou o Nobel, convenhamos que deve ser bom. Por alguma razão Jorge Amado nunca venceu esse prémio!

Destas ocidentais praias lusitanas, sem pretender ir além da taprobana, sempre vos confesso que, por muito que tente (e já tentei algumas vezes), há duas coisas que não consigo digerir: os livros de José Saramago e os filmes de Manoel de Oliveira.

É, com certeza, defeito de fabrico... ou culpa de Luís Vaz de Camões (já agora!).

«De África tem marítimos assentos;
É na Ásia mais que todas soberana;
Na quarta parte nova os campos ara;
E se mais mundo houvera, lá chegara!»

Se estes versos faziam sentido e eram sentidos quando se falava da Pátria, hoje já não fazem porque, cada vez mais, somos um país e não já esses heróis do mar, nobre povo, Nação valente que deu luz ao Mundo.

E se assim é, qualquer semelhança entre as gerações que leram (nem sempre da forma mais correcta, reconheça-se) «Os Lusíadas» e as que têm de aturar José Saramago é mera coincidência. Mudam-se os tempos... mudam-se os heróis.

Se já não temos gigantes, o melhor é ficar com os pigmeus. Se já não temos Pátria (e nem dela queremos falar), o melhor é ficar pelo país que, embora à beira mar plantado, se limita a meter água e a deixar os outros (até mesmo um da Lusofonia - o Brasil) tomar conta dos mares nunca antes navegados.

Camões era daqueles que (como disse Theodore Roosevelt) considerava ser muito melhor arriscar coisas grandiosas, alcançar triunfo, glória, mesmo expondo-se à derrota, do que formar fila com os pobres de espírito que nem gozam muito, nem sofrem muito, porque vivem numa penumbra cinzenta, que não conhece nem a vitória nem a derrota.

E num país cinzento que prefere ser ignorante a perguntar o que não sabe, joga-se para o empate (ou para uma suave derrota). Vitórias são coisas demasiado arriscadas. Glória? Para quê?

Ceder o espaço aéreo e a base das Lajes aos dólares do tio Sam já é, para os nossos políticos, uma obra gloriosa tão digna como a que nos levou a vencer o Adamastor e a dobrar o Cabo das Tormentas.

E para cantar esses feitos não faltarão ilustres escritores, bem mais dotados do que Luís de Camões e, creio, mais politizados, mais europeus, mais globais.

Fará algum sentido, perguntam os ilustres coveiros de «Os Lusíadas», dizer hoje:

«Que eu canto o peito ilustre lusitano,
A quem Neptuno e Marte obedeceram;
Cesse tudo o que a Musa antiga canta,
Que outro valor mais alto se alevanta»?

É claro que não. Os estudantes não precisam de saber estas coisas. É mais cultural manter as tradições e assassinar touros em Barrancos...

Certamente que a estas teses o ministro de Educação (seja ela, ou ele, qual for) junta muitas outras, socialistas ou não.

Já viram as indemnizações que Portugal terá de pagar se alguma tribo africana se lembra de ler «Os Lusíadas» e aí encontrar, preto no branco, matéria de facto para pedir contas aos senhores Cavaco e Sócrates deste país?Por tudo isso, convenhamos que o melhor é banir tudo o que foi da Pátria e passar a dizer que Portugal só passou a existir a partir do dia 25 de Abril de 1974.

Governo de Sócrates acusado
de ter falhado em toda a linha

A Associação Sindical dos Funcionários de Investigação Criminal (ASFIC) da Polícia Judiciária (PJ) de Portugal considerou hoje, data do seu 25º aniversário, que o Governo "falhou em toda a linha" nas duas "reformas essenciais à instituição". A ASFIC refere-se, em comunicado, à Lei Orgânica da PJ e à Lei das Carreiras.

"(O Governo) não cumpriu os prazos para estas duas reformas. Os funcionários da PJ estão há dois anos à espera de uma nova Lei Orgânica que reestruture a instituição e a adapte aos novos tempos e à nova realidade criminal, bem como estamos há um ano e meio à espera de um reformulação das carreiras, reforma essa prometida pelo Ministério da Justiça, como forma de resolver todos os problemas da instituição, inclusive o trabalho extraordinário", diz a ASFIC.

Num documento destinado a assinalar a efeméride dos 25 anos, a ASFIC/PJ acusa o Governo de ter sido "rápido a congelar carreiras, suplementos, a destruir sub-sistemas de saúde e a alterar o sistema de aposentação", entre outros direitos dos funcionários.

"Mas foi lento, demasiado lento, a renovar as carreiras e a resolver todo e qualquer problema que pudesse levar a que as instituições funcionassem hoje melhor do que funcionavam quando o Governo iniciou funções", acrescenta a ASFIC, alegando que no caso da PJ "o balanço é extraordinariamente negativo".

No entender da ASFIC, nunca a PJ "atingiu em todos os sectores níveis tão baixos como os que actualmente tem, sendo que o Governo tem sido o grande causador da instabilidade que a instituição tem vivido nos últimos anos".

"Por tudo, não é um aniversário passado com alegria, no sentido em que não manifesta o poder político o mais pequeno interesse em resolver os graves problemas" da PJ, observa a ASFIC, adiantando: "No entanto, é um aniversário passado com a convicção de que, apesar de tudo, seremos capazes de vencer as batalhas que se aproximam".

A concluir, enaltece todos aqueles que com "tantas dificuldades" conseguiram fazer da ASFIC/PJ a "primeira associação sindical de uma força de segurança em Portugal, bem como todos aqueles que, ao longo dos tempos, reforçaram o seu associativismo no interior da associação".

Afinal, dizem-me, os angolanos
sabem o que a UNITA vai fazer

A propósito da minha pergunta: saberão os eleitores angolanos (para os que são angolanos mas não são eleitores se calhar a questão é irrelevante) qual é o programa de Governo da UNITA, quem são os seus potenciais ministros? colocada no texto Ser governo não é só chegar ao poder, o meu amigo Uabalumuka resolveu, e bem como é habitual, esclarecer-me.

Segundo ele, “a UNITA apresentou ao longo dos últimos dois anos vários documentos sobre o que pensa fazer no futuro, quando chegar ao Governo”, dizendo-me que “basta consultar o seu site oficial (www.unitaangola.com) para lá encontrar documentação variada sobre o assunto”.

Aconselha-me a leitura de um documento intitulado "Dez teses...", ou o discurso do Presidente da UNITA dirigido à Nação no começo do novo ano ou, mais recentemente, no dia em que a UNITA fez 42 anos, o discurso de Isaías Samakuva que “segundo os observadores atentos é um programa de governo”.

Uabalumuka diz, contudo, que “em devido tempo, o programa oficial será apresentado”, se bem que me aconselhe também a ler um livrinho, de seu nome "A via da recuperação nacional de Angola: definição dos princípios e objectivos" que, embora um bocado antigo, foi publicado em 1984 pela UNITA, “espantosamente tem sido usado em alguns dos meios académicos angolanos para discussões sobre o que se pode fazer”.

Acrescenta Uabalumuka que “quanto ao que os homens da UNITA andam a fazer, as pessoas em Luanda e em Angola, (as que não são autistas) sabem. Por alguma razão a Rádio Despertar se tornou num ano a rádio mais ouvida de Luanda...”

Pelos vistos tenho andado distraído. Mas, se a minha ignorância nesta matéria não aquece nem arrefece, o mesmo não se poderá dizer da (suposta) ignorância dos que por terem direito a voto (angolanos de primeira) vão decidir quem vai governar Angola.

Por mim, fico à espera de que, “em devido tempo, seja apresentado o programa oficial”.

terça-feira, março 25, 2008

Tal como em Lisboa com o PS, em Maputo
FRELIMO, governo e estado são uma só coisa

O líder da oposição em Moçambique, Afonso Dhlakama, queixou-se hoje em Maputo ao Presidente português, Cavaco Silva, segundo o jornalista Luís Andrade de Sá, da Lusa, da "mistura entre partido FRELIMO, governo e instituições" e apelou a que Portugal "comece a falar em Democracia".

Portugal, na circunstância através de Cavaco Silva, pode de facto falar de democracia, mas terá de dizer aos moçambicanos: olhai para o que nós dizemos e não para o que nós fazemos.

É que, também em Portugal existe uma “mistura entre Partido Socialista, governo e instituições”, apesar de o país viver em suposta democracia desde 1974.

"Disse ao Presidente (Cavaco Silva) que o apoio a Moçambique não é o apoio ao partido FRELIMO mas ao povo de Moçambique", referiu o líder da RENAMO, no final de uma reunião de cerca de 40 minutos com o chefe de Estado português. Dhlakama acrescentou ter dado exemplos de casos de "mistura entre FRELIMO e Estado moçambicano", nomeadamente "professores, enfermeiros e funcionários públicos que até hoje são obrigados a pertencerem ao partido" no poder desde a independência.

Creio que Cavaco terá pensado para com os seus botões: “É exactamente o mesmo que se passa em Portugal”.

"Ele (Cavaco Silva) até me disse que eu estava a exagerar mas eu respondi: não, o Presidente tem liberdade, fale com as pessoas em privado'" para confirmar a acusação, contou Afonso Dhlakama.

É isso. Não sei se Cavaco conversou em privado com os moçambicanos para confirmar a promíscua mistura entre a FRELIMO, o governo e o estado. Tal como não sei se Cavaco conversa em privado com os portugueses para confirmar a promíscua mistura entre o PS, o governo e o estado.

Outros tempos e sonhos, a mesma quimera

Esta foto tem para aí 35 anos. Foi-me mandada pelo Nelson Magano (é o que, pois claro, está de garrafa na boca). Eu estou no meio e o da esquerda (a memória já não é o que era) não me recordo de quem é (alguém me ajuda?). Fica o registo feito em Nova Lisboa, numa fotografia que deve ter sido revelada no Laboratório de Fotografia do então Liceu Nacional General Norton de Matos. A vida tem destas coisas. Também o Magano foi e é um velho e querido Irmão desses tempos em que beijávamos o horizonte e engravidávamos o infinito.

O regresso das

Afinal o que é isto das Conversas no Café Luso? Todos nós, lusófonos, temos a tradição do bom café e estamos habituados a tomar um cafezinho à mesa do café enquanto conversamos sobre os temas do quotidiano, muitas vezes com uma pontinha de mal-dizer. Aqui não se escapa a essa tradição e Portugal em Linha tem o prazer de oferecer aos seus leitores um café virtual à volta desta enorme mesa que é a Lusofonia.
Renovado depois de “obras”, mas mantendo a irreverência típica de quem pensa pela sua própria cabeça (coisa rara, reconheço), o Café Luso regressa um dia destes, numa qualquer esquina da vida onde haja um computador.

Ser governo não é só chegar ao poder

Um dos meus adversários em matéria de política angolana, conta-me que há uns dias o deputado da UNITA Domingos Maluka, “quando questionado por um jornalista (independente) sobre o programa de governo que a UNITA apresentará ao povo (eleitores) respondeu (lacónico): Quando estivermos a governar o povo saberá qual é o nosso programa".

Não conheço a veracidade da afirmação, mas não me admiro que essa resposta tenha sido dada. Diz esse adversário que, por tudo isto, “prefere as aldrabices do MPLA, porque os outros (a UNITA) nem aldrabar sabem.”

Em princípio, esta é uma forma como outra qualquer de justificar uma legítima opção política, no caso pelo MPLA. Creio, contudo, que ela encerra algo mais profundo sobre o qual a UNITA deveria pensar mais e melhor.

Ou seja, saberão os eleitores angolanos (para os que são angolanos mas não são eleitores se calhar a questão é irrelevante) qual é o programa de Governo da UNITA, quem são os seus potenciais ministros?

Provavelmente não.

Saberão os eleitores angolanos (para os que são angolanos mas não são eleitores se calhar a questão é irrelevante) o que têm feito – apesar das enormes limitações - os políticos da UNITA que integram o Governo?

Provavelmente não.

Será que, como me dizem que terá dito Domingos Maluka, o povo só saberá qual é o programa da UNITA quando ela for governo? É que, assim, nem a UNITA será Governo, nem os angolanos saberão o que seria um governo da UNITA.

Se calhar estou errado. Penso, contudo, que ser governo é muito mais do que chegar ao poder. Por isso, ficaria feliz se a UNITA também assim pensasse.

Cuito Cuanavale: MPLA festeja o quê?

A Manchete de hoje do Notícias Lusófonas (http://www.noticiaslusofonas.com/) merece ser lida com toda a atenção. Emanuel Lopes é o autor de um artigo que, para além de mostrar que o rei Eduardo dos Santos vai nu, desmonta a propaganda do MPLA sobre a batalha do Cuito Cuanavale. Com a devida vénia, reproduzo o texto da referida manchete.

«Na ultima semana, o Mpla/governo angolano, festejou o 20º Aniversário da chamada Batalha do Cuito Cuanavale, com muita pompa e circunstância, com convidados ilustres e gastando o dinheiro do Povo que não chega às bocas famintas de muitas crianças. O que está por detrás destas comemorações? O que leva o Mpla/Governo angolano a comemorar uma das muitas batalhas que se travaram durante 27 anos de guerra fratricida?

1º Objectivo: Provocar a tensão na sociedade angolana

Sabendo que a UNITA considera ter vencido essa batalha, comemorá-la como se fosse uma vitória das forças fapla/russas/cubanas visa provocar a UNITA, (aliás como outras atitudes de elementos do governo e do Mpla nos ultimos dois meses) tentando levá-la à violência, pelo menos verbal. O que se mostra absurdo, pois a UNITA e a oposição angolana, já perceberam os motivos da provocação.

2º Objectivo: Clarear e mudar a História

Começa a ser hábito do Mpla, tentar adaptar a História às suas necessidades. Se alterar a História resultou parcialmente no passado, com a globalização e os trabalhos científicos que vão surgindo não funciona. O Mpla ainda não aprendeu. Continua seguindo a máxima nazi de que se insistir mil vezes numa mentira ela pode ser vista como uma verdade. Mas não funciona.

A batalha do Cuito Cuanavale começou em Setembro de 1987, com uma ofensiva das forças coligadas fapla/russo/cubanas tentando chegar à Jamba. Um exército poderosamente armado, com centenas de blindados e tanques pesados, artilharia auto-transportada e outra, apoiado por helicópteros e aviões avançaram a partir de Menongue.

Depois da batalha, o General França Ndalu, veio dizer a um jornalista que o objectivo não era esse, mas sim cortar o apoio logístico à UNITA. O que é visivelmente uma desculpa, porque o apoio logístico era feito de sul e do leste para a Jamba e nunca entre o Cuito Canavale e o rio Lomba.

Pela frente a coligação encontrou a artilharia e a infantaria da UNITA (Fala), organizada em batalhões regulares e de guerrilha, apoiados por artilharia pesada das forças sul-africanas. Com o avolumar da ofensiva, a África do Sul coloca na batalha mais infantaria, blindados e helicópteros.

A batalha durou mais ou menos seis meses. As forças fapla/russo/cubanas, com dezenas de milhares de homens na ofensiva, não conseguiram passar de Cuito Cuanavale.

Segundo os analistas imparciais, as perdas dos dois lados foram as seguintes:
Do lado UNITA/África do Sul – 230 militares da UNITA, 31 sul-africanos, 3 tanques, 5 veículos, 3 aviões de observação.

Do lado fapla/russos/cubanos – 4600 homens (dos quais não se sabe quantos foram russos, cubanos ou soldados das fapla, mas segundo os arquivos russos, já consultáveis, as perdas russas nesta batalha poderão ultrapassar a centena), 94 tanques, 100 veículos e 9 Migs.

A batalha acabou em Março de 1988 com a retirada das forças fapla/russo/cubanas para o Menongue.

As consequências foram diversas. O exército cubano aceita retirar-se de Angola. A África do Sul aceita que a Namíbia ascenda à independência, desde que os seus interesses económicos não sejam tocados, que a Namíbia continue dentro da união aduaneira que tem com a RAS e que o porto de Walbis Bay (o único da Namíbia) continue a ser administrado pela RAS. O Mpla aceita finalmente entrar em negociações com a UNITA (o que virá a acontecer em Portugal), aceita o pluripartidarismo, aceita as eleições.

E a UNITA, o que teve de ceder? Nada. Os seus bastiões continuaram intocados, nenhuma linha logística foi tocada, o seu exército não teve perdas em homens e material significativas.

Mais ou menos um ano mais tarde, e já na mesa das negociações, o Mpla tentará uma segunda ofensiva, de novo com milhares de homens, tanques, veículos, helicópteros e aviões. Foi a chamada operação “Ultimo Assalto”, e mais uma vez será derrotado, desta vez sem os sul-africanos estarem presentes.

Em resumo, se houve vencedores, não foram as forças do Mpla e os seus aliados.

3º Objectivo: Ajudar Zuma a conquistar o poder

Não é segredo que o Mpla/governo angolano não nutrem especial carinho pelo governo sul-africano e pelo seu Presidente. Por diversas vezes isso foi patente quer com Nelson Mandela, quer com Thabo Mbeki como presidentes. Não importa referir porquê, mas talvez o facto de Thabo Mbeki ter passado largos meses nas prisões do governo angolano sem qualquer culpa formada, explique a “inimizade”.

Quando Zuma conseguiu ganhar a Presidência do ANC, apoiando-se nas bases mais extremistas deste partido, o governo angolano foi o primeiro a felicitá-lo. Mas não chega a Zuma tais felicitações, pois enfrenta um processo por corrupção na justiça sul-africana.

Assim, se quer ser o candidato do ANC nas próximas eleições Zuma, precisa de dinheiro e prestígio para ser candidato antes do julgamento, levando a que este não se realize. Quem melhor para o ajudar do que um governo com muitos sacos azuis e estruturalmente corrupto como o do Mpla?

Então que comemora o MPLA? Nada a não ser o que a sua propaganda inventa.»

segunda-feira, março 24, 2008

De um violino de lata (Artur Queiroz)
a um Stradivarius (Eduardo Agualusa)

Para que não fiquem dúvidas, considero que comparar José Eduardo Agualusa com Artur Queiroz, seja no que for, é como comparar um violino feito com latas de sardinha a um Stradivarius.

Artur Queiroz, um andrógino intelectual que sempre esteve do lado dos mais fortes (ou que assim pareciam) continua a sua senda a favor dos que, hoje como ontem, mais lhe pagam. Pagaram-lhe e ele descobriu que o holocausto do 27 de Maio não passou de uma “revolta de racistas” onde terão morrido (se calhar um dias destes ainda aparece a dizer que ninguém morreu) meia dúzia de facínoras.

Queiroz insurge-se num artigo publicado no “Jornal de Angola” (onde mais poderia ser?) contra o facto de Agualusa ter dito, embora sem referir nomes, que há torturadores angolanos que são tratados em Portugal como grandes escritores. Embora saiba muito bem a quem se referia Agualusa (Pepetela, por exemplo, participou no massacre de 27 de Maio de 1977 e, quer se queira quer não, tão responsável é o que puxa o gatilho como aquele que participa na farsa acusatória), Queiroz infere que é legítimo “presumir que todos os grandes escritores angolanos se dedicam à tortura”.

“Quando algum leitor estiver na presença de um desses escritores vai pensar que está a ver e ouvir um torturador”, diz Queiroz do alto da sua cátedra feita de toneladas de sabujices. E tem razão. Olhar para Pepetela é olhar – no mínimo - para um torturador.

“O senhor José Agualusa lançou um manto de calúnia sobre todos os seus confrades o que é muito grave. Mas mais grave foi ter dado a bofetada e escondido a mão. Como não nomeou os torturadores, ninguém pode defender-se de tão grave acusação. No tempo em que os animais não falavam, isto era cobardia. E um cobarde vale tanto como os seus gestos repugnantes”, escouceia Queiróz para justificar o prato de lentilhas.

Agualusa não escondeu a mão. Basta ler o que ele tem dito e escrito e não apenas ou que nos interessa ler. Se há meia dúzia de pessoas que têm dado o nome aos bois, Agualusa é uma delas, mesmo que isso não agrade aos capatazes do sipaio (sem ofensa para estes) Artur Queiroz .

Agualusa é um exemplo de que se pode ser preso por ter cão e por não ter. Reproduzindo a encomenda, Artur Queiroz volta depois os cascos para o alvo, dizendo que deste vez foi cometido um crime de lesa MPLA por terem sido dados os nomes.

“Uma pessoa que ache que o Agostinho Neto, por exemplo, foi um extraordinário poeta é porque não conhece rigorosamente nada de poesia. Agostinho Neto foi um poeta medíocre. O mesmo se pode dizer de António Cardoso ou de António Jacinto”, afirmou e bem Agualusa.

Porque o visado já não está no reino dos vivos, Artur Queiroz entende que “a cobardia aqui assume a dimensão de um assassinato de carácter o que faz de Agualusa uma figura com todos os predicados para entrar na minha lista pessoal dos leprosos morais”. Na lista dos “leprosos morais” se, entretanto, não for possível enquadrá-lo num outro qualquer 27 de Maio, entenda-se.

Dado o meu contributo para que Artur Queiroz recolha mais alguns cobres junto dos chefes de posto, resta-me dizer que se o valor do José Eduardo Agualusa se medisse pelo nível (seja intelectual, profissional, humano, cultural ou qualquer outro) dos seus inimigos, o Artur Queiroz amesquinhava-o de uma ponta à outra.

MPLA vangloria-se em festejar a morte
como se os angolanos não fossem gente

O presidente do Congresso Nacional Africano (ANC), partido no poder na África do Sul, Jacob Zuma, está em Luanda onde garantiu que manterá "relações especiais" com Angola.

A garantia solene foi dada durante a visita que Zuma cumpre desde quinta-feira a Luanda, a primeira ao exterior desde que foi eleito, em Dezembro passado, presidente do ANC, e que teve o seu ponto mais alto com um encontro que manteve com o Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, também presidente do MPLA, partido no poder em Angola desde... 1975.

Zuma defendeu a necessidade do reforço das relações de cooperação entre ANC e MPLA que "muito poderão ajudar os povos da região e não só".

A batalha do Cuito Cuanavale, que levou à assinatura dos acordos de Nova Iorque, que ditaram a retirada das tropas cubanas e sul-africanas do país em 1988 e em que estiveram em confronto as forças governamentais angolanas, com auxílio de efectivos militares cubanos, e tropas da UNITA, militarmente apoiadas pelo exército regular sul-africano, foi tida como a mais sangrenta de África após a segunda Guerra Mundial.

Numa das suas brilhantes tiradas, o presidente do Congresso Nacional Africano (ANC), partido no poder na África do Sul, Jacob Zuma, diz que o Cuito Cuanavale deve transformar-se em local de peregrinação.

Segundo Jacob Zuma, "Cuito Cuanavale é um dos locais mais importantes da África Austral e a derrota infringida às forças do Apartheid, nesta região, mudou o rumo político e a história de libertação da África Austral, culminando com a independência da Namíbia e a libertação da África do Sul".

Com esta forma de reescrever a história, Zuma dá não uma mão mas o corpo inteiro ao seu velho amigo Eduardo dos Santos. Esquece-se, contudo, que em matéria de potências regionais está a pedir ajuda ao leão para derrotar o gato bravo. Depois de comer o gato, o Leão vai comê-lo a ele.

Na capital angolana, o líder do ANC visitou ainda o Comité Provincial de Luanda do MPLA e o marco histórico de Kifangondo, sítio onde, em 11 de Novembro de 1975, forças coligadas da FNLA e do então exército zairense foram travadas pelas FAPLA e os seus aliados cubanos.

O actual governo de Angola, dominado de fio a pavio pelo MPLA, está apostado, perante a passividade da comunidade internacional, em comemorar supostas vitórias sobre os “inimigos” angolanos. Festeja o que diz ser uma vitória sobre a UNITA no Cuito Cuanavale e, já agora, sobre a FNLA em Kifangondo.

Esta coisa de festejar a morte de angolanos não me parece boa ideia. Mas como o MPLA tem o monopólio e a exclusividade das boas ideias, até se calhar ainda vai ser nomeado para o Nobel da Paz.

Como nota de rodapé registe-se que os problemas de Zuma com a justiça começaram em 1999, num processo que implicava o grupo de armamento francês Thales. Em 2005, Zuma foi demitido do cargo de vice-presidente da África do Sul depois de o seu conselheiro financeiro Schabir Shaik ter sido condenado a 15 anos de prisão no âmbito do processo Thales.

Presumíveis luvas de quatro milhões de rands (cerca de 400.000 euros) terão sido pedidas por Shaik à empresa francesa para subornar elementos no partido e no governo numa compra milionária de armamento.

Na altura, Zuma chegou a ser acusado de corrupção, mas, em Setembro de 2006, o processo foi abandonado por falta de provas.
Em 2006, o novo líder do ANC respondeu por alegada violação de uma familiar e chocou os activistas anti-sida quando confessou, por ter praticado sexo sem preservativo, que dissipou o perigo de contágio tomando um duche.

Ver também, entre outros:
Quererá o MPLA o regresso à guerra? - Pelo menos está a fazer tudo para isso; Famintos arautos do MPLA confundem o grito da onça com o miar dos gatinhos.

Quando a publicidade é publicidade
mas também quando o é sem o ser

A Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) de Portugal quer adoptar até ao final deste ano uma directiva que reforce a separação entre anúncios publicitários e conteúdos editoriais, disse hoje à Lusa o presidente daquele organismo. É importante que o faça, embora seja triste que tenha de fazer o que deveria ser um princípio elementar dos media.

"Estamos a ponderar fazer uma carta de padrões e lançar uma directiva sobre o que é admissível e o que não é" na questão da separação dos conteúdos editoriais e comerciais, afirma José Azeredo Lopes.

A ERC lançou, no início de Fevereiro, um aviso a anunciantes e directores de jornais para que deixem de confundir anúncios publicitários com conteúdos editoriais sob pena de passarem a pagar as coimas previstas na lei. Pois. Mas, ao que parece, não é com avisos que se vai lá.

O aviso foi entretanto "alargado a todas os géneros de publicações", sendo que a entidade reguladora está a fazer um balanço do que se passa na imprensa portuguesa, explicou Azeredo Lopes. Espero que o balanço também permita aquilatar daquilo que não sendo publicidade… é publicidade.

O próximo passo, adiantou Azeredo Lopes, será "fazer uma reunião com os directores [das publicações] para dizer o que é admissível e o que não é, sendo que queremos ouvir quais são os constrangimentos e as pressões das receitas que levam a uma margem maior de tolerância". É isso, vamos sendo tolerantes até que o burro aprenda a viver sem comer.

Em deliberação divulgada no mês passado, o conselho regulador da ERC assinalou "a ocorrência, em publicações periódicas, de práticas publicitárias susceptíveis de configurarem lesão de normativos legais", refere o conselho regulador da entidade numa deliberação hoje divulgada.

Segundo referiu o mesmo documento, existe um "significativo volume de publicidade" que não observa a Lei da Imprensa no que diz respeito a identificar os anúncios com a palavra "publicidade" ou as letras "PUB".

Se bem que preocupe todas estas questões levantadas pela ERC, creio que devamos estar bem mais preocupados com a publicidade económica, política etc. que de forma encapotada é diariamente impingida aos leitores.

O conselho regulador mostrou-se ainda preocupado com "o advento de práticas publicitárias particularmente invasivas dos espaços jornalísticos, acarretando a descontinuidade e desmembramento de textos noticiosos por interposição das mensagens publicitárias no seu interior". Na altura, o presidente da ERC admitiu saber como a publicidade é importante para a sobrevivência dos jornais, mas garantiu que "se for necessário [a entidade reguladora] avançará com sanções".

Esperemos. Como é habitual, eu espero sentado.

Sem quantificar casos, Azeredo Lopes exemplificou as violações com "publireportagens sobre carros que usam as fotografias dos catálogos de venda", com "jornalistas que fazem publireportagens" e com "cadernos [de jornais] em que não se percebe se o responsável é da área editorial ou da comercial".

domingo, março 23, 2008

Quererá o MPLA o regresso à guerra?
- Pelo menos está a fazer tudo para isso

Pensa a UNITA, tal como todos os angolanos sérios e intelectualmente honestos, que Angola vive neste momento um período de consolidação da paz. Se é de consolidação, digo eu, é porque ainda não está totalmente garantida. E como eu pensam também os mais altos dirigentes do MPLA que, a todo o custo, querem continuar no poder por falta de eleições. E como é que isso se consegue? Atazanando de tal forma a UNITA para que ela puxe o gatilho.

Para dar azo a essa estratégia e porque não é garantido que o MPLA continue no poder se as eleições forem livres, Eduardo dos Santos criou uma comissão para festejar o que só ele viu: uma vitória na batlha do Cuito Cuanavale.

Mas, mesmo que as FAPLA tivessem vencido, seria altura para festejar uma guerra onde morreram sobretudo angolanos? Seria altura para dizer que os bons são os do MPLA, cubanos e russos, e os maus são os da UNITA e da África do Sul?

Estão mesmo a fazer tudo para que a UNITA se farte de tanta hipocrisia, de tanta injustiça e de tanta malvadez e diga: Basta! Felizmente a UNITA tem gente bem mais inteligente do que estes arautos da guerra e, ao perceber de há muito o que o MPLA quer, mantém a calma e deixa – para já – a questão do Cuito Cuanavale nas mãos dos investigadores.

Temo, contudo, que ao verem que esta estratégia de achincalhamento não vai levar a UNITA a pegar novamente em armas, resolvam nomear uma comissão para festejar a morte de Jonas Savimbi. O desespero do MPLA perante o cenário de uma derrota eleitoral é bem capaz de levar os donos do poder a pensar nisso.

Espero que, embora pensando nisso, não concretizem uma declaração de guerra desse tipo. É que, se um dia se lembram de comemorar a morte do presidente e fundador da UNITA, não só vão ter a guerra dentro de casa como Angola correrá o risco de ficar reduzida a cinzas.

Tanto quanto sei, ninguém a nível institucional (CPLP, ONU, UE) terá dito a Eduardo dos Santos e aos seus acéfalos assessores que comemorar batalhas entre angolanos (não adianta dizer outra coisa) é meio caminho andado para o regresso da guerra.

Espero, contudo, que lhe digam que não há FAPLAS no mundo capazes de destruir o que os povos sentem, pelo que a ideia (germinada já nos areópagos da alta política do MPLA) de comemorar a morte de Jonas Savimbi significará o mesmo que atear fogo aos milhões de paióis que cada angolano simpatizante da UNITA e de Savimbi significam.

Famintos arautos do MPLA confundem
o grito da onça com o miar dos gatinhos

A faminta forma como os arautos do MPLA, entre os quais alguns supostos jornalistas, propagandeiam a versão oficial (e mesmo essa cheia de contradições) sobre a batalha Cuito Cuanavale, revela só por si o medo que ainda continua a vigorar no reino de Eduardo dos Santos.

Ao que parece, o MPLA continua a ter generais que – como no tempo da guerra – confundem o gato com a onça e que – também como na guerra – ao primeiro miau batiam em retirada.

Eu sei que custa reconhecer, seja do ponto de vista militar, político e histórico que a batalha do Cuito Cuanavale foi um estrondoso fracasso para os cubanos e seus sipaios, na circunstância as FAPLA.

A prioridade das prioridades de Luanda via Havana era chegar à Jamba, a mais dolorosa espinha na garganta dos generais e similares das FAPLA, cubanos e russos. E qual foi o resultado? Savimvi continuou a cantar de Galo (Negro) na sua inexpugnável praça-forte.

Alguém acredita que se o MPLA tivesse vencido aceitaria negociar com a UNITA? É claro que não. Aliás, falhou também o “último assalto” à Jamba pelo que o “vencedor” foi obrigado a admitir o pluripartidarismo e eleições. Ou seja, o que afinal a UNITA pedia desde 1975. Lembram-se?

Como aqui no Alto Hama muito bem alerta o Emanuel Lopes, o MPLA tenta reescrever a História, quase como se estivesse a fazer um texto para ler aos pioneiros. Mas não vai lá. Como não foi à Jamba, também não irá adulterar os factos, mesmo fazendo uso de uma colossal e multimilionária máquina de propaganda.

Em cada 15 segundos morre uma criança

A falta de água potável, o saneamento básico desadequado e as condições precárias de higiene provocam a morte de uma criança a cada 15 segundos. Enquanto isso, nos areópagos da macro-política internacional, sobejam as refeições bem regadas.

De acordo com a Cruz Vermelha espanhola, mais de mil milhões de pessoas não têm acesso a água potável e cerca de 2,6 mil milhões, aproximadamente 40 por cento da população mundial, não dispõem de serviços de saneamento básico.

Grande parte desta dramática realidade escreve-se em português. Apesar disso, a CPLP (aquela coisa que se chama Comunidade de Países de Língua Portuguesa) continua a cantar e a rir.

Em todo o mundo, a má qualidade da água é responsável por 21 por cento das mortes de crianças até aos cinco anos, sendo mais mortífera do que as guerras. Por dia, cinco mil adultos perdem a vida devido ao mesmo problema, sobretudo em consequência de diarreia.

Citada pelo diário espanhol 'El Mundo', a Cruz Vermelha sublinha que a melhoria das instalações sanitárias e a promoção de medidas de higiene poderiam reduzir a mortalidade infantil em cerca de um terço, contribuindo, além disso, para acelerar o desenvolvimento económico e social em países onde a falta de saneamento é uma das principais causas de absentismo escolar e profissional devido a doença.

Tão simples quanto isso, tão difícil quanto isso.

Por seu lado, a “Ayuda en Acción” denuncia que muitos países gastam entre seis e 28 vezes mais em investimentos militares do que com água e saneamento básico, pelo que, defende, "o problema da água está mais relacionado com falta de vontade política do que com escassez".

É isso mesmo. No entanto, Buhs e companhia continuam a usar a razão da força e não a força da razão.

Uma das regiões do Mundo mais afectadas por este problema é a África sub-sahariana, onde, de acordo com a organização Interpón Oxfam, a probabilidade de uma criança morrer com diarreia é quase 520 vezes superiores às de uma criança europeia ou norte-americana.

Será por serem pretos?